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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu deveria preencher papeis e papeis criando quadrinhos e ilustrações, mas sinto um cansaço avassalador, sou tomado por uma prostração que me atemoriza pois sinto que vou matando as horas na espera de um fluxo de energia que me catapulte de forma a eu terminar o que vai envelhecendo nas minhas mãos e essa injeção de adrenalina não acontece. Todos os dias peço a Deus que Ele me permita terminar esses projetos que, parecem que se esticam e ficam cada momento mais distantes dos meus olhos. Eu poderia culpar a idade - e pode ser que ela tenha grande culpa mesmo, afinal, com o avanço dos anos vamos ficando mais lentos em tudo - ou poderia atribuir essa lassidão às pressões cotidianas como fazer dinheiro e viver sempre sob tensão, mas sinto que é muito mais do que isso, essa fadiga chega a ser espiritual, é quando chegamos naquela encruzilhada, olhamos para os quatro cantos e não vemos um horizonte definido.

Fui tomado por essa angústia quando realizava A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, mas mesmo naqueles anos eu trabalhava como um asno e o trabalho fluía. Hoje fica a impressão de que só caminho para trás.

Noite passada eu trabalhava em uma boa página de O NASCIMENTO DOS DEUSES, a prancha não era tão difícil, já fiz coisas bem mais complicadas mas a mão, o braço e o ombro doíam de cansaço, os olhos ardiam e não faltava muito para o fim, mas como eram quase 4h da madrugada, resolvi parar para dar continuidade quando acordasse. Tomei meu banho e me deitei, o sono me abraçou mas não foi reparador, após umas horas tive que me levantar para aliviar a bexiga (essa HBP é um dos tormentos que tenho que enfrentar na vida) e isso se repete umas duas ou três vezes todas as noites, de forma que esse sono picado cobra seu preço no decorrer do dia, principalmente no período vespertino. Consegui terminar a tal página dos Mitos hoje pela manhã mas sem euforia. Não falta muito agora para o final, mais umas 10 páginas e a capa, no entanto, tá difícil demais dar continuidade, eu nem sei direito porque. Tenho também os RASTREADORES DE ALGURES para dar prosseguimento, o projeto que envolve o filme de terror e as encomendas que sempre me ajudam a pagar pequenas contas. Dito isso, posso afirmar que tenho desenhado mais do que em qualquer outra época da minha vida, mas sem o mesmo contentamento de outrora. Reparo hoje que no ontem minha batalha era pela necessidade mas também por auto afirmação - o que envolvia um certo prazer em gerar - e isto, se não se perdeu, acabou se camuflando dentro de mim.

Eu queria muito não fazer nada.....estou cheio. Mas a carestia me levanta pelos cabelos e me empurra com força para a frente.

Findo os Mitos e Rastreadores eu perco minhas fontes de renda. Tenho procurado e não tenho conseguido trabalhos novos, não que eu tenha como dar conta, mas.....

Faz muito calor.  

Bem, depois do desabafo, vamos ao tema da postagem.

Encontrei o Thony Silas algumas vezes numa vida anterior, quando meu mundo ainda tinha cores. Ele é uma big star que trabalhou (não sei se ainda trabalha) para as grandes editoras estadunidenses. Talentoso, humilde (coisa rara), boa praça e diz que gosta muito do que eu faço.

Antes do fim do mundo, que aconteceu em 2020, eu sempre ia aos eventos de HQs que aconteciam em Recife e cruzava com o Thony, numa dessas vezes ele me presenteou com uma fanart do Zé Gatão. Ele disse que não ficara satisfeito e que faria uma muito melhor. Eu argumentei que não tinha necessidade mas ele insistiu. Ok, agradeci e falei que ficaria aguardando. Nos vimos umas duas vezes num hipermercado aqui perto da minha casa (parece que ele está morando aqui no bairro). Nos cumprimentamos brevemente e depois mais nada. Para quem não conhece o trampo do Silas, o Instagram dele é esse aqui: https://www.instagram.com/thonysilas/p/DARiJVjRZkO/?img_index=1

O desenho que ele fez do Felino ficou dentro de um envelope e esses dias, por acaso, encontrei. Ei-lo:


MUITO OBRIGADO, THONY!

Muito obrigado, amadas e amados, até qualquer hora.



 





  

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

QUADRITOS 17

 Boa noite amados e amadas!

Recebi ontem (ou foi anteontem? bem, não importa) a minha edição impressa do fanzine Quadritos cuja capa criei e tive o privilégio de ter nele publicado uma das primeiras HQs que fiz na vida, intitulada PARANÓIDE. Essa foi uma que sobreviveu ao tempo e às frequentes mudanças de moradia. Eu tinha umas ideias boas no início dos anos 90 embora meu traço fosse bem tosco, cheguei  a executar umas coisas interessantes mas infelizmente não sei que fim levaram, só sobrou essa.

Tem ainda uma entrevista que o Marcos Freitas e o Ciberpajé Edgar Franco fizeram comigo onde falo um pouco sobre o meu método de produção (será que alguém se interessa?).

Esse fanzine eu já tinha em versão digital e agora tenho a impressa, formatão legal (30x21), boa impressão.

 MUITO OBRIGADO, MARCÃO E SERGINHO!

