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domingo, 31 de julho de 2022

SEM O BRILHO DE OUTRORA

 

 O que escrever aqui para manter a brasa, a pequenina brasa deste blog acesa, foi algo que me incomodou durante alguns dias, eu sentava diante do computador com muitas coisas girando em minha cabeça mas as palavras não vinham, inclusive tenciono cometer um novo conto mas o tempo reduzidíssimo não me permite concentração. Talvez o bom tempo tenha passado, artes, escrita, algum projeto de pseudo felicidade, tudo parece ter ficado para trás, nada há mais de relevante para falar. Seria bom dividir com vocês mais alguns fatos pitorescos do meu passado mas acho que o momento não é bom, seria forçar uma situação e as letras não fluiriam espontaneamente, então melhor esperar, quem sabe, um raio de sol inspirador furar as nuvens escuras da depressão para assim voltar a falar sobre algum acontecimento relevante que fez alguma diferença na minha forma de ver o mundo e como ela corporificou artisticamente. 

Falando em nuvens escuras, esse mês de Julho foi legal, choveu muito trazendo um frescor inédito neste estado do nordeste, diria até que fez frio, algumas manhãs fui saudado por um tempo nublado, quase escuro, sem chuvas, e minha alma encontrou identificação. Claro, para contrapor, o aguaceiro frequente desabrochou mosquitos em profusão, mas foi para isto que criaram os repelentes, né? No entanto o calor, este inimigo - meu, pelo menos - já ensaia seu retorno tirânico, como se dissesse: aguarde, Dudu, você não perde por esperar! 

Vivo com se tivesse uma arma apontada para minha cabeça, o dedo suado pode apertar o gatilho a qualquer momento, os mais próximos a mim sabem do que falo. Será que um dia me verei livre dessa situação?

Meus trabalhos continuam, RASTREADORES DE ALGURES, MITOS GREGOS e aquele que envolve um filme de cinema do qual ainda não posso falar a respeito. Os traços saem quase naturalmente e eu deveria me sentir satisfeito mas não sei como categorizar o que faço. Não consigo afirmar se é underground (na falta de uma palavra melhor), uma coisa é bem clara, está longe de ser aquilo que chamam de mainstream - tanto o que fazem nos EUA ou na Europa - e sei lá se isso é bom ou ruim. Eu enfatizo esses pensamentos porque me pergunto qual a razão d´eu ainda não ter conseguido ganhar grana com isso, falo grana de verdade, não ficar milionário, mas para parar de pedir dinheiro emprestado aos outros. Essa semana tive que vender meu único exemplar de A Vida e os Amores de Edgar Allan Poe para poder completar o que faltava para pagar um boleto!

Não consigo mais fazer um desenho pessoal, há ideias mas eu mal consigo ler um capítulo de algum livro ou páginas de quadrinhos. Estou com vontade de fazer umas pinups de heroínas bem acima do peso, Mulher Maravilha, Capitã Marvel, Jean Grey, etc, no estilo Botero, só pra me divertir, mas me falta o tempo e cabeça fleumática suficiente.   

Eu me sinto cansado, pesado. A saudade da minha mãe e do Gil roubou aquela velha chama criadora que me fazia experimentar traços e cores, mergulhar fundo sem me importar a quem agradaria. Olho em volta de mim, respiro, miro em frente e continuo na jornada, sustentado apenas pelas poderosas mãos de Jesus, Senhor e Salvador.

Sobre os desenhos de hoje, foram criados pelo Celso Moraes, um amigo muito gentil que tem um canal no You Tube chamado Cultmix, onde ele posta uns vídeos muito legais, são curtos e bem divertidos, falando sobre quadrinhos, cinema, com curiosidades bem interessantes. Faço merchand para ele porque ele merece, se inscrevam e curtam (https://www.youtube.com/user/MrCelsomoraes). Nessas artes ele coloca o Zé Gatão contra o Blacksad em dois ambientes diferentes. 

O meu felino é uma espécie de primo pobre dos gatos antropomorfos que se destacaram nessa mídia (Leão Negro, Félix, Krazy Kat, Fritz, Omaha, Garfield e, claro, o próprio Blacksad) e eu fico contente que um cara como o Celso, que conhece bem o universo das HQs, se lembre do Zé Gatão. Obrigado mais uma vez, meu caro! Claro que você foi diplomático e colocou os dois em pé de igualdade, embora saibamos que o mestiço de lince daria uma surra titânica no gato preto espanhol.

