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sábado, 29 de fevereiro de 2020

CAPITÃ MARVEL


Muita gente criticou o filme da Capitã Marvel, ok não é lá essas coisas mas é um filme de herói na medida. A atriz escolhida, visualmente (não falo do corpo) até que condiz com o que é feito dela atualmente nas HQs. No  entanto a mocinha não pareceu a vontade no papel, sei lá, de repente ela é antipática mesmo e isto ficou explícito na representação da personagem.
Esta arte foi feita para ser vendida em leilão. Me enrolei todo (como de praxe) com tantas atividades que ela ficou esquecida em um envelope. Nem foi pra leilão, nem foi exibida em redes sociais. Até agora.


Eu curto filme de heróis, sempre gostei, desde a série de tv do Hulk - Bixby/Ferrigno - aos filmes do Super Homem com o Reeve.

As atuais produções da Marvel tem me agradado, principalmente Os Vingadores. A série do Demolidor na tv gostei bastante.
A DC não vem fazendo um bom trabalho, infelizmente. Gosto do Homem de Aço e o Chris Nolan criou uma boa trilogia com o Batman. Tá, o Aquaman até que foi legal e a Mulher Maravilha segura bem as pontas nos dois primeiros arcos, mas é só.
Vamos ver o que vem daí para frente.

Esta postagem que não diz absolutamente nada foi só para não passar esta semana em branco. Encaro como uma pitada de açucar na língua em meio a tanto amargor na vida.

Até a próxima!

domingo, 23 de fevereiro de 2020

COMO NOS PIORES MOMENTOS DA INFÂNCIA



Sinto fisgadas, como choques minúsculos na região lombar, ameaçando travamento; tenho evitado me curvar para a frente quando me abaixo, se quero pegar algo na direção do chão faço o movimento de agachar. Um professor de atividade física me disse que são sintomas de hérnia de disco. Eu já me perguntei se não são meus rins. Quando fiz um ultra som de abdome uns anos atrás, o exame acusou umas pedrinhas.
Bem, há muito eu não tenho um plano de saúde, teria que ver no SUS.....preciso me programar para isto.
Não sei se é o calor, se são as angústias devido a uma situação que vivo e que não tenho como resolver, mas sinto o peito pesado, como se eu não sorvesse ar suficiente.

Uma criança precisa de amor, afeto, abraços, carinhos, compreensão, disciplina; É importante saber o valor de se sentir útil, aprender desde cedo a arrumar sua cama, higienizar seu corpo, lavar a louça que sujou, coisas assim. Mas tudo isso equilibrado com a gentil presença de seus pais. Severidade é necessário para saber que o mundo lá fora é uma selva e ninguém vai mimá-lo, mas não ao ponto do infante se sentir repudiado, achar que é um peso. Equilíbrio é tudo! É na infância que se vive os piores horrores, ali é determinado o que você vai ser. Porque digo isso? Não sei. Talvez por achar que esses tormentos da meninice nos assombram na vida adulta. Solidão, tristeza e abandono podem não parecer nada frente à algumas tragédias vividas por muitos mas elas tem um peso tão violento que induz ao suicídio. Tem que ser forte para poder ver a alegria transmitida por Deus nos raios do sol ou nos pingos da chuva.
Uns transformam esses temores em arte, outros dedicam suas vidas a educar e transmitir, de alguma forma, o amor que nunca receberam, ao seu próximo. Outros ainda preferem se armar e cometer assassinatos. É a questão do livre arbítrio.

É carnaval.
O ano era, se não estou enganado, 1974. Nossa família foi para Santos, na casa de um amigo do meu pai, nesses dias de folia. As crianças da residência costumavam ir a uma matinê, num clube próximo. Fui junto, claro. Me lembro de um grande salão, música alta (uma alegre marchinha de tempos idos), um colar de flores em meu pescoço, confetes, serpentinas e muito calor. Ao meu redor todos pulando...só pulando, suados. Há quem se divirta com isso. Eu não estava me divertindo, aquilo não fazia o menor sentido. Foi aí que me dei conta de que não gostava de carnaval. Meu repudio pela festa só aumentou com os anos ao constatar o saldo negativo, nunca devidamente contabilizado, evidentemente.
Cheguei até a fazer uma HQ com Zé Gatão sobre o tema, nunca publicada.
Eu acho que como sociedade, se um dia quisermos evoluir de fato, coisas como o carnaval deveria se tornar obsoletas. Minha opinião.

