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domingo, 21 de abril de 2024

A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

 


 No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombras que existem na minha alma. Devo ressaltar aqui que quando uso palavras funéreas sobre minha vida ou condições de vida não o faço movido por espírito de coitadeza, pra aparecer ou coisa que o valha, mas por não mascarar os sentimentos que tenho sobre as situações adversas que me acometem e elas são frequentes desde que me entendo por gente.

Existem pessoas bem-aventuradas (falo daquelas que nasceram bem, tiveram boa educação formal, viajaram bastante, comeram fartamente, foram populares com as garotas, são gente do bem e etc e etc) que tiveram seus momentos ruins vez ou outra, mas deram a volta por cima e tem uma espécie de vocação para a felicidade, os conheci e não foram poucos, mas eu não sou assim, inclinado à depressão (existem momentos crônicos e sei que a única razão para não dar cabo da vida é a presença de Cristo no meu existir). Com tudo isso, meus irmãos sempre foram fortes colunas de sustentação, todos os três, mas o Gil  era o mais presente e ficar sem ele tem sido um fardo duro de carregar.

Sobre o André, a mensagem lacônica da esposa dele para o Rodrigo (nosso caçula) ontem, foi: "infelizmente o quadro permanece o mesmo". Então é isso? Ele continua em coma induzido há quase dois meses? Me sinto estranho ao pensar sobre isso, meu irmão vive mas está  desligado do mundo, da realidade. Já ouvi falar de casos em que esse banimento provocado por AVC foi até maior mas voltaram com o mínimo de sequelas ou nenhuma e isso dá um calor de otimismo, mas um medo me toca vez ou outra lembrando o quando este mundo é tenebroso e eu posso sofrer mais uma perda irreparável. Me sinto muito, muito triste. As orações e fé continuam. Nada mais posso fazer.

Minha situação financeira atual é das mais precárias (pudera, nosso país amarga maus tempos como a muito não se via!), não é novidade, mas mesmo assim não consigo me acostumar, as pressões continuam e só sobrevivo porque Deus me dá suporte. 

Não falarei mais da saudade imorredoura do meu amado irmão, vocês nada tem com isso, no ano que vem, nessa mesma data, se vivo eu estiver, guardarei as lágrimas só para mim, assim como nada falarei sobre a partida da minha mãe dois meses antes.

Pensei em encerrar com um texto bíblico, mas acho que uma frase de uma música do Roberto Carlos (quando ele fazia boas canções) soaria mais com o que me vai na alma sobre o Gil: "foi pouco o que restou de tanto que existiu: recordações e nada mais."

Saudades, querido, espero que nos vejamos em breve.  

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 2 de abril de 2024

RESENHA DE ZÉ GATÃO - SIROCO POR CLAUDIO ELLOVITCH

 O cineasta Claudio Ellovitch, com quem tenho a honra de trabalhar atualmente (num projeto que, por culpa minha, está bastante atrasado) tem uma grande bagagem como leitor de HQs, é de grande discernimento e muito, muito sincero. Siroco não é o álbum preferido dele, mas mesmo assim ele fez um comentário sobre que merece registro e eu só tenho a agradecer as palavras.

"Siroco é uma obra singular, de um artista singular. Debaixo do verniz de uma história de ação e ficção científica, quase dá para ouvir Eduardo Schloesser gritar, um grito que mistura indignação com frustração e emoções represadas. A violência é o grito. A arte é muito autoral e, mesmo que dê para sentir algumas referências propositais do autor, é única e inimitável. E, como sempre, os ângulos, os enquadramentos e as composições são o grande forte do Eduardo. É mais um capítulo imperdível na saga do personagem Zé Gatão!"

segunda-feira, 25 de março de 2024

UMA GRATA SURPRESA E UMA PEQUENA DECEPÇÃO

 Boa noite a todos!

Antes de entrar no assunto, uma satisfação aos que sentem simpatia por minha arte e pessoa, esses que torcem e oram por mim: meu irmão André continua em coma induzido, o quadro é demasiado sério e preocupante, entretanto, segundo o que a esposa dele relatou ao Rodrigo, meu irmão caçula, uma tomografia da cabeça dele revelou algo que deixou os médicos otimistas. Entretanto, não entendo bem a linguagem médica e vou evitar os achismos. É continuar orando e esperando com fé, o Senhor está agindo. Espero vir aqui em breve com boas novas.