Nem sei se este material ainda está disponível na Editora Atomic, mas quem estiver interessado não custa tentar. O contato pode ser através desses dois e-mails: atomiceditora@gmail.com e sergioyamabuchi@gmail.com 

Fiz um videozinho para ilustrar essa breve postagem, mas como podem notar, sou extremamente amador e desajeitado com essas coisas, até esqueci de desligar o som do meu notebook e dar uma organizada na minha velha prancheta. Mas o que vale é a intenção, não é?


Um beijo a todos e fiquem com Deus!        

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

VINTE OITO DE OUTUBRO DE 2024

 SE VOCÊ AINDA  ESTIVESSE AQUI EU JÁ TERIA TE LIGADO PARA DESEJAR FELIZ ANIVERSÁRIO. VOCÊ ME PERGUNTARIA SE ESTÁ "TUDO CERTINHO", EU RESPONDERIA QUE SIM E INDAGARIA SOBRE SUA VIDA E A RESPOSTA SERIA "TUDO 100%", ERA SEMPRE ASSIM QUANDO NOS FALÁVAMOS.

MEU DEUS, QUANTA SAUDADES!

PASSO PELA VIDA FINGINDO VIVER, TENTANDO CUIDAR DA FAMÍLIA QUE TOMEI SOBRE MINHA RESPONSABILIDADE, COMO NÁUFRAGO AGARRADO A UMA BOIA QUALQUER. E SIGO NA ESPERANÇA DE UM DIA REENCONTRÁ-LO NA ETERNIDADE.

FELIZ ANIVERSÁRIO, AMADO IRMÃO, MEU AMIGO! 

ATÉ UM DIA.



sábado, 26 de outubro de 2024

VINTE E SEIS DE OUTUBRO DE 2024

 FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU AMOR! 

TENHO OUVIDO FREQUENTEMENTE DOS ANALISTAS POLÍTICOS, PASTORES E DOUTORES NA BÍBLIA SOBRE O FIM DO MUNDO. PARA MIM O FIM DO MUNDO JÁ ACONTECEU, ELE SE DEU LOGO NO INÍCIO DE 2021 QUANDO NOSSO SENHOR TE LEVOU EMBORA PARA MORAR COM ELE, PARA NÓS QUE FICAMOS, RESTOU APENAS A SOLIDÃO E O VAZIO, MAS SOU GRATO AO PAI DAS LUZES POR GUARDÁ-LA E LIVRÁ-LA DOS MALES DESTE MUNDO TENEBROSO. 
A SAUDADE É TORTURANTE MAS O AMOR CONTINUA INTACTO, AGUARDANDO O DIA DO REENCONTRO. 

 BEIJOS, MAMÃE, ATÉ BREVE!

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ZÉ GATÃO, ESSE ETERNO INCOMPREENDIDO

 

Arte criada por Louis Melo, um jovem artista que admiro muito.

 Amados e amadas, boa noite!

Uma coisa aprendi com o meu pai e com um chefe que eu tive: fazer o exato oposto do que eles faziam; eles, frequentemente valentões, diziam o que lhes viesse na telha se confrontados, desafiados ou colocados contra a parede, não raro partiam pra vias de fato, ou seja, corriqueiramente fechavam portas atrás de si. Vocês sabem, a vida é uma gangorra, pra um subir, o outro tem que descer. Uma hora você é o patrão, na outra você é o submisso. Os dois costumeiramente nadavam na merda por causa desse comportamento impulsivo. O ser humano é vingativo por natureza, "um dia te pego, filho da puta, goze sua vitória enquanto pode". Se não tenho algo bom para dizer a respeito de uma pessoa, não digo nada e montado nesses cavalos de batalha eu consegui algumas realizações, hoje, porém, arrisco a dar um tiro no meu pé, mas sabem, foda-se, não tô mais na idade de ficar cheio de dedos com pessoas que valem menos que o peido de um cachorro. Minha ética, porém, ordena que eu não chame os bois pelo nome e assim farei.

Antes de entrar no assunto dessa postagem, permitam-me informá-los sobre como estou.... na verdade não sei bem como estou.... ainda faço três refeições ao dia, bebo água limpa, durmo numa cama asseada, tomo pelo menos dois banhos diários (manhã e noite) e no âmbito profissional desfruto de um certo prestígio entre a meia dúzia de pessoas que curtem meus traços e cores, então posso, sim, dizer que estou bem. Entretanto ainda vivo numa apreensão que subtrai toda paz que um lutador honrado deveria sentir dentro de sua casa. Tenho trabalhado nos projetos que vocês estão fartos de ler aqui mas o dinheiro continua difícil e as coisas a cada dia aumentam de preço, sem contar que sei que meu luto não terá fim. Feita essa meditação, voltemos ao tema proposto.

Sabemos todos que Zé Gatão nunca alcançou sucesso comercial - os prováveis motivos já foram  debatidos aqui - apesar do heroísmo do Jotapê Martins (Via Lettera), Leandro Luigi Del Manto (Devir) e Marcos Freitas (Atomic). 

Eu tentei fazer a minha parte, divulgando, procurando editores, jornalistas da área e..... artistas de quadrinhos! Tudo para fazer o personagem se tornar popular para que ele fosse melhor aceito. 

Uma dessas tentativas foi em 2000 ou 2001, por aí. O Jotapê, editor da Via Lettera havia me feito suspense sobre uma publicação que, segundo ele, revolucionaria o mercado de quadrinhos no Brasil, tratava-se da Front. Pesquisem no Google, se tiverem interesse em saber do que se trata, as imagens abaixo podem trazer uma tênue luz.