Beijos a todos e eu espero estar mais inspirado numa próxima postagem.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE PHOBOS E DEIMOS

 

 Esta semana um querido amigo, médico, residente na minha saudosa Brasília me enviou um link de um canal do YouTube onde um rapaz dissecava uma HQ do Senhor Milagre, criação do eterno Jack Kirby. Segundo este meu bom amigo, a tal HQ lembrava a minha história de vida em muitos aspectos. Já tinha ouvido falar do tal quadrinho (acho que é de 2017) mas nunca li - pra ser sincero, conheço pouca coisa dos Novos Deuses, tenho curiosidade - e segundo o youtuber, a obra seria relativa à depressão; o Scott Free não aceitando a morte do irmão, entrava num vórtice de tristeza aguda que o induzia ao suicídio. Realmente tudo a ver comigo, de fato.

O que me leva a pensar um pouco sobre PHOBOS E DEIMOS, uma das minhas obras mais amargas; como quase ninguém leu e sequer sabe que existe, vamos recordar um pouco sua gênese: era o início do novo milênio e eu estava profundamente deprimido, enfrentando problemas, recém chegado ao nordeste do país, longe da minha mãe e irmãos, torturado por uma tendinite na mão direita, sem trabalho, sem dinheiro (fui sustentado pelos meus pais até que começasse a produzir novamente) e acima de tudo uma forte desilusão no que concerne a viver de quadrinhos no Brasil. Pouco antes de migrar para Pernambuco eu passei uns dias na casa do meu irmão médico em São Paulo e fui recomendado pelo Jotapê Martins (editor da Via Lettera, por onde saiu o ZÉ GATÃO - CRÔNICA DO TEMPO PERDIDO) ao Art & Comics onde fui muito bem recebido e minhas obras autorais muito elogiadas pelo Joe Prado (era ele o responsável em avaliar e enviar material brasileiro para o mercado ianque). Ele me deu um roteiro sobre um bárbaro e disse que se eu quisesse poderia criar algo curto com algum super.   Chegando no Jaboatão me sentei na prancheta e me concentrei em duas tarefas, concluir a saga MEMENTO MORI e dar vida às páginas para o Art & Comics. Desenhei o roteiro do bárbaro e criei cinco páginas de uma do Hulk (sempre gostei do verdão). Não imitei nenhum artista, fiz do meu jeito, esse traço que lembra um pouco os quadrinhos undergrounds americanos de terror e sci-fi do final dos anos sessenta. Tudo feito, embalei e enviei. Depois de um longo tempo sem resposta eu fui até o orelhão da esquina ligar para o Joe. Parecia outra pessoa, distante, indiferente e disse que meu traço era expressionista demais para os americanos, caricato, até. Ah, e que eu não desenhava mãos direito. Mas que eu poderia treinar e tentar novamente, se eu quisesse. 

Me senti um merda. No mesmo instante liguei para meu irmão, o melhor amigo, aquele que partiu para sempre, e desaguei minhas mágoas. Ele ouviu em silêncio e disse para eu não desistir. No entanto eu sempre soube que eu não conseguiria me adequar a certos padrões. Era meu sonho viver de quadrinhos, mas não desenhar o Batman ou Wolverine no  esquema das grandes editoras, então eu me via em apuros. Claro, não fiquei parado e comecei a procurar trabalhos, me aproximar dos artistas locais e até tentei dar aulas e oficinas mas o resultado sempre era o mesmo: portas fechadas. 

Assim, a minha tendência à melancolia começou a crescer e eu tentei escapar da única maneira que me era possível, criando histórias, e malgrado a dor na mão, dei corpo a uns roteiros (na verdade esboços de escritos em um velho caderno) e desta forma nascia Phobos e Deimos. Nele, o final trágico dos protagonistas nas sete narrativas era a minha forma de morrer sem dar cabo da minha vida. 

Não posso deixar de dizer que Verônica foi (e é) um grande apoio, não houve pressão ou cobrança, ela pacientemente esperou até que eu me reerguesse e novamente começasse a fazer dinheiro com meus traços. 

Phobos e Deimos não viu a luz do sol até o final de 2020, quando a Editora Atomic imprimiu 50 unidades. 

Semana passada o Marcos Freitas, editor do livro, anunciou no Facebook a promoção dos dois últimos itens da obra com 50% de desconto - acho que ele fez isso para queimar estoque - e é bem provável que não tenha conseguido vender. 

Não sei dizer se as mais ou menos quarenta pessoas que leram se deram conta do que havia ali,  personagens comuns, humilhadas, envergonhadas, tragadas pela voragem de situações onde se viram envolvidas contra a vontade e das consequências de escolhas erradas onde pagaram um preço muito maior do que deviam. 

