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segunda-feira, 2 de junho de 2014

OS OLHOS MALIGNOS NA ESTRADA SEM FIM.


Um dia de uma claridade onírica, minha cabeça pesava, eu andava com passos ébrios por um bairro próximo, procurando por uma lotérica para efetuar um pagamento, pelo menos era a impressão que eu tinha. As ruas desertas sugeriam que era um fim de semana, devia ser por volta das 16 horas. Perguntava a mim mesmo: como pude me esquecer?
Uma angústia inexplicável me envolvia a alma.
Subitamente me lembrei de uma lotérica que ficava aberta até mais tarde numa rua adjacente. Segui até lá, incerto se o caminho era aquele mesmo. Entrei numa rua estreita, asfaltada, sem calçadas e com muros caiados bem altos,  me era impossível divisar o fim da estrada, tão longa ela parecia. Me lembro que assim que entrei na rua eu bati meu ombro esquerdo no muro imaculadamente branco e como um bêbado dei um volteio sobre o piso negro.
Na sofreguidão de alcançar o estabelecimento aberto quase não me dei conta de um carro branco parando bem ao meu lado. Um carro antigo, bem pequeno, como os antigos modelos da Fiat, só que menor ainda. Aquilo me causou uma forte má impressão, principalmente porque eu não conseguia enxergar quem estava dentro do veículo devido aos vidros escuros. Neste instante a portinhola se abriu e um indivíduo negro, de rosto triangular e bigodinho a la Sammy Davis Júnior me encarou. Tinha uns enormes olhos amarelados, esbugalhados como os de um sapo, onde as pupilas apontavam em direções opostas, injetados de malignidade. Sua intenção, pelo que pude perceber, era fazer uma maldade indizível a mim. Não havia como pedir socorro. Me pus a correr pesadamente. Ao olhar para trás vi o negro com intenção de correr atrás, mas como se pensasse melhor, entrou no minúsculo carro e bateu a porta pesada e barulhentamente. Seria mais fácil me alcançar sobre quatro rodas, quem sabe até me atropelar. Quando ele pisou no acelerador eu acordei.

O braço esquerdo debaixo da minha cabeça formigava. Devia ser umas três da tarde, a sonolência e cansaço me obrigaram a um cochilo depois do almoço e deu neste pesadelo que me deixou perturbadamente impressionado por parecer vividamente real.

Rabisquei esta imagem caricatural que nem de longe traduz o que era o rosto daquele indivíduo.

Voltei às minhas atividades, mas com uma estranha sensação de fragilidade que só a velhice pode trazer.  

4 comentários:

  1. COMENTÁRIO DA CARLA CERES:

    Agora não sei se esse texto é um um conto ou o relato de um sonho de verdade, Schloesser. De qualquer modo, foi um pesadelo e tanto. No começo, pensei que fosse o conto novo do Zé Gatão. Aí apareceu a lotérica e mudei de ideia. :) Abraço!

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    1. Meu objetivo foi este mesmo, Carla, que as pessoas pensassem mesmo que se tratava de um evento real, para só depois revelar que se tratava apenas de um sonho. Pela sua reação acho que obtive meu intento.
      Obrigado e forte abraço.

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  2. Assustador! Também pensei que fosse um conto. Sorte a tua o "olhudo do carro branco" não se um psicopata e por ter sido um sonho bizarro.

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    1. Legal que tenha gostado, meu caro Anderson. Sabe, eu fico arrepiado até agora quando me lembro deste pesadelo.
      Valeu, irmão.
      Abração.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...