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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ESPÍRITO QUE ANDA ( DE NOVO )

As inevitáveis armadilhas da vida. Como evita-las?
Existem aquelas que nos pegam de surpresa, mas na maioria das vezes seguimos em sua direção achando que somos espertos o suficiente para nos safar. Tiro de letra, pensamos. É tudo uma questão de vaidade (no meu caso pelo menos).
As maiores ciladas em que me meti, tinha uma bela mulher no meio. Aos poucos fui dominando a linguagem. Mas era pego na arapuca da mesma forma, e a pancada não foi menos dolorosa por conhecer o processo.
Mas "femmes fatales" é tema para uma outra postagem, hoje quero falar um pouco a respeito de um tipo de cilada da qual dificilmente se evade. É quando se tem uma necessidade premente que lhe empurra em sua direção de forma inescapável.
Em 2002, eu morava numa kitinete na comercial da 202 norte com Verônica e seu irmão caçula. Era aquele período de entressafra. Quando as editoras prometem algo para breve e ficam postergando. Suas contas vão ficando atrasadas, os juros querendo lhe morder o rabo. Os que vivem do ofício de desenhar sabem do que falo.
Eu me meti numa fria por causa de 100 reais. E nem era pra mim este "montão" de dinheiro. 100 reais era o que minha sogra em Recife precisava para saldar um débito. Eu não tinha nada. Foi quando um amigo me indicou um trabalho. Digamos que este amigo se chamava ÉBANO. Ele tinha por sua vez um conhecido que se chamava, digamos, FUNCHAL.
Na real, aquilo não me cheirou bem desde o princípio. Não gosto de pegar trabalhos que não tenho total domínio sobre como executa-lo.
Funchal era um empreendedor, um inventor que já tinha patenteado uma série de criações. Musico, poeta e putanheiro. Talvez seja dor de cotovelo da minha parte por nunca ter sido popular com as garotas, mas aquele estilinho de galã que seduz as fêmeas a la James Bond, sempre me provoca ojeriza. Pude conhecer bem o Funchal durante aquela semana terrível em que passei com ele.
Este cara botou na cabeça que queria fazer um boneco articulável de um desprezivel e decadente artista de TV, recém egresso de um Reality Show. Pagaria pela criação 100 reais, aliás ele também não os tinha. Quem pagaria a quantia era a irmã dele. Eu deveria ter recusado o trampo, mas pensei que seria moleza. Era algo diferente no que trabalhar. Era só criar uns model sheets com a cara do tal ator. Nada disso. Criar o rosto do dito cujo foi um sofrimento. Funchal nunca estava satisfeito. Não sabia exatamente o que queria. Só sabia que queria alguma coisa. Isto durou quase uma semana. Nós nos reuníamos na casa de Ébano, que havia se separado da esposa a algum tempo e já se encontrava sofrendo por outra. Ele ficava trancado em seu quarto se consumindo em auto-piedade, enquanto eu me consumia em tédio e raiva. Certa noite Funchal pegou o violão e desandou a cantar uma música em inglês. Boa música, ótima voz devo admitir, a pronúncia me pareceu impecável e o violão, bem, o cara arrasava. Acho que todas estas qualidades num indivíduo como aquele só aumentaram a minha aversão. Quando por fim eu reuni coragem pra dizer que aquilo não estava dando certo, que não chegaríamos a lugar algum, ele mudou de idéia e propôs que eu fizesse uma página de quadrinho tendo o tal ator como protagonista, para que o próprio avaliasse depois, e quem sabe assim, criar um gibi pra ser lançado no mercado. Fiz. Uma página horrível que Funchal adorou. Na hora de receber pela coisa, a irmã dele, uma magrela de cabelo pintado de forma berrante, quis me conhecer, me olhar na cara, como que para julgar se eu era uma farsa como pareceia ser.
Posso afirmar que foram os 100 reais mais suados que eu já recebera. E nem era pra mim, logo foi depositado. Bom, serviu pra alguém e pra eu aprender uma lição. Não aprendi. A necessidade me fez repetir a dose mais alguma vezes.
Não foi o caso deste FANTASMA com sua esposa Diana. Este eu gostei de fazer. O editor me pediu que nada comentasse sobre os bastidores deste trabalho. Então tá. Sem comentários.
Por hoje é só.

8 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Puxa, já caí em várias armadilhas dessas, kkkk. Apesar de só agora estar focando mesmo o trabalho com desenho, sempre trabalhei meio próximo, estampas de camisetas, faixas, brindes, área gráfica. E digo pra vc que tb já tive meu "Funchal"!! Cada vez que um sujeito assim entra na nossa rotina, somos arrastados para um lamaçal movediço. Demora até termos consciência da situação. Hoje tô meio que vacinado.
    Belíssimo Fantasma!
    Abração,

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  2. Nem me fale amigo, nem me fale.
    Como evitar isso? Até hoje não sei.
    Sou muito mole pra dar um basta quando sai do controle. Mas um dia consigo.
    Grato e um abração.

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  3. Du, fantasma é FODA!!! Não é nem mais um simples personagem de quadrinhos, é uma lenda dos quadrinhos. Já me peguei tentando analisar o motivo de seu sucesso por aqui até a década de 70 e do seu quase total desaparecimento das bancas nas décadas seguintes.
    Abraço!

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  4. Eu tenho algumas teorias. Penso que pode ser um personagem que nunca se reinventou. Depois do casamento ele caiu no ostracismo. Porque isto não me surpreende?
    Abração.

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  5. Eu sempre gostei do Fantasma vc fez uma versão dele
    extremamente legal os Musculos ficou perfeito....
    eu sempre gostei desses personagems clásssicos. mas infelizmente hoje em dia eles ficam a penas na nosssa memória de Desenhistas como eu e vc e outros que sabem
    apreciar um grande heroi das histórias em quadrinhos.
    o seu blog é perfeito . Resgata Personagems que a gente não ve a anos . e tambem Dilvulga seu trabalho seus Excelentes Desenhos .....
    abraços
    Henrique Silva .....

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  6. O objetivo é este, divulgar arte.
    Valeu pela presença, elogios e comentário.
    Abraços.

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  7. PUTAQUEPARIU!!! Não fica absolutamente nada a dever para os desenhos oficiais do Sr. Walker! E você ainda conseguiu colocar algo de seu em dois elementos sutis: o sorriso safado de "É hoje lá na Caverna da Caveira!!" e a fisionomia da Diana, que tem algo de brasilidade! De zero a cem, merece um 101.

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    1. Vindo de alguém que conhece tanto de arte, seu comentário tem um triplo valor para mim. Muitíssimo agradecido.
      Um adendo: A arte seria para celebrar o aniversário do casamento do herói e há motivo para a arte ter ficado sem cenário, o editor ia inserir alguma imagem ou cor a gosto dele (não me recordo direito). Não foi aceita, infelizmente, acho que preferiram o desenho do Mozart Couto.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

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