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domingo, 23 de abril de 2023

MINI BILHETE PARA O GIL.

 

 

 No último dia 20 de abril completou dois anos que um vendaval - iniciado em fevereiro de 2021 - roubou o que restava da minha alegria de viver. Ele levou você embora e com sua partida findaram junto todas as cores do meu mundo. Eu penso em nossa família assim, como um pequeno quebra cabeças, não esses de centenas de peças, de imagem grandiosa, mas uma cena modesta, porém bucólica. Esse quebra cabeça hoje está incompleto, faltam duas peças centrais, não aquela dos cantos, mas do meio, para onde os olhos convergem, peças que não são possíveis mascarar, muito menos substituir. Falta nossa mãe, FALTA VOCÊ. Nosso pai, importante, sim, é lógico, não era o eixo (embora provedor) mas você e Francis eram os pilares que sustentavam a mim, André e Rodrigo, vocês eram os elos que nos mantinham unidos. Quando Francis partiu eu fiquei sem teto, quando você se despediu eu fiquei sem chão. 

O furacão que te levou ainda me mantêm suspenso, flutuando nos turbilhões do medo. Mas não é um medo irracional e sim uma sensação de perda e solidão que sempre me assalta como uma entidade que se manifesta nos momentos em que relembro que só com nós cinco juntos é que eu experimentei alguma alegria. Por mais que eu tente compreender porque você se foi, menos consigo aceitar, embora externamente eu deixe transparecer que a vida segue. Não, não há vida, há apenas o existir, o respirar, o necessitar de combustível para esse corpo continuar funcionando. 

Eu continuo navegando à deriva, em águas salobras, movido por uma brisa tóxica. Continuo trabalhando muito e recebendo pouco, talvez isso seja merecido, não me julgo tão bom quanto as pessoas generosas pensam que eu sou. Nosso DEUS conhece a minhas falhas. Sinto o amargor das frutas que colho, cuja as sementes plantadas eu pensei que fossem saborosas e não tenho você aqui para me apoiar, para me ouvir.

Sabe aquele mundo sobre o qual sempre falávamos e tentávamos lutar contra, alertando e tentando fazer os outros verem?  Pois neste mundo agora, mais que nunca grassam pessoas perversas que detêm o poder, essas mesmas entidades malignas, muitas delas na cadeia quando você ainda estava aqui, agora estão soltas e outros se associaram a elas e com mais fúria pervertem o bem em mal, o certo em errado. Exatamente como lemos em Isaías 5:20. Talvez, se existe alguma réstia de luz em toda essa escuridão, é saber que você não está mais aqui para testemunhar essas monstruosidades.

Não tenho mais planos para projetos pessoais. Como me satisfazer com o ato da criação sem compartilhar de algum louro com você e mamãe? Nosso Zé Gatão foi aposentado, Siroco, a última aventura que criei enquanto vocês ainda estavam comigo, aguarda chegar ao minúsculo público e aquelas HQs curtas, bem intimistas, que você conhece tão bem, ficarão sepultadas em seus envelopes pois duvido que alguém tenha interesse em trazer à luz.

O poema "Marcha", da Cecília Meireles, resume bem meu estado de espírito. Talvez seja melhor eu silenciar meus sentimentos, não mais verbalizar minhas tristezas, internalizar, trancar tudo, junto com outras dores e fracassos, não falar mais de você ou de Francis, essa dor é minha e só minha.

Queria dizer até breve, querido, mas.......nos veremos de novo? Não sei, não sou digno das promessas feitas pelo Criador.

Finalizo esta breve mensagem sabendo que você não vai ler, repetindo aos ventos que arrasaram tudo a única palavra que é rígida e inflexível em meu viver: saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade.....



quinta-feira, 13 de abril de 2023

RICHARD CORBEN MAIS UMA VEZ

 Já comentei à exaustão que o trio que fundamenta o meu modo de fazer HQs compõe-se de Rich Corben, Bernie Wrightson e Tanino Liberatore. Já roubei muito desses três artistas, mas o que sempre me impressionou mais foi o criador de DEN, desde que vi sua arte impressa nas páginas da antiga Kripta da RGE - a número 21, pra ser exato - e fui fisgado de vez ao ver sua arte colorida numa revista importada intitulada 1984, numa livraria; tudo isso nos idos dos 70.

