terça-feira, 8 de setembro de 2015
ZÉ GATÃO - DAQUI PARA A ETERNIDADE ( A GÊNESE DE UMA CAPA )
Um amigo do Facebook visitou a bienal do Rio e se fotografou no estande da Devir com meus livros nas mãos. Fora isto não tenho a menor ideia de como anda minha última publicação, se está sendo comentada por aí a fora, se está vendendo e talz. Uma coisa eu sei, a dita mídia especializada não se pronunciou; também, pra ser sincero, já foi o tempo de me incomodar com isto.
Vamos agora abordar a capa. Desde o princípio eu já tinha em mente o que queria, só não sabia se seria aprovada pelo editor. Mas antes da falarmos sobre a arte, vamos comentar o título.
DAQUI PARA A ETERNIDADE não foi minha primeira opção. Na verdade os dois tomos lançados pela DEVIR eram pra sair num único volume, trata-se de uma única história, e por motivos que só a editora pode explicar foi dividido em duas partes, dai eu queria usar o mesmo conceito nas capas dos dois livros, então como MEMENTO MORI é uma frase em latim eu queria usar uma outra expressão latina no segundo volume. Minha ideia era que fosse TAPETUM LUCIDUM, a camada de células que os felinos possuem no fundo dos olhos permitindo visão noturna (fato abordado no corpo da história). Entretanto me pareceu pouco sonoro e eu me veria obrigado a justificá-lo de alguma maneira (detesto entregar tudo de bandeja para o leitor). Minha segunda alternativa foi Daqui Para A Eternidade, um título que sempre me martelou a cuca. Embora eu tenha sido informado posteriormente que existem músicas gringas com o mesmo nome, a minha inspiração foi o filme clássico "A Um Passo Da Eternidade", com o Burt Lancaster e Deborah Kerr (na verdade o nome original é "From Here To Eternity"). Sempre achei muito legal essa coisa de dar dimensão épica para uma obra. Todavia ainda tive dúvidas entre as duas escolhas e abri votação entre meus irmãos e o editor Leandro Luigi Del Manto. ETERNIDADE ganhou de lavada, só o André optou por Tapetum Lucidum.
Beleza, escolhido o nome, agora era hora da ilustração da capa. Voltando à questão do conceito, se em Memento Mori eu usei o recurso de rostos esculpidos em pedra, o segundo deveria seguir a mesma linha; meu pensamento era algo como escultura em baixo relevo.
Fiz alguns esboços - que não consegui localizar para colocar na postagem - e cheguei mais ou menos onde queria.
Este foi o esboço criado para o editor ter uma ideia do que estava na minha mente.
Um trabalho a lápis mais bem elaborado para ver se a coisa era mesmo viável.
Aprovado pelo editor, comecei a preparação da tela com a arte já desenhada no suporte.
Marcando os traços com tinta acrílica.
Banhando a tela com acrílica.
Iniciando a pintura a óleo.
Pintura antiga usada para a capa de trás.
Pintura pronta. Bastante elogiada pelo Leandro. Esta seria a capa.
Porém o diretor editorial da Devir não gostou muito e propôs mudanças, o que obrigou o Leandro a criar algo para fazer um upgrade.
A solução que ele criou para que não eu não tivesse que trabalhar em uma outra ideia foi colocar um fundo preto para destacar as figuras no círculo.
Minha noção de conceito acabou indo pro espaço, mas não posso negar que a capa final deu um destaque muito maior na minha arte e ficou muito mais bonita.
Queria detalhar mais o desenvolvimento mas tem muito trabalho me esperando.
Até a próxima!
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Boa! Gostei do passo-a-passo! Parece talhado em pedra ou madeira.
ResponderExcluirSe parece talhado em pedra para você, Anderson, então fui feliz na execução do trabalho!
ExcluirValeu!
Oi, Schloesser! Os escritores não confessam, mas costumam pensar que os editores se metem em tudo e estragam as ideias originais. Tenho visto que não é bem isso o que acontece. Um editor competente, com uma boa equipe, aprimora o trabalho. Foi o que aconteceu no seu caso. A capa ficou magnífica porque deu ainda mais destaque a um trabalho primoroso. Parabéns a todos que se envolveram nesse processo!
ResponderExcluirArtista é um caso complicado, Carla. Tenho percebido que a maior parte deles, sejam pintores, atores ou escritores, quando se acham o máximo, tem que ser tudo do jeito deles, não importa o resto. Muitas vezes uma obra valorosa não fica acessível ao público devido ao imenso ego do criador, resta ao editor, ou produtor, ou diretor (que tem uma visão mais comercial) dar uma lapidada na coisa para que fique alcançável ao coletivo. Soube de diretores que fincaram pé para e seus filmes saíssem do jeito deles e os mesmos foram fracassos de bilheteria, versões posteriores editadas pelos produtores foram sucesso. Nem sempre acontece, mas a experiência me mostra que quando você lida com pessoas competentes, os resultados são satisfatórios. Eu tento fazer a coisa rolar conforme eu imagino que vá ficar bom, mas aceito sugestões e mudanças para um resultado bom a todos. Até agora tem dado certo.
ExcluirMuito obrigado pelas palavras.
Forte abraço.