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sábado, 28 de dezembro de 2019

FELIZ 2020!!!!!!


Pois é, chegamos a mais um final de ano.
Depois de determinada idade é contagem regressiva. Sim, eu sei, ainda há uma boa estrada pela frente. O que nos trará ela? Temos que seguir em frente...esse é o problema, assistir o mesmo filme todas as vezes e saber qual o final. O desfecho é o mesmo para os bandidos e mocinhos. O que vem  depois que a alma se separa do corpo é que são elas......isso é realmente uma incógnita. Nisto reside o desespero da maioria dos viventes. As clássicas perguntas que coçam incessantemente o cérebro dos que tem capacidade de raciocino: de onde venho, pra onde vou? De onde venho a mim pouco importa. Pra onde vou? Ah, isto sim me perturba. Sou cristão - embora muitos possam duvidar pelo teor do meu trabalho e reclamações que sempre faço - e em minha defesa eu digo que sou sincero, reproduzo em meus desenhos e escritos o mundo como eu sinto e sobre reclamar, os profetas do antigo testamento também o faziam. Humanos que eram, sentindo suas dores. Jó deu vazão ao que ia na sua alma. Mas voltando ao tema, como cristão eu deveria estar seguro do meu destino, afinal, eu creio nas promessas de Jesus e Ele nunca falha. O ponto que as vezes me pega é: quem realmente é digno? Meus muitos tropeços as vezes me fazem duvidar. Mas sou um cara confiante, embora não pareça.

Eu cheguei a escrever uma sentença de várias linhas neste momento falando sobre os tormentos que as pessoas procuram para suas vidas e depois não sabem como se livrar deles, como a moça romântica que se enlaça com um cara dissimulado, cruel e ciumento, mas deletei, soei mais amargo que de costume e na verdade não tinha a ver com o que realmente quero dizer aqui.

Pensei em fazer um balanço deste ano que finda mas na verdade ele é foi quase igual aos anteriores, muito trabalho por pouco dinheiro, muita pressão e cobrança, a eterna sensação de estar enxugando gelo. Mas a saúde segue aguentando e tive o grato prazer de estar ao lado da família em Brasília na ocasião do casamento do meu irmão caçula. Todo o resto continua a mesma chuva de pedras que sempre foi a minha vida, com a diferença que ao ficar mais velho as pancadas vão ficando mais dolorosas.

Embora eu note que sou cada dia menos visitado aqui, quero deixar uma breve mensagem aos que ainda fazem o favor de me acompanhar semanalmente neste espaço. FIQUEM FIRMES, sei que temos momentos de agonia nesta vida e embora as horas de alegria não pesem na balança mais que os ruins, são os bons que fazem valer a pena. Estar com a família, amigos leais, um bom programa ao lado de alguém especial. Um trabalho que acrescenta...o que for que te deixe contente e motivado, lute por isto. Não deixe mágoa ou sentimento de vingança tirar o brilho que você tem.
Dia desses sai para comprar pão e me sentia bem azedo, a caminho da padaria, num cruzamento, foi possível ver ao longe um lindo por do sol, cores de um vermelho intenso com matizes violáceas, o horizonte pegando fogo numa pintura que somente o Criador é capaz de fazer. São momentos em que a existência tem um sabor mais doce. Eu tento me agarrar a isto, no sentimento de dever cumprido ao terminar uma arte, ao ver uma página de HQ pronta. Este ano saiu mais um livro de quadrinhos com meus traços, esforço que rendeu frutos. Nos menores frascos encontram-se os melhores perfumes, dizem, e embora isto pareça frase de para choque de caminhão eu digo com sinceridade, sejam fortes em momentos de fraqueza!

Um FELIZ 2020 A TODOS, queridos e queridas! 

Espero estar aqui com vocês no próximo ano, com mais alguns desabafos, contos e artes.

DEUS ABENÇOE A TODOS!

domingo, 22 de dezembro de 2019

O NATAL DE 2019.


