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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um conto sobre o Universo Antropomórfico de EDUARDO SCHLOESSER escrito por LUCA FIUZA.



A PONTE TRÁGICA

 Em um vilarejo interiorano sem luz e sem os confortos da vida moderna residia uma comunidade canina simples e ordeira que vivia dos produtos da terra. A única sombra de progresso que havia surgido há alguns anos era a linha férrea que trazia uma fumarenta e ruidosa locomotiva atrelada a velhos vagões de carga. Todo fim de mês a mesma parava na pequenina, mas bem construída estação para recolher os frutos do suor daqueles animais. Estes produtos livres de agrotóxicos iam abastecer as cidades da região. O lucro deste comércio não era muito. Contudo, era suficiente para aquelas criaturas simplórias terem uma vida decente dentro dos padrões a que se achavam acostumados.

Tempos depois surgiu nas cercanias um gigantesco Dogue Tedesco de índole má. Corpo musculoso de cor branca com manchas pretas. Voz trovejante e baba farta escorrendo pelas comissuras dos lábios frouxos, olhinhos brilhantes e cruéis. O indivíduo cismou em se postar o dia inteiro no meio da pequena ponte de pedra sobre o rio. Esta ponte separava o vilarejo da estação de trem. O brutal canídeo vociferou estático em sua posição que só passaria quem conseguisse vencê-lo em um duelo. O gigantesco canino portava um estadulho, pedaço de pau nodoso com o qual moía os ossos dos tolos que tentaram desafiá-lo. E houve muitos. Facilmente o monstruoso Dogue atirava seus oponentes com ossos quebrados nas águas geladas do rio abaixo da ponte. Em um destes embates um cachorrão forçudo que era o ferreiro do vilarejo aceitou o desafio. Este deu um pouco mais de trabalho ao Dogue, mas um certeiro golpe no meio do crânio atirou-o às águas, onde desapareceu para nunca mais ser encontrado.
Então, proibidos de atravessar a ponte, os pobres habitantes do vilarejo viram seu meio de sustento cortado, uma vez que não podiam mais levar seus produtos para o trem que parava mensal e religiosamente na pequena estação. Nem os protesto do maquinista, um porco grande, rosado e balofo, valeram de alguma coisa, Foi expulso a pauladas pelo grande Dogue que gargalhou até quase rebentar. Nem à noite era possível atravessar a ponte. O enorme cão aparecia não se sabe de onde e punha para correr o atrevido. Tentaram atacá-lo em grupo, mas seu nodoso estadulho girando em suas mãos como uma hélice espancou duramente os infelizes que acharam que podiam dominá-lo. A sombra da penúria pairava sobre o vilarejo e o pior de tudo é que os habitantes da malfadada vila eram forçados a pagar tributos em gêneros e toda a semana mandar uma cadelinha nova para saciar o inesgotável apetite sexual daquele que os tiranizava.

