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domingo, 12 de fevereiro de 2017

A MORTE DO ZÉ GATÃO.



Eu acredito que toda boa história deva ter um começo, meio e fim. Nascemos, vivemos e morremos. Deveria ser assim também com personagens fictícios? Eles devem perecer? Talvez sim, porque não? Eu, particularmente nunca fui muito fã dessa história de matar, pode parecer romântico demais da minha parte mas quando você cria um herói de papel você está dando uma alma a ele, uma personalidade, uma vida. Eu me apego a certos personagens. Fiquei triste, muito triste com a morte da Gwen Stacy, a namorada do Homem Aranha, até hoje acho que aquela menina nunca deveria ter morrido, poderia até ter sido a tia May, mas não a Gwen.
Na literatura, Conan Doyle matou o Sherlock Holmes, não  deveria ter feito, afinal, cedendo à pressões editoriais teve que ressuscitá-lo. O Robert Crumb matou o gato Fritz, uma história boa mas com um desfecho totalmente sem glamour (talvez tenha sido proposital). O Angeli matou a Rê-Bordosa. Nos quadrinhos de heróis as personagens vivem morrendo e voltando da morte, já não tenho mais paciência para isto.

Eu nunca pensei em matar o Zé Gatão, só que certa vez eu estava me afogando em uma  depressão que parecia não ter fim, a ideia de suicídio me perseguia a todo instante, como uso o felino como válvula de escape, imaginei uma HQ bem barra pesada, onde ele era amaldiçoado por uma bruxa, um mago ou algo assim e teria sete vidas, seriam sete histórias bem cascudas onde ele deveria morrer tragicamente no final de cada uma, sempre retornando da morte na hq seguinte. Como minhas narrativas, embora fantásticas, tem um pé bem fincado na realidade, eu achei que tudo isso seria irreal demais e por outros motivos que não convém declinar aqui eu nunca desenvolvi um roteiro, jamais coloquei no papel e também, confesso, me faltou coragem para submeter o gato a tais torturas. Engavetei a ideia como aconteceu com tantas outras.

Mas existem personagens que morrem sem que ninguém os tenha matado, como o Fantasma, o Mandrake, Rip Kirby e tantos outros, pois caem no ostracismo, fenecem na memória do público e são lembrados apenas por saudosistas como eu. Melhor teria sido se tivessem tido um final glorioso onde sempre fossem lembrados por este último ato heroico? Fica a dúvida.
Para quebrar meu argumento alguém poderia dizer que estes protagonistas continuam sendo publicados nas tiras de jornais, como o Príncipe Valente e Flash Gordon; pode até ser, mas são sucesso ainda? Outros dão as caras em edições especiais ou revivals, mas competem em pé de igualdade com X-Men e Batman?

No caso do Zé Gatão ele não é um personagem de sucesso, acho que nunca será, depois de tanto esforço da minha parte ele ainda é um completo desconhecido, o número de pessoas que o conhece e gosta é reduzido demais. Na verdade, me corrijo, acho que ele é até conhecido, mas não lido, não compreendido. Já vi idiotas discutindo o assunto na internet, sempre levantando a bola de que o nome é pouco comercial, ridículo, até, e o aspecto macho da obra é uma forçação de barra; teve quem afirmasse que ele é a junção de outros personagens como o gato Fritz e o Leão Negro. Outros detestam animais humanizados ou simplesmente não gostam de mim.

Não sei, é bem possível que Zé Gatão esteja sepultado sem que eu tenha dado um fim à sua vida. Tivemos cinco álbuns e vários contos publicados neste blog e isto me fez pensar que ele teve uma vida plena. Acho que não teve. Acontece. E se ele morreu (ou desapareceu, dá no mesmo quando se trata de um personagem de quadrinho) vai continuar defunto porque a possibilidade de novas edições é remota. As editoras hoje só publicam o que é venda líquida e certa, não se arriscam mais. O financiamento coletivo não se mostrou uma via de acesso e não tenho grana para me auto publicar.

