Já comentei à exaustão que o trio que fundamenta o meu modo de fazer HQs compõe-se de Rich Corben, Bernie Wrightson e Tanino Liberatore. Já roubei muito desses três artistas, mas o que sempre me impressionou mais foi o criador de DEN, desde que vi sua arte impressa nas páginas da antiga Kripta da RGE - a número 21, pra ser exato - e fui fisgado de vez ao ver sua arte colorida numa revista importada intitulada 1984, numa livraria; tudo isso nos idos dos 70.
Eu não recordo como, mas eu consegui naqueles tempos a Heavy Metal de Junho de 1979 - aquilo era caro pra burro! - e ali havia o penúltimo capítulo do THE NEW TALES OF THE ARABIAN NIGHTS, SINDBAD IN THE LAND OF JINN.
Foram essas as fórmulas da droga que correu por minhas veias e me deixou viciado em tudo o que o mestre produziu.
Aprendi algumas coisas com Corben, algo que observei, não exatamente nos desenhos, que são inimitáveis, mas no modo de compor cenas, em fazer com que elas fossem factíveis mesmo que o todo parecesse improvável, ou seja, nem sempre a anatomia ou a perspectiva esteja exatamente correta, mas que ela funcione, cumpra o seu papel. Sempre o considerei ótimo anatomista, suas figuras masculinas sempre musculosas (ele era entusiasta do fisiculturismo) soavam muito mais reais do que os feras como John Bucema ou Neal Adams. Muito bom roteirista, tinha ótimas ideias, principalmente nos seus primórdios, no período em que ele atuou em publicações undergrounds como Weirdon, Fantagor e Slow Death. Histórias como Rowlf, Cidopey e o Crepúsculo dos Cães, comprovam.
No entanto apesar do desenho, ao meu ver, irretocável, nem todas as histórias me agradaram incondicionalmente. Como meu inglês sempre foi ruim, baixei há uns anos uma versão do New Tales Of The Arabian Nights em espanhol e pude compreender melhor o argumento e não curti, a culpa ali não cabia ao Corben, mas ao seu amigo roteirista Jan Strnad, achei básico demais para uma arte tão primorosa. O mesmo sinto em relação ao Den, os dois primeiros números ainda passam com louvor aquela atmosfera de fantasia bárbara mesclada com sci-fi e terror, mas as edições seguintes me soam confusas (mais uma vez Rich trabalhando com outro roteirista, neste caso com Simon Revelstroke). Mas ele se saiu bem ao lado de Bruce Jones, com Rip In Time, por exemplo.
Com seu falecimento em dezembro de 2020 eu supus que a maioria dos seus álbuns (que fizeram mais sucesso na Europa do que em seu país de origem) fossem ser republicados após anos sem reimpressões e não me enganei. Na França já haviam restaurado O MUTANT WORLD e BLOODSTAR e publicados via financiamento coletivo em tomos luxuosos a um preço inimaginável. Agora a Dark Horse trás ao público uma nova versão de MURKY WORLD e os volumes de DEN são restaurados e voltam a ser impressos a partir de agosto. Essas obras do Richard estiveram sem republicação por mais de 40 anos! Bom para os fãs e para a família e talvez para uma nova geração de leitores de quadrinhos. Digo talvez por sempre sentir que a obra do Corben é melhor apreciada pelos seus pares do que pela grande maioria dos consumidores de gibis, que sempre enalteceram Jim Lee e tais como ele. Lembro quando uma editora brasileira trouxe o RAGEMOOR, muitos comentários foram do tipo: "a história é legal, mas os desenhos são meio estranhos".