Certa manhã, um estranho apareceu na vila vindo do norte. Era um enorme gato extremamente musculoso, cinza, as suíças e os pelos nas pontas das orelhas denotavam que era um mestiço de gato e lince. Tinha um ar grave e era de poucas palavras. Mesmo assim, procuraram tratá-lo bem, desculpando-se pela frugalidade da refeição que foi oferecida na casa da esposa do ferreiro morto. Cochichando, contaram ao felino seus dissabores. Em princípio, o gato pensou que não era assunto seu, mas quando viu algumas mães tristemente escolhendo suas jovens filhas para serem entregas em holocausto aquela fera, o sangue lhe subiu a cabeça.
Em passos decididos, o felino cinzento foi até a ponte e caminhou por ela parando no meio bem de frente para o Dogue colossal que o encarava de cenho fechado.  O tom de voz do Dogue parecia um ronco e tinha um forte sotaque quando indagou rispidamente:
- Que querr aqui, gato?! Veio desafiarr a mim?
- Vim arrebentar tuas fuças e te deixar mais feio do que já é! – O canídeo riu estrondosamente.
- Onde estarr sua estadulho? Pensarr poderr vencerr a mim com seus mauns nuas? Tomarr este faca e corrtar uma estadulho parra focê! – Desdenhosamente, o enorme cão atirou um facão que trazia à cinta aos pés do felino taciturno. Sem nada dizer, tomou-o e habilmente cortou um galho de uma árvore próxima desbastando-o até confeccionar um estadulho rijo semelhante ao do oponente.
Os adversários não trocaram mais nenhuma palavra. Partiram para o embate duro, encarniçado, brutal! Os habitantes da vila foram chegando aos poucos enquanto o combate recrudescia. O som dos estadulhos se chocando era alto e assustador. De repente, o Dogue deu um golpe inesperado e animalesco, só não atingiu o felino devido a sua presteza em bloquear o formidável ataque. Golpes em cima de golpes eram aplicados, mas os dois combatentes mostravam que não eram principiantes e não se deixavam atingir, bloqueando, embaixo, em cima, saindo de uma investida lateral, o suor porejando em bicas, os rostos convulsionados, respirações sibilantes.
Inesperadamente, uma forte paulada atingiu de raspão as costelas do grande gato fazendo-o grunhir de dor.Tomado de dor e fúria mas decidido a não se dobrar, o felino avançou desferindo uma sequencia de golpes que atingiram a lateral do tronco do oponente, seguida por uma pancada na cabeça que fez o gigante curvar-se já vendo estrelas. Sem piedade, o mestiço invocado malhou o lombo do infeliz cachorro até que ele caísse vencido, ganindo penosamente - um ganido grosso e desesperado. Uma baba grosa lhe caía pelos lábios frouxos molhando-lhe o peito. O gato se quisesse poderia dar o golpe final naquela fronte derreada, mas conteve-se. Os dois ficaram se encarando longamente. Num átimo, o canzarrão mexeu-se ofegante de dor e se atirou nas águas do rio. Ali sumiu para nunca mais ser visto outra vez.
  O felino sorumbático partiu sem esperar agradecimentos daqueles animais simples e bondosos. Passou como uma sombra naquela comunidade, mas ficou para sempre lembrado como aquele que viera na hora mais sombria para libertar do calvário aquela vila esquecida.

Luca Fiuza em 30/07/14.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 5 )


São exatamente 19:37 e só agora me sento à prancheta para trabalhar em uma nova página do Poe. Hoje a terça foi pedreira, como se diz por aqui. Fiquei boa parte do dia na rua com minha esposa resolvendo pequenas coisinhas que são realmente necessárias. Me lembrei que preciso manter este nosso espaço atualizado, então passo aqui para deixar mais uma arte para vosso deleite (ah! quem dera, deleitar-vos!). Pensei numa postagem diferente mas estou sem pique, pode não parecer mas com 50 primaveras nas costas o peso do cansaço se faz sentir, então vamos mais uma vez de Numa e a Ninfa.


Só lembrando que esta semana ainda, se Deus quiser, postarei mais uma aventura do Zé Gatão escrita pelo meu brother Luca Fiuza. Esta porém não terá ilustrações. Será legal os leitores darem asas a imaginação. O conto me evocou ondas de nostalgia muito fortes, como se alguém estivesse me narrando uma fábula naqueles antigos discos coloridos. É esperar pra ler.

E como sempre faço após um conto publicado, eu dou o tempo de uma semana até retomar as postagens.
Agora vou para a quadrinização da biografia do E. A. Poe.
Fiquem todos bem e até mais pra frente.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 4 )



Mais uma cena para o livro do Lima Barreto. O tema do referido tomo é ainda muito atual. A editora Construir teve uma ótima ideia ao colocar na praça de novo esses clássicos (ainda por cima ilustrados), afinal muitos deles estão fora de catálogo, como O Auto De São Lourenço do Padre Anchieta. Pena que o sistema de distribuição deles limite o acesso àqueles que apreciam meus desenhos. A editora tem mais sete livros para fechar comigo, segundo eles. Contudo já vai pelo segundo mês que não enviam mais nada. E eram esses livros que pagavam minhas contas. Meus telefonemas são inócuos, as respostas em justificar o atraso são evasivas demais. Bem, como não é possível ficar esperando, continuo batendo em outras portas. Veremos qual abre primeiro.

Acabo de ler a biografia do mestre do terror moderno Stephen King da autoria de Lisa Rogak. Uma história de vida fascinante, um livro agradável de ler e que não se larga facilmente, mas disponho de pouco tempo para leitura, por isto até que demorei bastante.

