domingo, 23 de outubro de 2016
LIRA DOS VINTE ANOS ( FINAL)
Semana passada estive no shopping próximo à minha casa para resolver um assunto, foi umas horas antes de ser acometido por uma diverticulite (se é que aquele sofrimento todo foi mesmo uma diverticulite).
Como de praxe passo sempre em dois lugares, no espaço reservado aos cinemas olhar os cartazes (puxa, faz tanto tempo que não assisto a um filme em tela grande que nem sei!) e na livraria saber das novidades, sempre me detendo na seção de quadrinhos.
Sabem, as HQs terem virado um produto palatável para o dito "público sério" a ponto de ser destaque em uma mega livraria teve seu lado bom e ruim. O lado bom todos sabemos, seria o tal reconhecimento que - penso - os quadrinhos nunca exigiram, que era ser encarado como mídia de respeito - mas que quem produzia pleiteava.
Quadrinho é meio proletário, para povão, algo para ser consumido rápido em um ônibus, por exemplo, tem que divertir e entreter, se puder fazer refletir e se possível mudar alguma coisa para melhor, ótimo. Senão, ter absorvido o leitor durante uns minutos ou algumas horas já terá cumprido sua função. Dar a ele a obrigação de ser uma obra que vá além disso, que transcenda, para mim fica parecendo pedante demais. Claro que caras como Will Eisner, Neal Gaiman e Alan Moore deram um upgrade aos quadrinhos, concederam uma vitalidade nunca antes vista, mas ainda assim era (é) pura diversão. Outros, como Grant Morrison, Jodorowsky e Garth Ennis forçam muito a barra, com seu textos pseudo adultos e pretensiosamente vanguardistas que influenciam um sem número de novos autores que insistem em seguir os seus passos.
No cinema entendo que é possível você trabalhar percepções sensoriais, dar aos quadrinhos esta função acho que fugiria totalmente do que ele é capaz de executar com sucesso, embora seja possível, mas, sei lá, um gibi que você precise ler mais de uma vez para entender seu sentido acho que alguma coisa errada aconteceu ali.
Então temos obras com um papel de qualidade, capa dura, títulos laminados expostos numa livraria de respeito. Bacana! E isto nos trás ao lado ruim da coisa: vende pouco, é caro demais, limita o público, sem contar que nem todo conteúdo faz jus à beleza do acabamento. Depois de um tempo aquelas prateleiras antes tão grandes, tão abarrotadas de títulos vão diminuindo a olhos vistos, até serem jogadas num canto qualquer, escondidas em algum ponto da megastore.
Eu já fiquei orgulhoso de ver minhas histórias publicadas num livro bacanudo exposto na Saraiva e na Cultura, mas imaginei com este propósito mesmo, destinado a um público específico, mas seria legal se também tivéssemos um Zé Gatão mais modesto, para bancas, num boa tiragem. Parece um sonho que vai ficando cada dia mais distante.
Mas o que queria comentar mesmo é que antes, ao ver um quadrinho novo que fosse do meu interesse numa livraria, eu imediatamente o comprava ou me programava para fazê-lo, juntava meus trocados ou constrangia um dos meus irmãos a me presenteá-lo. Hoje isto parece ter passado. O quê? Tal editora lançou um livro do Moebius ausente na minha extensa coleção? Não, isto não pode faltar! Este pensamento, pelo menos nestes tempos atuais não passam mais pela minha cabeça. Não sei se isto bom ou ruim, mas querem saber? Não faz a menor diferença.
Com a imagem de hoje encerro as postagens sobre o poema do Álvares de Azevedo. Claro, há muitas outras, mas deixemo-las para o livro.
Uma boa semana a todos.
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Gostei da ilustração do cavaleiro.
ResponderExcluirTambém sou um visitante que confere os pôsteres de cinemas e locadoras.
Tenho sido há tempos um leitor seletivo. Não compro qualquer coisa automaticamente. Só se me interessar ou me fisgar... mas principalmente, depende do meu bolso.
O que me incomoda em livraria (lá vem uma polêmica!) é essa apropriação do termo "graphic novel" de editoras/redistribuidores com o propósito de relançar sagas ou arcos específicos de super-heróis, sejam antigas ou nem tanto. Não tô criticando o papel de qualidade ou o formato, mas a capa dura e os erros (já apontados) em certos letramento de várias hq's. Sem falar nos preços, claro!
E há de concordar que graphic novel são álbuns fechados (como frisou Sidney Gusman) e não coletâneas de minisséries ou de arcos.
Olá, Anderson!
ExcluirEntendi bem seu posicionamento em relação ao termo graphic novel. O problema é que qualquer gibi com um acabamento melhor já recebe este título. Aff! Eu não sei, a coisa mudou tanto da época que eu era um leitor compulsivo de gibis até os dias de hoje que, pra dizer a verdade, não sei de mais nada. Mas a vida vai seguindo seu ciclo, ontem comigo, hoje contigo, e amanhã com a garotada nova que vai surgindo, seja como leitor ou autor; o importante é que não pare.
Gosto quando você comenta sobre quadrinhos, Schloesser. Chamei o Leroy pra ver o tigre no cabeçalho do blog. Nós adoramos tigres e ficamos babando no desenho. Parabéns!
ResponderExcluirTambém gosto de comentar sobre quadrinhos, Carla. Esta postagem em particular gerou certa controvérsia, já deixaram mensagens no meu e-mail discordando de algumas coisas. Acho isso salutar.
ExcluirSobre o tigre eu também gosto, acho que fui feliz neta série de aquarelas com animais.
Obrigado e um forte abraço pra vocês.
Good evening Eduardo. (So evening in Europe). I like to read your contributions. It makes me very thoughtful and usually also sad, but also very beautiful, profound and wise. Thank you for the brief moments in which you will gain insight into your soul. Thank you very much.
ResponderExcluirQuerida Mira, eu que agradeço por sua visita e comentário. Sempre que possível estarei aqui comentar minhas impressões sobre a arte e a vida como elas me parecem.
ExcluirGrande beijo.