 A Front, pelo que percebi, tentava emular a Raw, periódico americano um tanto revolucionário editado pelo Art Spiegelman, algo do tipo, alternando quadrinhos, artigos, poemas e ilustrações. 

Os artistas responsáveis pela dita revista eram cartunistas, digamos, alternativos, que publicavam em jornais e ilustravam alguns magazines do período (não, Los Três Amigos não faziam parte desse time) e eu conheci alguns, tipos talentosos mas cheios de empáfia, julgando-se grandes intelectuais que nos lançamentos das Front (fui em dois) discutiam Moebius e Corben e se indagavam de forma bastante blasé sobre o futuro dos comics.

Um desses artistas (um dos principais cabeças do projeto) era mais chegado a mim, não porque ele achasse que meu trabalho valesse mais do que a merda que ele largava em sua privada, mas porque ele passava de vez em quando pela banca de jornal em que trabalhei. 

Depois de uns números eles começaram a publicar a Front com temas específicos como sonho, feminilidade, ódio, morte e por aí vai. O tal artista sempre me perguntava se eu conhecia algum colaborador à altura da publicação e certa vez eu ofereci uma HQ curta do Zé Gatão. Bem sem graça ele disse que precisava consultar os outros editores da Front, que não dependia só dele. Claro que se ele quisesse o Gato estaria lá. Eu sabia que não ia rolar, como não rolou, normal, ninguém é obrigado a gostar e publicar, eu entendo isso, mas a forma como se deu a negativa é que deixou um gosto de barata na minha boca e não  saiu por anos. Não vou entrar nos detalhes, não vale a pena, mas ficou estampado ali um preconceito que eles insistem em negar.

A tal da Front que revolucionaria o mercado não fez sucesso e parou depois de uns números. Não sei se deixou saudades.

Processo idêntico se deu com a Ragú, uma publicação mix envolvendo HQ, artigos sobre temas variados sempre com ilustrações de aspecto vanguardista, só que essa era de Pernambuco. Cheguei a ir na festa de lançamento de uma das edições (argh, festa horrível! E eu cheguei a pagar para entrar. Mas horrível para mim, odeio essa merda com som alternativo à meia luz composta de pessoas tipo universitários maconheiros discutindo os problemas do mundo onde toda porcaria possível pode ser vista como arte).

 

Dessa vez, um dos capitães da Ragu perguntou se eu não queria colaborar com a revista e eu sugeri um quadrinho colorido do Zé Gatão e ele respondeu que o Felino não tinha o perfil da publicação. "Ora essa, a Ragú tem perfil específico?" perguntei, o artista riu meio sem jeito e a conversa tomou outro rumo.

Essas foram duas entre tantas rejeições sofridas e não é coisa do passado, recentemente, durante uma live, um grupo de pessoas sugeriram a uma "importante" editora um encadernado do Zé Gatão e receberam um sonoro NÃO. Repito, ninguém é obrigado a nada, mas poderiam dizer assim: "pois é, quem sabe? Seria legal ter esse personagem no catálogo, mas no momento estamos agendados até tal ano, depois veremos" e a coisa ficaria o dito pelo não dito, mas essa elite não perde oportunidade de descartar, não só a mim, mas outros que não fazem parte da patota.

Lembrando que a HQ recusada pela Front foi publicada no Especial PADA e a rechaçada pela Ragú saiu na revista Zé Gatão - Pintura de Guerra.

Sabem, no final  das contas isso até pode ter sido bom, minha mãe sempre falava: "Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz", tivesse eu sido sucesso e estivesse no meio de muitos que atingiram o cume, eu poderia ficar inchado e não reconhecer o sacrifício do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na cruz. De que vale o homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? Eu digo isso não como quem procura compensação, acreditem, todas essas coisas são lícitas, mas é um prazer momentâneo, tudo na vida passa, estar em paz com o coração sem se corromper com as coisas desse mundo vale muito mais.

Obrigado e fiquem com Deus!

 

 

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

ZÉ GATÃO, UMA PINTURA RÁPIDA

 


 Eu disse em uma postagem anterior que meus próximos textos seriam sobre ZÉ GATÃO. Tivemos minhas reminiscências a respeito do álbum branco conhecido como Cidade do Medo que completa 30 anos e também os meus planos para uma trilogia que nunca aconteceu, onde teríamos as ocorrências entre DAQUI PARA A ETERNIDADE e SIROCO.

A próxima versará sobre alguns álbuns de antologias onde o Felino cinzento recebeu um sonoro NÃO. 

Hoje temos o passo a passo de uma pintura feita para um amigo que sequer conheço o rosto, mas por quem tenho uma imensa dívida de gratidão que nunca poderá ser paga. 

Num desses meus momentos de desespero onde eu precisava saldar um dívida, me vi num beco sem saída acossado por ferozes hienas. Tentei pedir socorro aos amigos mais próximos mas eles também não estavam em condições de oferecer a mão. Nem solicitei ao meu irmão André pois ele já havia me acudido pouquíssimo tempo antes. Guiado - estou certo - por DEUS, eu resolvi, na maior cara de pau, pedir a um amigo virtual chamado Adalberto Eliazar. Eu e ele trocávamos ideias via Messenger de vez em quando a respeito do Felino macambúzio, uma vez que ele se denominava um fã e leitor fiel dos meus livros. Solicitei, na maior vergonha, a importância desejada e ele disse sim. Sem graça, agradeci muito, ele pediu o meu pix e assim pude me livrar das hienas. Disse que devolveria na primeira oportunidade e essa tal demorou longos meses, até que finalmente tive condições de recambiar. No entanto ele se recusou a receber dizendo que se sentiu honrado em me ajudar, que um dia ele também precisou e entendia a situação. Envergonhado, aceitei, pois aquela importância ainda era necessária para mim.

