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domingo, 9 de junho de 2024

ADEUS, ANDRÉ!

 Ontem, por volta de uma da madrugada, enquanto eu finalizava a página 64 de O Nascimento dos Deuses, recebi uma ligação do meu irmão caçula via WhatsApp, atendi com o coração aos pulos, antevendo o que eu ouviria da boca dele: "O ANDRÉ FALECEU". Depois de uma luta de mais de três meses (e põe luta nisso!), o Senhor o fez descansar e o levou para a glória. 

Não vou pintar meu irmão com cores desonestas, vou ser extremamente justo neste arremedo de réquiem, ele era difícil as vezes, paternalista em extremo com os irmãos, muitas vezes querendo planejar nossos futuros à nossa revelia, era o que chamamos de conservador e cristão devoto, ótimo pai e no que tange a sua profissão como médico, adorado pelos seus pares e pacientes e isso eu fui testemunha em inúmeras ocasiões.

A partida dele aumenta o imenso vazio que eu tenho na alma, já venho vertendo lágrimas por todos esse meses e o desfecho - até esperado - apenas escancara de vez as comportas do meu coração; tantas lembranças, tantos planos, tantas esperanças subtraídas abruptamente me soa injusto e absurdo. 

Tenho tanto testemunho sobre ele, coisas da nossa juventude, as namoradas (lembrando que ele era dez anos mais novo que eu mas eu sempre fui infantil, então eu creio que a idade mental, os idílios, eram quase semelhantes), os gostos para filmes, músicas, literatura e  quadrinhos eram os mesmos, talvez na música diferíamos um pouco, posto que ele era muito afeiçoado ao hard rock e eu mais ao erudito, ao blues e pop rock. Mas ele me fez gostar de Vinnie Moore, Tony MacAlpine e eu o introduzi ao Queen e Rush, entre outros.

Ele, assim como o Gil, eram muito zelosos do meu bem estar, amigos ao extremo, sempre me mandando dinheiro para suprir alguma necessidade básica, a diferença entre os dois residia no fato de que em relação à minha arte o Gil era mais engajado, enquanto o André se envolvia mais no quesito relações amorosas, sempre ouvindo minhas lamentações e infortúnios com o sexo oposto e me dando apoio irrestrito. Nos identificávamos muito, ambos, posso falar sem medo de equívoco, infelizes no amor, mas fieis à pessoas que amávamos, nunca encontrando nelas o tão ansiado eco. Eu tive o Zé Gatão para exprimir minhas frustrações e ele, penso, mergulhou na medicina, sendo um profissional enaltecido com homenagens. 

Nossos caminhos se dividiram no início do novo milênio quando a família partiu de São Paulo para voltar a Brasília, ele, por causa da profissão, teve que continuar na selva de pedra, mas nos víamos amiúde, a barreira subiu mesmo com minha partida para o nordeste e principalmente depois que ele se casou. Embora nos falássemos sempre por telefone nos vimos muito pouco ao longo desses vinte e tantos anos. Ele engordou muito provando o que o restante da família suspeitava: por motivos que não cabe comentar aqui ele desistiu de si mesmo. Principalmente depois da partida de mamãe e Gil. 

Sempre que nos falávamos ele se queixava da vida que levava, dizendo que após nossas perdas, nada mais interessava a ele, lutava para prover o futuro da filha, de quem falava com muito orgulho, todo o resto não importava mais e ansiava pela volta de Jesus, e Jesus o atendeu 😰😰😰😰😰. Ele faria 52 anos agora, 15 de junho, e deixa esposa e uma filha adolescente. 

No início desse ano ele estava planejando vir sozinho me ver em Pernambuco, iríamos, só eu e ele para Porto de Galinhas, sonhei com esse momento. Nunca acontecerá. Isso dói. Estou muito triste.

Tenho muitas lembranças ternas com o André, muitas, nem consigo replicar aqui. A gente não pensa que as tragédias vão se abater sobre nós, eu queria ter dito a ele mais vezes que o amava, queria ter agradecido mais cada gesto de carinho e cada palavra de incentivo......

Conversei com uma prima nossa, muito ligada a ele e ela disse uma frase que me marcou: Nós cinco, meus pais e irmãos, éramos uma família linda que se esfacelou num curto espaço de tempo. Só resta eu e o Rodrigo agora, o caçula e o mais velho, os dois mais improváveis.  

OBRIGADO, ANDRÉ, obrigado por tudo!

ADEUS, DÉ!


  







8 comentários:

  1. Nenhuma palavra consola neste momento. Só posso te recomendar que busque forças na única fonte possível. Como já te disse antes, achegue-se a Deus. Meus mais sinceros sentimentos, meu amigo!

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  2. Neste momento é impossível aplacar os sentimentos que a pessoa que perdeu sente, mas realmente vejo que as memórias são muito mais valiosas nesses momentos. Se cuide meu caro, e cuide dessas memórias.

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    1. Memórias, boa parte de nós é composta dessa coisa abstrata chamada memória, assim contamos nossas histórias e eternizamos fatos e pessoas. Por isso existe a tradição oral. Quisera fosse possível catalogar cada momento passado com aqueles que não mais estão entre nós mas vejo que não é possível, mas, sim, tanto quanto eu puder, vou cuidar das minhas lembranças.
      Gratidão eterna por sua palavras.

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  3. Eduardo meu amigo, desculpe a ausência, também estive no embate com a própria saúde. Que triste notícia. Nas vezes que orei por seu irmão, eu pedi que pelo menos, se fosse a vontade de Deus o levar, que ele não sofresse. Nessas horas confesso que sinto mais pelos familiares que ficam que pelo falecido. É como se um pouco de nós também tivesse morrido. Ainda mais um irmão, uma pessoa que nos remete a infância e juventude, muitas lembranças compartilhadas, mas como diz o ditado, alguém só realmente morre aqui na Terra, quando não existe mais ninguém para se recordar dele. Acho muito estranho quando pessoas ligadas a área médica falecem, por mais natural que isso seja, para mim sempre fica a aquela impressão (que deveria ser óbvia) que todos nós, até aqueles que trabalham com a saúde, estão sujeitos as mesmas leis da natureza e, não existe conhecimento no mundo que altere isso. Seu irmão era apenas alguns meses mais velho que eu. Fique bem meu amigo, procure conforto na sua fé, ela é nosso único porto seguro nesses momentos.

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    1. Pois é, meu caro, não há muito o que replicar, senão a minha gratidão ao Senhor por ter compartilhado com o André tantos momentos preciosos e ter tido o privilégio de conviver com ele nos anos em que éramos quase inseparáveis e acima de tudo pela certeza do reencontro se eu continuar na Palavra e no Caminho (Cristo Jesus). O amor permanece intocado. A saudade é grande e estou muito triste mas prossigo com fé no Pai Celeste.
      Muito obrigado por suas orações e palavras de conforto. Se cuide bem.

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