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quarta-feira, 22 de maio de 2024

ZÉ GATÃO, A ENCICLOPÉDIA QUE NUNCA PASSOU DE UM MERO PLANO E MEU UNIVERSO ANTROPOMORFO EM RELAÇÃO AOS OUTROS.

 

 


Ok, ok, ok, aqui estou sentado pensando no que vou escrever.....sinto que devo dar notícias a vocês mas não faço isso por obrigação, a necessidade de comunicar é forte, embora a vontade de não fazer nada também tenha um poder embriagador. Na verdade queria dormir, dormir e dormir, se fosse para sempre melhor ainda. Há, no entanto, muito o que fazer mas a aquela vontade indômita de criar, de produzir, varando madrugadas - como aquelas onde eu morava com o Gil numa decadente pensão na W3 Sul, no fim dos anos 90, cheio de expectativas e esperanças no futuro - parece que me abandonou para sempre. O que crio hoje não é exatamente um encargo, sinto prazer em ver uma página pronta, é de onde tiro meu sustento e procuro dar o melhor de mim, embora esse melhor jamais será satisfatório, mas tem sido uma sobrecarga pelo modo como vivo. Continuo com Os Mitos Gregos e Rastreadores de Algures, ambos, cada prancha mais perto do final. Principalmente os Mitos, fechando este, minha principal  fonte de renda acaba, estarei oficialmente DESEMPREGADO. Só os Rastreadores não é suficiente para o que preciso para sobreviver. Mas ainda não chegou lá, deixarei para temer na véspera, se for o caso.

Trabalho também na HQ baseada num roteiro de um filme de terror que deve ser lançado ano que vem, projeto este que se delonga, pelo qual já recebi e gastei o dinheiro faz anos. Tenho quase 170 páginas elaboradamente esboçadas as quais terei que finalizar ao final de tudo. Faço o que posso para produzir pelo menos duas folhas por semana, mas nem sempre consigo. Acredito que esse deverá fazer algum barulho quando vier a público por causa das pessoas envolvidas, mas sei lá, eu pensava o mesmo sobre a bio do Poe e passou praticamente invisível aos olhos dos consumidores de quadrinhos. Bem, veremos. 

Felizmente alguns fãs do meu traço encomendam algumas artes a preço módico, o que me permite pagar um boleto aqui, outro ali. E dessa maneira sigo na senda.

Minha saúde não anda muito boa, não é de hoje, mas cada dia que passa o peso sobre meus ombros me envergam mais. Stress, pressão, desilusões (que são inevitáveis) poucas horas de sono, medo, tudo isso baixam minhas defesas e me sinto a mercê dos espectros que rondam todos os viventes.

Meu irmão André ainda continua em situação crítica, mas agora, segundo as informações lacônicas que recebemos da mulher dele, respira por si mesmo e já sai da UTI e segue para um quarto. Não sei se já está consciente, este esclarecimento não temos. Mas é uma ótima notícia e eu quero agradecer de coração aos que se preocupam e oram por ele.  

Também não sei nada a respeito do aguardado (bem, aguardado por uns poucos, pelo que sei) Omnibus do Zé Gatão, a editora nunca mais entrou em contato comigo embora eu já tenha vários arquivos para enviar a ela. Aos poucos vou encontrando aquelas HQs antigas que eu nunca pensei que pudessem chegar a outros olhos que não os meus; difícil será achar aquelas que não estão em meu poder, mas hei de conseguir. Isso tudo me fez refletir sobre umas coisas. No princípio, logo que publiquei o Cidade do Medo, o Gil que me perguntou se neste universo eu só teria mamíferos ou haveriam outras espécies. Respondi que haveria tudo que é tipo de animal, aves, peixes, répteis e até insetos. Pra não ser algo genérico como as histórias do Blacksad onde os autores (muito competentes, devo ressaltar) colocam cabeças de bichos em corpos humanos simplesmente (embora com ótimas expressões), eu procurei uma fusão maior entre bicho e humano e pra evitar confusão eu dividi uma espécie de sistema de casta. Imaginei então uma enciclopédia explicando, por exemplo, que cada espécie animal elegeria cinco representantes para defender suas causas nas legislações (isso foi parcialmente abordado em MEMENTO MORI), mencionando também como eram confeccionadas as vestes, o buraco nas roupas por onde passam as caudas, falar um pouco sobre animais que possuem cascos e como seriam seus calçados, enfim, detalhes desse tipo, sem esquecer os meios de transporte, lembrem-se, não há montarias em Zé Gatão, ao contrario do Usagi Yojimbo, onde o coelho monta um cavalo; no Edmundo, o Porco, uma galinha é só uma galinha. Vejam, eu queria evitar aquelas merdas da Disney onde o Pateta, que é um cão, possui um cão chamado Pluto, e esse é um cão e age como tal. Queria fugir também daquela coisa de um animal namorar com gêneros de espécies diferentes como acontece na Disney, no Blacksad (de novo) e Fritz. Pra isso criei leis de restrição. Um ponto importante: do que se alimentam os carnívoros? Uma espécie devorar a outra não seria legal no meu universo, imaginei então um bichinho totalmente fictício que se reproduziria muito e forneceria uma polpa saborosa e nutritiva aos devoradores de carne, algo como existe no Li´l Abner (Ferdinando no Brasil) e os Shmoos. Cheguei a fazer vários esboços desses bichinhos. No entanto nunca levei isso a cabo, um dos motivos é que quando surgiram muitas dessas questões eu já havia publicado o primeiro álbum e de verdade, eu não pensei em sequências. Ao final de tudo, eu nunca elaborei a tal enciclopédia. Notei que daria um grande trabalho e ninguém publicaria; meu trampo com Zé Gatão nunca foi devidamente compreendido e quem ligaria para essas minúcias? Alguns que viram certo mérito na obra só estavam interessados nas tetas de fora e murros na cara, não todos, claro, mas uma parte significativa e eu acabei deixando esses detalhes pra lá. Comento com vocês aqui pois alguém pode se interessar por essas informações e quem sabe um dia isso não entre para a história?