Essas coisas não tem ouro que possa pagar. Um amigo não precisa ter anos de estrada, não precisa ter um rosto, basta ter amor pelo seu próximo como instruiu Jesus. Eu só posso fazer duas coisas, honrá-lo aqui dando nome aos bois e registrando o seu ato de justiça e indeniza-lo com uma arte exclusiva do Zé Gatão, que ele diz gostar tanto.

O título do post diz pintura rápida mas não foi tão fácil assim. Eu teria terminado em menor tempo mas meus outros compromissos e o caos a que sou submetido diariamente me fizeram demorar um pouco. Registrei algumas etapas com um celular que não era dos melhores e aí está. Não vemos dedicatória pois eu a coloquei no verso da arte. Não sei se já está na moldura (eu confesso que gostaria de ver).


 

   



Usei aquarela e lápis de cor sobre papel canson. Coisa simples. Não sou desses artistas com grana para material ponta de linha, me viro com o que tenho à mão.

Se o nome Adalberto Eliazar não é estranho para alguns, é natural, os mais atentos se lembrarão de algumas fanarts dele que postei aqui e também de uma resenha que ele fez do Siroco.

É claro que outros queridos amigos já me ajudaram financeiramente e eu nunca citei aqui, mas pretendo fazê-lo oportunamente.

Deus abençoe a todos vocês que me acompanham neste espaço. 

sábado, 28 de setembro de 2024

ENTRE ZÉ GATÃO - DAQUI PARA A ETERNIDADE E ZÉ GATÃO - SIROCO, O QUE ERA PRA TER SIDO MAS ACABOU NÃO ACONTECENDO

 

 

 Postagem para todos, claro, mas direcionada particularmente aos fãs do felino macambúzio. Trata-se do seguinte: os meus planos para uma continuação direta de DAQUI PARA A ETERNIDADE. Devo ressaltar que nunca escrevi um roteiro formal (salvo alguns momentos mais inspirados contendo alguns diálogos, que reproduzirei para vocês), tudo estava só dentro da minha cabeça. O que eu matutava vem bem lá detrás enquanto trabalhava em MEMENTO MORI, que era o desenvolvimento de uma saga envolvendo o conflito entre os mamíferos (por tabela, aves e répteis também) contra os habitantes dos mares. Cenas iam e vinham na minha cabeça mas nunca tive tempo de sentar e pensar firmemente nisso. Ao final de Eternidade propus me dedicar a este projeto, a intenção era uma trilogia, mas não lembro bem porque, talvez causado pela falta de tempo (nesse período, que foram os primeiros anos de 2000, me dediquei a trabalhar em manuais de desenho e álbuns de anatomia porque era o que pagavam as minhas contas) eu fiquei apenas amadurecendo as situações. Em vez de escrever o roteiro base, eu cometi HQs curtas do Felino enquanto aguardava a oportunidade de publicar Memento Mori. 

Quem me acompanha conhece o enredo, parte desses quadrinhos curtos viraram o Especial PADA em 2011 e mais para o meio do ano Memento Mori ganhou vida pela Devir, mas não na integralidade, meu material foi dividido em duas partes, Daqui Para A Eternidade seria a continuação, prometida para ser publicada seis meses depois. Como sempre acontece, os tais seis meses viraram cinco anos. Confesso que isso me quebrou um pouco a moral, mas continuei produzindo quadrinhos (A Vida e os Amores De Edgar Allan Poe, O Bicho Que Chegou À Feira) e continuei desenvolvendo quadrinhos breves apenas para minha auto satisfação, entre eles rascunhei cenas que viriam a ser a tal "trilogia do desastre". Quando finalmente Eternidade veio à luz do dia eu pensei: pra mim chega, não aguento mais isso! Zé Gatão finda aqui. Um desfecho bacana (embora um final alternativo tivesse a ver com a proposta da trilogia imaginada) e ponto final! Só que, claro, não foi o derradeiro, umas das curtas que eu tinha começado se chamava Siroco, que eu precisava terminar, e sem que eu planejasse ela foi se agigantando e ganhando proporções épicas, tendo tudo a ver com o tal apocalipse dos animais. 

SIROCO ganhou editora mas eu precisava concluir, a Atomic então (pra meu enlevo) publicou PHOBOS e DEIMOS. Finalizado o Siroco veio a pandemia e adiamento da edição, o vírus chinês quebrou irremediavelmente a minha alma e quando o álbum veio a público depois de uma campanha fracassada no Catarse, eu decidi definitivamente por um ponto final na carreira do Gato.

Mas eu estou ciente de que ficou um buraco entre os livros de 2015 e o de 2023. A tal trilogia nunca acontecerá, mas o que planejei e o pouco que escrevi vou dividir com vocês agora. 