Ok, estamos a dois dias do Natal. O tempo passou rápido? Certamente. A melhor coisa que me aconteceu este ano foi o curto tempo que passei em companhia da família em Brasília. O resto foi como tem sido. Há um gigantesco lobo negro, furioso, muito maior do que aquele do Thor Ragnarok, louco para me devorar, mas Deus colocou uma focinheira nele, no entanto, cada vez que ele luta para se libertar da mordaça, meu instinto de sobrevivência me faz encolher, sou, ainda que lute contra, envolvido pela mais profunda depressão. Mas, sem opção, sigo em frente fazendo meu trabalho, pessoas queridas dependem dos meus esforços, da minha atenção. E assim caminho, imaginando que cada dia será o último.

Dos 45 livros que ilustrei em 2010 para a coleção de clássicos da literatura brasileira só uns 20 foram publicados, o restante pelo visto ficará no limbo, guardado, longe dos olhos dos interessados. Pena, há artes muito bacanas ali, como esta abaixo, para "Lendas Do Sul".


A pouco tempo recebi alguns exemplares do último livro em quadrinhos do qual participei (relatei aqui). Ainda não tinha lido todo. Interessante, bem regionalista. Sempre tendo a achar que a grama do vizinho é mais verde, a parte que me cabia no tomo me parece ser a mais fraca. Não sei se isso é bom. Alguns acham que a modéstia não constrói. No entanto acho patético a postura de alguns artistas, principalmente os já consagrados. Este meio dos quadrinhos é cheio de gente que se acha acima da média. Vejo caras que se tornaram lendas vivas que tratam o público com arrogância, que cobram para tirar uma foto. Alguns fãs os justificam dizendo que esse é o trabalho deles, que eles perdem tempo sorrindo e fazendo sinal de positivo diante de uma câmera. Parecem ignorar que o tempo deles já foi pago pela empresa que os contratou, com certeza eles não vieram ao Brasil com grana do próprio bolso, mas ainda assim eles acham que estão fazendo um favor. Muitas dessas lendas hoje vivem, como é comum, de glórias passadas, pouco produzem, ou pior, poucos estão interessados em publicar suas novidades. Assim eles vem para um lugar onde ainda são reverenciados e bancam os tais. Felizmente ouço dizer que não são a maioria. Mas os artistas brasileiros tem uma postura pouco simpática. No entanto isto deve parecer apenas para mim, posto que não me sinto bem vindo em parte alguma.

Jesus disse que "quem tem muito, muito lhe será dado e ao que tem pouco, até este pouco lhe será tirado", claro que Ele falava a respeito dos talentos que Deus deu a cada um, mas podemos aplicar em todas as outras áreas da vida. Dinheiro chama dinheiro. Sucesso e fama atrai mais sucesso e fama, para o bem e para o mal. Meu irmão, quando ainda era estudante de medicina, ouviu da boca de um intelectual que o problema do pobre não é ser pobre, é ter amigo pobre. A pessoa certa pode muito ajudar numa ascensão profissional, basta ela indicar, pode atalhar um caminho. Nunca achei tal pessoa. Alguns editores viram algo bom em meus quadrinhos do Zé Gatão e lutaram ferrenhamente para publicar, em cada uma destas vezes eu pensei que somaria vários degraus e poderia produzir mais e assim viver do que sei e gosto de fazer, antes de me tornar o que venho me tornando agora, apático a isso tudo.

Todas essas coisas são uma ilusão muito grande, uma bela armadilha, principalmente quando você acredita nas suas próprias mentiras. O conhecimento não trás conforto, antes maior angústia, descobrimos o destino e não podemos mudar a correnteza da vida e sabemos bem onde ela desemboca.

Mas os fortes continuam suas lutas, pois não é possível deitar e morrer.

Perdoem-me este eterno desabafo, mas preciso faze-lo. Perdoem eu não ter aquelas belas mensagens de Natal.
Na verdade tenho sim: o Salvador nasceu e anualmente comemoramos Seu aniversário (poucos comemoram na realidade), Ele venceu e os que creem são vencedores com Ele, as lutas deste tempo presente não se comparam com a glória que está reservada aos que perseverarem na fé.