Acho que é isso. O poeta Barata Cichhetto foi gentil em publicar no site dele todos os contos sobre o Felino escritos pelo Luca Fiuza, valorizando mais minhas ilustrações e colorindo digitalmente algumas delas, reli tudo e isso me trouxe uma onda de nostalgia bem forte (https://agulha.xyz/ze-gatao-por-luca-fiuza-e-eduardo-schloesser/). Logo minha mente começou a imaginar novas situações, mas não, aborto as ideias logo no início, melhor deixar o Gato descansar em paz, sofrer as agruras da existência já basta o criador. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


6 comentários:

  1. Li seu texto e tive a nítida impressão de estar lendo um texto escrito por mim. Fazendo o checklist: desejo de dormir, de preferência para sempre, devido ao cansaço extremo: presente!; projetos que não foram realizados por falta de tempo, tesão ou ambos: tem!; projetos levados a termo mas que, apesar das boas expectativas, deram nenhum retorno relevante: ok!
    Poucas pessoas te entendem como eu. Se publicar valesse a pena, poderíamos criar uma dupla de personagens que batizaríamos Os Lordes do Fracasso ou algo assim. Mas, claro, ninguém publicaria e, se um doido aparecesse e o fizesse, ninguém leria...
    Abraço.

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    1. Lendo seu comentário o meu primeiro impulso foi digitar um monte de Ks, sim, aqueles KKKKKKKs tão comuns em mensagens que emulam gargalhadas, ou botar um emogis rindo com lágrimas nos olhos, pois achei graça no tom que colocou nas palavras. É isso, meu caro, seria cômico se não fosse trágico. As vezes acho que parecemos com aquele roqueiro azarado que você citou num de seus vídeos sobre música, ou o pintor Paul Gauguin.
      Bem, no fundo nem sei porque me queixo tanto, consegui publicar minhas coisas, lidas por quase ninguém, mas o quase aí faz alguma diferença, né? E você é membro da academia de letras da sua cidade, escreveu um livro, teve três belos filhos e se não plantou uma árvore, faça isso na primeira oportunidade e terá cumprido a missão.
      Obrigado por sua presença e amizade, meu prezado. Realmente não posso reclamar, através dos meus quadrinhos eu te conheci e isso já valeu a pena.
      Abraço!.

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  2. Eu poderia aqui começar dizendo que formamos um belo trio, que poderia se chamar Trio Fracasso Puro (ou Duro) e entoar músicas bregas, falando de como a vida (?) nos tratou com tanto mau jeito. Mas, desde que li uma frase de um diretor de cinema dizendo que "sucesso é ir e fazer" concluindo que o sucesso que nos impêem (fama, dinheiro, mulheres, etc.) são consequências desse Sucesso, que podem ou não acontecer. Claro que mereceríamos ter algumas ou todas essas coisas, e eu mesmo já me senti muito mal por não ter nenhuma. Mas conclui que simplesmente será assim, a inevitabilidade de qualquer coisa.
    Aqui está o exemplo de não somos Fracassos: foi por intermédio da arte que conheci "Cliff", e por intermédio dele o Eduardo, E depois, por ele os contos do Luca Fiuza, cujos contos do "Zégatãoverso" abrilhantaram, e muito, meu site... Todos artistas geniais, que mais que isso se tornaram meus amigos. Então o que dizer: Somos fracassados e injustiçados? Decerto que a segunda sim, mas a primeira jamais.

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    1. Caro poeta, você, da maneira que lhe é peculiar, mostrando a realidade que nos envolve, com certo bucolismo e mordacidade, sintetizou muito bem todo o assunto. Costumamos definir sucesso como ter fama e dinheiro quanto na verdade vai muito além disso. O respeito de pessoas do bem, sinceras, honestas é o melhor prêmio que se possa ter; grana (que não é ruim) vem e vai, mas amigos verdadeiros, não há ouro que pague. Eu agradeço sua amizade.

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    2. É que fomos induzidos, desde muito cedo, a esperar recompensas sociais e monetárias pelo que fazemos (Não que não devamos, até porque todos queremos ser lidos, vistos, reconhecidos e pagos pelo que fazemos), mas tais coisas não devem nos ser motivo para que desistamos do que fazemos. A frustração momentânea é lógica e válida, mas nunca deve ser usada como "desculpa", para não continuarmos, seguirmos em frente.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

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