ROTA DE COLISÃO era o título que pensei a princípio para primeira parte da trilogia. Seria um álbum não muito longo, umas 60 páginas, se tanto, narrando as razões pelas quais os serem aquáticos ameaçavam os terrestres, discursos ecológicos demagogos, uma situação de guerra fria que entrou em ponto ebulição. Daria trabalho realizar esse tomo, a maioria das imagens seriam splash pages e páginas duplas. Cenas de encontros e conferências nessas ONUs da vida, quadros de grandes tsunamis, batalhas entre peixes e mamíferos, corpos mortos nos oceanos e nos montes mais altos do planeta. Zé Gatão nem apareceria nesse preâmbulo, o que seria, talvez, um problema, pois o leitor espera ver o protagonista pelo menos em algumas cenas. A solução, seria, quem sabe, alternar imagens do que pensei para a terceira parte com a primeira e a segunda, só para inserir o Zé. Mas essa ideia não me agradava.

 

A CIVILIZAÇÃO FEIA E O INVERNO DA MORTE seria o nome da segunda parte. Nesse Armagedom sem vencidos e vencedores, uma nova ordem mundial liderada por porcos reconstruiria uma atual civilização a partir dos escombros, prometendo um venturoso recomeço a quem jurar fidelidade ao novo partido. Essa sequencia mostraria intrigas palacianas alternadas com cenas de violência nas arenas da morte fomentadas como pão e circo para um populacho sedento por emoções fortes. As cenas nos gabinetes revelariam que os suínos mais poderosos financeiramente sempre estiveram nos bastidores manipulando presidentes dos conselhos, juízes, militares de alta patente e etc, criando situações de guerra e no apogeu da crise se esconderam em seus bunkers para ressurgir com as soluções para as crises, reinando como senhores absolutos. Mas mesmo entre eles as disputas pelo poder motivava traições e assassinatos criando fissuras no novo regime. Seria a sequência com mais textos e com certeza a mais trabalhosa de desenhar.

 

BARRACUDA! Parte final da trilogia. Se passaria alguns anos após os eventos trágicos de Daqui Para A Eternidade. Minha intenção nessa sequencia seria mostrar Zé Gatão morando numa casa modesta nos confins de uma floresta ao lado de uma gata de meia idade, porém ainda muito bela. Haveria uma comunidade de animais relativamente pacíficos próxima a ele. O felino estaria mais velho, mais gordo, bem mais cansado e ainda tendo pesadelos com as mortes ocorridas na cidade de Vallejo. Apesar do sossego e silêncio reinante no bosque, o nosso gato não dorme exatamente numa cama de rosas, sempre haverá um espinho ou outro para atormentá-lo, no caso aqui, a fêmea que vive com ele não se sente feliz, o companheiro tenta fazer com que ela fique bem, se esforça para que ela tenha conforto e mantimentos, se sinta protegida, mas ela, entediada, anseia conhecer as metrópoles, acha o mestiço muito reservado e não raro o sente assombrado por lembranças funestas. A tristeza dele é contaminante e ela quer partir mas não sabe como fazê-lo. Essa parte duraria, talvez, umas dez páginas sem texto, os gestos, os olhares e tal falariam por si. Um belo exercício de narrativa. Tudo caminharia assim até que ele tem que ir ao vilarejo comprar alguns mantimentos e lá uma certa agitação mostra que o bucolismo do lugar será azedado em breve. Os noticiários transmitidos pelos rádios e tvs nos empórios relatam os primeiros conflitos com os peixes nas cidades litorâneas. Preocupado, como que pressentindo o que está por vir ele retorna para a casa que construiu, para estar ao lado da fêmea que ele sabe, não é feliz ao lado dele. Junto a ela, tenta entabular uma conversa, acariciá-la, mas ela, como de costume, queixa-se de dor de cabeça e diz que vai deitar cedo. Ele, constrangido, fica ali, na varanda da pequena habitação, olhando as estrelas, ruminando sua melancolia, dizendo a si mesmo que o amor é uma mentira. Come sua refeição, toma seu banho (o que faz, como todos os gatos, umas duas ou três vezes ao dia) e vai se deitar ao lado da gata fria que ronrona sonoramente. Fica ali, olhando para o teto, até que sua audição sensível capta o movimento de alguém nas cercanias. Seus pelos da nuca se arrepiam e ele se levanta sorrateiro. A figura com quem se depara do lado de fora é um velho gato Maracajá que vem com uma mensagem de um antigo conhecido: um tal de Paul Puma. Ok, eu sei, o nome soa tão estúpido quanto a alcunha Zé Gatão, mas eu ouvi num desenho do Pernalonga certa vez e me pareceu sonoro e resolvi usar. Paul Cougar talvez soasse melhor, mas o tom picaresco de Puma ainda cai melhor aos meus ouvidos. Bem, confesso para vocês que só esbocei o argumento até aqui, o que vem agora, assim como nas duas primeiras partes só existiu dentro da minha cachola, mas imaginei essas cenas tantas vezes e por tantos anos que é como se eu tivesse desenhado. O Maracajá trazia um recado do Paul Puma para Zé Gatão encontrá-lo em determinado lugar.

O Puma era um ativista político (seria o cristão conservador demonizado pelos marxistas em nossos dias) e estava sofrendo perseguição por parte de seus opositores. Relutante, o felino cinzento decide encontrar o velho conhecido. Deixa um bilhete para a fêmea e segue noite adentro com o mensageiro. Devo confessar a vocês que nesse trecho da saga eu não saberia muito bem como explicar a reunião entre os dois felinos, tipo, onde seria. Num quarto de hotel, quem sabe? Na verdade nem pensei muito num passado para os dois, seria algo que eu precisaria burilar com calma. 

