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domingo, 12 de março de 2017

A ESCRAVA ISAURA (CENA 5).

Fazia tempo que a gripe não me pegava. Ontem (sábado) foi um dia daqueles. Acordar muito cedo, retirar o parco dinheiro de um trabalho muito custoso, fazer compras do mês, encarar filas, calor e sol brutal. Chegando em casa suando em bicas ligo o ventilador para sentir a refrescância (isto pode ser fatal). Penso que a perpétua pressão que sofro tem baixado as minhas defesas. Falam que gripe é doença de pobre. Logo meu corpo se recupera, eu vou tentar colaborar com ele tomando bastante água e me alimentando bem (nada posso garantir quanto ao repouso, se eu paro um dia, a roda deixa de girar).

Um breve comentário aqui sobre a produção de quadrinhos (again). Eu costumo dizer que criar HQs é tarefa de um masoquista incurável. Sempre falei por mim, mas tive a certeza que acontece com todos lendo o livro "Marvel Comics - A História Secreta". É uma tarefa inglória principalmente em países onde não existe mercado, inexiste público consumidor do seu produto, não há investimento nem divulgação, tampouco editoras que se arrisquem em obras que não tenham pedigree. Porque fazer quadrinhos que quase ninguém lê, nem dá a mínima? Só pode ser por muito amor à coisa, e aí me vem uma metáfora: o cara que investe em narrativas gráficas no Brasil é como aquele sujeito que ama uma mulher que o despreza. Ela diz ao infeliz que não o ama, desfila na frente dele com outros, mas ele continua mandando flores e presentes na esperança de que um dia ela reconheça que ele é o homem de sua vida, mesmo sabendo lá no fundo que tal não acontecerá.

Reflito muito sobre isto. Porque faço o que faço a essa altura da vida? Já publiquei os álbuns que queria, mesmo que não tenham tido sucesso. Porque continuo? Para deixar algumas obras póstumas? Seria uma reposta, mas não faz sentido. A razão eu já esmiucei aqui - HQ é minha única forma que tenho de desabafar devidamente, mas só seria viável se publicada, fazer para deixar guardado é como conversar com um poste.

O que me levou a falar sobre isto mais uma vez foram duas postagens feitas por uns amigos do Facebook que vi por acaso. Na primeira, o colega perguntava: "Você compraria produtos licenciados de personagens dos quadrinhos brasileiros?" O que me chamou a atenção foram as respostas (teve muitas!). Ninguém dá a menor bola para o que é produzido aqui, as HQs tupiniquins são tratadas com desprezo e escárnio. Claro, exceções feitas sempre aos mesmos, os tais medalhões que brilham de longa data.

É chato falar, mas o principal responsável pelo insucesso das obras nacionais na minha opinião é o público que sempre se mostra viciado no que vem de fora e é preconceituoso em relação ao que se faz em sua terra. O cara não leu e não gostou. "É quadrinho feito por brasileiro? Não quero nem saber!" É lógico que tem muita porcaria sendo lançada com acabamento de luxo por editora de renome, gibis superestimados de carinhas que acham que inventaram a roda e não entendem nada de narrativa gráfica, anatomia, perspectiva e etc, mas envernizam seus projetos com a desculpa que o traço é expressionista. Mas em contrapartida temos autores e obras que são sensacionais, mas ainda permanecem como pérolas jogadas no meio do cascalho.

Na segunda postagem o feicibuquiano perguntava na seca: qual o seu desenhista brasileiro de HQs preferido? Eu já sabia o que diriam as inúmeras respostas: artista fodões que trabalham para a Marvel e DC.

É isso, pura e simples, quadrinho nacional nunca vai dar aquele passo além.