 Eu não recordo como, mas eu consegui naqueles tempos a Heavy Metal de Junho de 1979 - aquilo era caro pra burro! - e ali havia o penúltimo capítulo do THE NEW TALES OF THE ARABIAN NIGHTS, SINDBAD IN THE LAND OF JINN. 

Foram essas as fórmulas da droga que correu por minhas veias e me deixou viciado em tudo o que o mestre produziu.

Aprendi algumas coisas com Corben, algo que observei, não exatamente nos desenhos, que são inimitáveis, mas no modo de compor cenas, em fazer com que elas fossem factíveis mesmo que o todo parecesse improvável, ou seja, nem sempre a anatomia ou a perspectiva esteja exatamente correta, mas que ela funcione, cumpra o seu papel. Sempre o considerei ótimo anatomista, suas figuras masculinas sempre musculosas (ele era entusiasta do fisiculturismo) soavam muito mais reais do que os feras como John Bucema ou Neal Adams. Muito bom roteirista, tinha ótimas ideias, principalmente nos seus primórdios, no período em que ele atuou em publicações undergrounds como Weirdon, Fantagor e Slow Death. Histórias como Rowlf, Cidopey e o Crepúsculo dos Cães, comprovam.

No entanto apesar do desenho, ao meu ver, irretocável, nem todas as histórias me agradaram incondicionalmente. Como meu inglês sempre foi ruim, baixei há uns anos uma versão do New Tales Of The Arabian Nights em espanhol e pude compreender melhor o argumento e não curti, a culpa ali não cabia ao Corben, mas ao seu amigo roteirista Jan Strnad, achei básico demais para uma arte tão primorosa. O mesmo sinto em relação ao Den, os dois primeiros números ainda passam com louvor aquela atmosfera de fantasia bárbara mesclada com sci-fi e terror, mas as edições seguintes me soam confusas (mais uma vez Rich trabalhando com outro roteirista, neste caso com Simon Revelstroke). Mas ele se saiu bem ao lado de Bruce Jones, com Rip In Time, por exemplo. 

Com seu falecimento em dezembro de 2020 eu supus que a maioria dos seus álbuns (que fizeram mais sucesso na Europa do que em seu país de origem) fossem ser republicados após anos sem reimpressões e não me enganei. Na França já haviam restaurado O MUTANT WORLD e BLOODSTAR e publicados via financiamento coletivo em tomos luxuosos a um preço inimaginável. Agora a Dark Horse trás ao público uma nova versão de MURKY WORLD e os volumes de DEN são restaurados e voltam a ser impressos a partir de agosto. Essas obras do Richard estiveram sem republicação por mais de 40 anos! Bom para os fãs e para a família e talvez para uma nova geração de leitores de quadrinhos. Digo talvez por sempre sentir que a obra do Corben é melhor apreciada pelos seus pares do que pela grande maioria dos consumidores de gibis, que sempre enalteceram Jim Lee e tais como ele. Lembro quando uma editora brasileira trouxe o RAGEMOOR, muitos comentários foram do tipo: "a história é legal, mas os desenhos são meio estranhos".   

Tirando meus exemplares da estante e das caixas para fotografar e mostrar a vocês a minha coleção Corben, senti o desejo de voltar a fazer as minhas HQs; a verdadeira arte para mim tem esse poder, de inspirar. Já comentei com vocês o meu plano de fazer uma antologia de contos em forma de quadrinhos, um grosso volume que provisoriamente, na minha cabeça, chamo de HISTÓRIAS DO FIM DO MUNDO, um apanhado de bizarrices sem nenhum respeito pelo politicamente correto. Mas confesso que depois do primeiro entusiasmo eu me lembro que vivo num país chamado Brasil, num tempo onde programas de computador fazem artes, escrevem textos e criam músicas. Somado a isso, não tenho mais energias ou tempo para viajar em minhas ideias, quase falido financeiramente, existindo ainda única e exclusivamente pela misericórdia de Deus; então, como dar vida às essas veleidades? Como publicar depois de anos laborando madrugada à dentro? Lembrando que de PHOBOS e DEIMOS só foram impressas 50 cópias após 15 anos de sua criação e ZÉ GATÃO-SIROCO  até o momento nem tenho notícias! Talvez seja melhor eu manter Histórias Do Fim Do Mundo fechado dentro do porão da minha mente. O tempo dirá. 

