Ai, ai.
Esta foi uma semana escrota, é, a palavra certa é essa, ESCROTA! Sinceramente, não quero ser mal agradecido a Deus, tenho trabalho no momento, que é fazer quadrinhos (bem, há quem ache que isso não é trabalho, e há pessoas que nem sabem o que é quadrinhos, ou que exista quem os faça. Conheci uma senhora, certa vez, que pensava que os desenhos, as letras, os balões de fala e tals, das HQs, eram criadas por uma máquina, algo assim) e isto permite que eu more num lugar decente e faça mais de três refeições ao dia, mas certas situações poderiam ser evitadas.....mas não vamos tocar nos assuntos caseiros do dia a dia, foquemos um pouco na minha saúde (ou falta dela). Na segunda feira me dirigi a uma clínica para fazer uns exames solicitados pelo urologista, sofro de HBP (uma merda que ataca homens desafortunados normalmente depois dos 40), cheguei cedo no local em jejum para o exame de sangue. Até aí, tranquilo, o problema foi na hora de realizar o ultrassom do abdome, para isto é necessário tomar vários copos de água até a bexiga estar bem cheia. Não é lá muito legal beber água sem estar com sede, mas ok, vamos lá. Fui bebendo um copo atrás do outro enquanto eu era obrigado a ver a Ana Maria Braga na Rede Globo falando sobre o serial killer de Goiás que faz a polícia de idiota. Num momento senti a bexiga cheia e uma baita vontade de mijar. Bati na porta da médica e perguntei se demoraria muito para ser atendido: tem umas 14 pessoas na sua frente, senhor, fora os preferenciais. Puta merda, pensei. Mas, olha, eu estou bem apertado aqui. Aconselho o senhor a esperar. Esperei, mas o incômodo se agigantava e eu disse a mim mesmo: Foda se! E fui ao banheiro. A urina saiu num jato fraco. Voltei para a sala de espera e lá estavam todas aquelas pessoas lascadas, velhas, gordas, pessoas como eu, na verdade.....uma menina cuja mãe não conseguia controlar corria pelo local fazendo uma zoada do cacete, todos ou mexendo no celular ou ouvindo a apresentadora, que se negava a envelhecer, discorrendo sobre um assassino. E minha bexiga ainda cheia. Um cara falastrão, do tipo que reclama de tudo, uma cara alto, com uma barriga grande e feia alugava meus ouvidos, falando mal do governo, do clima, dos médicos, dos preços caros das coisas, de tudo enfim, só aumentava o meu martírio, pra fugir dele, voltei ao banheiro e só expeli um pequeno filete de mijo. Isso não é boa coisa, já me aconteceu antes, refleti. Nessas ocasiões precisei baixar na emergência do hospital para extrair a urina via sonda. Eu não conseguia mais ficar parado, minha agonia era crescente. Sentar, impossível, pressionava demais a bexiga. Depois de várias idas ao banheiro para excretar só umas gotas, num tempo que me pareceu séculos de sofrimento, fui atendido. A médica era uma bela senhora jovem, muito educada, que me pediu para baixar as calças até que meus pentelhos ficassem visíveis e com muito esforço me deitei numa maca. Está doendo muito seu Eduardo? Nem precisei responder, minha expressão de agonia dizia tudo. Ela espalhou gel sobre minha barriga e procedeu como fazem com as grávidas. Nossa, sua bexiga está muito distendida!!! E continuou fornecendo dados à uma mocinha que digitava tudo. Sua próstata está bem crescida seu Eduardo! Diga algo que eu não saiba, pensei. Me deu papel toalha para eu limpar o gel e me pediu para esvaziar ao máximo a bexiga para ela relatar a pós micção. Olha, não sei se vou conseguir, eu disse. Tente, ela falou. Tentei, mas só saíam gotas sofridas.
Não levei o celular e eu tinha que avisar a Verônica. Procurei um telefone por ali e não havia nenhum. Os smartphones acabaram com a possibilidade de procurar socorro se você fosse pobre. O barrigudo reclamão me ofereceu o celular dele, agradeci e avisei a Vera sobre meu estado. Ela já sabia o que eu teria que fazer, "vou preparar suas coisas". O cara do celular continuou a falar mal da vida, da demora, da justiça, da mulher dele e da falência de tudo. Pedi licença e voltei ao banheiro na esperança de mijar mais um pouco e me livrar daquela agonia mesmo sabendo que não seria possível. Só umas três gotas. Ahhh, porra!
