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sábado, 29 de junho de 2019

AINDA ESTOU POR AQUI.

Depois de mais de duas semanas afastado da prancheta, dos desenhos, das redes sociais e deste blog, retorno para minhas atividades. Volto aos lápis, papeis, pinceis e tintas; retorno à HQ Siroco e por fim à minha vida depois de um tempo onde tentei me desconectar de tudo. Tentei, porém não consegui. Me abstenho de falar sobre as aflições do tempo presente, elas são as mesmas desde sempre e uma nova chance parece quimera, não obstante eu admito que olho pelos olhos da carne, para as circunstâncias, não pelos olhos da fé - a minha parece ser menor que o grão da mostarda - senão eu me inspiraria nos acontecimentos que envolveram o José no Egito. Não conhecem a história? Se tiverem uma Bíblia em casa, leiam o capítulo 37 de Gênesis até o 46, na verdade podem ler até o final de Gênesis.

Não sei se as aflições atuais são piores que as do passado, parece que sim, pois lá, no ontem, pulsava a juventude e esperança de dias com sol mais ameno, ao entrar na velhice eu esperava dias de mais sossego e reflexão, qual agricultor que labutou duro em sua vinha e depois de longa batalha, esperou para poder comer o fruto da vide com satisfação - o que não é o caso. Entretanto, ainda não é tarde demais.

Já que citei o passado, hoje, por coincidência eu relia uma HQ escrita pelo Harvey Pekar e desenhada pelo Crumb, intitulada "AMERICAN SPLENDOR ATACA A MÍDIA". Na tal história, Pekar reclama de uma chance perdida de sucesso com a fracassada tentativa de ter uma página de seu gibi publicada no independente jornal novaiorquino The Village Voice. O cara só queria uma chance de brilhar, mostrar para um público mais amplo o seu trabalho e se viu iludido e ignorado. Parecia a história da minha vida. Houve um tempo que eu corria a cata de publicidade para meus talentos como desenhista, tentava as redações de revistas, jornais, ia aos eventos de quadrinhos e tentava me enturmar. Queria poder viver da arte, ilustrando livros ou fazendo álbuns de quadrinhos. Às duras penas consegui alguma coisa, mas nunca foi suficiente. O mesmo aconteceu com o Harvey Pekar, pelo que noto, mesmo ele tendo se tornado uma celebridade graças as conturbadas participações no programa do David Letterman.
A tal HQ onde ele se queixa do Voice é de 1983, nesta época, com 21 anos, eu estava de volta a Brasília depois de correr atrás de avião no Rio de Janeiro, tentava arrumar emprego para ajudar a família. Somar esforços, vocês sabem. Era uma dureza sem fim. Meu pai, naqueles tempos, tirou uma licença prêmio e foi para São Paulo em mais umas das suas inúmeras tentativas de fazer dinheiro e ficou vários meses sem dar notícias.
Havia na comercial da SQS 202 um horti fruti de um certo japonês chamado Maeda que minha mãe conhecia que as vezes nos dava umas sobras de frutas, dessas que estão perto de vencer. Ela serviu de babá para o neto do tal japa, por uns trocados. Alugou o quarto de empregada para um rapaz da igreja mórmon, enfim, tudo pela sobrevivência. Meus irmãos todos ainda muito novos. Eu lembro que certa vez fui atrás de um anúncio, o recém inaugurado Carrefour do Park Shopping precisava de funcionários em várias áreas. Passei horas em uma fila quilométrica debaixo do sol ouvindo as conversas dos outros desesperados por emprego perto de mim, uma bela moça se queixava que o namorado, por ser negro, sofria preconceito por parte da família dela. Na minha vez de ser atendido preenchi uma ficha e fui entrevistado por uma gorda. Estou esperando ser chamado até hoje.
Minha mãe conhecia muitas pessoas em Brasília, mas ninguém que pudesse ajudar efetivamente. Um conhecido de meus pais, que mais tarde viria a ser deputado, participava de um programa de TV local, destes comuns, como "O Povo na TV", onde pessoas com as mais diversas habilitações ofereciam seus serviços a quem interessar pudessem. Eu fui anunciado como desenhista e procurava trabalho em agências de propaganda e gráficas. Mas eu, desenhista? Naquela época eu fazia meus rabiscos em folhas de xerox com canetas bic. Havia pintado murais no Rio, mas em Brasília aquilo não existia.

Malgrado toda esta dificuldade, eu sentia grande prazer em estar junto a minha mãe e irmãos. Éramos como uma corda bem entretecida. Eu me sentia satisfeito com o céu, o por do sol do planalto, o vento e toda a natureza do Criador.

Minha vida estava para dar uma guinada - não exatamente para melhor, posso adiantar - quando fiz dois concursos públicos, um para o DASP (um órgão mais tarde extinto pelo Collor) e o outro para a Polícia Militar do DF, passei nos dois e tive que fazer opção por um. Comento sobre isto posteriormente? Quem sabe? Mais que nunca a existência é uma incógnita e eu ando muito exaurido até para escrever memórias aqui.

O Harvey Pekar teve seu brilho, seu quadrinho American Splendor deu origem a um premiado filme com o ator Paul Giamatti no papel de Pekar (filme muito bom, aliás, recomendo), mas será que ele pode saborear esta tardia vitória? Ele morreu de câncer em 2010.
Eu, até onde sei, continuo respirando, mas o "momento" mesmo ainda não chegou.

O Zorro postado abaixo é minha terceira incursão no personagem. Eu toparia fazer uma graphic novel dele.


Bem, sei lá se poderei estar aqui com vocês na próxima semana, mas desejo a todos tudo de bom.


8 comentários:

  1. Ultimamente, tenho quebrado a cara, de novo.
    Ainda não recebi, mas ainda não entreguei, por 3 ilustrações pedidas por uma colega da minha mãe.

    O cara que me fornecia serviços de estamparia pras minhas camisetas anda na pior e nem tem como me ajudar.

    A revista que sairia por um supermercado não foi publicada, mesmo já tendo me pago.

    Um conhecido me encomendou um brasão pra fazer adesivos, mas nem se interessou pelo andamento.

    E um tio meu a quem revi numa festa junina, disse que ia me fornecer referências pra um desenho de uma tatuagem, mas até agora... nada!

    Pelo menos, tô terminando uma hq e espero não sofrer mais um calote.

    Tirando uns trampos como assistente de produção freelancer em aniversários com um amigo que faz shows de mágica, que quando rolam, rendem uns bons trocados e até ajudam a pagar a conta de água.

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    1. Mano, é triste, mas se eu disser que, pelo seu relato, eu digo que você está ainda melhor que eu, você acreditaria? Pois acredite.

      Mas tenha fé, as coisas vão melhorar pra você.

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  2. Tudo de bom pra você também amigo!!

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  3. Só pra constar ,o filme do Harvey Pekkar é muito bom mesmo e o seu(s) Zorro(s) são sempre formidáveis.

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    1. Eu gostei bastante do filme, bem mais que o documentário sobre o Crumb. E obrigado pelos elogios aos meus desenhos.

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  4. Esse seu Zorro (não vi seus outros dois) ficou fabuloso, Schloesser! Parabéns e força!

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    1. Muchas gracias, Carla!

      Olha, os dois Zorros que fiz anteriormente foram publicados aqui, você não deve estar lembrada. Normal, são muitas postagens e desenhos, já estou com este blog há quase 10 anos.

      Grande abraço!

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