FELIZ NATAL A TODOS! Perdoem, amem, confraternizem. Sejam felizes por alguns momentos. Eu vou tentar.

Beijos e até a próxima postagem!

Meu amigo Elton Borges me enviou esta foto. Texto publicado numa revista da Chiaroescuro sobre heróis brasileiros. Não conheço tal revista.











 

sábado, 14 de dezembro de 2019

A ÚLTIMA AVENTURA DO PIMPÃO BANANEIRO (Um conto de Eduardo Schloesser). .

O motor da velha Kombi 1973 grasnava enquanto avançava pela esburacada estradinha cascalhenta. Ao volante, o motorista limpava com o antebraço o suor da testa que teimava em cair como cascata sobre as grossas sobrancelhas; sacolejava dentro do vetusto veículo por causa das ondulações da empoeirada via; ao derredor, a paisagem árida exibia uma mata seca, moribunda, onde pés de mandacarus se erigiam como carrascos senhores da terra.
"Puta merda, que calor da porra!" pensava. "Aonde está a maldita casa?"
Seu nome era Intestine. Sim, isso mesmo, Intestine! Na verdade era pra ser Constantine, ideia de seu pai, um ávido leitor de gibis, maconheiro escroto que o pôs no mundo e fez o favor de morrer numa briga de bar. No cartório de registros, o tabelião, que devia ser um tipo sacana toda a vida, datilografou Intestine ao invés de Constantine. Sua genitora, uma jovem coitada que apanhava diariamente da mãe, só foi notar o equívoco muito tempo depois, deixando por isso mesmo, o que proveu ao menino desde cedo uma torrente de gozações que o marcariam por toda a vida.
Além do calor de mais de 40 graus, era atormentado por uma violenta coceira no cu, consequência, certamente, das hemorroidas, afinal, viajara de ônibus quase 36 horas até aquela cidadezinha desconhecida de qualquer mapa. Assim que chegou naquele arremedo de rodoviária, passou na casa de um velho conhecido dos avós, tomou um café com pão e margarina e pegou a Kombi emprestada para se dirigir a um local que só ele sabia a posição, a casinha que fora de dos pais de sua mãe. Temia ter errado o caminho pois fora arrebatado de lá ainda muito novo e nunca mais voltara. Já maldizia sua situação quando vislumbrou de longe a pretérita habitação. "Ah, porra! Finalmente!"

Ao sair do carro uma forte tontura o acometeu, sentia o coração palpitar horrivelmente. Náuseas e suor frio. Caralho, não agora....não agora...não depois de tudo! pensou.
Ficou ajoelhado na poeira por uns minutos e, sentindo-se melhor, foi até a casa. Ficou um tempo parado diante da porta, o sol queimando o lado esquerdo do seu rosto. Procurou as chaves no bolso e introduziu na fechadura. Abriu. Um cheiro de algo que ficara guardado por muito tempo invadiu suas narinas, um cheiro indecifrável, antigo, acolhedor. Entrou e olhou o ambiente. Por uns segundos a infância retornou alegre. Nada havia mudado. Identificou o aroma de fumo em corda do avô. Devia estar impregnado na escassa mobília. Uma cristaleira vazia, uma mesa com três cadeiras. À esquerda um pequeno aposento onde jazia uma cama de casal. À direita uma cozinha com um fogão a lenha, um pequeno armário também vazio e uma pia com água encanada. Foi até lá, abriu a torneira. A pobre e enferrujada tossiu como uma tuberculosa, grasnou e vomitou uma água barrenta, cheia de ferrugem entre uma tosse e outra, por fim o líquido foi se tornando mais claro a medida que jorrava. Intestine colocou as mãos em concha e lavou o rosto suarento, molhou a nuca, o pescoço e as forças retornaram parcialmente. Logo uma cólica no abdome espantou as memórias da meninice junto aos avós, como a lembrar do dia que a mãe, uma pobre idiota sonhadora, o tirou da proteção dos velhos para levá-lo ao Rio de Janeiro, atrás do vagabundo do pai, iniciando assim uma existência recheada de merda. Merda que ele deveria expelir sem demora. O banheiro ficava do lado de fora da casa.....fedia a madeira podre, não havia privada, só um buraco no chão, tapado com uma tábua seca e farelenta. Retirou-a e encarou aquele buraco escuro cujo o fundo devia ter material que a muito tempo virara adubo. Aquela boca agora iria receber bosta fresca, provando que neste mundo tudo que vai, volta. Baixou as calças e ficou de cócoras. A merda, seca no intestino, teimava em não sair. Ele trincou os dentes e forçou. O tolete, grosso como uma tora, passou pelas pregas como que coçando o cu com uma palha de aço. Após aqueles segundos de agonia um forte cheiro subiu do buraco ostentando seu poder, tomando conta da casinha como se fosse um tirano. Não sabia com o que se limpar, ainda acocorado, retirou a camisa e limpou a bunda com ela. Merda e sangue declaravam a aposentadoria daquela veste. Largou lá e saiu para o ar seco da tarde.