Bati na sala da médica e me desculpei mas não conseguia mictar, perguntei se ela não teria uma sonda por ali. Ela disse que não podia realizar esse procedimento. Bem, então terei que fazer eu mesmo. Ela me deu o resultado do ultrassom e eu fui embora. Eu já andava encurvado. Parecia que alguma coisa dentro de mim ia se romper a qualquer momento. Peguei o ônibus e mesmo havendo vários lugares viajei em pé, um calor do caralho! Maldizia tudo que era sinal em que o veículo parava ou um buraco na pista onde ele sacolejava. Sentia que uma pancada por mais leve que fosse romperia minha bexiga. Minhas vias urinárias estavam comprimidas pela próstata avolumada mais que o normal, culpa do excesso de água. Desci do ônibus contando os passos debaixo de um sol furibundo, eram umas 14 horas. A última vez que me via naquela situação foi no funeral da minha mãe. Meu irmão André, que é médico comprou um kit de emergência para essas situações e me ensinou como fazer para não ter que ir a pronto socorro. Me apertou o coração lembrar que minha mãe tinha partido e o Gil ainda estava conosco.
Cheguei em casa, Vera me esperava. Tá tudo lá, ela disse. Lavei bem as mãos. Entrei no quarto, me despi, passei álcool nas mãos. Peguei a sonda de número 8, embebi na xilocaína e introduzi na uretra, senti a aflição de ter algo me invadindo. Nada da urina sair!!!! Comecei a me desesperar. Retirei a sonda. Peguei a de número 10, repeti o procedimento. Que coisa horrível! Introduzi até o limite do pequeno cano de borracha e o líquido começou a jorrar. O alívio foi imediato, durou um tempão! Retirei a sonda e fui ao banheiro. Tomei um banho e finalmente fui comer algo. Talvez pelo jejum prolongado a comida me enjoou um pouco. Senti uma fraqueza mortal e fui me deitar. Quando comecei a cochilar fui desperto por angustiante vontade de mijar. Fui ao banheiro com temor, mas a urina saiu numa boa, mas aquilo se repetiu umas cinco vezes seguidas. Depois tudo normalizou, mas deixou meus membros cansados e uma bela dor de cabeça. Os dia subsequentes foram de obrigações na casa, na rua e uma grande indisposição mental que roubaram todas as energias para as artes. Vera se vacinou num dia de fortes chuvas e os problemas com a bomba d´água voltaram.
Choro um pouco todos os dias pela ausência de mamãe e Gil e me pergunto se ainda vou ficara muito tempo por aqui. Meu trabalho prossegue, felizmente, é meu lenitivo. Converso com meus outros dois irmãos e me sinto cada dia mais alienígena.
O que relatei acima só confirma que terei que fazer uma cirurgia em breve, mas para tudo precisa se de dinheiro e o pouco que tenho é muito suado. Não posso fazer pelo SUS. Vamos ver.
E é isso.
Arte para um clássico da literatura brasileira. |
Meu... nem sei o que te falar. Não consigo mensurar esse sofrimento todo! A boa notícia é que SEMPRE, SEMPRE podemos contar com Deus. Confia Nele. Alguma coisa vai acontecer e dará tudo certo.
ResponderExcluirForte abraço do colega de prancheta!
Muito obrigado, meu caro!
ExcluirA misericórdia de Deus é muito grande na minha vida. Vamos tocando o barco até quando Ele permitir.
Grande abraço!
Há dias que li este relato, mas não tinha comentado porque não andava inspirado em responder e não queria fazer piada com algo doloroso. Não debocho nem da maorte de alguém, imagina com algo ligado à saúde. Imagino seu martírio em aturar sala de espera todas essas dores toda. Abraço...
ResponderExcluirFoi complicado mas por hora está tudo bem, graças a Deus.
ExcluirObrigado pela visita e comentário.