Fica aqui mais uma vez o meu agradecimento ao Richard Corben por fazer parte da minha conturbada vida e ter me inspirado a criar algumas coisas para eu não passar por esse mundo como uma mera sombra. 

O primeiro volume de Den foi-me presenteado por meu old pal Luca quando ele voltou da Inglaterra no final dos 80 e guardo com muito carinho.


Coleção espanhola da Toutain, uma luta conseguir cada edição. Nunca encontrei o UNDERGROUND (o número 3 da coleção). A do Lobisomem ganhei de presente do meu irmão André e a versão colorida de BLOODSTAR, meu pai me ajudou a conquistar.

O segundo livro desta leva é francês, comprei baratinho na Livraria Francesa, seria o equivalente ao Underground em espanhol, mas existem várias histórias que não estão inclusas neste volume, a capa é igual ao volume 2 da coleção espanhola. O WER IST RICHARD CORBEN? recebi de presente da minha grande amiga Mira Werner.

A edição Max (Lovecraft) meu saudoso irmão Agildo trouxe para mim dos EUA.

Esta versão de BLOODSTAR foi também presente da Mira Werner, é a primeira edição em preto e branco lançada em 1979.

Esta série do Hulk foi publicada pela Panini Brasil em volume único. 


A mesma dupla da série Banner (Azzarelo e Corben) retornam na inauguração do selo Max da Marvel com Cage. Pra mim, um erro não publicarem todas as capas do Rich. 

Nas edições da Marvel (Planeta Hulk) tem o Motoqueiro Fantasma desenhado por Rich, e no volume da Pixel, O Monstro do Pântano. 

DEN SAGA, um retorno um tanto irregular.

From The Pit prometia uma ótima saga, mas infelizmente Corben fracassou tentando editar seu próprio material, a história só teve essa edição, uma segunda seria publicada por ele mesmo numa pequena revista que teve tão baixa tiragem que nunca consegui encontrar. DENZ é uma paródia de Den que Corben fez para a Penthouse Comix, a volta dos peitões e pintos grandes, hahahaha! 

Bons momentos do mestre no mainstream. O que ele fez no Hellboy tinha tudo a ver com ele (e comigo). Tenho outras coisas soltas do Corben em edições gringas da Vertigo mas não consegui achar para fotografar para vocês, fico devendo. 




segunda-feira, 3 de abril de 2023

UM PARAFUSO A MENOS (OU ALGUNS DELES MEIO FROUXOS).

 Hello folks!

Ontem, domingo, eu passei muito mal. Almocei bem - muito bem! - mas devido ao cansaço que faz parte do meu estado natural, ou seja, não é uma fadiga própria de um esforço físico ou mental, mas um esgotamento vindo da alma, por fim eu não me sinto exausto, eu SOU exausto! Bem, por conta disso eu me deitei um pouco para relaxar e cochilei, afinal, domingo deveria ser um dia para dar uma pausa das tarefas cotidianas. Acordei com cefaleia e dores nas juntas e uma sensação de febre. Virose? Dengue? Não sei. O caso é que eu preferi não trabalhar, tomei um paracetamol e fiquei diante do notebook ouvindo um pouco de música, vendo uns vídeos e lendo uns gibis que eu tinha baixado há um tempo atrás.

E antes d´eu falar sobre isso deixe eu salientar que meu inglês sempre foi muito ruim, eu nunca tive grana para fazer cursos como outros garotos conhecidos da adolescência (naquela época eles aprendiam na Cultura Inglesa). Como muitos colegas artistas que conheci depois, eu tentei aprender inglês sozinho, traduzindo quadrinhos, músicas, tentando cantá-las para ter boa pronúncia e etc, mas nunca consegui avançar, ao contrário dos tais colegas que viraram até tradutores de livros. Acho que eu era preguiçoso demais, sei lá. Outra coisa que não me conformo é de não saber dirigir um carro, é coisa de necessidade, mas não tive oportunidade quando era jovem e de uns 30 anos para cá acabei desenvolvendo um medo patológico disso. E eu via que pessoas muito mais limitadas que eu se tornaram bons motoristas, vovózinhas dirigem e eu permaneço esse retardado que mal anda de bicicleta. 