Entrou na casa, pegou o telefone celular. Ali era o fim do mundo, mas as redes de transmissão realizavam o milagre de fazer as pessoas se comunicarem dos lugares mais improváveis. Teclou o número e uma voz quase infantil atendeu do outro lado.
- Alô?
- Amor, tudo bem?
- Sim, você já chegou?
- Já.
- Estava tão preocupada!
- Olha, não vamos perder tempo com isto. Foi até a casa do Sodré?
- Fui.
- Pegou a mochila?
- Sim, fiz exatamente como você falou, ninguém me seguiu.
- Belê! Escute, eu esqueci o meu remédio, o Cardizen....
- Está aqui comigo!
- Ótimo, só você mesmo para se ocupar das minhas coisas!
- Eu te amo!
- Também te amo, mas não percamos tempo com palavras, pegue o ônibus para cá e tome muito cuidado, acho improvável que te sigam, ninguém sabe que estamos juntos, mantive nossa história só pra mim, mas todo cuidado é pouco.
- Eu sei, estou com tanto medo!
- Eu também, mas vai dar tudo certo, o pior já passou. Com o que temos na mochila poderemos ter uma boa vida bem distante daqui, uma vida melhor para nós dois e nosso filho. Como ele está?
- Chutando muito, deve estar preocupado com você também.
- Oh, não vejo a hora dele nascer.
- Nem me fale....
- Melhor eu desligar, meu celular está com pouca bateria e eu não tenho como carregar aqui. Todo minuto conta. Cuidado com a mochila, não esqueça o meu remédio, não dá pra comprar sem receita e não tenho como ir ao cardiologista aqui. Não agora!
- Fico tão preocupada com sua saúde, benzinho!
 - Tá tudo bem, te vejo na rodoviária depois de amanhã.
- Certo.
- Beijos e muito cuidado.
- Você também. Não faça esforços, seu coração.....
- Eu sei, eu sei....te amo!
- Eu também. Tchau!
- Tchau!

Ao desligar teve uma sensação de alívio, ela estava bem e trazia sua medicação. Um coração fraco foi mais uma das desvantagens que a vida lhe deu. Mas com o dinheiro que estava na mochila tudo seria diferente. Bastava baixar a poeira e depois gastar. Nada melhor como aquele fim de mundo para ser esquecido por tudo e todos.

Das poucas coisas que trouxe numa pequena bolsa, retirou uma camisa leve, vestiu, pegou a velha kombi e  se dirigiu até uma pequena vila. Carregou o celular, tomou uma cerveja. Com a chegada da noite jantou carne do sol com arroz e macaxeira frita. Voltou para o pequeno sítio. O silêncio sepulcral quebrado apenas pelo sons de insetos noturnos trouxe um sono embriagador. Deitou-se pesadamente no colchão poeirento. Adormeceu olhando para o teto de vigas e telhas de um mundo velho.