Os dois se encontram num espaço onde ele é protegido por dois tigrões, pois sua oposição tinha jurado liquidá-lo a todo custo (algo como o Aiatolá Khomeini fez, colocando a cabeça do Salman Rushdie a prêmio). O caso é que a família do Puma, sua esposa (uma felina cega) e sua filhinha, encontravam-se em determinado local próximo à cidade onde Zé Gatão vivia e ele (Zé Gatão) deveria protege-las e levá-las a salvo em determinado lugar onde se encontram os aliados do Puma, daí eles se encarregariam de salvaguardá-las a partir daquele momento. "Porque seus consortes ou um dos seus guarda-costas não vão buscá-las e as põe à salvo? Porque teria que ser eu?" Indaga o mestiço. "Porque neste território qualquer um ligado a mim é um alvo em potencial e elas estariam sob forte risco  de vida, ninguém sabe que você existe e poderá agir sem muita pressão, e...não esqueça que você me deve sua vida. Estou cobrando este favor agora porque estou desesperado e só confio em você. Se você me prometer que vai protegê-las, eu poderia morrer em paz pois sei que você vai cumprir! Você sempre cumpre o que promete." O Puma tremia de emoção ao implorar. "Paul, eu estou velho e mais lento, tenho uma vida aqui..." "Zé  Gatão, minha família corre risco de vida, minha fêmea é cega!!! Por Favor!!!!" Relutante, muito a contragosto o felino cinza cede. "Não tenho muito dinheiro aqui, mas leve isso, deve ser suficiente para você comprar algum veículo, alimentos e ao chegar neste endereço com elas, entregue-as a Ali, um velho tigre albino, ele, assim como você, é de minha total confiança." Zé Gatão pega o dinheiro e se espanta ao ver o local onde deve levar as felinas. "Paul, isso fica no continente do norte, depois do oceano!!!!" "Sim, não será uma viagem fácil. Tenho informações que uma guerra mundial vai eclodir em breve e vão usar armas químicas. Mas sei que você e minha família subsistirão. Eu só preciso sair daqui em segurança e ir para um bunker que tenho preparado e esperar por vocês. Tome - o puma entrega um papel ao mestiço - minha esposa e filha estão neste local, só eu e você sabemos onde elas se escondem. Estamos em suas mãos agora." 

Extremamente contrariado com aquilo tudo, Zé Gatão se despede do amigo que um dia salvara sua vida. 

Depois que ele sai em companhia do gato Maracajá, o Puma prepara uma bebida e consulta seu computador de mão. É quando um dos tigres saca uma arma e aponta para a sua cabeça. "M-mas...o que é isso?!?" "A ordem era acabar com você e sua família, sabemos que sua esposa tem revelações comprometedoras contra o partido dos porcos, meus empregadores querem essas informações. Agora que podemos encontrá-las, não precisamos mais de você! Esse mestiço velho não será empecilho. O Maracajá vai matá-los assim que chegarem ao local onde elas se escondem." BANG! Os miolos do Puma se espalham pelo pequeno aposento cheio de papeis e livros. 

Zé Gatão, ruminando as palavras de seu amigo de cor parda, de que só confiava nele e no tigre albino chamado Ali, passa a ficar menos a vontade junto aos demais que compõe o séquito do Paul. Sem dar demonstrações disso, passa a analisar o felino que o acompanha; o velho Maracajá parecia um ex soldado, provavelmente mercenário, desses que são secretamente recrutados pelo exército canídeo para missões de assassinato, pose altiva, robustez para alguém de idade, algumas cicatrizes no rosto. Entraram num pequeno veículo voador sem trocar palavra. Um sutil cacoete chamou a atenção do felino cinzento, ele batia levemente com o dedo indicador no volante da nave, um sinal que revelava nervosismo, ou podia não ser nada, mas resolveu ficar atento. Chegam ao local. Poderia ser uma cabana, ou uma casa modesta, dessas que não chamam a atenção. Pela primeira vez ele vê uma arma de alta potência na cintura do felino de grandes olhos. Zé Gatão não é militar, nunca foi treinado como tal, mas ao longo da vida, passando por situações de risco e extremo stress, desenvolveu sensibilidade inexplicável para saber que ali alguma coisa não cheirava bem. Seu companheiro tinha uma atitude nervosa, batendo mais do que nunca o indicador na coxa direita, a respiração mais pesada, típica de alguém que não está à vontade, algo que não aconteceu quando este foi levá-lo ao Puma. Antes de bater à porta das gatas, com o coração também acelerado, resolveu confrontar o Maracajá. "Olhe, cara, não sei de que lado está, mas se pretende trair o seu chefe fazendo alguma merda, te aconselho a reconsiderar." Como que pego com a boca na botija, o felino fez cara de espanto, seguido de uma expressão de ódio por ter sido descoberto, a mão correu veloz como um relâmpago para a arma em sua cintura, muito mais rápido foi o punho direito de Zé Gatão em sua face. O murro que acertou o olho do gato foi tão brutalmente feroz que a manopla quase entrou pelo seu crânio, esmagando o etmoide, lacrimal e zigomático. O Maracajá não teve tempo de usar a pistola, sequer de pensar ou sentir dor ao cair pesadamente desacordado no solo pedregoso. O felino casmurro não se importou em verificar se o oponente estava morto ou não, pegou sua arma e correu a bater na porta das fêmeas que estava destinado a proteger. 