Como o tempo passa! Estou tentando escrever o conto, o segundo ato da saga do meu alter ego, Ed Palumbo, um pouco cada dia, para acabar logo. Ao fazer uma revisão, notei que a primeira parte foi escrita em 2018!!!! Bem, não falta muito agora, foi um período vivido por mim entre 1998 e 1999, vou omitir alguns acontecimentos pitorescos para abreviar a narrativa. O cerne destas histórias é mostrar pela minha ótica, que você deseja a paz, outro a guerra, você quer fazer seu trabalho, outro quer atrapalhar e impedir que você vença. Talvez essa, digamos, disputa, seja necessária para fazer com que você cresça como ser humano ou profissional, ou para dar subsídios aos que creem em evolução natural, mas para mim só soa pérfido e para os espíritos mais sensíveis como Poe, Lovecraft ou Van Gogh, sabemos, foi trágico! Nada novo, na verdade, eu já escrevia sobre isso nas HQs de Zé Gatão.
Enfim, aguardem a conclusão do conto para as próximas semanas, espero.

As artes de hoje, os mais antigos sabem do que se trata: Os Mestres do Universo!!!
Sabem, se eu tivesse uns 30 anos, fosse solteiro e não tivesse que me preocupar com aluguel e mercado, eu faria uma história em quadrinhos do He-Man como imagino que o universo de um bárbaro deveria ser, brutal, violento, cheio de sangue e com generosas pitadas de horror, só pelo prazer de fazer. Mas essas veleidades passaram.

Beijos a todos!




sábado, 15 de fevereiro de 2020

ARLEQUINA



Conheço quase nada da Arlequina. Não gosto da personagem. Sim, claro, era divertida nas animações com o traço do Bruce Timm, ali justificavam-se as situações bizarras, tratava-se de um desenho voltado para o público infanto juvenil. Fez sucesso e foi parar nos quadrinhos - que nunca li - e nos filmes, que acho horríveis, aliás, só vi um e não pretendo ver este novo.
Porque esta arte, então? Demorou um pouco para eu fazer parte de um seleto grupo de artistas que produz artes para leilões gringos (tem desenhista que só vive disso, acaba arrumando clientela fixa - é uma boa!).
Recomendaram que eu fizesse principalmente heroínas e vilãs do momento. Então, era pra mandar tinta em beldades como Viúva Negra, Harley Quinn, Feiceira Escarlate, Mulher Maravilha, Mulher Gato, Capitã Marvel, etc e etc, que era venda certa. O problema é que eu demoro muito para compor uma arte - eu deveria ser menos artista e mais profissa nestes casos - penso sempre em algo diferente, fora dos padrões e faço esboços e esboços. Depois parto para a pintura, que demora um tempão para eu terminar. A Capitã Marvel foi a primeira. Depois bateu a vontade de fazer um marmanjo da DC, fiz e delonguei, como sempre. Depois fiz a Arlequina que vemos aqui e assim por diante.
Segundo as orientações do pessoal do site eu deveria mandar acima de dez artes e nunca fiz além de cinco ou seis. Os pagaluguéis imediatos me roubaram o tempo.
Depois de um hiato tentei contato com o grupo no Facebook e  não encontrei mais. Nem sei se ainda sou um dos selecionados. Vacilo meu.
Estas artes estiveram guardadas por muito tempo, decidi expô-las nas redes sociais. Para o tal leilão nem sei se precisam ser inéditas. Bem, qualquer coisa ainda posso criar mais artes.

Ah, queridos e queridas, que cansaço, que cansaço!

Terça última fui vitimado novamente por aquela crise na região lombar, estive quarta e quinta aleijado na cama. Levantar era um suplício, eu mal conseguia ficar em pé, parecia que a dor impedia o meu cérebro de comandar as pernas. Depois de um tempo eu dava uns passos, ia ao banheiro. Tomar banho era um tormento. Depois deitar de novo. Na quarta feira eu passei o dia vendo TV. Simpsons, Batman Begins, Hércules da Disney, Uma Ladra Sem Limites, A Ilha do Tesouro e sei lá mais o quê. Foi uma agonia, principalmente porque há muito o que fazer e odeio ser um inútil.
Não fui ao médico, sei que na UPA eles iam me dar um analgésico e me recomendar repouso, o que fiz por minha conta. Se tivesse ainda plano de saúde eu iria num ortopedista.
O problema é que eu trabalho a muito anos sentado, acho que isto enfraqueceu meus músculos lombares. Deve ser isto.