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Sempre me considerei um leitor voraz, cheguei a ler uns três livros de bom volume de páginas por semana, foi nesse período que li os grande clássicos da literatura (Shakespeare, Divina Comédia, Ilíada, Camões, Dostoiévski, Machado, Lima Barreto, José de Alencar, Eça, Don Quixote e etc e etc). Mas isso, claro, numa época em que eu não tinha tantas responsabilidades e gozava de um tempo maior.....na verdade, responsabilidade grande nunca me faltou, difícil lembrar de um tempo em que eu não estivesse executando algum trabalho, na maioria das vezes para meu pai, mas é diferente quando você se casa, é o único provedor da família e tem que matar um T-Rex por dia. Ainda cheguei a ler bastante em coletivos quando ia com mais frequência aos grandes centros ou esperava por atendimento em algum consultório médico. Hoje em dia não consigo mais a antiga concentração para mergulhar nas letras se não estiver sozinho e totalmente alheio aos dramas da vida real. Pra ler algo, mesmo um gibi do Conan, eu levo um tempo considerável e eu me aborreço com leituras picadas, mas não tem outro jeito, se quiser fugir um pouco da minha realidade cotidiana e me inserir na cabeça de outra pessoa, tenho que me contentar com três, cinco páginas diárias, com sorte, um capítulo, se ele não for muito longo. 

Foi assim que concluí minhas duas últimas leituras as quais considerarei aqui pois valem a pena falar sobre elas.

 

Solomon Kane, de Robert E. Howard. Gostei muito das histórias desse tomo, bem escritas pra cacete, embora eu sinta que era um período em que o autor estava amadurecendo seu estilo (lembrando que essas foram antes do seu personagem mais famoso florescer para o mundo). As narrativas são de aventura quase sempre mescladas com terror e muita, mas muita violência mesmo! Nota-se que a pena de Howard não tem a mesma verve, podemos dizer assim, de um Tolstói, mas possui uma vitalidade de quem vive com paixão as sagas que escreve, senti isso nos três volumes do Conan e Bran Mak Morn, mas Kane tem um charme especial que de alguma forma provocou imediata identificação em mim. Mais uma vez o trágico escritor dos pulps não me deixou na mão. Ponto pra ele.

 

 Agora falemos sobre outra obra famosa, que tem toda uma história por trás, O Livro da Selva, do genial Havey Kurtzman. Estava ansioso pra ler pois sempre ouvi falar que era revolucionário. O que conhecia deste autor foi o que ele produziu para a EC Comics e, é lógico, suas lendárias criações para a MAD em seus primórdios. Mas em mim, o que ele colocou neste livro, não pegou na veia. Muito bem desenhado em seu conhecido traço humorístico/caricato mas não achei engraçado, uma ou outra cena, talvez, eu tenha dado em meio sorriso. Claro que entendi a intenção do autor, que é brilhante em fazer as onomatopeias como parte indissolúvel do quadro, as notas das canções de jazz imiscuídas na narrativa, suas figuras femininas que só ele sabia idealizar, as sátiras aos costumes da época, mas no cômputo geral não me empolgou. Talvez se eu tivesse lido na adolescência, ou melhor ainda, nos anos 50, data em que a obra foi concebida, minha impressão fosse outra. Kutzman era um gênio, muito acima dos seus pares, é inegável, mas sua obra mais louvada pelos experts, tipo Gilbert Shelton e Art Spielgman, sem contar os "especialistas" brasileiros de plantão, me desapontou.  

Fiquem todos bem e até a próxima.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 16 de março de 2024

A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE COMENTADO PELO ESCRITOR E POETA BARATA CICHETTO

 O livro que tive o prazer de trabalhar ao lado do ficcionista Rubens Francisco Lucchetti intitulado A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, poderia, segundo muitos, ser melhor divulgado, comentado e badalado pela chamada mídia dos quadrinhos (sim, ela existe na forma de sites, blogs e canais do YouTube e tutti quanti), mas não foi assim que aconteceu. Onde travou? Teria a editora sido tímida ao propagandear a obra? Seria o leitor médio de HQs burro e/ou preconceituoso? Não sei, quem me acompanha há muito tempo sabe que já discorri sobre esse assunto aqui no blog exaustivamente e me nego a fazê-lo de novo, mas é realmente curioso que esse tomo tenha sido ignorado até hoje. Sim, alguns youtubers fizeram sua parte como o do canal Milhas e Milhas e mais uns outros (comentei e deixei links deles aqui neste espaço), mas são canais pequenos, nichados demais.  