Bem, queridos, me envolvi no texto e acabei quase escrevendo um conto baseado nas ideias que eu tinha para esse projeto, vamos resumir. Zé Gatão tem certa dificuldade em convencer a esposa cega do Puma de que era do bem, enviado do seu marido para levar ela e a filha para um certo tigre albino no continente do norte, ela era uma bela gata branca, não gorda, mas pesada, de voluptuosas proporções e cabelos cinza, a filhinha, uma pequena mestiça de gato com leão da montanha. O felino griz sentiu logo empatia. Rumaram ás pressas para o pequeno veículo esférico e levantaram voo. Em pouco tempo chegariam à casa de Zé Gatão, ele precisava trazer sua companheira para a aventura. Estrondos de bombardeios e nuvens de fumaça ao derredor traziam sons e odores de destruição e terror.

Pousaram, e enquanto o felino corria à casa, mãe e filha aguardavam na nave. Chamando pela companheira o gato não teve resposta, temia o pior quando encontrou uma carta revelando que ela havia partido, se desculpava, amava-o, mas não era feliz com ele. Tentando assimilar a situação o gato ouve um grito. O veículo voador cercado de enormes e nojentos insetos. Zé Gatão sai disparando. Não era exímio atirador, posto que raramente usava armas de fogo, mas conseguiu abater alguns daqueles monstros, outros, tinham a carapaça tão dura que as balas ricocheteavam, alguns, empunhando fuzis, abriram fogo contra o felino, mas este, se movia numa velocidade tão grande, que não conseguiam fazer mira, tombando ao serem atingidos em suas partes vulneráveis, como garganta e olhos. Mortos, os insetos conseguiram, porém, destruir as turbinas do veículo alado. Teriam que fazer a viagem por terra; péssimo isso! O gato corre então para pegar sua antiga, mas ainda potente motocicleta. Com as fêmeas na garupa tem início uma corrida selvagem pelas matas com os felinos sendo perseguidos por uma horda de insetos. Provavelmente os Subsounds do território foram todos destruídos, pensa o Zé.  

Cenas de perseguição na mata e depois no asfalto ao estilo Mad Max que lembrariam as cenas do comboio maluco em Memento Mori. Nessas corridas insanas pelo asfalto mortal teríamos os tais insetos, lagartos combatendo contra eles e algumas gangues de cães vadios. Ninguém alvejando Zé Gatão propriamente dito, apenas ele tendo que sobreviver no fogo cruzado e proteger as felinas, ziguezagueando entre os carros e caminhões. Eu planejava de 20 a 30 páginas de ação sobre rodas. Por fim, com o combustível quase a zero, ele combateria alguns vagabundos motorizados fora da estrada e, vitorioso, encontraria abrigo numa espécie de fazenda onde residiria um porco rústico e seu netinho. Suas vestes lembrariam o porquinho Prático, da conhecida história disneyana. O suíno o ajudaria em agradecimento por Zé Gatão ter se livrado dos "punks" que hora e meia vinham incomodá-lo. Esse trecho seria um break na ação para que Bianca, a gata cega e Brown, sua filha, conhecessem melhor o  seu protetor felino, eu teria que criar diálogos (amenidades) para este breve momento de sossego na tal fazenda. O porco seria solícito, até demais, para o gosto dos três gatos, mas o que incomodaria da fato o Zé Gatão seria o modo estúpido como o cerdo trataria o neto, espancando-o por tudo e por nada. Esse trecho lembraria bastante uma cena de um filme do Kevin Costner, dirigido pelo Clint Eastwood, chamado Um Mundo Perfeito. Ao se opor ao tratamento violento que o varrão concede ao porquinho, o gato veria a verdadeira natureza do suíno. O felino, porém, mostra que pode ser muito truculento com covardes. Findo o sossego, os três bichanos, partem da fazenda,  deixando o proprietário bastante ferido no corpo e no orgulho.

Chegando no cais do porto, impossibilitado de trafegar pelo ar, os felinos seriam obrigados a fazer o percurso pelo mar, ingressariam em uma embarcação comercial chamada BARRACUDA. Sempre quis fazer uma HQ de pirata e esta me pareceu uma boa oportunidade. Essas ideias foram bem antes do meu velho amigo Luca Fiuza conceber o fantástico conto com Zé Gatão intitulado "A Cloaca dos Mares".

Seria uma viagem tensa, com uma tripulação hostil, composta de cães, raposas e alguns gatos de má fama, liderados por um negro capitão bovino. A aflição atingiria o ápice num terrível maremoto. O Barracuda se encontraria no epicentro da guerra entre mamíferos e peixes. Os aquáticos se encarregariam de afundar todas as embarcações que tivessem a infelicidade de estar em seus domínios.   Seria a realização do sonho profético visto na página 113 em Daqui Para a Eternidade? Possivelmente.

Segue-se uma cena de naufrágio com os tentáculos de uma lula gigante destruindo a embarcação no melhor estilo Júlio Verne. Uns sobreviventes aqui, outros acolá e num dos barcos salva vidas temos Zé Gatão e suas protegidas (essas em desespero) e dois ferozes cães de rinha e uma raposa maquiavélica. 