Tivera uns sonhos confusos, acordou com a garganta seca e um calor dos diabos. Abriu os olhos e o que viu parecia ainda fazer parte dos sonhos, diante de si um indivíduo mulato, de óculos, porte atlético e sorriso mordaz o encarava com uma pistola na mão. A pequena casa iluminada à luz de um lampião.

- Mas que porra....!
- Fica frio, cara, não faça nenhuma besteira pois este gatilho é sensível como o clitóris de uma menina de 15 anos!
- Eu...eu te conheço! Tu é o Cataldo, afilhado do Camanho!!!!
- Isso mesmo!
- O que faz aqui?!? Como me achou?
- Pela ordem? Vim aqui pra te matar por ter roubado o seu patrão - o meu padrinho Camanho. Como te achei? Fácil! Sou bom rastreador, aprendi com uns palestinos quando estive treinando no Marrocos, uns caras que eram financiados pelos Russos. O serviço de inteligencia deles te surpreenderia!
- Mas como?!?
- Seguir tua namoradinha magricela sem que ela percebesse foi fácil. Te localizar rastreando teu celular pelo dela foi mais fácil ainda, nem precisei apelar....
Ao ouvir tais palavras um calor intenso queimou as orelhas e a face de Intestine, um medo e desespero que beirava a loucura.
- O que tu fez com ela?
- Mano, não vou mentir, foi só colocar uma faca na barriguinha prenha e ela  cantou como um sabiá. Falou tudo sobre os planos de vocês e este lugar.
- Mas...mas...ela...tá viva? Ela tá bem?
- Cara, claro que não, sou um profissional, nesse ramo não há espaço para misericórdia. Mas não se preocupe, ela não sofreu.
Uma fúria insana tomou conta da alma de Intestine, com um berro medonho pulou da cama como um roedor acuado em direção ao assassino zombeteiro. Não contava porém com a agilidade deste, com um movimento de capoeirista ele inclinou o corpo para trás e aplicou um violento chute frontal chamado "benção" no peito do agressor lançando-o de volta ao lugar de onde saiu. Arfando de dor, com a cama girando mais rápido que um carrocel, sentiu o Cataldo pular sobre si e espancá-lo impiedosamente. Cinco potentes murros na cara como se fossem marteladas quase o levaram à inconsciência.
- Nossa, meu irmão, se tu visse a tua cara!!! Caralho! Eu caprichei desta vez, ainda bem que eu estou de luvas! Tem um galo enorme na tua testa, teu nariz tá torto e teu olho direito tá do tamanho de uma bola de bilhar.....nunca vi nada igual!!! Caceta!!!!
A dor no rosto era avassaladora, o chute no peito fez seu coração doente bater descompassadamente. Mesmo assim ergueu a cabeça e olhou para o rosto do mulatinho. Haviam dois deles, o segundo como se fosse um fantasma ao lado. O filho da puta devia ter ferrado com seu olho, sua retina, sabe-se lá. Os dois sorriam zombeteiramente, ao passo que grossas lágrimas caíam dos olhos de Intestine e se misturavam ao sangue de suas faces.
- C-cara....ela era uma menina inocente.... nunca fez mal a ninguém...e estava grávida!!!
- Culpa sua ter arrastado ela para sua vida de crimes bróder. Avião de traficante a ainda tem a pachorra de roubar dele!
- Eu...eu vou te matar...juro!
- Ah, cara, para com isso, sabemos que não vai......tá chorando pela morte da mina? Vai se encontrar com ela já, já, se é que tem algo depois da morte.
- Tu se acha muito foda, não é Pimpão?
- Como é?
- Conheço bem você, filho da puta! Na verdade todos na comunidade te conhecem....sumiu um dia e voltou como o maioral, o menino de ouro do Camanho. Uns diziam que você tinha ido pra Legião Estrangeira, outros que você treinava guerrilha em Cuba ou México, ou sei lá que merda. Mas voltou todo soberbo e superior.....todos tem medo de você...e com razão! Mas não foi sempre assim, né, Pimpão?