Atualmente estou assistindo a série Arrow, baseada no personagem da DC Comics, o Arqueiro Verde. Tem todos os clichezinhos do gênero, herói másculo e bonitão com uma missão redentora, incompreendido, com a lei em seus calcanhares, mocinha frágil apenas na aparência, família do herói problemática, o melhor amigo mala, o parceiro/braço direito questionador e por aí vai. Em suma, é uma bosta....mas eu não consigo parar de ver. O que mostra que a fórmula ainda funciona. Esta é uma história requentada desde os pulps e seriados antigos da tv americana mas que ainda hoje é eficaz em te prender na poltrona, a diferença dos filmes de outrora é que agora tudo é mais frenético, muito bem feito. Embora as atuações sejam pífias por parte dos atores iniciantes a fotografia é belíssima. É esquecível mas eu estou gostando. Para eu curtir mais só queria ver um pouco o Oliver Queen dos quadrinhos que me encantaram nos anos 70, caracterizar mais o Arqueiro Verde, não falo de máscara e traje, mas a personalidade. Será que quando ele ficar mais velho estará mais fiel aos gibis? Não creio, mas por hora sigo me divertindo e passando uns 50 minutos um pouco fora da minha realidade.

No final da noite eu e a Vera estamos quase finalizando a segunda temporada de Under The Dome, baseada no Livro do King.

Baixei Os Mercenários 3 para assistir e me diverti pra cacete.

Nos quadrinhos sigo lendo Juíz Dredd e algum material antigo.

Sem mais nada pra dizer, deixem-me voltar ao quadrinho do Poe.
Tenham todos um nice weekend.

PS - Estou digitando rápido e pode ter me escapado algo na revisão, qualquer deslize no texto, perdoem.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

DESEJO.


Deixo Bob Dylan cantar enquanto escrevo este breve texto, acho que combina um pouco com a atmosfera do momento. Minha mãe, a muitos e muitos quilômetros de distância se submete a mais uma cirurgia. As portas de trabalhos continuam fechadas. Este mês minha família pagou parte das minhas contas. Pensei, inclusive, em vender originais num destes e-bays da vida mas não sei bem como proceder, além de notar que os valores por originais nesses lugares são muito baixos, não sei se valeria a pena. Será que terei criar minhas artes apenas aos domingos e arrumar emprego numa loja? Com mais de 50 anos? Assim me sinto como o velho Dylan brada neste exato momento com sua voz fanhosa: no direction home, like a rolling stone.

Malgrado todas essas coisas, tenho trabalhado bastante. A bio do Poe ainda segue lenta pela técnica complicada e cansativa, mas vai avançando, como se avança numa selva de vegetação impenetrável, a ponta do lápis no branco do papel como golpes de facão abrindo caminhos entre galhos, folhas e cipós.
Fiz também vários estudos para trabalhos em parcerias, mas esses ainda dependem de aprovações, e se derem sinal verde aguardar a liberação de verba.

Esta semana recebi ligação de um dos membros da P.A.D.A. me propondo uma nova edição (ampliada) daquele Zé Gatão que eles lançaram em 2011 e que hoje se encontra esgotado. Uma das hqs sairia colorida desta vez e com adição de outras que ficaram de fora. A publicação seria pelo sistema de crowdfunding. A parte de arrecadação e divulgação ficaria a cargo deles e eu produziria os bônus para os contribuintes. Tenho minhas reservas em relação a publicar material desta forma, mas pensando bem o que tenho a perder? Mas a coisa ainda está no estágio embrionário, deve demorar um pouco até que tome forma.

Zé Gatão - Daqui Para A Eternidade, a sair pela Devir, continua sem notícias. A verdade é que este país está parado, não cresce - e nem pode - com petralhas no poder (ops, boquinha fechada!).

A ótima receptividade que a ilustração "Zé Gatão - Melancolia 1" recebeu no Facebook, com elogios, likes, compartilhamentos e até análises feitas por entendedores do assunto, reacendeu o desejo de trabalhar o universo antropomorfo do felino taciturno com novos quadrinhos, mas por hora, devo ficar na vontade. Tenho mesmo é que terminar o que já está em minhas mãos, o que me lembra que o projeto NCT ainda está pela metade. Mas nada impede de rabiscar cenas como esta que fiz para este post. Não planejei, ele foi saindo. Tenho insistido em tubarões, acho que uma hora terei que criar algo com este bicho nem que seja um conto.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PRAY - Short Film

Queridos e queridas, este vosso pobre arremedo de desenhista hoje está com o corpo quebrado. Ontem pela manhã fui acometido de uma sucessão de espirros que quase me deixaram louco, a garganta ardia sofregamente e passei a quinta-feira com uma coriza invencível, molhei metros e metros de papel toalha. Uma dor de cabeça forte tornou a tarde bastante desagradável. Não sabia se era uma rinite alérgica ou o despertar de uma gripe forte, os sintomas da renite são muito parecidos com o da gripe (pelo menos para mim, não sei quanto aos outros). Ainda assim consegui trabalhar, finalizando mais uma página da biografia do Edgar Allan Poe.
No fim do dia me dei por vencido e tomei umas medicações. Hoje não sinto mais os mesmos sintomas, creio mesmo que é um resfriado forte a julgar pela cabeça pesada e o corpo com esta sensação de que recebeu pauladas a noite inteira. Mas a vida segue.