Confesso - estou sendo repetitivo - que julguei que A Vida e os Amores faria um alto barulho, não por minha arte, mas por causa do roteirista, que tem muitos fãs e, principalmente pelo biografado que é cultuado mundialmente.....bem, nesse ponto, devo dizer que talvez no Brasil EAP não seja tão reverenciado assim.

Contudo, há muito tempo, depois de ser cancelado por ser eu mesmo, pela mídia dos quadrinhos, deixei de me importar com a quantidade e me focar na qualidade dos que gostam do meu trabalho. E isso fica muito evidente nesta resenha que o escritor e poeta Barata Cichetto fez sobre essa graphic novel. 

Não comentarei sobre ela, leiam vocês mesmos e tirem suas conclusões, comentem lá, digam o que acham, o livro ainda está a venda por um valor até baixo pela qualidade gráfica que oferece.

O link é esse:  /https://agulha.xyz/a-vida-e-os-amores-de-edgar-allan-poe-a-gata-o-escritor-e-o-homem-que-desenha-palavras/

E, lógico, deixo registrado minha gratidão ao Cichetto pelo carinho, respeito e admiração! Deus te abençoe brother!

Lizzy, a felina que é dona do poeta, prestigiando a biografia do Poe.

 

terça-feira, 5 de março de 2024

UM NOVO ZÉ GATÃO EM 2025?

 


 Enquanto meu irmão André agoniza em uma UTI num hospital em São Paulo, sou obrigado a dar continuidade à minha vida, lutar pelo pão cotidiano. Notícias frescas sobre ele, creio, só teremos quando finalizarem o coma induzido, só sabemos que o caso é gravíssimo e requer, além do máximo que os médicos puderem fazer, muitas orações.

Enquanto isso, anuncio aqui um novo ZÉ GATÃO para 2025. Mas não se deixem enganar pelo título, o novo não tem nada de novo, será um OMNIBUS compilando tudo o que já foi publicado até o momento (da Cidade do Medo ao Siroco), o que totaliza mais de 800 páginas. Será lançado pela Editora Universo Fantástico. A editora planeja uma edição de luxo em capa dura, formato grande. O que teremos de novidade é que todas as HQs curtas (inéditas) que criei para mim mesmo e que estão guardadas em envelopes - que nem sei exatamente onde estão - serão publicados também, além de um belo volume de pinups e sketches do Felino, o que fará com que o tarugo ultrapasse as mil páginas. 

Porque a epígrafe dessa postagem tem um ponto de interrogação? Não sei, o tempo e as circunstâncias sempre adversas me tornaram bastante incrédulo, então, enquanto o grosso e pesado volume não chega às minhas mãos, não abro o champanhe. Muita coisa pode acontecer até 2025, num país em que absurdos são tratados como se fossem coisas normais, mas vou tentar ser otimista. O editor garantiu que é líquido e certo, então, vou dar uma chance aos sonhos.

Normalmente só anuncio um novo projeto quando ele já está em gráfica, mas o chefe da Universo Fantástico acha legal criar expectativas com bastante antecedência.

Se fico feliz? Claro, muito! Mas é uma alegria bastante reduzida e creio que vocês sabem o motivo.

Evidentemente falaremos bastante disso aqui até que esteja pronto, mas tudo a seu tempo.

Fiquem todos com Deus!

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

A DOLOROSA IMINÊNCIA DE UMA NOVA PERDA

28/02, Quarta-feira 23:15h - Ansioso, triste, solitário e vazio. Não sei exatamente como me expressar. No momento estou sem Whatsapp. Nesta tarde eu recebi um recado do Rodrigo, meu irmão caçula, via Messenger: "Eduardo, preciso falar contigo, é urgente." Logo fiquei preocupado, ele havia cancelado seu Facebook há uns bons anos, para resgatar sua conta, alguma coisa ruim havia acontecido. Dito e feito, nosso irmão André, o médico, sofrera um AVC ontem de madrugada. O caso é grave, ele se encontra em coma induzido. Vocês, meus amados e amadas podem imaginar como estou me sentindo. Sou o mais velho de quatro irmãos, sempre nutri por eles amor incondicional, sempre foram, são e serão os meus melhores amigos. O Gil foi guardado por Deus em 2021, como muitos sabem, deixando uma lacuna na minha alma que jamais será preenchida, agora me vejo ante o pesadelo de perder nosso querido Dé.

