terça-feira, 22 de março de 2011
AS MAIORES HQS DE TODOS OS TEMPOS ( SPIRIT )
A primeira vez que vi a figura da imortal criação do Will Eisner foi no início dos anos 70 numa banca de jornais no centro de São Paulo. Era o lançamento do Gibi Semanal da RGE. Uma revista que teve ampla divulgação, com propaganda na televisão, inclusive. Aquele certamente foi um ítem que cobiçei mais que qualquer outro, mas como muitos do período (haviam Tintin, os Almanaques Disney, a coleção os Bichos, as revistas do Judoka e etc), era impossível possuir. Não havia condições financeiras para tanto, de forma que só fiquei na vontade mais uma vez.
A figura do Spirit chamou a atenção logo de cara; um sujeito com pinta de detetive dos anos 40, usando máscara! Contudo, só foi em 1975, assim que cheguei em Brasília, que pude folhear uma edição especial da RGE dedicada ao enigmático herói. A capa
era algo semelhante à ilustração que vemos ao lado. Não vou aqui me delongar fazendo um tratado sobre a fantástica arte de Will, que tive o prazer de conhecer numa das vezes em que ele esteve no Brasil (tema para uma outra postagem, quem sabe), seu tratamento de luz e sombra, seus inusitados e ousados enquadramentos que influenciaram minha arte ( e 90% da população que ousa fazer quadrinhos). Falar sobre estas coisas seria seria inútil e outros mais gabaritados já o fizeram, só posso dizer que o impacto que me causou foi tamanho, que de início repudiei o material. Esplico: eu estava costumado aos desenhos clássicos do Sy Barry no Fantasma, ou do Raymond com Flash Gordon. Daí, ver tipos caricatos com aquele tratamento cinematográfico num ambiente realisticamente violento, foi demais
pra mim. Eu não sabia que existia algo como aquilo em quadrinhos. A coisa não me saiu da cabeça.
Não sei dizer quanto tempo depois a mesma editora colocava na praça uma nova edição do heroi. A capa chamava a atenção por mostrar um Spirit com roupas rotas, rosto em pânico, fugindo de um trem num trilho suspenso.
Mais uma vez não comprei a revista. Dei prioridade à coleção das revistinhas dos heróis marvel que saíam pela Bloch.
Nestes tempos meu pai, numa de suas muitas tentativas de fazer dinheiro extra, arrendou uma chácara de um amigo dele do ministério, para criar animais como coelhos, porcos e aves, dentre elas, codornas, galinhas d´angola e frangos principalmente.
Naqueles dias, minha avó materna ainda caminhava pela terra fumando cigarros de palha e assoviando antigas modas de viola.
Eu e ela fomos encarregados de cuidar e tratar dos bichos nos fins de semana, quando eu não tinha aula, e claro, no meu período de férias. Como podem ver eu comecei a trabalhar aos 12 anos.
Todos os dias levantávamos bem cedo para dar de comer aos três suínos, aos coelhos (estes eu não lembro quantos haviam), e às aves. Limpávamos o chiqueiro e o galinheiro. Feitas estas tarefas, que duravam até mais ou menos metade da manhã, eu e ela não tínhamos muito com o que nos ocupar, geralmente ela ia pescar, coisa que ela adorava e que para mim era entediante, num rio que dividia propriedades. Não havia luz elétrica. De madrugada, eu, insone, ouvia sons do lado de fora da casa. Na minha mente infantil, eu imagina que podia ser um foragido da policia procurando esconderijo ou alguma fera selvagem como onça ou lobo guará. Poderia contar casos interessantes deste período mas fica para outra ocasião. O caso é que certa tarde, sem ter o que fazer e farto de nadar na picina de água corrente que havia por lá, remexi numa caixa que havia num quarto e me deparei com um exemplar do Gibi Semanal (estava sem capa por isto não sei dizer o número), devorei as histórias mas a que me pegou de vez pelos colhões foi uma do Spirit intitulada "A História de Gerhard Shnobble". O que mais me chamou a tenção foi o aviso do Eisner na página de abertura, é que aquela não era uma história engraçada, e pedia pra não rirmos. De fato eu não ri, mas senti vontade de chorar. Fiquei fascinado por aquela HQ, até hoje sou. Não sei dizer quantas vezes eu a reli ao longo da minha vida, a emoção sempre foi a mesma. Há controvésias em relação a esta HQ em particular, dizem que neste período Jules Pfeifer criava muitas histórias do Spirit e que esta seria uma delas, outras afirmam que Will a fez sózinho. Bem, isto pouco importa, o caso é que a partir daquele dia eu descobri que era aquilo que queria fazer da minha vida. Histórias em quadrinhos que pudessem ter um por cento das emoções que a leitura daquela fábula me despertaram. Sei que até hoje não consegui, mas continuo tentando.
Em 1976 nos mudamos da Asa Norte pra Asa Sul. Na nova quadra travei amizade com um garoto que se tornou um amigo do qual não se pode esquecer e que foi também uma das pessoas que mais contribuiram para que eu fosse um desenhista. Ele tinha um exemplar do Spirit da Warrem. A capa chocante mostrava o herói desta vez preso por punhais ao logo que trazia seu nome e estrangulava um meliante com as pernas.
