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domingo, 6 de janeiro de 2019

AMOR POR ANEXINS E OUTROS CONTOS ( 07 ).

Meu retorno a Brasília depois de morar (de favor) quase quatro anos no Rio de Janeiro é uma das lembranças alegres que tenho na vida. Lendo meus antigos posts a respeito do meu período na Cidade Maravilhosa vocês podem notar como fui infeliz naquelas plagas, pelos motivos óbvios e por outros que não posso declinar sem mencionar outras personagens.

Eu e o Ruço subimos de elevador até o quarto andar e bati na porta. Esperava ver minha mãe e dar aquele forte abraço, no entanto quem me atendeu foi um português, amigo da família, estava de shorts e sem camisa com um copo de caipirinha na mão, sorriu e disse, naquele sotaque característico:
- Porra, achamos que tinha acontecido algo com você no caminho!
Apertamos as mãos e fui entrando na velha espaçosa e aconchegante sala. Soube que minha mãe tinha acabado de descer com a esposa do portuga, provavelmente por outro elevador e nos desencontramos. Naqueles segundos eu me perguntava o que aquele cara fazia ali, tão a vontade. Logo vi meus irmãos, o caçula junto ao filho do casal intruso, bem sem graça com minha chegada e os outros dois, mais altos que eu. As memórias não são precisas, o que relato com segurança são os fatos que ficaram retidos na memória. Acho que minha mãe chegou logo depois e falava sobre os momentos de preocupação, afinal, com os revezes da viagem nos atrasamos muito. Devo ter visto meu pai naqueles momentos, mas não estou certo.

Vamos falar sobre o casal hospedado em casa e o Ruço, a continuação do meu retorno à residência dos meus pais fica para outra postagem.

                                                                     O CASAL

Em postagens antigas eu cheguei a citá-los omitindo nomes. Eu tinha um colega que estudara comigo no segundo grau, fui a casa dele e conheci o resto da família, a mãe, a irmã e o cunhado, um português pra lá de arrogante que depois me emprestaria uns livros do Pitigrilli (aquele dos famosos aforismos, tipo: "Mãos frias, coração quente, provérbio comum a muitos países, o que mostra que a imbecilidade é universal").   
Para falar a sério sobre  esta família eu precisaria de um post exclusivo. Como todas, ela tinha muitos problemas, muitos mesmo, alguns extremamente constrangedores, nem é de bom tom citar. A relação entre o português e a irmã do conhecido vivia azedando. Começou errado e terminaria extremamente errado. Mas isto seria uns anos mais tarde. Numas das tantas separações eles praticamente desmantelaram tudo o que tinham construído. Ela voltou pra Goiânia e ele não sei em que buraco se meteu. O caso é que graças a intervenção de minha mãe eles reataram os laços em casa, e moravam por lá provisoriamente até que tudo se restabelecesse. Pra mim foi uma total decepção voltar pra casa e não me sentir a vontade, mas fazer o quê? Sempre fora assim. Em São Paulo, um irmão do meu pai morou com toda a família em nosso pequeno apartamento durante quase um ano. Primos, sobrinhos e irmãos dele vinham do norte do Brasil e se hospedavam conosco por meses, até. Em Brasília nunca foi muito diferente. E era uma gente espaçosa, que se comportavam como se casa fosse deles e nós os intrusos. Mas deixa isso pra lá. É passado.

                                                                      O RUÇO

O moço que me trouxe do Rio até a Capital Federal teve a sua perua pifada próximo a Cristalina, claro que eu não podia deixar o cara na rua, ele ficaria conosco aqueles dias até que ele pudesse resolver sua vida. Se me lembro bem a mãe dele residia em Brasília mas não estava na cidade na ocasião. 
Ele tomou um banho, trocou de roupa, foi educado com todos. Lembro que na cozinha, durante uma conversa entre eu, ele e o português, que era muito irônico, demos umas sonoras gargalhadas à uma observação dele. Só viria a saber que ele se ofendeu com isso muito tempo depois. Outro fato que contribuiu negativamente em nossa breve relação era o fato dele ter ficado meio de escanteio durante o tempo que ele esteve em casa. Eu sempre fui muito apegado a meus irmãos e alimentado pelos anos de saudades, estava com eles todo o tempo. Por sua vez ele estava ao telefone direto, ora ligando para a mãe, ora para a Caixa Econômica onde ele tinha uma pequena reserva de dinheiro que estava presa por algum motivo que até hoje desconheço. O fato é que ele ficou bem a vontade lá aqueles dias. Até que a mãe dele apareceu, uma senhora bonitona. Pelo tom de conversa dela era claro que ele se queixara de mim como um ingrato, ele me tirara do inferno onde vivíamos em Paty do Alferes, e eu o execrara do meu convívio na minha casa. Eu não concordo. Eu paguei por aquela viagem com o pouco dinheiro que tinha. Fiz companhia. As coisas não deram certo, ele ficou confortável em um lar. Nossos mundos eram extremamente diferentes para eu me envolver com ele até o osso e com todas as minhas falhas penso que fui um bom anfitrião, meus pais o acolheram ele ficou protegido enquanto a mamãe não veio resgatá-lo. 
Soube depois que seus planos em Brasília não deram certo e ele teve que voltar para Paty, onde ele falou mal de mim a todos que me conheciam na cidade. Lamentável, mas típico em minha vida.

                                                                   ***********

Como disse, pretendo continuar esses relatos em tempo oportuno.


A arte de hoje é mais uma cena do clássico do Artur Azevedo.

Não estou com tempo para fazer revisão neste texto, havendo erros, queiram me perdoar.

Fiquem todos com Deus!


4 comentários:

  1. Sei bem como é tratar bem certas criaturas que no fim, mostram-se ingratas e hipócritas.

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    1. É desagradável, não é, Anderson? Na época nem liguei muito para isto, mas com o tempo eu percebi que a ingratidão é uma coisa que dói muito. Tenho experimentado demais esse tipo de coisa nos últimos anos.

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  2. Além de ficar hospedado na sua casa, o sujeito reclama! Ele que chamasse um chaveiro e abrisse a casa da mamãe, ora essa! Bom, Schloesser, vamos falar de coisa legal: recebi a bio do Poe e achei lindérrima. Comento melhor quando terminar a leitura, mas já estou gostando muito. Parabéns!

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    Respostas
    1. Não só isso, Carla, o tal português depois que se reconciliou com a esposa ficou uns meses morando conosco até que arrumasse uma bela casa na Asa Norte; cruzando com meu pai, certa vez, na rodoviária, ele virou o rosto fingindo que não o conhecia.

      Mas falando de coisas legais, que bacana que o livro chegou e te agradou! espero seus comentários.

      Obrigado!

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