Sinto ainda o choque, já chorei convulsivamente esta tarde, e no momento só sinto vacuidade no meu ser.

De todos os meus irmãos, o André era o que mais se identificava comigo em termos de gosto por coisas como livros, músicas e quadrinhos. Gil e Rodrigo também, claro, mas não como o André. Em termos de som ele tinha predileção por metal e hard rock, enquanto eu sempre fui mais pop, com inclinação para o blues e principalmente o erudito. Ele consumia Neil Gaiman e Alan Moore com muito entusiasmo enquanto eu preferia o europeu e o alternativo. Eu era Poe e Lovecraft, ele, Stephen King. Eu, os clássicos brasileiros e russos e ele Tolkien e SiFi. Eu o ensinei amar o Queen e ele me ensinou a amar Scorpions. No cinema, entretanto, gostávamos basicamente das mesmas coisas. Acho que não teve um único clássico dos anos 80 que não tivéssemos assistido juntos uma dezena de vezes. Comprávamos tantos VHSs, gibis, vinis e livros em sebos e ponta de estoque que quase viramos acumuladores, nem tudo conseguíamos ler ou assistir. Tínhamos/temos um único Deus e um único Mestre e Senhor, a saber, Jesus Cristo. Então vieram as esposas, as responsabilidades, eu envelheci, ele engordou e nos afastamos um pouco, nos falando periodicamente. Quase mensalmente ele me enviava ajuda financeira, fosse pra pagar uma conta de água, luz ou internet. Ele sempre foi paternalista e vivia me dando conselhos para eu procurar alternativas, pensava num modo de eu ganhar dinheiro com minha arte ao invés de deixar os outros fazerem grana com ela. Há tanto a dizer sobre ele......escrever essas coisas ajudam a diminuir um pouco a dor de pensar que posso não vê-lo mais.

Mas falo dele como no passado, ele ainda está vivo. Não obstante, quem vos escreve é um velho de 61 anos que sempre teve quase nada de respeito e atenção por parte do mundo, perder quem lhe propicia  essas coisas é algo a se temer...e eu perdi mãe, filha e um amado irmão, seria muito cruel perder outro. Estou orando para que Deus o restabeleça sem sequelas. Mas confesso que tenho muito medo. 

Espero voltar aqui com boas notícias.

Fiquem todos bem.



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

TRÊS ANOS DE SAUDADES

 Eu pensei em não tocar mais neste assunto, guardar pra mim em definitivo, talvez eu faça isso ano que vem, se ano que vem eu ainda estiver por aqui. A dor  é a mesma, pois ferida da alma, diferente do corpo, não cicatriza da mesma forma. Três anos que o Senhor a levou.

Não vou generalizar dizendo que este universo é um lugar vil e inclemente - parece não ser para todos - vou falar apenas por mim, dizer que meu mundo é um vasto deserto que percorro há 61 anos sem uma bússola, onde sempre me vejo encontrando o mesmo ponto de partida, é certo que por vezes eu encontro um oásis mas ele é sempre tão fugaz que nunca discirno se é uma miragem ou não. Tudo parece ser dor, solidão e cansaço.

Estou tentando reclamar menos e agradecer mais. Entender que o cristianismo não é alegria, prosperidade e bem aventurança material, mas suportar com paciência as cargas que nos são impostas, sejam pelas circunstâncias ou mesmo pelas pessoas e ajudar o semelhante a carregar seus fardos. Estou empenhado, mas quase sempre eu falho miseravelmente. 

Então eu lembro que apesar dos muitos queixumes e lágrimas, Francis nunca desistiu e manteve a fé até o fim, sendo ela mesma, sem máscaras.

