quarta-feira, 5 de outubro de 2011
HOJE O INCONVENIENTE SOU EU ( E MAIS SARGENTO DE MILICIAS )
No post de ontem comentei sobre alguns "malas", estes tipos "sem noção" que nos pegam no pé, muitas vezes sem se dar por isto. Assim que saí do computador comecei a refletir sobre o assunto e cheguei a conclusão que em muitas ocasiões eu também protagonizei este papel.
O frade acima é uma das ilustrações criadas para Memórias De Um Sargento De Milicias, parece descoroçoado, né? Ele lembra a mim mesmo em algumas situações, vamos a uma delas:
Excetuando o índio que pensou que fosse meu amigo, a maioria dos tais malas na minha vida foram pessoas que admiravam minha pessoa ou meu trabalho. Vendo por este prisma, com certeza eu já fui inconveniente uma pá de vezes. Por exemplo, no início dos anos 90, eu ia ao estúdio que o Arthur Garcia dividia com seu saudoso sócio e amigo João Pacheco em pleno horário de trabalho e ficava lá por horas a fio atrapalhando os caras. Eita mala sem alça e sem rodinha!
Já fiquei na casa do Gualberto Costa até tarde da noite, e abusei da generosidade do Franco de Rosa. Mas o fato mais gritante se deu com um dos maiores quadrinistas deste país, vou omitir o nome, ok? É mais saudável a todos.
Conheci este artista muito badalado por público e crítica ainda na Gibiteca Henfil, em tempos nada aprazíveis. Como achei que nossas formas de criar HQs eram muito similares (não na forma, mas no conteúdo), tentei fazer amizade no melhor estilo Gasparzinho. O cara nunca ficou a vontade comigo, mas achei que era só coisa da minha cabeça, então sempre que uma oportunidade se apresentava, lá estava eu tentando entabular uma conversa. Ele era muito agradável, chegou a me ligar umas duas vezes, uma delas inclusive para repassar um trabalho, mas eu sentia que alguma coisa não estava certa, havia sempre a sensação de que eu queria me impôr na vida dele. Não havia nenhum interesse da minha parte, só a de ser chegado mesmo, por admirar o trabalho e me identificar, em parte, com sua história de vida.
Num dos festivais de HQ que era realizado no Recife (pena que não tem mais) ele foi um dos convidados e lá estava eu. Ele foi bastante cordial e como eu estava desenvolvendo um novo álbum, levei alguns dos originais para ele dar uma olhada. Fomos até o seu quarto de hotel onde ele leu atentamente uma das histórias e me despedi quando ele se dirigia para umas das suas palestras. Na verdade eu colei no cara, hoje penso que deve ter sido um alivio para ele quando me despedi.
O encontro seguinte foi no apartamento dele em São Paulo numa manhã, levei um dos meus álbuns de anatomia assinado (que ele pediu). Conversamos bastante e ele riu um monte com alguns relatos picarescos da minha vida. Me mostrou um álbum ainda em andamento, desenhos (alguns pornográficos) nunca publicados, todos sensacionais. Como eu não dava mostras de ir embora ele disse que teria que sair dali a pouco; neste ínterim, a esposa dele chegou, me cumprimentou, ficou sentada na cozinha e de lá não saiu. Meu desconfiômetro começou a se regular e eu pedi pra ir ao banheiro antes de ir embora. Me despedi e me mandei. De novo penso que o cara deve ter suspirado de alívio. Liguei para ele um certo dia e notei frieza. Desisti. Nunca mais o procurei. Amizade é uma coisa que não se impõe, se conquista, e a dele eu nunca tive, hoje sei disso.
O curioso é que eu NÃO sou do tipo muito sociável, mas se gosto de alguém, pareço aquele cão fiel.
Bem, chega de dar a cara a tapa por hoje.
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Fala, Eduardo! KKKKK; ri muito com seu relato. Puta coragem. Digo, admitir que pode-se ter sido mala assim em público. Mas eu compreendo. A linha que cruza o mala do fã e amigo mais fiel pode ser muito tênue. Também não sou perfeito. Na verdade sou bem ranzinza, kkk. Ontem a Graça me disse isso. Estava de mau humor e ela me disse que minha imagem na internet não mostra isso. Fiquei preocupado: será que estaou sendo falso? kkk.
ResponderExcluirMas acho que deve ser normal. Somos humanos, afinal.
Valeu por compartilhar esses relatos.
Abração,
Salve, Gilberto.
ResponderExcluirSabe, creio que todos nós temos esse lado tiete, e isto muitas vezes nos torna inconvenientes, acho até normal, mas tem cara que exagera. Um grande artista das HQs, que é fã do meu trabalho, pra desespero da minha esposa, quando ia me visitar, só saía da minha casa após uma da manhã. Pode?
Abração amigo e obrigado.