Hoje já estou bem melhor, graças a Deus.

Beijos a todos e espero estar aqui na próxima semana. Deus sabe.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

UM QUENTE DIA CLARO QUE NÃO ALEGRA UMA ALMA CHEIA DE TEMORES.


Há um pesadelo constante que deteriora o meu viver. Como uma onda, ele vai e vem. A raiz da árvore já foi contaminada, não há remédio para ela a não ser o machado..... e eu não tenho forças para derrubá-la. Enquanto ela segue apodrecendo, vou tentando existir, sabendo que há pessoas em situação bem pior. Esta semana, na fila do banco, vi um rapaz, jovem ainda, com um terrível melanoma cancerígeno no nariz que se espalhava por uma parte do rosto. Um outro dia um velho me abordou pedindo dinheiro, me mostrou umas receitas - e todas essas coisas - dizendo que tinha câncer, que teria que colocar uma bolsa de colostomia na barriga e tal. Não sei se era verdade mas dei os trocados que eu tinha.

Mas sigo a maré até onde ela me levar.
Continuo fazendo os storyboards para o filme de terror e uma nova porta de trabalho começa a se abrir. Há uma burocracia no meio que emperra tudo: MEI, conta jurídica para poder receber pagamentos e etc.

Minha HQ, ZÉ GATÃO - SIROCO teve nova interrupção. Meus contos, que vou erigindo aos poucos, também.

Enquanto a vida segue em seus açoites, tento tocar a rotina. Vamos a ela?

QUE LIVRO ESTOU LENDO?
Com o falecimento do Neil Peart, o genial baterista do Rush, resolvi finalmente ler A ESTRADA DA CURA, livro em que ele relata como voltou "à vida" depois da morte de sua filha, num acidente de carro e de sua esposa, vitimada pelo câncer alguns meses depois. Ele decidiu sair de moto, viajando sem rumo pelas estradas desertas do Canadá, EUA e outros lugares. Muito bom texto, pena que eu não tenha tempo e concentração para degustar como se deve.


QUE QUADRINHOS ESTOU LENDO?
Black Hammer, com roteiro do Jeff Lemire e desenhos de Dean Ormston. Super heróis numa pegada bem diferente onde há ecos na fase dourada dos justiceiros. Mas estou no décimo número e pelo visto ainda falta muito para amarrarem todas as pontas. Até aqui está bem legal, tomara que não estraguem tudo enrolando indefinidamente.

Terminei de ler os quatro volumes de Parker, HQ policial excelente adaptada pelo saudoso Darwyn Cooke dos livros de Richard Stark.



O QUE ESTOU ASSISTINDO?
No cinema, o último filme que vi foi o EXTERMINADOR DO FUTURO, DESTINO SOMBRIO. Fraco toda a vida. Arnold em franca decadência, só aparece como alívio cômico lá pela metade do filme. James Cameron conseguiu enterrar de vez a sua criação.

VAMOS ÀS SÉRIES DE TV:
Finalmente terminei de ver MISTER MERCEDES, baseado na obra de Stephen King. Boa, mantem a tensão, decepcionando um pouco no último episódio.

THE WITCHER - Bacaninha, não li os livros e muito menos conheço os jogos ou as HQs, eu pensei que teria um tom mais sombrio. Demorou para eu sacar que cada personagem está numa linha diferente de tempo. As cenas de luta com espada são muito bem coreografadas. Acho que o Henry Cavill está bem caracterizado mas um tanto canastrão. Os efeitos especiais podiam ser um pouco mais caprichados. Mas fiquei curioso por uma nova temporada.

WATCHMEN - Excelente fotografia, trilha sonora nota 10, mas todo o resto achei lamentável. Pelo pouco que li, a galerinha da cultura pop brasileira curtiu. Nem vou falar mais a respeito, dá pra entender porque o Alan Moore se nega a ter sequer seu nome nos créditos destes caça niqueis.