Há mais para falar/escrever mas sei que é exaustivo para quem ouve/lê, por isto concluo sempre declarando meu amor e saudades eternas por você, Francis, minha genitora, meu único e verdadeiro amor.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

SIROCO RESENHADO POR DANIEL LÚCIO

 


Zé Gatão é um personagem que conheci nos anos 90 numa das minhas inúmeras peregrinações à cidade de São Paulo, e pelo que sei, praticamente na mesma data de sua estreia comercial.  Vejo o personagem como um produto daqueles dias, apesar de que quase tudo tenha mudado na sociedade e costumes (não necessariamente para melhor) ao longo desses anos, os temas abordados continuam espantosamente atuais.

Como falar de Siroco sem compará-lo as obras anteriores do Eduardo? Traçando uma ponte entre os extremos, Siroco e Cidade do Medo, dá para notar uma evolução enorme no conjunto da obra do Eduardo nesses mais de 25 anos.

Siroco entrega tudo que Zé Gatão sempre representou, mas melhor e mais bem amarrado, mais conciso, claramente é um espelho do amadurecimento do autor.

Os personagens são cativantes, algo que sinto falta até mesmo nas grandes obras cinemáticas atuais, é possível sentir a ojeriza que o autor tentou passar ao criar por exemplo a gangue dos urubus, com suas feições repugnantes e cheiro fétido. O clima tenso e opressor ao adentrar na nave infestada por seres aracnídeos.

Como não vibrar com o destino do rato puxa-saco que servia ao hipopótamo emissário dos figurões? O hipopótamo é uma referência explicita da nossa sociedade real dominada por oligarquias que nunca dão as caras e conseguem tudo o que querem através do dinheiro e manipulação.

Apesar das críticas implícitas e explicitas, Zé Gatão não é uma obra progressista, o autor deixa claro num breve diálogo durante a história as incoerências dessa vertente política, convenhamos, posicionamento raro de se ver principalmente no meio artístico, certamente praticado por alguém que não teme, ou não se importa mais com o cancelamento automático que comumente se segue, talvez por já sofrer com ele.

Siroco segue a tradição dos trabalhos anteriores e nos entrega uma deliciosa brutalidade sem pudores, diria até que acima dos demais, como sempre é uma violência justificada no contexto da história. Muito embora as cenas de sexo dessa vez inexistam, temos agora uma abordagem muito mais sutil e romântica, confesso que gostei, são aquelas pequenas doses de esperança e suavidade para contrabalancear o mundo duro e mortal de Siroco.

Aliás, quem conhece o Eduardo, mesmo que virtualmente como eu, sabe que ele é um cara temente a Deus, extremamente educado, contido e culto, quando leio Zé Gatão não posso deixar de ter um sorriso no canto da boca imaginando o contraste entre autor e obra, não tenho dúvidas que Zé Gatão é também uma forma de extravasar aquela “boca do lixo” que todos nós, independente da classe social, temos internamente.

Não sei se as pequenas mudanças introduzidas em Siroco foram propositais, acredito que sim, acredito que o Eduardo quis que as impressões deixadas sejam as derradeiras, afinal, tudo leva a crer que Siroco é uma HQ que encerra o ciclo de narrativas conexas do Zé Gatão, para minha tristeza. Sempre resta a esperança de ainda sermos agraciados com histórias solo e/ou qualquer rascunho que o Eduardo certamente tem sepultado em suas gavetas.

Pintura de Guerra é um material adicional opcional que entrega muito pelo que foi cobrado. Não costumo ser apreciador de HQs coloridas, elas remetem a minha infância onde devorava álbuns, gibis e cartilhas como os do Mortadelo e Salaminho, Brasinha, Mônica, Daniel Azulay, Ely Barbosa, entre tantos outros, todos coloridos, acabo involuntariamente associando o colorido a HQs infantis, mas em Pintura de Guerra as cores funcionam maravilhosamente bem, o Eduardo é um mestre da experimentação e parece ter usado técnicas não tão convencionais que deixa tudo perfeitamente harmonizado, são duas histórias coloridas dos primórdios do Zé Gatão, Pintura de Guerra é um primor visual, vários quadros dariam facilmente um poster, embora sofra de problemas citados pelo autor na introdução, Right Here Right Now (entrego a idade se disser que esse nome me faz lembrar do popular telejornal? Aliás pensando bem, dado o enredo, acho que caiu uma ficha aqui hem?) apesar de curta e despretensiosa, tem um final inesperado e admito ter gostado demais.  Como bônus temos um conto e uma entrevista com o Eduardo. Pintura de Guerra em resumo é uma pequena pérola.