Tirando meus exemplares da estante e das caixas para fotografar e mostrar a vocês a minha coleção Corben, senti o desejo de voltar a fazer as minhas HQs; a verdadeira arte para mim tem esse poder, de inspirar. Já comentei com vocês o meu plano de fazer uma antologia de contos em forma de quadrinhos, um grosso volume que provisoriamente, na minha cabeça, chamo de HISTÓRIAS DO FIM DO MUNDO, um apanhado de bizarrices sem nenhum respeito pelo politicamente correto. Mas confesso que depois do primeiro entusiasmo eu me lembro que vivo num país chamado Brasil, num tempo onde programas de computador fazem artes, escrevem textos e criam músicas. Somado a isso, não tenho mais energias ou tempo para viajar em minhas ideias, quase falido financeiramente, existindo ainda única e exclusivamente pela misericórdia de Deus; então, como dar vida às essas veleidades? Como publicar depois de anos laborando madrugada à dentro? Lembrando que de PHOBOS e DEIMOS só foram impressas 50 cópias após 15 anos de sua criação e ZÉ GATÃO-SIROCO até o momento nem tenho notícias! Talvez seja melhor eu manter Histórias Do Fim Do Mundo fechado dentro do porão da minha mente. O tempo dirá.
Fica aqui mais uma vez o meu agradecimento ao Richard Corben por fazer parte da minha conturbada vida e ter me inspirado a criar algumas coisas para eu não passar por esse mundo como uma mera sombra.
O primeiro volume de Den foi-me presenteado por meu old pal Luca quando ele voltou da Inglaterra no final dos 80 e guardo com muito carinho. |
A edição Max (Lovecraft) meu saudoso irmão Agildo trouxe para mim dos EUA. |
Esta versão de BLOODSTAR foi também presente da Mira Werner, é a primeira edição em preto e branco lançada em 1979. |
Esta série do Hulk foi publicada pela Panini Brasil em volume único. |
A mesma dupla da série Banner (Azzarelo e Corben) retornam na inauguração do selo Max da Marvel com Cage. Pra mim, um erro não publicarem todas as capas do Rich. | |
Nas edições da Marvel (Planeta Hulk) tem o Motoqueiro Fantasma desenhado por Rich, e no volume da Pixel, O Monstro do Pântano. |
DEN SAGA, um retorno um tanto irregular. |
Parabéns pela coleção! Eu entendo 105% seu entusiasmo inicial em retomar suas histórias ser destruído pela constatação de que desenhará para a gaveta. Por isso eu me aposentei: tenho ideias novas todos os dias, mas ultimamente tenho ignorado todas, e, diferentemente do que sempre fiz, não as anoto mais para posterior desenvolvimento. Acabou! Meio século desenhando sem nenhum retorno ou alegria prática (leia-se publicação), chega! O mundo é um chiqueiro, e a vida é uma porcaria!
ResponderExcluirEstou totalmente de acordo com você meu caro. O que faço hoje ainda é porque me pagam para fazer, do contrário eu daria um jeito de sobreviver de outra forma.
ExcluirGrato pela força e tente sobreviver na medida do possível.
Escrevi a palavra sobreviver duas vezes quase seguidas, desculpe, minha cabeça está péssima!
ExcluirAS SEMPRE BOAS E BELAS PALAVRAS DO MEU IRMÃO LUCA FIUZA:
ResponderExcluir"Boa noite, meu velho. Seu post me trouxe recordações de outros tempos, cheios de quimeras hoje desaparecidas. O Artista deixou sua marca e impulsionou o nosso amor pelo desenho e você foi ainda mais longe. Enquanto a Arte dele perdurar nestas iniciativas que você citou e dele sempre nos lembrarmos, o grande legado por ele deixado continuará vivo."
Corben tinha um estilo brutalmente expressivo, é verdade. Lembro que uma Wizard Brasil da Panini publicou uma hq curta policial+terror com o Espectro que fez pra revista Solo (da DC).
ResponderExcluirO mencionado Jan Strnad, pesquisando aqui, vi que trabalhou também em séries animadas pra TV, veja só! É claro que ele escreveu a hq Monstros na edição 02 (ilustrada por Corben) e a Monstros do Armário na nº 04 (ilustrada por Kevin Nowlan), ambas da minissérie Batman: Preto & Branco.
A Solo é uma das edições de Corben que tenho e que não consegui localizar no meio de minha bagunça, assim como Batman Black and White, entre outras da Vertigo. Agora essa edição com o Spectro eu não possuo, só em scan.
ExcluirAbraço!