Agora vamos ao que interessa:

Ah! O viver de arte no Brasil!
Dá mesmo pra viver de arte no Brasil ou em qualquer país da América Latina?
Os argentinos que tem uma tradição nos quadrinhos muito mais forte que no Brasil no passado se debandaram quase todos para a Espanha ou EUA para viver do seu ofício; de resto, como os hermanos se viram hoje eu nem sei e já passou o tempo de me importar. Eles, assim como nós, parece que escolhem muito mal os seus governantes. Mas estou divagando e prometi a mim mesmo não tornar aqui um espaço para debate político ou religioso (estas coisas só geram polêmicas inúteis), o objetivo deste post é para falar do curta metragem "PRAY".
Cláudio Ellovitch, o diretor do filme, é um jovem muito culto e talentoso (temos um projeto em quadrinhos juntos, que se aprovado, vai dar o que falar, mas é assunto pra outra hora).
O curta em questão me impressionou fortemente, é puro delírio, a direção, a fotografia, os efeitos visuais e a música se combinam num misto de pesadelo e poesia baudelairiana.
Ele está concorrendo ao WIEWSTER ONLINE FILM FESTIVAL.

Para que ele vá para a segunda fase com o juri de especialistas ele precisa ser bem votado.

Para assistir ao curta (que não é para menores) acesse este link: http://www.viewster.com/movie/1272-18097-000/pray/

Depois do primeiro minuto de filme abre a opção de votar"like", vote e você ainda concorre a uma viagem (para duas pessoas) para Londres.

Segundo Ellovitch, "Pray" está diretamente ligada ao álbum em quadrinhos que ele realizou em parceria com o mestre veterano Rodoufo Zalla, chamado "THTRU", de quem pego emprestada a imagem da postagem de hoje.


C´mon, boys and girls, vamos dar uma ssistida no curta, viajar um pouco com algumas cenas oníricas de horror, votar e, quem sabe, ir para Londres. Não custa nada; algum sucesso com arte no Brasil depende muito de boa vontade do público, concordam?

Bom fim de semana a todos.


terça-feira, 9 de setembro de 2014

ZÉ GATÃO - MELANCOLIA 1



Desde sábado de manhã acontece aqui algo inédito nesta época do ano: chuvas incessantes e um forte vento frio que do nada, invade a casa entrando pelas janelas e frestas das portas, assoviando lutuosamente. Gosto. Combina com meu atual estado de espírito e com as páginas da hq do Poe que vão ganhando vida mui lentamente.

Nenhum trabalho com remuneração a curto/médio prazo ainda.

Ao acordar hoje, pensei: tenho que escrever alguma coisa no blog para mante-lo atualizado, mas o quê? Ando meio vazio esses tempos, confesso.

A poucos dias peguei uma folha velha, lancei mão de um carvão e cometi este desenho motivado pela ausência de alegria. Saiu esta imagem que, acredito, fale por mim.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 3 )

Sento-me rapidamente à prancheta para deixar mais uma cena deste clássico com vocês e volto aos afazeres domésticos. Sim, hoje dificilmente conseguirei desenhar alguma coisa. Ontem a Vera foi afastar uma cama para arrumar o quarto e teve um desvio de coluna; coitada, está assim, um tanto enviesada, bem, um tantão, pra falar a verdade. Já aconteceu antes e demora até ela estar plena para fazer as coisas que ela sempre faz e só ela sabe fazer. Desta feita, desde ontem tenho assumido as tarefas da casa: varrer, lavar louça (antes eu só enxugava), ajudar no almoço, lavar o banheiro e essas coisas que a gente só sabe que é um saco quanto tem que fazer todos os dias. As mulheres deviam ganhar um alto salário por manter tudo na mais perfeita ordem. E olhem que hoje já fui à rua fazer compras duas vezes (mas isso normalmente sou eu quem faço na maioria das vezes). E ela é do tipo teimosa, mesmo doente não para de maneira alguma, e do jeito que é discreta, não vai gostar de saber que falei sobre ela aqui. Fica sendo um segredo nosso, ok?

O calor voltou, enfim, agora é só quentura daqui pra frente.