Minha consideração final é que Siroco é aquela obra que deve estar na estante de qualquer pessoa que realmente goste de bons quadrinhos, não só os fãs do Zé Gatão, um trabalho atemporal, claramente o apogeu artístico do Eduardo, um cara que não canso de admirar, principalmente porque ele é um autor que entrega um tipo de obra que tanto sinto falta no mundo atual.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

OS ÔNUS DA VELHICE

 

 

 Há uma pedra dentro do meu sapato e o meus sapatos são daqueles de tortura medieval, não me é permitido descalçá-los, só Deus pode fazer isso. Existe uma coceira onde meus membros superiores não alcançam, tipo o espinho na carne do apóstolo Paulo, então só me resta suportar a agonia com paciência.

Financeiramente falando eu amargo há quase dois anos graves momentos de privações e tudo se agravou quando um dos projetos em que eu trabalhava foi cancelo de chofre. Labutando há pouco mais de quatro anos quase com os mesmos valores e tentando manter o padrão de vida, sendo cobrado diuturnamente de todos os lados, incompreendido até (na verdade principalmente) pelos mais próximos, um sonho secreto impossível de realizar, as ausências e os ônus da velhice....sim, fica quase impossível não sentar e dizer: basta! não consigo dar mais nenhum passo, acaba aqui!

Eu ouvia há poucos dias atrás o pastor da igreja que frequento atualmente falando de muitos irmãos que pedem que Deus os leve, estes, segundo ele, perderam a fé, os objetivos e não deveria ser assim. Bem, eu ainda tenho algumas metas, uma delas é terminar os projetos em que venho colocando minha alma neles. São quadrinhos difíceis em que a idade me tornando mais lento tornam mais torturantes. Arte não é prazer, é dor, é tormento, só assim ela transmite algo genuíno capaz de alcançar o âmago do espectador (que fique claro que esse é um pensamento meu); criar arte seria como a mulher que gesta um ser dentro dela, não vejo deleite, noto enjoos, deformação da silhueta, depressão em muitos casos e por fim dores de parto, mas a alegria de ter o filho nos braços compensa todo o sofrimento da viagem. Assim é a obra para o artista quando finalizada. As concepções em que vou dando vida tem me exaurido, são coisas bem distintas uma da outra, tanto em técnica quanto em argumento, cada uma pede uma visão diferente e eu não vejo a hora de acabar. Foi assim com Zé Gatão, Poe e outros, repito: fazer quadrinhos, para mim, é ato masoquista!

O outro desígnio seria abdicar de tudo, me desvincular do que me mantém preso à carnalidade e fazer a obra missionária para Deus, pescar almas para Cristo. Só assim eu cumpriria o propósito do Senhor para o homem (como eu entendo, claro). Mas tenho aqueles que dependem de mim, então é um intento um pouco mais difícil de levar a cabo. O Todo Poderoso sabe tudo e eu não sei o que digo.

Essas ideias eu matutava hoje e quis dividir com vocês. 

Ah, os desenhos são detalhes de uma das HQs em que venho tentando dar vida, penso nela como um filme com animações em Stop Motion.

Fiquem com DEUS! 





 

 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

MAIS UNS BREVES COMENTÁRIOS SOBRE ZÉ GATÃO-SIROCO

 

 

 

 Chegou ZÉ GATÃO-SIROCO de Eduardo Schloesser, publicado pela Atomic, do amigo Marcos Freitas. Um álbum fantástico repleto de aventuras e muita violência.  Unido a um grupo de felinos a serviço de gangsters, o nosso lince mestiço será submetido às agruras do deserto e mercenários contratados para eliminá-lo. Um interessante thriller de ação ininterrupta. Acompanha o pacote PINTURA DE GUERRA uma edição com hqs produzidas no passado e fruto das experiências gráficas do autor. Parabéns pelo trabalho!

Adalberto Bernardino. 

