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quinta-feira, 22 de abril de 2021

ADEUS, MEU QUERIDO E AMADO GIL!

 Meu irmão não sobreviveu à maldita praga chinesa, alcançou as mansões celestiais neste último dia 20, um dia antes de completar dois meses que nossa mãe partiu. Amadas e amados, é muita dor, tanta que nem sei como suporto. Eu me agarrei a toda esperança possível, aflito a cada minuto do dia pelo novo boletim médico e houve um que mostrava uma melhora e eu dizia, ele ainda é jovem, vai se recuperar, mas depois houve uma piora e......bem, hoje é lágrimas e desencanto. Foi tudo tão rápido que nem deu tempo de absorver a ideia direito....nem sei como me expressar, não sou bom com as palavras, um réquiem aqui jamais faria justiça a ele. Mas devo registrar este momento doloroso. Se homenageei ídolos da cultura como Corben, Van Halen, Neal Peart e muitos outros, como deixaria em segredo a partida daquele que foi como um pai para mim, mesmo sendo sete anos mais novo?

Eu sentia que eu e Gil éramos como Theo e Vincent, quem conhece a história sabe que foi o Theo que sempre incentivou Vincent a pintar, era quem mandava dinheiro, comprava as telas e as tintas e sempre acreditou no irmão mesmo ele nunca tendo vendido um quadro em vida. E quando Vincent morreu Theo o seguiu meses depois. Eu sempre me vi como Vincent, o artista depressivo e esquizofrênico que não fez sucesso com a arte e o Gil como o mecenas que sempre incentivou, se eu precisasse de grana para pagar meus boletos ele me enviava, mesmo não tendo muito, tantas e tantas vezes ele comprou papéis, lápis, canetas, tintas, nos últimos anos eu não podia mais comprar gibis ou livros e ele mandava o dinheiro ou mesmo comprava e enviava pelo correio, por conta disso completei a coleção dos primeiros 60 números da Marvel da Salvat, alguns números do Pato Donald (fase Barks da Abril) e o Lobo Solitário (que faltam três números para completar a saga). Isso sem falar que nos meus piores momentos de depressão ele sempre retornava minhas ligações a cobrar, me ouvia e me aconselhava quando eu pedia direção. Nunca se portava como o dono da verdade.  Mas aqui no meu mundo real foi o Theo que partiu primeiro e eu confesso que não me importaria de segui-lo sem demora. 

O Gil era difícil as vezes, inteligentíssimo, pragmático e extremamente organizado, sempre se impacientava quando não conseguíamos acompanha-lo. Eu e meus outros dois irmãos, cada um com uma história com ele, nos vemos tristes e perplexos. Ele foi o primeiro de nós a encontrar a Cristo, o primeiro a se libertar do marxismo cultural que nos impingiram desde a infância nas escolas, e a mim, em particular, abriu os olhos para muitas coisas, outras culturas, outras artes.

O primeiro e único livro que ele escreveu.

Tem a história deste livro que ele escreveu, um livro de contos que saiu pela Editora Novo Século logo no início do novo milênio. São cinco histórias que ajudei ele a burilar, narrativas que prenunciavam um grande escritor, claro, era o início, o forte aqui não era exatamente a forma da escrita, mas as ideias. Fábulas do cotidiano, narrativa de horror, situações absurdas e até cômicas. Era pra eu ter feito um post exclusivo para ele mas fui adiando e falho como sou, nunca me lembrava de fazer (me perdoe, meu querido). Tem para vender nos sebos virtuais da vida. Nossa ideia para a capa e título eram bem diferentes do que que foi usada pela editora. O título seria "Loiras, Curvas e Cigarros", na capa eu queria uma foto em preto e branco do rosto em close da minha filha Samanta (na época adolescente) com uma guimba de cigarro na boca, a única cor seria um vermelhão nos lábios. Cagaram pra nossa ideia. Ele, ao invés de assinar Agildo Schloesser preferiu o pseudônimo de Manga Filho e a editora batizou de Contos e Causos. Na capa, uma ilustração medíocre de um velho lendo um livro. Vendeu até bem nos primeiros meses, depois os royalties foram escasseando e ele nem procurou mais saber da editora como estava o livro. 

Bolamos juntos um detetive tipo Dylan Dog para uma mini série para a tv (confesso que pensamos na Rede Globo) depois, como vimos a dificuldade para tal empreitada, ele usou o personagem para ser o protagonista de seu romance Lua Azul. Uma obra de suspense e terror gore. Ali começava a se desenvolver o escritor mais maduro. No entanto ele nunca passou do terceiro capítulo. Casamento, filhos, concursos, trabalho por melhores salários e ele deixou as veleidades de artista para um dia no futuro, talvez quando estivesse aposentado. Algo que para minha imensa tristeza, não acontecerá.

Uma boa parte de mim morreu com minha mãe, outra grande parte morre agora com ele. Cinquenta e um anos, deixa esposa, uma filha adulta de um primeiro casamento, e três miúdos do segundo (e bem sucedido matrimônio)........será muito difícil prosseguir sem ele. Está sendo um fardo muito, muito pesado.

Sabem, estou cansado de vir aqui e dar más notícias, talvez eu devesse encerrar este blog, já não tenho mais o que comunicar, a não ser tristeza e pesar. Mas acho que ele não ia querer que eu desistisse. E não vou. Não sei quanto tempo me resta, mas o que eu fizer agora, faço dedicado a ele e minha mãe, inspirado por ambos, mesmo que ninguém saiba.