O rosto do mulato ia sendo tingido por cores sombrias a cada palavra de Intestine.
- Você era um menino chorão e mimado, que nunca conseguiu fazer a porra de um gol no campinho da comunidade, todos te batiam e em casa tua mãe te chamava de Pimpão. Como sempre te víamos comendo banana no recreio da escola, você ficou conhecido como o Pimpão Bananeiro, hahahahahaha!

O assassino sorriu friamente.
- O que tem este apelido de tão engraçado? O que espera conseguir? Quer despertar sentimentos enterrados em mim pra ver se eu fico puto e te mate mais depressa? É isso?
- Não preciso. Pra te deixar puto basta falar da tua mamãe...
- Cuidado, cara!!!
- Todo mundo sabia que tua mãe era a maior piranha da comunidade, todo mundo comeu ela, eu só não comi porque quando tive idade para isso o câncer já tinha deixado ela baranga!

A expressão de Cataldo agora era indecifrável.
- Ah, cara, pra que tu fez isso? Agora você estragou tudo! Eu ia te matar rápido, um tiro no olho, POW! e pronto, tava acabado, nada de agonia e dor até a alma se separar do corpo, mas agora tu conseguiu minha atenção! Vou te fazer sofrer enquanto esse teu coração doente suportar, pode apostar!
Dizendo isso, Cataldo puxou do chão uma pequena valise de onde retirou uns estojos, com diversos bisturis, seringas, umas ampolas e um objeto que lembrava muito aquilo com que se colhe bolas de sorvete do recipiente.
- Sabe o que é isso? Foi projetado por mim. Chama-se, o "espremedor de colhões". É muito eficaz para arrancar confissões. Ao apertar o saco de alguém com isso, o cara conta até o que não fez, hahahahah! Cê vai se arrepender de ter tirado uma com a minha cara!
Falava isso enquanto cuidadosamente ia colocando ao lado da cama os utensílios de flagelo.
- Isto aqui é uma máquina de choque, uns volts disso no buraco do dente e o cara vai até o inferno, hahahahah!
Num descuido, na penumbra do local, deixou cair uma grande pinça no chão.
- Merda!
No segundo que ele se abaixou para pegar, Intestine, mesmo vendo tudo dobrado, meio tateando no ambiente mal iluminado, pegou um pequeno bisturi e o reteve entre os dedos.
Com um sorriso maligno no rosto, o assassino pegou um par de algemas e se aproximou seguro.
- Well, primeiro vamos te prender na grade da cama pra tu não tentar nenhuma gracinha.

Intestine nos poucos anos que tinha na vida do crime percebeu logo de cara que o grande erro da maioria dos bandidos era o excesso de confiança, tão logo se achavam donos da situação abaixavam a guarda e reduziam os cuidados. Fingindo estar semi desfalecido pelas pancadas ele permitiu ao Cataldo pegar seu pulso sem maiores preocupações e assim que a oportunidade se apresentou, tão rápido como pode, enfiou o bisturi na nuca do mulato, fez com tanto ódio que enterrou a pequena e afiadíssima lâmina até o cabo no cerebelo do infeliz. Ao contrário do que ele poderia supor, como mostravam os filmes, o assassino não caiu duro, morto, mas estrebuchou no chão pesadamente se debatendo como um louco, soltando gemidos terríveis de agonia.
Era uma cena grotesca e patética. O corpo sacolejava barulhentamente no chão empoeirado e os ganidos doíam nos ouvidos.
Pensou em pegar a pistola e disparar contra o corpo e acabar com o suplício do seu algoz; mas desistiu.
Nisso, enquanto Cataldo estrebuchava, Intestine sentiu fortes dores no peito, falta de ar e náuseas. Levantou-se apressadamente da cama e à sua revelia vomitou toda carne de sol com macaxeira sobre o corpo que pernejava e gemia loucamente.
Cambaleando, suando como um porco, moveu-se para fora da casa, longe daqueles horríveis vagidos e sons de calcanhares golpeando o solo.