 Finalmente após um longo período de espera e com o compromisso do amigo Marcos Freitas, eis que chegou por aqui o especial ZÉ GATÃO-SIROCO!!!! Uma edição linda com o personagem Zé Gatão do amigo Eduardo Schloesser! Em formato magazine e com tiragem limitadíssima, esta bela revista traz a última aventura do personagem Zé Gatão, recheada de muita aventura e ação! Capa cartão e miolo em preto e branco, ainda acompanha a revista 6 cards com o Zé Gatão, uma marca páginas gigante e folha com o nome dos apoiadores! Parabenizo aos editores e ao Schloesser pela publicação!

André Carim. 

 Criado por Eduardo Schloesser, Zé Gatão é um felino antropomórfico que não leva desaforo pra casa e não teme nada nem ninguém, partindo mandíbulas com a facilidade de quem quebra um amendoim, algo imprescindível no mundo barra-pesada no qual ele vive! As influências do norte-americano Richard Corben e do italiano Tanino Liberatore são gritantes no traço pontilhado/hachurado e cores explosivas (feitas com lápis de cor, hidrocor e aquarela) de Schloesser. Impróprias para menores e pessoas delicadas, essas duas edições da Atomic Editora trazem muito sangue e violência, retratados com riqueza de detalhes pelo autor

Rom Freire

 Já recebi o meu há algumas semanas, infelizmente estou sem câmera, então não deu para postar. A arte e o roteiro são sempre incríveis, e o fechamento da saga foi cumprido. Fica o sentimento de quem acompanha as histórias do Zé Gatão, que poderia ter mais, mas infelizmente é compreensível nesses tempos difíceis. Porém, pontuo aqui, na minha opinião, que a saga do Zé Gatão é um dos melhores quadrinhos nacionais. Não só pela arte, mas todo o conceito da trama e cenas cinematográficas. Recomendadíssimo.

 
Fabio J. Leite 
 

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

O BEIJO NA LONA

 Queridas e queridos, boa noite!

Nada novo no front pra dizer a verdade. A tal gripe que peguei - comentei sobre ela, né? - eu a expulsei em Nome de Jesus (sim, eu acredito em cura divina movida pela fé) mas hoje, no período da tarde comecei a sentir um mal estar geral, pode ter sido culpa do sol escaldante, furibundo, que me assou os miolos na parte da manhã; saí para umas pequenas compras e um dos itens não havia no mercado perto de casa, tive que ir em um mais distante, fazia um calor insuportável e meu corpo parecia pesar uma tonelada, muito para umas pernas de 61 anos debaixo de um astro rei despótico e inclemente. Se conheço bem o meu organismo deve ser a minha pressão arterial lá nas alturas e o meu remédio, que é caro pra caralho, acabou e não há grana para comprar uma nova caixa, mais uma vez apelo para a misericórdia do Todo Poderoso para não ter um AVC. A morte não me incomoda, mas ficar torto numa cama.....bem, nem quero pensar.

Mudemos de assunto, hoje venho falar sobre uma capa de livro que produzi o ano passado para o Lúcio Humberto Saretta, um talentoso escritor que acabou virando um amigo. Eu já havia criado uma arte para ele no passado (pode ser visto aqui caso alguém esteja interessado: https://eduardoschloesser.blogspot.com/2017/06/o-louco-no-espelho.html).

Uma das crônicas, segundo ele, dessa vez, tinha a ver com boxe (esporte que muito me interessou nos anos 70 e 80). Ele me passou o que tinha em mente e eu comecei os esboços. Dessa vez foi menos complicado que o anterior.

O livro saiu e ele me pareceu feliz como um garoto que ganha um doce (sei como é quando uma nova publicação chega ao público).

Abaixo, as etapas do processo. 

Primeiro sketch baseado nos devaneios do autor. 

  
O Lúcio queria o perdedor um pouco mais caricato e eu fiz um novo esboço. Ele curtiu tanto que preferiu o nocauteado sem cores para destacar melhor.

Nesse ponto parece que o editor sugeriu tirar o sangue e a marca do beijo para a cena não parecer tão violenta.

Acertado todos os pormenores finalizei a capa e enviei.

A capa do livro como está sendo vendido nas livrarias. Confesso que eu imaginei umas letras garrafais na parte preta da arte, algo que chamasse mais a atenção do espectador, mas não sou o diretor de arte desse projeto.

 

O Lúcio é ótimo escritor, interessados podem procurar por este tomo nas melhores livrarias, é só digitar no Google.

Fiquem com Deus e até nosso próximo encontro!



A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...