SONS OF ANARCHY - Estamos na terceira temporada. Vera curte bastante, eu estou achando muito novelão das 8.

Tenho que retomar Os Vikings, que parei na terceira temporada.

O QUE TENHO OUVIDO?
Música clássica, preciso de coisas que me acalmem o espírito. Mas um dia desses  eu trabalhava e deu vontade de ouvir velharias (como sempre), só que não escolhidas por mim, pesquisei no Youtube por sucessos dos anos 70 e ouvi quase duas horas de canções que nunca mais eu tinha escutado. Coisas bem bregas, clássicos italianos e franceses misturados com baladas americanas. Pô, foi muito legal! Ouve um tempo em que se faziam músicas boas. 

Até semana que vem, meus queridos e minhas queridas! Deus abençoe a vida de vocês!

 

domingo, 2 de fevereiro de 2020

UM CERTO JUDEU.


ESCREVO AO SOM DE BARULHO DE CHUVA E TROVOADAS DISTANTES, NO YOU TUBE, ISSO ACALMA A MINHA ALMA.
BEM, VAMOS LÁ....


Isto se passou em meados da década de 1970.

Dudu era um menino de uns 12 anos que saiu de sua cidade natal para morar num estado muito distante e bem diferente de tudo que tinha conhecido até então.....depois de quase um ano, durante umas férias, ele retornava ao seu ponto de origem, na verdade ele não sabia exatamente porque, não havia deixado grandes amigos e o tio que ficara no apartamento outrora alugado por seu pai nunca o considerou gente, pelo menos não naquela época, mas pensando bem, que adulto respeita um fedelho dessa idade? Bom, o caso é que depois que seus pais conseguiram a autorização junto ao juizado de menores, lá estava ele encarando uma viagem de quase doze horas até São Paulo.
Ao chegar no Terminal Rodoviário da Luz, próximo à Praça Júlio Prestes, o cheiro da fumaça, as cores opacas da cidade trouxeram alguma nostalgia. Havia uma certa luminosidade no ar lembrando um pouco o cromatismo das películas de cinema dos anos 60.
Caminhou pela Avenida Duque de Caxias e dobrou na Avenida Rio Branco até chegar na Rua Aurora, onde morava o tio.
Não esperava encontrar o apartamento cheio de gente: tias, tios e primos (todos mais velhos que ele, claro) que vieram para a formatura de uma prima que seus pais abrigaram uns anos antes. A convivência não foi agradável; como sempre, ele era alvo de zombaria de um povo maledicente cuja única diversão consistia em falar mal uns dos outros.

Mas o que interessa neste relato foi o reencontro de Dudu com um certo coleguinha de infância a quem chamaremos de Israel. Este menino, de família judia era mais alto que ele, mais bonito (tinha olhos verdes) e contava com excelente educação escolar, muitos mimos o tornaram um tanto soberbo. Uns anos antes, Dudu estava com seu irmãozinho (Gil ou Dedé?) em seu colo e era acompanhado por este amigo, bem ali, na esquina da Rua Guianazes com a Rua Vitória e uns meninos de rua vieram em sua direção. O então valente Israel, que sempre dissera ser o tal, revelou sua pusilanimidade saindo correndo sem uma palavra, deixando Dudu à sua própria sorte com um bebê nos braços. Os meninos de rua apenas passavam por ali, não eram ameaça, no final das contas, mas para um guri abastado como Israel, eles eram o próprio terror encarnado.
Israel, sempre humilhou o Dudu, mas era uma humilhação diferente das que ele fora vítima por parte de seus primos e outros garotos da escola. Israel se gabava de ser judeu, de ter uma família rica, estudar num colégio caro, ter muitos gibis, brinquedos, autorama e um kart. Ah, o kart! Aquilo nunca foi o sonho de consumo de Dudu, talvez fosse demais para ele. Certa vez, Israel o chamou para ir até o galpão onde ficava o depósito de papeis (o ramo de negócios do patriarca era esse, papeis) e lhe mostrar o que aos olhos de Dudu se assemelhava a um carro de fórmula 1, só que um pouco menor. Uma bela peça, mas não lhe dizia nada, pareceu muita ostentação. O garoto pilotava em alguma pista própria para isso, mas Dudu nunca vira. Contudo, se o kart não era um sonho de consumo, o mesmo não se poderia dizer do autorama. Sempre que ele ia ao apartamento do Israel, ficava maravilhado com aquele brinquedo, que aliás, nunca teve permissão para tocar, só via o garoto mexer no controle e fazer o carrinho correr pela pista, derrapar na curva e sair da via.
Os gibis que Israel comprava, sempre indicados por Dudu, eram itens que o pobre menino invejava. Nem podia tocar. O judeu também jogava damas melhor e sobre isto é legal falar: certa vez, jogaram apostando quadrinhos; Israel colocou o Manual do Tio Patinhas - com a moedinha número 1 - contra vários gibis de Dudu, que eram umas revistas do Fantasma e do Recruta Zero. Resultado, Israel ganhou e deixou o outro sem nada. Jogo com aposta é mesmo uma coisa do diabo, foi a primeira e única vez que Dudu teve vontade de esganar alguém. O riso de deboche do judeu o acompanhou por alguns anos além.
A mãe de Israel era uma senhora agradável e muito carinhosa, havia um irmão mais velho poucos anos mas que pouco falava com o garoto pobre. O pai era inclinado a uma pinga e quando chegava em casa, geralmente alterado (maldito álcool!!!), Dudu era praticamente tocado de lá pela pobre senhora - ela tinha suas razões, com certeza.