Um frescor noturno o recebeu de mal grado, caiu pesadamente no chão cheio de ervas daninhas e pedras. Em aflição, como se mil agulhas perfurassem seu coração, como se a cabeça fosse explodir e sem poder sorver ar o suficiente ele olhou  para o céu negro recheado de estrelas. Pensou nos avós, na mãe, na namorada, nas merdas que fez e nas pessoas que prejudicou.
Os milhares de corpos celestes foram se apagando rapidamente e ele nem teve tempo de se arrepender.

sábado, 7 de dezembro de 2019

57ANOS.

Esta época do ano faz um bocado de calor aqui. Acabei pegando um resfriado....poros abertos, suor, golpes de ar fresco, água gelada....muita coisa para o corpo processar. E o principal: STRESS!!! O bombardeio de situações que não consigo controlar, a passagem ultra rápida do tempo, baixam as defesas do organismo e.... pronto! Lá está o cara amarrotado, de cama.
Tenho sentido muito sono, pudera, não durmo decentemente a vários anos. Mas nos últimos tempos a coisa piorou um pouco...mas sei que não é só isso, tem uma coisa que li a muitos anos atrás numa revista de ciência....o corpo pede por repouso em casos de forte depressão, uma forma de se proteger, de resguardar seu organismo, poupá-lo. Deus é um sábio engenheiro, nos proveu de muitas defesas que nem nos damos conta.
Fiz 57 anos no último dia cinco. Eu já vinha me sentindo velho a muito tempo atrás, mas agora é uma realidade que nem mesmo o mais contumaz otimista tem como contra argumentar. Não é o fim do mundo, tem muita coisa pela frente, seu sei, mas a verdade que isto não me importa, não sei se são as vicissitudes sempre presentes muito mais atuantes que os hiatos de bonança, ou se a alma se prepara para o fim cada dia mais próximo, o fato é que muita coisa que antes tinham importância na vida hoje não causam os enlevos de outrora. É lógico que eu sinta prazer numa boa refeição, num bom papo com meus irmãos ou um amigo fiel, mas no tocante a outras coisas, se der deu, se não der, ok, foda-se! Por exemplo, a pouco tempo chegou às telas "Era Uma Vez em Hollywood", o novo filme do Quentin Tarantino, diretor que acompanho por fazer cinema fora dos padrões; quis assistir mas não foi possível, não me importei.....estou cada dia menos ligado em cinema.....não só porque a maioria das produções atuais são bosta, é porque não me interessa mesmo! Igual acontece com as HQs - bem, este sim é um prazer que me dou ao luxo, virou um produto caro, bom papel, boas cores, capa dura e tudo mais, mas se é algo que me interessa ler, como a série "ESCALPO", por exemplo, eu dou um jeito de comprar, mesmo que seja caro - pouca coisa tem me chamado a atenção. Tento reler coisas antigas, dos últimos 20, 30, 40 anos....e quanto mais velho melhor, como as de terror e suspense da EC Comics ou o Príncipe Valente. Mas o ponto é: deveríamos envelhecer com um pouco mais de sossego na alma, como um prêmio por ser graduado nas dores da vida, como se merecêssemos. Não é assim. Não há tréguas, não há onde repousar a cabeça por mais de algumas horas.