Para mim, hoje, esse álbum que escrevi e desenhei há 15 anos atrás é mais atual que nunca; estou mais velho, a situação financeira nunca se estabilizou e outros problemas cresceram. A diferença fatídica é que agora não posso mais ir até a esquina e discar para o Gil de um orelhão qualquer, ele não está mais aqui. Eu continuo tentando segurar o leme deste barco num mar cada dia mais raivoso. 



domingo, 3 de julho de 2022

AS MAIORES HQS DE TODOS OS TEMPOS: LOBO SOLITÁRIO.

 

 Foi Francis, minha querida e saudosa mãe quem me iniciou na leitura, na música, nos filmes, nas artes enfim. Ela lia para mim quando eu mal andava, cantava com sua voz de rouxinol para eu dormir e foi quem me levou ao cinema pela primeira vez. Lembro dos dois primeiros filmes que vi na vida: O LADRÃO DE BAGDÁ e SE MEU FUSCA FALASSE e documentários (sim, nos cinemas) sobre animais da África e ela sempre ali ao meu lado.

Também não posso deixar de citar meu querido irmão Agildo (Gil, como muitos chamavam) em postagens como a de hoje pois a coleção de mangá sobre a qual falarei foi financiada por ele, assim como muitos outros quadrinhos que ele me presenteou nos períodos de ruína financeira (fato notório em 80% da minha existência).

Hoje retorno com um quadro antigo deste blog, "As Maiores HQs de Todos os Tempos" para comentar sobre O LOBO SOLITÁRIO, de Kazuo Koike (roteiro) e Goseki Kojima (arte), uma saga de muito sucesso no Japão que até rendeu alguns filmes (que nunca assisti). 

Como sempre o objetivo aqui não é esmiuçar a obra, analisar texto e arte e tal, mas expor a forma que tal projeto me encantou e que repercussão teve em minha vida.

Meu primeiro contato com este quadrinho foi em 1988 quando saiu pela Cedibra, no formato americano e em leitura ocidental (exatamente como foi publicado nos EUA pela Dark Horse - salvo engano). Eu não conhecia muito do quadrinho japonês, apreciava mas não era um entusiasta faminto (na verdade até hoje não sou), mas a história de um Samurai (um ronin, melhor dizendo) aceitando o trabalho de assassinar pessoas em troca de uma vultosa quantia em dinheiro para poder perpetrar uma vingança contra o clã que desonrou seu nome e o de sua família, carregando seu filho de três anos num carrinho de bebê, era diferente de tudo o que eu já tinha lido. Nudez, violência em quantidades absurdas...não, não dava para ficar indiferente!

Foram lançados seis números, se a memória não me trai, depois a Cedibra parou de publicar quadrinhos e adeus ao Lobo. Até que a Nova Sampa retomou a publicação em um formato menor. Cheguei até a fazer uma capa para uma das edições mas nunca foi publicada, também não durou muito. 

A coleção toda foi finalmente lançada pela Panini na primeira década do novo milênio mas eu fiquei de fora, nem lembro exatamente porque, talvez por estar morando e tentando me adaptar em outro estado e sempre sem grana.

Até que finalmente a mesma editora anunciou a republicação depois de mais de 10 anos longe das bancas (acho que em 2016) e meu irmão disse: "compre, eu pago!" E assim foi. Ele comprou para mim até o número 24, depois ele partiu levando o colorido da minha vida e eu adquiri os 4 últimos. 

Comecei a ler lentamente e achei mesmo que só concluiria, sei lá, no ano que vem, afinal meu tempo é reduzido e cada mangá tem em média 300 páginas em 28 volumes, mas absorvendo um pouco ao logo do dia, em meus intervalos de trabalho eu fechei tudo há algumas semanas e finalmente pude tomar conhecimento de toda a saga de Ito Ogami e seu filho Daigoro. E não fiquei desapontado, é uma obra fantástica, cheia de poesia e arte cinemática!

Bem, faço uma correção, o final me decepcionou um pouco, não que eu achasse que não deveria ser daquela forma, mas faltou algo e eu não posso dizer o que é sem entregar o jogo para os que ainda não leram e eu recomendo demais que leia, se puderem.

Pois é, achei que 34 anos para apreender a saga do samurai com o carrinho de bebê merecia ser registrado aqui, na verdade teria outros comentários a fazer mas acho que são de menor relevância e não estou mais no espírito de enunciar minhas emoções, além do tempo que encolhe dia a dia.

Beijos a todos vocês, queridos e queridas!  


                 

A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...