Como seria de se esperar, ao invés de unir forças contra as ameaças dos tubarões, peixes espadas e polvos, os cães e a raposa voltam suas frustrações contra os felinos, dizendo que gatos dão azar, por isso o navio soçobrou. Uns dois dias no mar, combatendo contra os peixes que vem à tona para dar cabo dos sobreviventes no barquinho e no auge da fome, um dos cães propõe comerem a pequena gata mestiça alegando que ela teria a carne tenra, temos então um embate brutal e desigual entre um envelhecido e esgotado Zé Gatão contra dois cachorros jovens e ensandecidos. Bianca mesmo cega e combalida entra na peleja, é ferida e essa situação joga uma carga de adrenalina no mestiço cinza que no apogeu de sua fúria, usa suas armas naturais, suas garras contra as presas alucinadas dos canídeos, Unhas e dentes ferindo carne, os punhos do Gatão fraturando ossos, o sangue trazendo à superfície esquálos sedentos de sangue. O cachorrão teve sua perna abocanhada por um daqueles seres e sugado para o fundo do oceano, o outro vendo o triste fim do seu semelhante começou a uivar em desespero, seguiu-se por parte dele uma fúria descontrolada, uma torrente de desafios e palavrões, sua bocarra deixava cair uma baba gosmenta e fedida: "Venham, tubarões filhos da puta do inferno! Venham, vou comê-los na porrada!!!!" Um titânico pisciforme subiu no barco quase fazendo-o virar, com uma dentada, veloz como um látego, arrancou cabeça, ombro e braço direito da raposa, em seguida avançou para cima do cão, mas Zé Gatão se adiantou socando-o com a rapidez de um raio e com tanta violência na região das costelas que o rompimento de suas duras cartilagens poderia ser ouvidas à distância, o peixão urrou como um trovão, ato contínuo o canídeo arremeteu com a ponta do remo num dos olhos negros e inexpressivos da criatura matando-a no ato. Não parou por aí, outros seres cercaram o barco, as felinas agarradas instintivamente nas pernas e costas do seu protetor impedindo-o de se movimentar direito. Levado pelo ódio e pela loucura o cachorrão bufava e golpeava com o remo nos tubarões esfacelando suas cartilagens, contudo, a superioridade prevaleceu. No mesmo instante que as presas dos peixes o rasgavam ao meio, uma nave de pequeno porte da marinha nortista sobrevoou o local disparando contra os seres aquáticos. Resgatados no último instante, os felinos finalmente foram tirados daquele pesadelo. São cenas clichês, eu sei, mas tem clichê que funciona se for bem feito.

 Em terra firme, tratados, alimentados e hidratados, os gatos são informados dos últimos acontecimentos por um tenente, um labrador bem educado. Todas as cidades litorâneas invadidas e tomadas pelos peixes. Conflitos em diversas regiões do planeta. Caos, guerras civis, pestes. 

Depois de um breve depoimento às autoridades militares daquele local, os felinos são liberados e Zé Gatão sempre servindo de amparo à gata cega e com a filhote em seus poderosos braços segue a procura do tigre albino chamado Ali. Encontra-o por fim depois de alguns dias. São informados pelo imenso felino branco que Paul Puma fora assassinado e ele pensava que também sua esposa e filha tivessem tido o mesmo destino. Seguem-se palavras de gratidão ao gato cinza por todo bem feito às felinas e o convite para que ele venha também para o bunker preparado aos fieis apoiadores do Puma. 

A oferta soou tentadora a Zé Gatão, mas ele, averso às politicagens e ao convívio com terceiros que ele mau conhecia, ainda mais em um espaço restrito, preferiu os perigos, mas em campo aberto. Beijou a pequena Brown, a quem se afeiçoou. Ela, entre lágrimas, pediu a ele para ficar, mas ele objetou dizendo que fechado num buraco por tempo indeterminado seria a morte para ele. "Sabe, todo esse tempo que eu e mamãe estivemos com você eu não senti medo, porque você estava conosco. Mas....nunca vi você sorrir....você poderia sorrir pra mim?" Em resposta o gato cinza sorriu para a pequena e beijou-a na testa. Não foi preciso dizer mais nada, ele virou-se e saiu rumo ao desconhecido. Há uma distância  curta ele ouviu a voz  argentina da criança gritar em meio ao choro: "Eu nunca vou esquecer você, Zé Gatão! Nunca na minha vida!" Com lágrimas nos olhos ele apertou o passo e seguiu em frente.

Bem, queridos, era o que eu queria dividir com vocês, os acontecimentos entre os álbuns Daqui Para A Eternidade e Siroco foi revelado aqui. Não foi roteirizado nem desenhado, não virou gibi, mas minhas intenções e planos foram esmiuçados o máximo que eu pude.

Existe uma HQ curta rascunhada a lápis intitulada "EL PUERCO" que se passa um pouco antes dos eventos do Siroco, nela Zé Gatão é um mero coadjuvante, as situações são entre porcos e ratos, o leão Khan faz uma breve aparição. Se rolar o OMNIBUS prometido ela estará presente, assim como  esse texto.

Obrigado a todos vocês, se tiveram a paciência de ler tudo até aqui é porque gostam mesmo do ZÉ GATÃO.

DEUS ABENÇOE A TODOS COM SAÚDE, PAZ E PROSPERIDADE!

 

 

 




ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...