Nem sei porque resolvi postar algo sobre um assunto que a rigor nada tem a ver com arte. Mas... será que não? Pelo menos com a minha arte parece ter. Analisemos: Eu fiquei conhecido no reduzido mercado de hqs no Brasil, por causa de um gato antropomorfo, um personagem misântropo que a todo instante é perseguido, provocado e pressionado. Seria este um refexo da minha própria vivência? A tônica de Zé Gatão é sobreviver num mundo totalmente hostil, onde não existe lugar seguro. Parece familiar pra você?
No início deste texto eu usei o termo ser vivo e não ser humano, pois a prática do bullyng existe também entre os animais dito irracionais. Bully quer dizer "tiranete" ou "valentão". Usei também o termo covarde, não foi? Pois sim, estes opressores nunca estão sózinhos, já repararam?
Em 1971 eu estudei no Colégio João kopke em São Paulo, um ambiente bastante carregado já naquela época, posso garantir. Em 73 fui para o tradicional Colégio Caetano de Campos que ficava na Praça da República, e era comum ver aquela molecada se esmurrando para o contentamento dos demais que formando um espesso círculo em volta dos contendores, para impedir a passagem dos bedéis, gritavam em uníssono: BICHA! BICHA! BICHA!
Lembrando hoje pode até ser engraçado, mas é triste notar como isto abala um individuo ao ponto de comprometer toda a sua vida (vide o irmão do Robert Crumb). Eu tinha um amigo judeu que se arruinou ao ser perseguido por um destes grupinhos de idiotas.
Em 75 nos mudamos para Brasilia e fui estudar na Escola Classe 104 Norte, e ali sim a coisa era pesada. A medida que vamos ficando mais velhos a coisa se torna mais séria, mais intensa. Certa vez cheguei em casa com um olho roxo após uma briga com um valentão e seus camaradas. Omiti o fato em casa, disse que havia esbarrado com um outro garoto durante uma brincadeira de pique-pega. Porquê? Olhe, pelo relacionamento que eu tinha com meu pai, desde cedo ficou claro que eu teria que resolver as coisas eu mesmo.
Na Capital Federal por haver mais cacique que índio e consequentemente maior impunidade pra tantos e tais abusos, o quadro parece ser pintado com tintas mais fortes. Contudo, na minha adolescência tudo acabava pra depois recomeçar, mas raramente os resultados eram nefandos. Muitos garotos viravam amigos depois de provados pelo fogo. Hoje a coisa termina com tiro e facada. Não penso que a violência tenha aumentado e sim que o mundo diminuiu e nossa tolerância à coisa se exacerbou. Hoje os individuos violentam seus semelhantes, gravam pela câmera de um celular e exibem via internet e nos divertimos.
Creio que quando Jesus disse que no final dos dias o amor de muitos esfriaria, Ele também se referia a isto.
Bullyng é uma prática milenar, quando seu intúito não é apenas a lei do mais forte pura e simples, ela também é uma espécie de ritual de iniciação onde um individuo ou mesmo um grupo deve passar para ser aprovado pela maioria, seja numa escola, bairro ou mesmo numa empresa. Sim, pois a coisa não acaba com a chegada da vida adulta. Nos quartéis, nas universidades lá estão eles para te fazer passar pelo "corredor polonês" ou pelo "trote".
O triste é olhar pro horizonte e notar a grande tempestade que se aproxima e não ter onde se abrigar.
Realmente, bullying não está com nada e quanto mais isso é divulgado, mais o praticam, afinal tudo que vira "moda", esse bando de imbecis que são a nossa juventude, copia.
ResponderExcluirAh, e eu também estudei no João Kopke, só que em 1985. Escola horrível, ambiente pesado, alunos que não escondiam o estado de miséria material e espiritual em que viviam. Não quero nem lembrar! Ainda bem que foi só um ano.
Abraço!
EXCELENTE post, Eduardo, extremamente apropriado - Bullying é um problema sério, e o pior é quando os adultos responsáveis falham em identificar e corrigir esse comportamento nos jovens, especialmente no ambiente escolar.
ResponderExcluirA ilustração do post está PERFEITA - Acertou na mosca o tema, e é uma AULA de como arte-finalizar um desenho. Como sempre, aliás!
Grande abraço,
J.
P.S.: Desculpe o sumiço dos comentários, andei correndo pacas esses últimos dias!
E meu irmão caçula também estudou no João Kopke, só que em 1992. Não tinha mudado nada. Triste isso.
ResponderExcluirObrigado pela visita.
Abç.
Falaí James. Bom te ver de volta man, realmente brother, eu penso que a coisa só vai piorar. Temos que ficar de olho em nossas crianças. Minha filha também foi vítima de perseguição por uma menina mais velha no ensino médio. Lamentável, até os professores hoje tem medo dos alunos. Aff.
ResponderExcluirBrigadão pelos elogios.
Forte abraço.