Eu sempre fui meio lento da cabeça, na escola eu demorava muito para aprender as coisas, elas começavam a fazer sentido só um tempo depois e mesmo hoje, regras de português por exemplo, eu confundo tudo. Gostava de história mas abominava matemática, física, biologia e todas essas coisas que requerem fórmulas para serem devidamente compreendidas. Fui meio que obrigado, um tempo desses, a fazer um teste de autismo, em casa mesmo, e o resultado foi que eu tenho algo de autista no extenso espectro da coisa. Isso explicaria muito, inclusive a minha eterna sensação de inadaptabilidade a tudo e a quase todos. Ok pra mim, o que podia dar errado já deu, nessa altura da vida pouco importa essa merda toda de convívio social ou fazer parte de um mercado que nunca cheguei a participar, sequer conhecer.   

E, sim, agora depois dessa digressão volto aos gibis que baixei para ler, um deles foi o primeiro volume da revista Heavy Metal, aquela que nos EUA causou frisson nos acostumados aos comics de super heróis ou o underground. A edição foi aquela primeirona, de abril de 1977, com arte de capa do Nicollet que ilustra esse post. Como eu disse, por não saber inglês, só agora, traduzida, eu pude ler o conteúdo e confesso ter ficado um tanto decepcionado; talvez nos anos 70 os temas como drogas, sexo e certa distopia fossem alguma novidade e causasse espanto no público, mas não sei, desde os anos 60 com a Zap essas coisas já eram abordadas de forma mais franca e com menos pudor. Pode ser que a variedade de estilos e temas aliado ao acabamento gráfico tivessem feito a diferença, se foi isto, continua recebendo os meus aplausos, mas a qualidade das histórias na grande maioria deixou a desejar, pelo menos nessa edição de estreia. Temos lá as artes inigualáveis do Druillet, do Alain Voss, do Moebius com seu Arzach (ponto alto, para mim) e o Corben com Den (sobre ele especificamente falarei mais uma vez numa outra postagem). 

Mas uma coisa que me chamou a atenção, foi a amostra grátis de um capítulo do Livro do Terry Brooks chamado "A Espada de Shannara" (não sei se foi publicado no Brasil), na época alardeada como a maior saga de fantasia desde o Senhor dos Anéis. A saga de Brooks teve, parece, 27 livros, mas não obteve o sucesso que esperavam, apenas uns anos mais tarde o Robert Jordan, com "A Roda do Tempo"  alcançaria popularidade quase (eu disse quase) como Tolkien. 

O primeiro capítulo de A Espada de Shannara é bom, mas nada que eu não tivesse me empolgado mais lendo Conan e Bran Mak Morn do Robert E. Howard (onde tudo parece ter começado).  

Na segunda metade dos anos 70 havia uma certa febre por literatura fantástica de ficção científica (que muito deve ter mexido com a cabeça dos criadores da Metal Hurlant), como Duna e Cavalo de Troia, títulos lidos pelos garotos que conhecia, Perry Rhodan era quase uma obrigação, mas nunca me senti o público alvo desses livros. Eu ainda gostava mais de ler os clássicos brasileiros e os romances góticos, tipo Drácula, O Médico e o Monstro e fascinação por tudo o que o Poe escreveu. Devo lembrar que Frankenstein eu só vim entender o verdadeiro sentido - e apreciar devidamente - depois de mais velho. Os livros que viraram filmes, como Em Algum Lugar do Passado, Vampiros de Almas, Poderoso Chefão, Papillon e etc, fazem parte da minha biblioteca até hoje.  

Eu ainda continuo arrastadamente (pelo fator tempo) lendo o Don Quixote pela segunda vez e tendo agora uma melhor visão desse que para mim é um dos melhores livros de todos os tempos.

 

 Pareci detratar o número de estreia da Heavy Metal? Não, só esperava um teor mais inteligente nos textos, mas com certeza ela abriu portas e acima de tudo ainda permanece a memória afetiva dessa revista que tanto me encantou quando pus os olhos nela pela primeira vez e muito me inspirou a fazer os quadrinhos que gosto de produzir. 

Ainda me sinto febril e fraco, espero melhorar logo, há muito trabalho a ser feito.


 

A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...