Há muito a dizer, mas não creio que seja do interesse de ninguém, vocês já tem seus próprios problemas para cuidar.

Lágrimas perdidas na chuva.

Obrigado por lerem meus desabafos.

Deus abençoe vocês todos!

16 comentários:

  1. Ai não! Meus sentimentos, Eduardo...

    Esse vírus desgraçado tirou parentes de nós e já não bastasse o mundaréu de irresponsáveis que ainda se ajuntam por aí que não é brincadeira.
    Um forte abraço fraternal e cuide-se

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    1. Sinceramente, minha gratidão, Anderson! E minhas condolências por suas perdas.

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  2. O valor de um diário é exatamente ser uma maneira de aliviar o peso da vida, ao menos na minha opinião. Acho que este blog é uma boa amostra de sua vida, e não sei se vale a pena perder isso. Não posso imaginar sua dor neste momento, mas espero que continue a viver meu caro, imagino que seria o desejo do seu irmão.
    Se cuide.

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    1. Obrigado por suas amáveis palavras caro Anderson!
      Concordo no que se refere ao diário. Não vou parar com o blog, ainda é um bom canal de desabafo e tenciono escrever mais uns contos. Pena que o tempo esteja tão escasso. Mas vamos em frente, mesmo com lágrimas nos olhos.
      Abraço!

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  3. Olá, amigo Eduardo. Gostaria muito ter todas, ou ao menos uma palavra que fosse, que amenizasse a dor da perca de um ser amada. Mas nunca achei lenitivo tão poderoso. O tempo não seca o amor pelos que partiram. Apenas nos anestesia a ponto de, vez por outra, escaparmos, por breves períodos, da dor. Mas sobrevivemos, nem que seja para testemunhar que aquelas pessoas que amamos estiveram ao nosso lado. Força, amigo, irmão de luta, companheiro de trincheiras...força.

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    1. Muito obrigado, querido Allan, são sábias e alentadoras palavras! Acho mesmo que o nosso permanecer aqui neste vale de sombras, depois da partida de um ser amado, é exatamente o testemunho que damos delas, como se elas continuassem vivendo através de nossas memórias (discorri brevemente sobre isso em uma HQ do Zé Gatão, anos atrás), não sei até que ponto nos enganamos pensando assim, o fato é que não deixa de ser um lenitivo. Sabemos que a dor não vai passar, mas esta dor pode também nos tornar melhores, se dermos uma chance. Abraços e mil vezes obrigado!

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  4. Neste exato momento estou em outro estado acompanhado a recuperação do meu velho pai que passou por grandes complicações devido a covid. Mais graças ao bom Deus está recuperando bem a saúde, apesar da idade avançada. E anterior a isso, perdir meu tio e minha prima para essa doença maldita. Então imagino bem a dor que você deve estar sentindo. Deixo aqui um confortável abraço, tenha força e fé e que nosso bom Deus conforte seu coração!!!

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    1. Glorifico a Deus pela recuperação de seu pai, meu caro e lamento as perdas de pessoas queridas, sinceramente.
      Agradeço muito suas palavras de conforto!
      Forte abraço!

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  5. Complicado ter palavras nesses momentos, passei por isso ano passado bem no inicio dessa praga com a perda de meu pai em um momento terrivel de terror pra mim em pelna madrugada de um sábado pra domingo meu pai passava muito mau com delírios. Foram feitas varias tentativas de chamar uma ambulância, mas meu pai com muita dor teve uma parada cardíaca, uma cena horrível pra um filho assistir sem poder fazer nada. A dor de cada um é uma coisa muito particular, mas o sentimento de impotência e injustiça é sempre do tamanho do mundo. Não sei se a palavra certa é dizer que entendo, não dá pra se entender esses momentos, mas te desejo força ai mestre que deus proteja a todos da família.

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    1. Oh, meu caro, cada um de nós tem uma história de perda e dor para relatar nestes tempos sinistros. Lamento demais a perda de seu pai, pode apostar que sei o que é isto pois minha alma sangra neste momento, mas temos que ir em frente, não podemos desistir, temos que honrar nossos queridos através de nossas memórias.
      Deus te abençoe!

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  6. Só te desejo força e que tenha sabedoria pra não baixar a guarda. Precisando, tamos aí brother.

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  7. Respostas
    1. Obrigado, meu irmão! Quisera que mãe e irmão ainda estivessem entre nós, mas não é assim, então temos que aceitar a vontade de Deus.
      Abraço!

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  8. Puxa, Eduardo! Realmente não sabia. Fiquei um breve tempo sem visitá-lo aqui depois da partida de sua mãe e é muito triste saber disso. Você me deu parabéns recentemente e não imaginava que seu fardo estava tão pesado...sinto muito. Força para você e sua família. Não desista. Deus te abençoe e aos espíritos de sua mãe e irmão.

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    1. Muito obrigado por suas palavras, Gilberto! Meu irmão querido seguido de minha amada mãe, não está sendo fácil, lido ainda com problemas de saúde, luto com as forças que DEUS me dá para continuar meu trabalho e seguir com a vida, mas a vontade de sumir de tudo é muito grande, mas tenho responsabilidades e devo prosseguir.
      Forte abraço, meu querido!

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