Foi mais ou menos assim que a palavra "mestre" começou a me incomodar: a alguns anos passados conheci em Recife, durante um evento de quadrinhos, um rapaz que se dizia fã do Zé Gatão, ficamos próximos e algumas vezes pediu-me para avaliar alguns trabalhos que ele tinha feito. Nestas ocasiões a Verônica tirava um sarro da minha cara, chamando-me de mestre (ela brinca comigo até hoje usando esta expressão quando me indaga se alguma coisa está do meu agrado). Depois alguns admiradores virtuais do meu desenho me saudavam nas mensagens que deixavam me alcunhando de mestre. Ouve um inclusive que era tão efusivo no uso desta palavra que dava a nítida impressão que estava sendo irônico, que estava zoando. Na boa, não ligo pra isto não, sei que a maioria das pessoas usa a palavra com respeito e admiração pelo que faço e eu humildemente agradeço, só que penso que um mestre numa determinada arte é aquele que domina como ninguém os rudimentos do seu trabalho, vive bem do seu ofício e tem 99% (senão 100%) de aceitação e respeito de seus pares. O Eisner era alguém que poderíamos chamar de mestre, o Moebius era outro, só para citar dois. Evidentemente tem aqueles que só são reconhecidos via de regra muitos anos depois de terem morrido, e suas obras sobrevivem ao tempo e vão influenciando outros artistas; como exemplo cito Kafka, Mozart e Van Gogh.
Temos também estes que mesmo sem o devido sucesso comercial, ainda assim é referência e com justiça são homenageados nos festivais, como é o caso do querido Júlio Shimamoto.
Em tudo o que citei, evidentemente não me encaixo em nenhuma categoria.
A título de brincadeira, como faz minha esposa, tudo bem, mas aceitar o epíteto de forma natural, me envaidecendo, acreditando que possa ser verdade seria muita cara de pau da minha parte.
As vezes eu me pergunto se não passo de uma farsa. Pensando assim, dentro do que faço em termos de arte, fica mais fácil aceitar as minhas inúmeras limitações e inseguranças.
Como não devo aparecer por aqui até a próxima segunda, desejo a todos bom final de semana.
quarta-feira, 28 de março de 2012
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