O reencontro dos meninos foi muito amistoso. Para matar o tempo perdido, faziam belas caminhadas pelas ruas do centro, olhando as bundas das mulheres e comentando sobre bucetas e punhetas. Numa tarde, Israel falou:
- Dudu, posso te pedir uma coisa?
- Claro!
- Mas antes, promete que não vai rir de mim?
- Ora, o que é?
- Promete!
- Ok, prometo!
- Mas promete mesmo? Se não cumprir você pode ser castigado por Deus.
- Certo, certo, Israel, eu prometo que não vou rir!
- Tá bem....poderia amarrar meus sapatos?
- Como é?
- Eu não sei amarrar sapatos e meus cadarços se soltaram.
- Cê tá brincando!
- Você prometeu que não ia rir!
- Não estou com vontade de rir, eu só achei que.....tá certo, vou amarrar.
Dudu se ajoelhou aos pés do amigo ali na rua e atou os cadarços.

Não muito depois surgiu a conversa que inspirou este relato.
- Dudu, você já furtou alguma coisa?
- Como assim?
- Roubou alguma coisa de alguma loja?
- Bem, uma vez eu peguei um número da coleção "Os Bichos" de uma banca de jornal sem pagar...é só o que lembro...e você?
- Eu nunca. Uns amigos meus do colégio já surrupiaram uns compactos de uma loja de discos e fitas cassete também......hei, vamos "afanar" alguma coisa do Pão de Açucar?
- Não, cara, isso dá merda!
- Ah, só um biscoitinho! Só pelo prazer da aventura!
O menino insistiu tanto que o outro aquiesceu. Pegar um lanchinho Mirabel, não ia dar em nada. Incrível o que garotos bem orientados pelos pais podem fazer a título de uma transgressão!
Devia ser umas 15, 16 horas, por aí, de um dia sem sol, quando eles andavam pelos corredores do supermercado praticamente vazio, procurando o que poderia ser levado que não chamasse tanto a atenção. Dudu não sabia porque fazia aquilo, talvez para não parecer covarde aos olhos do colega, o outro, com certeza, para parecer corajoso e durão para si mesmo.
Israel, veio até ele em atitude pra lá de suspeita e falou em sussurros:
- Vou levar um Lanche Mirabel, e você?
- Ah, sei lá, acho que essa cola Tenaz.
- Psiu! Fale baixo!
- Ok, desculpe.
Mais esperto, com certeza, como um gato que sonda um aquário de peixe, Dudu enfiou o tubo de cola branca na manga do seu suéter azul marinho pelo punho, ao contrário do outro que como o pior dos canastrões olhou para os lados e enfiou apressadamente o pacote com os biscoitinhos no bolso da calça de tergal cinza, fazendo enorme volume.
Depois disso caminharam mais um pouco pelo ambiente e se apressaram em direção à saída. Nervoso, Dudu acelerou sem olhar para trás. Já estava na calçada, em frente a uma banca de revistas quando olhou pelo vidro e viu o amigo ser agarrado com rispidez pelos seguranças do estabelecimento. Ele poderia ter fugido como Israel fez uns anos atrás, mas seu caráter o impedia de deixar o companheiro se foder sozinho. Entrou no mercado ouvindo um moreno alto falar:
- Havia um outro com este ladrãozinho, juro que vi. Ah, olha ele ali, pegue ele!!!
Um cara de óculos, jeito distinto, o agarrou violentamente pelo braço.
O senhores da lei daquele local os conduziram aos fundos da propriedade sob protestos de Israel que bradava:
- Vocês vão se arrepender! Vou chamar o meu pai! Ele é uma pessoa importante!
- CALA A BOCA, LADRÃO! Você vai para o Juizado de Menores!
Tiraram o pacotinho de biscoitos do bolso do judeu e esfregaram na sua cara!
- Cê roubou isso aqui, seu pivete! Vai preso por isso!
Dudu era revistado mas o moreno não conseguiu localizar o tubo de cola.
- Tenho certeza que vi esse aqui roubar alguma coisa, tenho certeza!
O menino judeu gritava:
- Vocês tão fudido! Meu pai é dono de uma grande papelaria.....
- CALA A BOCA!!!! Dizendo isso o cara de óculos deu um soco na boca de Israel, que tombou ajoelhado e urinando nas calças. Ele chorava e segurava os lábios como se eles fossem cair.
Dudu, temendo que encontrassem o objeto do roubo consigo e isto agravasse a situação, aproveitou o momento onde as atenções eram voltadas para o menino ajoelhado e se livrou da cola, deixando-a parcialmente escondida ao lado de uma caixa que estava por ali.
Escarneciam do menino no chão.
- Acabou a tua valentia, pivete?
- Ei, e essa cola aqui? Foi você que a escondeu? Perguntaram ao Dudu.
- N-não!
- Fala a verdade moleque ou vai sobrar porrada pra tu também!
- Moço, temos dinheiro para pagar por isso....não somos ladrões, essa foi uma travessura, nada mais. Disse Dudu.
Os adultos se entreolharam. Não precisava ser adivinho para notar que não estavam afim de ter trabalho chamando polícia, Juizado de Menores ou o que fosse, por tão pouco, e tinha o agravante do soco que deram no menino, aquilo podia custar caro ao cara de óculos.
O moreno abriu a cola e deixou uma farta quantidade esguichar na roupa do pobre Israel.
- Tu tem grana, ô moleque? Pra pagar isso aqui?
- T-te-tenho! balbuciou.
- Então dá, aí!
Dudu ajudou o colega que não tinha forças nas pernas a se levantar. O menino tirou a carteira e retirou a quantia para pagar pelo biscoito e a cola.
- Tu pensa que é o tal, né fedelho? Podia ser como seu amigo aí, que é muito mais razoável. Vamos, vamos lá para o caixa!
Escoltados, os dois meninos, observados por algumas pessoas dali, foram até o caixa e pagaram pelos objetos e dispensados.
- SE VOLTAREM AQUI, VÃO PRA CADEIA, SEUS VAGABUNDOS!
Nem precisavam avisar, jamais voltariam.

A tarde caía  e os dois andavam pela Avenida Rio Branco, Dudu sabia que Israel, calado, depois de tudo, procrastinava para voltar ao lar.

- Dudu?
- Sim?
- Você nunca vai contar isto a ninguém, não é?
- Não, nunca!
- Nem que mijei nas calças, né?
- Nada!
- Obrigado!

E DE FATO, NUNCA CONTEI, SÓ A VOCÊS, NESTA POSTAGEM.

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Post Escriptum:

Dudu muitos anos depois voltou a morar com a família em São Paulo, no mesmo lugar de outrora. Viu Israel algumas poucas vezes, herdaram os negócios da família e tinham um escritório na Rua dos Timbiras. Era a cara do pai. Estava casado e segundo o irmão mais velho, com uma mulher bonita e megera, que o dominava. A mãe, morreu vitimada por uma câncer no intestino. O pai, doente, cego pelo diabetes.
Depois daqueles primeiros contatos, nunca mais o viu, nem soube mais nada dele.


















A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...