Talvez ele viva para mim e mais uma meia dúzia que goste bastante dele se eu puder fazer mais algumas aventuras, mas seria como ele viver num cativeiro, como tantos animais em via de extinção.












10 comentários:

  1. O lance de sacrificar a própria criação é complicado.
    Me lembrei de uma entrevista com Jim Starlin numa Comix Magazine. Ele contou que pretendia, uma dia, matar seu personagem Dreadstar. Se o fez, nem sei...

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    1. Sim, Anderson, eu concordo. Não é fácil. Frank Miller conta que teve carta branca da DC para matar o Batman no final do Cavaleiro das Trevas e não conseguiu, ele argumenta que o personagem foi mais forte que ele.
      E se o Dreadstar morreu também não estou sabendo.

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  2. Eduardo Schloesser você me fez apavorada. ZÉ Gatão, nunca morrerá. Você tem que me prometer. por favor
    .Nossa vida é complicada e às vezes muito cruel. Para encantar nossos corações e almas do homem tem heróis. Quando um herói morre, morre um pedaço de nós.

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    1. Mira, minha amiga, suas palavras me tocaram. Obrigado. Não pretendo matar o Zé Gatão, mas como disse na postagem, um herói de quadrinhos só tem vida se for publicado, lido e aceito por um público, quando isto não acontece é como se ele não existisse. Eu nunca soube mensurar a aceitação do nosso felino no minúsculo mercado editorial brasileiro, meu retorno é sempre muito pequeno. Por enquanto Zé Gatão segue como que aposentado. Vamos ver se ele volta a ativa um dia.
      Grande abraço!

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  3. Escuta aqui, seu Schloesser: Quem o senhor pensa que é pra matar o Zé Gatão? Deus? Nós autores só temos o dom da criação. Matar está além de nossa capacidade. Pare de querer aniquilar o felino e aceite de uma vez quem você é: um criador. Deixe o gato em paz e crie outros personagens, outros mundos. Desafie-se, atreva-se a inovar. E tenho dito. :) Abraço!

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    1. Ok, Carla, aceito o pito! Não serei eu a matar o felino. Aliás nunca foi a minha intenção, é só a tentação batendo na minha porta.
      Obrigado, por mim e por Zé Gatão.

      Abração.

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  4. Zé Gatão vive! Ele é o seu alter ego e você vai viver! Sim, tem dias que é terrível levantar da cama e perceber que ainda estamos aqui, respirando e acima da terra, mas persistimos. Por que? Por excesso de coragem e de covardia, as duas coisas juntas ao mesmo tempo em um paradoxo incompreensível para a limitada mente humana. Zé Gatão persiste porque ele vive. Vive de verdade como eu e você, apenas em outro lugar. Vive conectado a você e, ainda que outros possam desenha-lo ou escrever suas aventuras, estes outros estão simplesmente te evocando, chamando sua presença como em um feitiço. E mesmo sabendo que um dia você vai morrer (todos vamos), será uma morte muito breve porque o Zé Gatão vai continuar vivendo e vai te conjurar de volta do abismo toda vez que alguém ler essas ou contar essas histórias. E assim, mesmo sem ter essa pretensão, você será imortal.

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    1. Meu caro Claudio, sempre digo que existem comentários que merecem uma moldura, é o caso destas suas palavras, eu as emolduraria com ouro. Ah, se eu tivesse o dom da palavra para replicar à altura com os devidos agradecimentos...mas minhas habilidades se resumem a traços e algumas cores...então vou ficar devendo, mas a gratidão e a emoção brotam do meu coração e de meus olhos. Mesmo sem saber, você me deu uma grande força.
      Abraço apertado!

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  5. Apesar de tudo, meu amigo, não desista do seu trabalho! O seu personagem é maravilhoso e vale muito a pena ser lido e apreciado!

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    1. Até que fui bem longe, Meu caro, Sandro; com o que fiz até aqui conquistei admiradores de cultura e discernimento. Mas sabe como é, a gente sempre quer um pouco mais. Seguimos lutando da maneira que é possível.

      Muito obrigado pelas palavras e pela força.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...