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segunda-feira, 16 de abril de 2012

UMA PALESTRA COM UM CARTUNISTA FAMOSO + UM CARTUNISTA MENOS BADALADO MAS IGUALMENTE FAMOSO E O QUADRINISTA QUE BREVE VIRARIA UM ESCRITOR FAMOSO.


Com o risco de parecer prepotente, não costumo frequentar blogs, é mais por uma questão de tempo mesmo, pois como me disse certa vez o mestre Shimamoto, internet é muito legal mas costuma te roubar horas preciosas do seu dia, daí o porque d´eu não seguir esta ou aquela página de artistas que até gosto muito, inclusive, mesmo estas que recomento aqui no nosso espaço, passam meses até que eu me atualize. Mas outro dia quase sem querer fui parar no blog de dois irmãos quadrinistas que estão arrebentando no mercado gringo (e por aqui também). Um parentese: opto por não citar nomes, achando que alguns artistas já são badalados o suficiente, não precisam do meu aval e na verdade estão cagando montes, prefiro ressaltar os cobras dos quais realmente aprecio o trabalho sem ressalvas.
De volta ao ponto, o texto, muito bem escrito e lúcido, falava sobre o  HQ Mix, parece que este ano mudaram alguns critérios para a escolha dos indicados, mas não importa, o parágrafo que me chamou a atenção e que só confirmou algo que na verdade eu já sabia, foi mais ou menos nestas palavras: criar uma hq não basta, o problema é faze-la chegar até o leitor, distribuição é um problema muito grande (sempre foi). É necessário se fazer ver e ouvir, tem que ir a eventos, palestras, lançamentos, se mostrar o tanto quanto possa que você existe e produz, é a forma mais eficaz para se tornar conhecido. Só assim seu trabalho chegará ao grande público, finaliza dizendo que a internet não é garantia de sucesso, ter milhares de seguidores e visualizações não quer dizer que seu álbum será sucesso de vendas.

Estas seriam então uma das razões pelas quais eu não poderia ser um quadrinista de sucesso, não vou a eventos ou palestras, raramente sou convidado pra estas coisas, lançamento então nem se fale, tive umas duas experiencias negativas. Não disponho de tempo e meios de me locomover até os festivais de hqs Brasil afora, então fica mesmo difícil, fora que eu não gosto mesmo de estar em lugares assim, pelo menos não como uma espécie de atração. E olhem que no passado eu já tentei muito me encaixar, "aparecer", como recomendam.

Isto me lembrou um fato ocorrido a muito tempo em São Paulo, a Devir promoveu uma palestra com alguns dos autores que mais vendiam pela editora na época. Sem citar nomes, dois deles eram cartunistas bem famosos (um deles bem mais novo que a atração principal) e o outro era um quadrinista que viraria escritor de sucesso um tempo depois.
O tal evento seria num lugar de difícil acesso para mim e eu me encontrava totalmente sem grana, desmotivado. Meu irmão, que hoje é médico, me aconselhou que fizesse um esforço e fosse até lá, que seria importante eu conhecer os caras, me apresentar como quadrinista e tudo mais. Tudo bem, disse eu, vamos lá.
Seguindo o conselho do meu brother, coloquei numa pasta uns exemplares do primeiro álbum do Zé Gatão para dar de presente aos caras e lá fui pra Livraria Cultura do Shopping Vila Lobos. Peguei um busão na Praça da Bandeira e depois de sei lá quanto tempo, o cobrador me indicou o melhor lugar para descer. Era um local ermo e escuro. Seguindo pela marginal com carros tirando fino da minha pessoa, consegui chegar ao meu destino. O local da palestra estava mais ou menos cheio, haviam ali algumas figuras conhecidas, os tipos que costumam frequentar estes lugares, vocês sabem, os nerds de sempre, aliás o editor da Via Lettera, que tinha se comprometido a publicar meu segundo álbum estava por ali.
A palestra em si foi um porre, já fui em algumas que chegaram até a ser divertidas, as perguntas pretendiam ter um "Q" de intelectuais, as respostas eram blasé na maioria das vezes. O cartunista titular era o que mais falava, ia muito além do que era perguntado, o outro cartunista sequer olhava para platéia, ficava de cabeça baixa escrevendo ou desenhando alguma coisa, ficava assim até mesmo quando lhe indagavam algo. O quadrinista/escritor parecia desconfortável, como se estivesse sentado num barril de pólvora.
Por fim acabaram as explanações, as perguntas e respostas, e foram para o verdadeiro objetivo daquele encontro, vender álbuns de hq. Embora não estivesse interessado e com meu dinheiro bem reduzido, comprei um álbum de cada cartunista para ter um motivo de me apresentar. Havia uma fila, em volta dos caras, alguns puxa-sacos, eu iria dar meus álbuns no momento em que eles autografassem os que acabara de comprar, estava nervoso como se fosse cometer um crime, como se furtasse algo numa loja cheia de câmeras de segurança, minhas mãos suavam e por um momento quase mandei tudo aquilo às favas. Me aproximei dos dois cartunistas, os puxa-sacos observando, apertei a mão do famoso cartunista, era uma mão branca e pequena que sacudi com vigor; o artista, muito educado e agradável, era o total oposto do que ele deixava transparecer em seus quadrinhos, dei meu álbum de presente, folheou, elogiou dizendo que o desenho era poderoso. O cartunista menos badalado foi indiferente. Neste momento apareceu outro cartunista, um que hoje em dia se veste de mulher, fora prestigiar seus pares, dei o último exemplar do meu álbum pra ele também e este cara embora brilhante, pra mim foi uma decepção, parecia arredio, desconfiado, sei lá.
O quadrinista/escritor já me conhecia, tinha meu álbum e eu os dele. Se eu fosse apostar, diria que aqueles caras iam jogar meus livros na primeira lata de lixo que encontrassem, posso estar enganado, mas o tipo de hq que faço jamais seria a praia deles.
Conversei um pouco com algumas pessoas por ali e dei no pé com uma grande sensação de alívio. Voltar pra casa foi complicado mas cheguei ao lar bem tarde da noite com dois álbuns da Devir autografados que só iria ler muito tempo depois que aquele gosto de barata saísse da minha boca.

Não dá pra dizer que não segui as regras impostas de estar nos lugares, mostrar trabalhos, sorrir, apertar mãos e colher elogios. Muitos anos depois minha vida continua a mesma coisa.
Lembro que cheguei em casa aquela noite com uma baita depressão, pudera, tinha sido uma noite de merda.

2 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Rapaz, acredite, sei o que você sentiu. Eu poderia aqui te animar, te dizer que é assim mesmo, que vc têm que ir aos eventos, mas tb sofro um pouco quando vou a eventos. Respiro aliviado quando encontro alguém do meu nível, ou amigo, pra entabular uma conversa e parecer mais descolado, kkk. Esse lance do produzir hqs e vender é terrível, e difícil. O Lair Ribeiro disse numa palestra que o melhor médico não é o que sabe mais, mas o que melhor se vende. Acho que precisamos aprender isso...
    Abração,
    Seu texto tá muito bom.

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  2. Acho que este negócio de não se sentir bem em eventos assim tem muito a ver com o palestrante, já vi casos em que o cara com sua simpatia e humildade deixou o ambiente quase uma roda de bate papo entre amigos. Essa aura de endeusamento sobre um determinado artista incomoda um bocado, acho que cabe a ele (o artista) quebrar esta barreira, muitas vezes é culpa também dos organizadores da coisa, de qualquer forma, a muito estou de saco cheio disso tudo.
    Grato, brother.
    Abração.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...