A luta continua. Espero em Deus ter boas notícias semana que vem.
Bom descanso a todos.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

DAS CINZAS ÀS CINZAS, DO PÓ AO PÓ.

Sábado, pouco antes do almoço:
"Eduardo, Maínha disse que empresta o dinheiro para pagar a internet, você não quer liquidar logo isto antes que cortem?" perguntou a Vera, logo no melhor momento do meu trabalho. Fiquei incrivelmente irritado mas como sempre, engoli. Ela tinha razão, pra variar, se havia uma chance de matar logo isso pra que esperar até segunda?  Lá fora o sol ardia com toda a sua fúria, a lotérica fecharia em poucos minutos. Pus um boné e óculos escuros e alcancei a rua me perguntando porque não tiveram a ideia mais cedo. Em pouco tempo eu chegava à casa da minha sogra. Agradeci o favor e célere fui ao comércio. Fila quilométrica. Final de mês é sempre assim. O Porto de Suape inchou este bairro, os caixas eletrônicos, mercados e padarias ficam cheios dos funcionários do lugar. Os aluguéis aumentaram demasiadamente mas as ruas continuam sem asfalto. Depois de paga a conta fui comprar algumas coisas no Hiper. Passei mais de 50 minutos na fila, de lá fui até a padaria ver se tinha um item que estava em falta no mercado.

Embora esteja sem nenhum dinheiro e sem a menor perspectiva de ganhar algum a curto prazo tenho trabalhado como louco, aproveitando para por em dia quadrinhos atrasados, material que sei que depois de publicado me darão mais fama e prestígio do que retorno financeiro. Chegando aos 52 anos fica um pouco difícil fazer qualquer outra coisa da vida (embora nunca seja tarde, tenho pensado nisto, embora não saiba para que mais eu sirva). Sempre me pergunto como alguns conseguem se dar bem neste negócio. Nestas horas minha mente não consegue se livrar de pensamentos sombrios. Sentindo o ardor do sol na pele eu matutava olhando para o chão: é somente a misericórdia de Deus que impede que meu coração pare agora e eu desabe no chão e fique caído na areia quente. Prossegui na divagação: quanto tempo até que alguém percebesse que eu não era mais um merda de um bebum caído na sarjeta, mas que estava morto? Não portava documentos, então.... a Vera notaria a minha demora e sairia à minha procura, talvez fizesse aquele caminho, talvez outro. O problema de estar morto é que você não pode cuidar do seu enterro por si próprio, tem que dar trabalho aos outros. O que é este corpo? Nada demais, é capaz de grandes feitos, de muito amor mas também é o agente de ódio e destruição, é algo que pouco tempo após perder os sinais vitais precisam se livrar dele o mais rápido possível. Alguns são enterrados com toda a pompa, com milhares pranteando e outros se possível fosse se enterrariam sozinhos. Lembro de uma história do Ray Bradbury em que um cientista maluco criava um caixão automatizado que fazia todo o trabalho dos coveiros, recolhia o corpo, rodava até o cemitério e lá abria a cova e se enterrava sem o auxílio de ninguém. Uma grande invenção, se fosse possível.

Soube agora de manhã que o Jimmi Jamison, vocalista do Survivor morreu de um ataque cardíaco aos 63 anos. Lamentei. Boa voz, capaz de muito alcance. O Survivor era aquela banda oitentista, subestimada, que todos conheciam por causa do Sylvester Stallone nos filmes do Rocky. Eu costumava brincar com meu irmão comentando o sumiço do Survivor, dizia que estavam esperando o Sly fazer outro filme. Mas a verdade é que eram excelentes músicos com vários hits além dos temas de filmes; para constatar confiram o álbum Vital Signs.
O curioso é que o Jimmi não era o vocalista original que cantou o Eye Of The Tiger, entrou para a banda depois, mas acho sua voz mais poderosa que a do primeiro. Ele também não compunha no grupo, os sucessos eram obras do guitarrista e tecladista.

Bem, eu ainda não morri, a Verônica terá que me aturar hoje (e vocês também) e até Deus sabe quando. Prossigo trabalhando nestes meus quadrinhos insanos e nestas artes que, sem modéstia, tem inspirado umas poucas pessoas.

Pra matar um pouco da saudade dos anos 80 vamos dar uma curtida no Survivor com Burning Heart:



UMA GRATA SURPRESA E UMA PEQUENA DECEPÇÃO

 Boa noite a todos! Antes de entrar no assunto, uma satisfação aos que sentem simpatia por minha arte e pessoa, esses que torcem e oram por ...