Eu penso que os anos me tornaram um desenhista melhor, mais paciente, mais criterioso, mas isto também é uma armadilha, fiquei menos ousado em contra partida, sem espaço para as transgressões do meu intitulado "CRAZY SKETCHBOOK", por exemplo. E muito mais lento, também. Hoje demoro demais na elaboração de uma arte... num mundo cada dia mais rápido, isto é um veneno! Minha mente não para de criar, imagino mil situações para colocar no papel, projeto imagens onde gostaria de homenagear personagens que me marcaram na juventude e não consigo colocar em prática. Isto prova que minha mente continua jovem, rebelde, mas o cansaço do corpo dá a palavra final, assim os planos vão ficando na fila, se amontoando, aguardando.
Ainda tenho obras em quadrinhos inéditas, ilustrações que nunca mostrei em redes sociais, esperando saírem em papel por alguma editora. Eu teria esperanças que elas fossem publicadas postumamente se eu fosse um quadrinista conhecido e badalado, mas quer saber? Isto não importa mais, o que faço, no fim das contas, é para satisfazer a mim mesmo. Tendo atingido a meta, o resto é consequência.
No momento, ainda desenvolvo os storyboards para o filme de terror a ser rodado ano que vem. ZÉ GATÃO - SIROCO, avança bem lentamente por conta dos pagaluguéis. Confesso que depois que ficar pronto não sei o que vou fazer, digo, como levar aos fãs do Felino. Veremos.

Este blog, cada dia menos visitado, permanece por respeito aos poucos que ainda me acompanham. Por isto tento mantê-lo atualizado mesmo não tendo mais a mesma inspiração de outros tempos.

Tenho uns contos na cabeça, o problema é tempo para sentar e escrever....vou ver se faço todo dia pelo menos alguns parágrafos.

Creio que é isto, por hora.
    

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

UM SONHO RUIM


Eu não sei onde estava. Normalmente nunca sei onde estou nesses momentos; é estranho que em meu íntimo o lugares e situações sejam familiares embora eu não reconheça. Era tudo muito claro, de tons pasteis e os sons me soavam distantes. Me parecia que eu estava em um ambiente de construção civil e quem estava junto a mim era alguém próximo, do sexo masculino, embora fosse amorfo, quase um espírito. Num dado momento, um som como de um estalo forte, de algo como madeira se partindo, a pessoa ao meu lado se lamentava em agonia como se sofresse um revés, como se  o acontecido fosse lhe trazer consequências funestas. Foi então que divisei, quase aos meus pés, um corpo, como se tivesse sido jogado ali. Intuí que o estalo que eu ouvira tinha sido de algo que se rompera, um andaime, talvez, e aquela pessoa tivesse caído próximo a mim. Estava deitado de barriga para cima, um rosto de um homem maduro, de lábios finos e farto bigode grisalho, olhos fechados, uma coloração nas faces como se o trauma do acidente fosse provocar um sangramento pelos orifícios do rosto e poros a qualquer momento. Foi então que notei que aquela face não tinha corpo, era uma cabeça decapitada que jazia a poucos centímetros da minha perna esquerda. O som, na verdade havia sido de uma cabeça separada do corpo por algum maldito acidente e o capataz amorfo ao meu lado maldizia em agonia o acontecido como se fossem responsabilizá-lo pelo ocorrido. Minha atenção só se voltava, com uma sensação crescente de horror, para aquela cabeça no chão etéreo, aqueles olhos fechados de defunto, como se fosse cera, aquele rosto achatado, como se tivessem tirado os ossos de seu crânio, com textura de borracha.

Acordei, não em sobressalto, mas perturbado. Era manhã de domingo, depois de uma noite em claro que passei à minha revelia; o calor forte invadindo meu quarto. Um desânimo sobrenatural matando meus desejos.

Sonhos são sonhos. Muitos dizem que são premonitórios. Não sei. A Bíblia diz que "do muito pensar vem os sonhos", mas Deus falou a seus profetas através deles.

Vivo dias de muita pressão, tensão e quase todas as coisas para mim outrora tão caras vão se esvaindo no tempo; artes, HQs, filmes, livros, vão perdendo cor, embotando-se. Talvez seja melhor assim.....para que depositar preocupações em coisas que se perderão quando nem a lembrança do que fui existirá neste plano de existência?

O que sobra é o instinto de sobrevivência, responsabilidade. Pessoas dependem de mim, do meu esforço. Devo insistir e continuar produzindo o melhor e aprender a ser feliz em Cristo, porque deste mundo e dos homens que o compõe eu não devo esperar nada!

A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...