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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DOM CASMURRO ( 06 )

Realmente a idade está me afetando, que incrível isso, sentir assim a passagem do tempo, o desgaste físico meio que de uma hora pra outra! No meu caso, sinto que o envelhecimento não veio assim, gradual. Parece ter chegado de sopetão. Digo isto, por ter tido poucas horas pra dormir esta noite, e hoje sinto-me acabado,
 aéreo, sonolento. Também pode ser o acúmulo de atividades nos últimos tempos somado a pressão do dia a dia, quem sabe? 
Me lembro de uma época (1986) em Brasilia, que saía de casa às 6 da manhã, ia ao Clube do Congresso malhar, lá mesmo tomava banho e ia trabalhar numa pequena agência de publicidade que ficava na Asa Norte. Ao meio-dia eu corria pro Senac bater meu ponto, ia pra cantina almoçar e depois trampava 7 horas corridas. De lá, voava pra a faculdade. Chegava em casa por volta de meia noite. Mais um banho e cama.
Relaxar mesmo, só no fim de semana vendo televisão com meus irmãos. Este rítmo durou perto de oito meses; depois, aqueles sucessivos planos do Sarney fizeram a tal agência ir à bancarrota. Mas o caso é que eu aguentava a correria numa boa. Isto, inclusive quando eu ainda não tinha namorada. Não demorou muito arrumei uma e aí nem nos fins de semana eu respirava tranquilo. A gente acampava, ia a clubes, parques, festas, coisas que normalmente sózinho eu não faria.
Hoje... bem, hoje não é mais assim. A vida segue seu curso.
E já que o momento é para reminicências, vamos emendar os assuntos.
As artes de hoje são duas cenas importantes da obra máxima do Machadão. Numa, Bentinho pensa em envenenar seu filho, ou o filho que ele pensa que é do rival. Na outra, durante o velório de Escobar ele pensa que lê a paixão escritos nos olhos (de ressaca) de sua esposa pelo defunto.
Cenas de velório me causam má impressão, aliás, a todos imagino eu, mas o engraçado é que sou conhecido por criar nas minhas hqs, cenas de violência extrema, e no entanto me sinto incomodado com um funeral.
Acho que é porque, malgrado a crueza das cenas que desenho para minhas estórias, eu sei que aquilo não passa de fantasia - doentia, pode ser - mas ainda assim, uma forma de exorcizar certos males, como que passando pro papel, aquilo que vai no interior, como regurgitar um alimento mal digerido. Agora, velório não, ali é diferente. Real, pálpavel.
A Bíblia nos diz em Eclesiastes, que melhor é estar na casa do luto que na casa da alegria, pois ali o homem se dá conta da sua efemeridade.
Pode ser também que isto se dê comigo por ter um certo trauma. Minha avó materna me levou muito a velórios quando eu era gurizinho. Brrrrr, é verdade, ela tinha esta mania, ia até em enterro de desconhecidos (e pior, chorava como se os conhecesse), e como eu ficava junto dela durante a semana, lá ia eu naquelas casas do interior, me impressionar com os cheiros de cravos, as cores roxas, os presuntos inchados dentro dos caixões e as pessoas se lamuriando. Nem sei se meus irmãos tem conhecimento disso, mas lembro que minha mãe tinha discussões homéricas com minha avó por causa destes fatos.
Bem, um papo mórbido como este não deve estar interessando a vocês, e.... bem, nem sei por que abordei este assunto hoje. Seria catarse ou foi por causa da ilustração? De qualquer forma este espaço, creio, também serve pra isto.
Forte abraço a todos.


4 comentários:

  1. Eu já fui em dois velórios.
    Mudando de assunto...
    Valeu pelos comentários no meu blog. Todos ficaram visíveis.

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  2. De nada meu amigo.
    E quanto aos velórios, seria muito bom se nunca mais tivéssemos que ir a um.

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  3. Fala, Eduardo! Tb fui muito a velório quando menino, talvez não tanto quanto você...Hoje dificilmente vou. Á vezes chego (quando parente próximo) só na hora do enterro. É uma tradição mórbida.
    Bacana as ilustrações, captou bem as expressões requeridas.
    Bom final de semana.

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  4. Ééééé...Sabe Gilberto, as vezes fazendo uma auto análize, eu arriscaria dizer que minhas idéias sobre a morte são oriundas desta época, ou não, uma vez que o espectro da morte afeta a todo ser humano.
    Tenho uma HQ inédita que versa sobre este assunto. Tomara que um dia ela venha a público.
    Grato pelo elogio e pela visita.
    Abração.

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