Neste exato momento estou cansado, muito cansado. Minha mão direita dói, mais especificamente meu dedo indicador, isto porque trabalhei bastante, na verdade não tanto como gostaria, houve tempo em que eu fazia mais de uma página de quadrinho a lápis por dia e não me queixava, hoje fiz uma e me sinto exaurido. Stress? Idade? A soma dos dois? Pode ser. Eu deveria trabalhar mais, o tempo urge, mas a verdade é que não consigo. Melhor parar para não comprometer a qualidade das obras.
Mas é este cansaço adicionado a um enfado da alma que na maioria das vezes me impede de sentar aqui e trocar umas ideias com vocês. Antes tinha um pensamento, traduzia em palavras e elas ficavam registradas aqui. Quase toda as minhas memórias estão registradas neste blog, as de maior relevância, pelo menos. Faltou, eu sei, o período de vida militar que durou quase dois anos e nem sei se terei fôlego e disposição para tais relatos....talvez se eu dividir em pequenos capítulos eu consiga, quem sabe?
Hoje, em meio ao luto que ainda é muito evidente e mastiga a minha alma de infante, recordei um pouco o passado, lembrei de uns parentes do meu pai que vinham se hospedar em nosso apartamento em Brasília, evoquei a Fifi, nossa cadelinha pincher, todo o final dos anos 70, enfim.
Esses tios, tias e primos, primos em segundo grau e tutti quanti, vinham geralmente de Belém do Pará com destino à São Paulo e no caminho ficava o Planalto Central, porque se hospedar em um hotel se podiam ficar num baita apartamento com tudo à disposição, não é mesmo? Verdade seja dita que meu pai tinha prazer em recebê-los, e minha mãe sempre foi boa anfitriã. Meus irmãos eram muito tenros, nem sei se para eles fazia alguma diferença, mas para mim aquilo tudo era horrível, nunca havia espaço nem privacidade, os primos eram os sabichões que me tratavam como seu fosse um bocó do interior por eu ter esse temperamento serio e arredio, sempre foi assim. Não rememoro isso com raiva, não, juro!
Bem, o caso é que essa sobrinha do meu pai (ela quase tinha a idade dele, era a primogênita da minha tia mais velha) estava em vias de separar do marido e veio ficar uns tempos com a gente. Ela e os filhos. Para mim aquilo nunca foi legal. Hoje todo mundo é adulto e gente "séria", mas o período da infância pode ser bem infeliz dependendo do temperamento do pirralho, se é menos ou mais suscetível. Eu sempre fui uma espécie de anão (ou corcunda).
No começo da estada deles lá, tudo bem, depois a coisa começou a azedar, como tudo azeda com o tempo. Eu fui para umas férias no Rio de Janeiro e minha mãe contou umas coisas daqueles tempos que rememorando hoje acho até cômico. Um desses fatos me assaltou a mente hoje: a tal prima tinha ido à rua e voltou com um certo pacote e se fechou com a filha no quarto. Minha mãe bateu na porta para comunicar alguma coisa e só atenderam depois de uns longos minutos, nesse meio tempo a Fifi entrou no cômodo, mamãe e a sobrinha do meu pai falavam quando elas viram a cachorrinha comendo um bolo atrás da cortina. Foi isso, a paraense comprou um petisco e se trancou no aposento para degustar sozinha com a filha e quando minha mãe bateu na porta elas ocultaram a guloseima, não contavam com o faro da Fifi. Feio, né?
Uma coisa que lembro bem é que toda vez que aquela mulher entrava no banheiro deixava um insuportável cheiro de merda que demorava um tempo anormal para sair.
Claro que o casal se reconciliou para se separar de novo e voltar a se reunir.
Certa vez, já nos anos 90, em São Paulo, ela fazia uma excursão (não sei de onde para onde) e o ônibus parou na Praça Princesa Isabel, próximo de onde morávamos e ela foi até nós, só para falar de suas viagens pela Europa e torcer o nariz para nossa decadência. Blá, blá, Grécia, blá, blá, Espanha, blá, blá, minha filha se casou com um cara endinheirado e foi morar em tal lugar no exterior, blá, blá, Bélgica.
Olhou o relógio, estava na hora de voltar à excursão. Pediu pra usar o banheiro. Cagou e foi embora deixando no ar de nosso humilde apartamento aquele cheiro de bosta e alguma depressão. Eram dias frios e cinzentos em São Paulo.
Não tão frios e cinzentos como são hoje em dia, apesar do calor.
Se teve, pra mim, algo pior que cheiro de cagada no banheiro foi uma ex-cunhada minha que deixou um odor medonho que parecia de animal podre. Um nojo! Pensei que era do esgoto. A infeliz não tinha nos contado que estava com câncer no útero. Não se tratava direito e acabou falecendo.
ResponderExcluirParentes ou não, conheço certas criaturas que não me fazem falta, vivas ou mortas. E de várias, quero distância, se é pra vir incomodar.
Rapaz, que história trágica!!! Senti pena da moça. Câncer é algo horrível! Pelo seu tom parece que você não gostava dela, né? Você deve ter seus motivos.
ExcluirPois é, os tais parentes que citei no post eu nunca mais soube notícias, não fazem a menor falta.
Gente mesquinha é foda.
ResponderExcluirNão é?
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