Foi aí que comecei a fazer minhas próprias histórinhas em cadernos de escola. Criei um personagem chamado "O COBRA", uma cópia pra lá de requenguela do Spirit, e se colocar máscara era "copiar" demais eu pus óculos de sol que meu herói não tirava nem pra tomar banho. No começo, claro, era aquela coisa bem ximfrim mas depois a coisa foi amadurecendo e tive até umas sacadas legais para o período. Claro que era só uma brincadeira pra desabafar e me divertir. Acho até que aqueles cadernos nem existem mais.
Dos volumes citados aqui, nunca possuí nenhum. Anos mais tarde eu comprei os cinco álbuns editados pela LPM, que aliás são ótimos. Depois aquelas edições da NG, em seguida os 16 números lançados pela Abril e por fim os seis revistas publicadas pela ACME. Nunca entendi porque o Spirit não fez sucesso no Brasil.
Tentaram ressuscitar o mascarado do Will com outros autores e desenhistas, teve até uma versão contemporânea com o Darwyn Cooke que é até legalzinha, mas nada que possa se comparar com as narrativas criadas pelo mestre Eisner. O tal filme do Frank Miller eu não assisti e nem pretendo.
O que posso dizer é que se um dia eu tentei fazer quadrinhos, boa parte da culpa cabe ao Spirit.
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Falaí... Olha só, outro fã "indireto" do ESPRITO (porque SPRITE é refri. HEHEHAHAHA! Não resisti!)
ResponderExcluirA 1° vez que vi (não li) o detetive foi no X- TUDO de 1992, que tinha um bloco sobre HQS e em outras vezes, falou até de DREADSTAR, NATHAN NEVER, TINTIN, MARVEL FORCE, ASTÉRIX...
E só voltei a vê-lo (em 1995) num anúncio da DEVIR, que editava livros de RPG.
LOURENÇO MUTARELLI disse pra uma WIZARD BRASIL que também leu e se comoveu com a hq do GERALD.
Um publicitário/quadrinhista chamado RENATO MOTTA (de PORTO ALEGRE, que adaptou o livro SALAMANCA DO JARAU de JOÃO SIMÕES DE LOPES NETO), também leu a mesma história e me disse (numa FEIRA DO GIBI) que, nas palavras dele, é "Linda... Linda... Maaas, triiiiiiste!"
Como te falei, eu acho... só me fantasiei de SPIRIT por conta do visual, não daquela nhaca- que-parece-um-SIN-CITY-2-BASTARDO do MILLER.
Se não pretende assistir, que bom! Escolha OS PERDEDORES e/ou KICK-ASS. Se já não viu estes, eu recomendo! XD
Fala, Eduardo! Will Eisner é leitura obrigatória. Minha situação é parecida com a sua, no que diz respeito ao impacto do Spirit na nossa vocação. Sempre curti super-herói, desenho clássico, Joe Kubert, Russ Manning, Alex Raymond, etc... e a arte do Spirit, apesar de genial, pareciamnão se enquadrar... Mas mesmo assim eu comprava. Tenho essa edição da LPM c/ o Spirit agarrando o meliante pelas pernas, As edições da Abril, uma da NG e por aí vai. Li também um álbum que saiu pela Abril, "O edifício", que, infelizmente perdi em um empréstimo e que ainda me emociona muito. Recentemente, a biblioteca municipal começou a receber os álbuns do Eisner e tenho lido todos.
ResponderExcluirAbração,
Salve ANDF.
ResponderExcluirRapaz, não vi perdedores, mas pretendo.
Quanto ao Kick Ass, assisti e achei legal. Confesso que esperava mais, mas achei legal. Não tem como não apaixonar por aquela garotinha. E já vou avisando que não sou pedófilo.
Valeu.
Digaí, grande Gilberto.
ResponderExcluirO Edifício não foi reeditado recentemente?
Bem, não ele sózinho, mas todo material cuja "cidade" é o personagem nas narrativas do velho mestre, chamado de New York, pela Cia. das Letras. Dá uma conferida. É material que vale a pena ter na estante.
Abraços.
Também gosto da HIT-GIRL.
ResponderExcluirMatadora fofinhaaa... =^_^=
Claro que, pelas fotos que vi, KICK-ASS impresso é sangrento demais e o BIG-DADDY não se parece com o BATMAN (NICOLAS CAGE ARREBENTOU!!! XD).
Ando lendo as hqs do SPIRIT, de DARWIN COOKE e de outros (pela DC/PANINI). Só não consegui aquelas dos anos 90 (da extinta KITCHEN SINK PRESS), que a DEVIR recém-lançou num álbum, com material até dos autores de WATCHMEN.
Este livro da Kitchen Sink Press que a Devir lançou é legal. É interessante ver o Spirit pelas mãos e mentes de outros artístas, mas não é isto tudo não, pelo menos não dá para comparar com a fase áurea do Eisner.
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