quinta-feira, 3 de julho de 2014
VAN DAMME (UMA ARTE ANTIGA).
Mais uma vez procurando algo perdido no meio da minha bagunça encontro uma relíquia. Havia me esquecido totalmente deste trabalho. Trouxe-me recordações do passado. Dias duros em São Paulo. Uma guerra tinha sido perdida em Brasília, em Sampa uma nova busca pelo Eldorado das artes, a realização profissional, viver (e viver bem, porque não?) daquilo que se ama fazer. Nada muito diferente de hoje, pra falar a verdade, ontem eu acreditava num mercado promissor para artistas, ou pelo menos supunha que bastava ter garra e cavar, nem que fosse no muque, o seu espaço; hoje sei que não é bem assim, e não é só no Brasil, não. É bem verdade que aqui não há tradição para a arte fantástica que propicie um ilustrador se aventurar por mares bravios. Temos, claro, nossa cultura, lendas, elementos fantásticos, nossas histórias, nossos monstros míticos, cangaceiros e todas essas coisas legais para se trabalhar em pinturas e quadrinhos. Monteiro Lobato, Guimarães Rosa não me deixam mentir. Mas na real é que o reconhecimento, o sucesso para um pintor ou quadrinista não é fácil nem lá fora, onde isto é mais valorizado. A sorte caminhando ao lado do talento, um pouco mais de dinheiro e uma dose de cara de pau, acho, compõem o tempero para a realização dos sonhos. Hoje eu diria que minhas pinceladas e traços estão mais soltos, tenho menos tempo e nem penso mais em publicar minhas hqs, o que vier é lucro, isto me diferencia, e muito, do Eduardo da época da realização desta pintura.
O Ano era de 1993, eu já retornara para a cidade natal havia dois anos. Batendo em muitas portas, editoras e mais editoras, trabalhando a preços baixos (outra coisa que não mudou). Neste período eu fazia muitas pinturas deste tipo para Revistas-Poster. Astros de filmes de ação e do rock.
Para este Van Damme o editor pediu urgência. Como eu não tinha grana pra comprar tela, fiz a pintura numa enorme folha de papel canson. Óleo sobre papel para mim é um troço complicado, a tinta não adere direito sobre a superfície, nunca soube se era necessário aplicar alguma coisa antes, mas eu me virava. Passei um dia e uma noite inteira para acabar no prazo. Arte entregue, pagamento recebido.
Foi publicada e eu nem fiquei sabendo, até que vi exposta numa banca do centrão. Notei que na impressão os tons de amarelos se sobressaíram. Comprei. A única cópia que tenho e que vi até hoje. Mandei para meu irmão em Brasília. Anos depois ela voltou para minhas mãos, nem me lembro mais em que circunstâncias e ficou no limbo até o momento em que achei no meio de outras artes que tinham se apagado das minhas lembranças. É um poster de grandes dimensões, foi fotografada com meu celular.
A arte original foi-me devolvida uns anos depois de sua publicação e presenteada à filha de um dono de uma livraria em São Paulo, a garota era fã doente pelo Jean-Claude. Na verdade o pai deu de presente à filha, eu apenas devia um favor.
Pode ser que esteja emoldurada e pendurada numa parede. Pode ser que esteja pegando poeira, esquecida em algum canto, ou amassada e embolorada entre papeis velhos, ou ainda, destruída como várias outras artes dos meus primórdios, quem pode dizer?
Mas ainda bem que ficou esta cópia, só assim eu posso dividir com vocês mais esta lembrança dos dias em que era jovem e andava meio perdido, mas tinha muito gás para produzir. Hoje? Hoje não sei como definir minha produção, sinceramente.
Nos encontramos de novo semana que vem? Então até lá, se Deus quiser.
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Oi, Scholesser! Ainda bem que você salvou esse ótimo trabalho do esquecimento. Ele marca uma fase na sua carreira. Deve ser o máximo passar por uma banca e ver seu pôster ali, exposto. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Carla.
ExcluirÉ legal mesmo ver um trabalho publicado. A primeira que me deu uma baita satisfação foi uma capa para uma revista de games numa banca na Rua 24 de Maio. Depois, sei lá, a gente meio que se acostuma. Inesquecível mesmo foi quando vi o primeiro álbum do Zé Gatão montado em minhas mãos. Eu tinha consciência que tinha criado algo que não passaria despercebido pelo público e tremi. Como o livro continha cenas que seriam chocantes para olhos não acostumados e procrastinei uma semana antes de distribuí-lo. O medo da rejeição foi grande. É uma emoção que guardo até hoje.
Abração.
Que bacana, Eduardo! Essa energia toda da juventude é algo precioso, não? Também já fiz muita coisa no calor do prazo e virando noite. Mas hoje creio que não tenho mais essa energia. Se der pra fazer minhas coisas dentro do meu limite diurno, tudo bem. Se não, fica para o dia seguinte. Depois, acordo cedo, às 5:30 h pra correr e para isso já me é necessário uma imensa força de vontade...
ResponderExcluirA arte original devia estar espetacular. Parabéns! Um grande abraço!
Eu também, Gilberto, a menos que seja absolutamente necessário, não varo mais noites em claro trabalhando. O pior pesadelo neste sentido foi quando passei a noite numa agência elaborando um catálogo de cuecas da Hering (hei, história vale uma postagem!).
ExcluirSim, original deste poster ficou mesmo muito bom, a impressão não captou as cores reais, isto as vezes acontece. O que será que foi feito dele?
Obrigado, mano.
Abração e bom fim de semana.
Que droga, publiquei o comentário acima sem revisar e comi palavras e letras! Na terceira linha entre parenteses eu quis dizer que "esta" história merecia uma postagem. Na quarta linha faltou a letra "O" antes da palavra "original". Sorry.
ExcluirUm dia e uma noite? Inacreditável! Me fez lembrar de uma ilustração numa cartolina (com base numa foto) que tive de fazer pra uma vizinha, que queria usar numa rifa (1996). Aceitei, mesmo sabendo do prazo: de um dia pra outro!! E não era da alguém famoso. O pior era ter que fazer a noite, antes e depois do jantar. Um rosto imenso de um cara sorrindo (nem lembro se era parente ou não), pra entregar de manhã cedo. Não tinha cavalete, usei a mesa da cozinha e achei que ia ter um pesadelo com aquela cabeçona. Feito o trampo, dormi bem, entreguei e fui pago pelo rolo.
ResponderExcluirSua história com a encomenda da vizinha é semelhante a de todos os artistas que conheço. Todos que fazem arte já passaram e certamente passarão por situações assim. Acho que faz parte do pacote. Tento evitar a todo custo trampos complicados e urgentes demais, mas as vezes não consigo.
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