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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

MAIS UMA VEZ, DE NOVO E NOVAMENTE, UMA OLHADA NO ATUAL MERCADO DE QUADRINHOS CRIADOS NO BRASIL.

Eu diria que os quadrinhos brasileiros (não vou usar o termo NACIONAL) vão muito bem. Muito bem mesmo. Tem produção para todos os gostos, como comprova este vídeo do Zine Brasil, da Michelle Ramos, e vai de vento em popa.


Nos sites de financiamento coletivo vemos muitos quadrinhos esperando por uma chance, assim como aqueles que aguardam uma verba do governo para sair da gaveta.
Isto, é claro, sem falar daqueles que produzem diretamente para serem lidas na web. 
Nunca vi tanto material sendo executado nos quatro cantos do Brasil. 
Como vocês podem ver, os quadrinhos, e falo de quadrinhos de um modo geral, não só os brasileiros, 
estão longe de morrer, ao contrário do que foi vaticinado no início dos anos 2000 por alguns profetas de ocasião. 
Os eventos ligados direta ou indiretamente a esta arte também voltaram com tudo e tem gerado interesse da mídia, que já dão algum espaço para divulgação (ainda que com muita desinformação). 

Agora, aonde ficam as editoras? Vejo um número crescente de novas casas abrigando os mais diversos tipo de material, mas ainda com um número de títulos bem limitado. Ao contrário de outras como a Devir, Cia. das Letras, Zarabatana, HQM, entre tantas que num passado recente colocavam na praça vários títulos por mês. Posso arriscar dizer que as coisas não vão bem em termo de vendas para essas publicadoras? Sabemos que a economia do país tá uma merda, e parece que vai piorar. Então, é óbvio que os quadrinhos só fluem mesmo no meio independente, algo já comentado por mim aqui, uma tribo produzindo para outra tribo, assim, eu produzo para que meu amigo leia e eu leio o que ele produz e se no meio do caminho aparecer um terceiro leitor é lucro. 
Talvez é assim que tenha que ser. Os melhores quadrinhos que li não foram aqueles criados para atender ao público mainstream, mas aqueles que queriam provocar, mudar um pouco que seja o que estava estagnado, algo como fizeram os criadores da Metal Hurlant. 
Mas acho que para um autor tudo tem um limite, não dá para malhar em ferro frio a vida toda. E no Brasil parece que o quadro não muda. Conheço pessoas que sonham em tornar seu projeto conhecido só para ter uma chance a mais de publicar lá fora, onde ainda há retorno financeiro, eu inclusive já pensei assim. 
Ontem eu fazia quadrinhos por prazer, ou para desabafar, como sempre reitero, hoje com uma série de responsabilidades não é mais possível. Por isto que minha produção diminuiu consideravelmente nos últimos tempos. Só não para de vez porque esta é a única forma de dar vida ao que vai pelo meu espírito. Tem mais um Zé Gatão para sair. Quando será? Vai sair mesmo? Não sei responder. Meu Phobos e Deimos, um livro que gosto muito, permaneçe aguardando que um dia o cenário seja diferente.
Hoje pela manhã, vi um texto do roteirista Leonardo Santana na sua página do Facebook que achei pertinente. Pedi permissão a ele para transcrever aqui. Diz assim: 

"Estou numa fase em minha vida que meu objetivo é escrever e publicar hqs. Não necessariamente publicar/imprimir/vender revistas. Não é que não tenha interesse em que minhas hqs/revistas sejam compradas. Eu simplesmente não quero ter mais todo o trabalho de gerenciar vendas e guardar estoques.
O que eu quero hoje em dia é publicar minhas hqs em veículos de outras pessoas, de outras editoras. Ou, até mesmo, na internet, de graça.
Eu envelheci. Talvez nem tanto ainda na idade. Mas, com certeza, já não tenho mais a mesma forma física e mental para as batalhas administrativas dos quadrinhos nacionais. Podem contar comigo para a parte artística mas quando penso em imprimir, distribuir e vender, vem logo aquele cansaço físico e mental comum de quem já teve decepções o suficiente nestas areas.
Além do mais, essas atividades sempre me tiram de meu foco principal que é o de produzir meus roteiros, meus trabalhos, meus quadrinhos.
Quem sabe amanhã eu mude de ideia mas hoje é como eu me sinto." 

Meu chapa Gilberto Queiroz me disse que foi ao Angelo Agostini, uma das mais antigas premiações de quadrinhos brasileiros que há, e que foi legal e havia muito otimismo reinando por lá. Bom saber que os artistas estão com pique, tem que continuar mesmo, nada de desistir, afinal, nessa vida tudo é possível.

Não pretendo parar de criar meus quadrinhos, mas agora faço sob outro prisma, apenas para minha autossatisfação, algo como aquelas esculturas feitas na areia ou no gelo. Trabalhos de terceiros ou parcerias só se me pagarem por isto.

A boa notícia então é esta, a produção de hqs brasileiras vai bem de saúde, a má é que tudo indica que o mercado não sai da enfermaria.


4 comentários:

  1. A Liga do Serrado me fez ver quantas HQs diferentes devem existir pelo Brasil, Schloesser. As grandes editoras não dão conta de tamanha diversidade. Abraço!

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    1. Um detalhe interessante sobre A Liga Do Serrado, Carla, pelo que notei neste vídeo da Michelle, é o acabamento das revistas. Antigamente publicações assim tinham um colorido sofrível num papel vagabundo, hoje elas tem capas cartonadas e miolo couche. O nível de histórias também evoluiu bem. Quanto as editoras eu acho que elas também vem sofrendo com a atual crise e só apostam em cavalos vencedores.
      Um grande abraço e obrigado.

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  2. Oi, Eduardo! Bom texto! Acho que é por aí mesmo, quando você finaliza dizendo a produção de hqs brasileira vai bem ao contrário do mercado. Hoje eu vi a lista de indicações do Sidney Gusman e fiquei assombrado por conhecer apenas uma das indicações entre as 20 que ele indicava. Caramba! E eu pensava que havia comprado alguma coisa neste ano que passou e início deste...
    As coisas mudam organicamente e creio que nada mudará num curto espaço de tempo. Quando mudar talvez nem percebamos. Mas vc está certo. É continuar a trabalhar, pagar contas e fazer quadrinhos pelo amor que se têm a eles.
    Grande abraço!

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    1. Querido Gilberto, já estou até cansado de comentar este assunto. Começo a achar que tem coisas que não são pra ser mesmo. Pelo menos para mim. Mas na boa, pra uns os aplausos e a grana, pra outros a eterna tentativa . Me dei conta de que a gente se acostuma até com o que é ruim. A idade chega e com ela a confirmação de que aquele ônibus tão esperado não vai passar neste ponto.

      Agora o volume do que se tem publicado por aí é surpreendente, não vi a lista do cara que você citou, mas vi a relação dos melhores de 2014 do Pipoca e Nanquim e fiquei boquiaberto com o catatau de lançamentos independentes. Nem tudo me agradou em termos de traço, mas é inegável que há, sim,
      um fenômeno acontecendo que alimenta os que CURTEM fazer e alguns que PODEM consumir HQs. Prova cabal que há criadores competentes e um público que os icentiva de alguma forma. Ampliar o horizonte, divulgar à larga e distribuir território afora, é outra coisa.

      Desculpe o tom amargo. Obrigado e um forte abraço.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...