Ok, senhor Eduardo Schloesser, o senhor tá com dor de cotovelo por que seu nome nunca é citado como um dos fodas do meio, tampouco suas obras são comentadas e quando são, pelos ditos entendedores do assunto, é sempre de forma dúbia. Eu digo que não é isso. Eu tenho o meu público, que de tão pequeno, não me permite viver disso, mas que de tão especial, faz toda a diferença no meu ego.
O que eu lamento é que personagens legais como a Mirza, Velta, O Judoka, o Raio Negro, O Morto do Pântano, O Garra Cinzenta, sejam tão pouco conhecidos, e obras como Zoo, Zona Zen, O Cabeleira, FDP, Wander, Herói Por Que Sim, O Hotel do Terror, A Revolta Da Chibata, Fantasmagoriana e muitas outras, hoje ainda, sejam totalmente desconhecidas da maioria dos leitores brasileiros de gibis.

Fecho com mais uma imagem de A Escrava Isaura.


8 comentários:

  1. Tô me sentindo culpada. Não conheço os personagens e as obras legais que você mencionou, Schloesser. Quanto ao motivo da baixa vendagem das HQs nacionais, acho que pode ser falta de uma campanha de marketing intensa (e custosa), como a dos estrangeiros. Abraço e melhoras!

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    1. Não se sinta culpada, Carla, só conhecem estas obras e personagens leitores de gibis nacionais da antiga ou que sejam colecionadores (destes que possuem centenas de títulos), a maioria nem tem como saber, afinal, nunca foram alardeadas como as da Turma da Mônica ou Menino Maluquinho, o que nos leva a questão que você citou, divulgação maciça e custosa, como é feita com certos produtos, é tudo o que os quadrinhos nacionais precisam (ou quase).
      Obrigado e um abraço.

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  2. Olá, Eduardo! Espero que a gripe esteja domada. Você disse tudo. Fazer Quadrinhos é coisa de louco mesmo. Mas que fazer? A necessidade da auto expressão através dessa tão subestimada Arte é muito forte. Acho que se não fosse assim, já teria morrido no Brasil.
    Você elencou personagens e publicações incríveis! Algumas (Boa parte) eu conheço e sei do valor. Infelizmente o povo brasileiro e até mesmo leitores, não conhece. Pena. Mas quem sabe, num futuro não muito distante, as coisas mudem. E sim, o Marketing pesa bastante. Assim como distribuição, visão editorial, etc... etc... etc... Grande abraço e melhoras!

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    1. Oi, Gilberto! Que bom vê=lo por aqui! Olha, não há nada a acrescentar ao seu comentário, você já disse tudo e mostra, uma vez mais, que é muito mais otimista do que eu. Eu gostaria muito de ver um mercado com boa produção de quadrinhos nacionais, mas não sei se viverei para isto.
      Obrigado e um abração.

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  3. Interessante a metáfora entre hq e a mulher desejada. É triste.

    O pessoal (em geral) que tem grana prefere gostar com mensais e/ou depois, versões seletas e encadernadas dos heróis por comodismo.
    Muita gente despreza ou desconhece hqs bacanas como o mencionado Zoo, Zé Gatão, Valente... e outras que saem até em fanzines, como Debiloid's.

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    1. Valeu pela menção, Anderson. Olha, houve um tempo em que as HQs nacionais vendiam muito em bancas de jornais, os gibis de terror e sacanagem tinham grandes tiragens em bancas, sem falar das revistas dos cartunistas famosos que eram publicadas pela Circo. Hoje as bancas de jornais não são mais as mesmas, há o problema da distribuição, é complicado o mecanismo. Repito: criar quadrinhos (e fanzines, também) é coisa de gente que ama demais o que faz. Mas o triste mesmo é o tom de escárnio de parte do público leitor cada vez que alguns quadrinhos nacionais são mencionados.

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  4. I wish I could help you my friend. You know that I admire your art very much and Zé Gatão I love. I pray for you and hope that it will be better and you will be able to continue with your great art
    Muito abraços

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    1. My dear friend, Mira, you already help too much by spreading my poor traits on social networks. This is much more than I could expect.

      Thank you very much, God bless you and many good wishes in your life.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...