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terça-feira, 19 de outubro de 2010

A BANCA OLIDO.

Cá estou eu diante do computador, pensando em como começar a postagem, em busca de uma frase que sirva como tiro de partida, e eu pareço oco. Não consigo me concentrar, não tenho ficado muito tempo na prancheta pra dar direção certa a várias artes pessoais inacabadas. Sim, porque os trabalhos encomendados e remunerados resolveram dar um tempo da minha vida. É sempre assim, depois eles sentem falta da mão que lhes dão formas e voltam a me rondar, geralmente quando estou a beira da ruína, com minhas contas todas atrasadas, onde a subida é mais dolorosa. Paciência. Foi assim a vida toda. 
Pronto, achei o fio da meada, já posso começar o que me propus, continuar a narração da minha saga: Meu recomeço em São Paulo.
Eu não me sinto a vontade escrevendo. Isto é para os escritores e poetas. Nem sei direito porque mantenho este blog, várias pessoas me disseram que era importante pra divulgar a minha arte... putz, minha arte, como esta frase me soa pedante! Mas vá lá, que seja, então eu deveria mostrar um monte de desenhos e nos últimos tempos o que faço aqui é bancar o hipócrita dizendo que não gosto de me expor e agora não faço outra coisa. Eu justificaria que parte, senão tudo que produzo, é resultado direto do que se passa comigo. É assim com todos, diria você. Será? Bem, alguém parece gostar do que escrevo. Então vamos lá.
O Livro de Eclesiastes, disserta de maneira contundente e profunda, o sentido da vida. Quem tiver discernimento para entender, entenda. Lutamos como os leões nas savanas por nossa sobrevivência (a nossa e de nossa prole).
Tendo ciência de que o tempo (este grande carrasco), não espera por ninguém, fui a luta logo cedo. Trabalhei numa série de coisas. Meus primeiros trampos foram ao lado do meu pai, e sobre estes, não falarei hoje. Na selva de pedra, fiz estampas pra camisetas, capas pra revistas e uma série de ilustrações pra publicações diversas. Contudo nunca pude manter uma independência. Quadrinhos? Você conhece alguém que ganhe a vida com isto aqui no Brasil? Dizem que está melhorando. Veremos. 
Em 1994, um cara (tenho evitado nomes) dono de uma banca de jornal, (eu já o conhecia a tempos), me chamou para uma conversa. Sabendo ele das minhas dificuldades em me manter só com ilustração, me propôs alugar a sua banca, uma vez que ele mesmo já não aguentava mais o negocio. Agradeci e pedi pra pensar um tempo. Sozinho eu não daria conta do recado, consultei meus irmãos e perguntei se estariam nessa comigo. Nunca me desapontaram, então topei. Arrendei a Banca Olido, na Avenida São João, quase em frente a galeria do rock, por 800 reais mensais, mais 100 de telefone. 
Como a banca estava sucateada e afundada em dívidas, ficou acordado que eu não o pagaria nos primeiros meses até que ela estivesse recheada de mercadorias e livre das dificuldades financeiras. Também não lucrei nas primeiras estações. Mas aos poucos ela foi tomando forma de uma banca com muitos títulos. 
Alguns estabelecimentos destes se especializam em jornais, apostilas e etc, eu quis recheá-la de histórias em quadrinhos. Abasteci o local com HQs nacionais e importadas. Semanalmente eu ia na DEVIR, pra atender os clientes que iam crescendo a olhos vistos. Nossa meta ali era, pontualidade, bom atendimento e mercadoria de qualidade.
Antes de continuar, um adendo, se é pra me expor então vamos completar a obra. As duas fotos que ilustram a postagem de hoje mostram dois momentos, de manhã, na hora de abrir e a noite perto da hora de fechar.  
Esta foi a minha primeira tentativa de trabalhar com comércio.


A coisa parecia dar certo. A freguesia aumentou. Tanto que sem planejar, "roubei" parte dos clientes da Livraria Muito Prazer, a minha concorrente direta. Meu dólar era um pouco menor que o cobrado por eles, esta era a razão. Mas foi uma concorrência saudável, quando eu não dispunha de determinado título eu os indicava e vice-versa. O que nós ganhávamos ali era aplicado em mais revistas. Lembro que aos sábados uma multidão de garotos acorriam ao local para troca de cards (uma das febres do período).
Trabalhando num local assim, você se vê inserido numa realidade diferente da que está acostumado, toma-se conhecimento que existe um traficante na área, bons e maus policiais, torna-se testemunha de muitos fatos que são comuns em filmes de vigilantes. Procurei não me contaminar. Nada de muito papo com ninguém. Nada de putas ao redor. A noite a coisa pegava. Não podia ficar aberto até muito tarde. Conheci um cara que arrendou um bar e permitiu que os nigerianos tomassem conta do local. Fracassou no negocio. 
Afinal, você me perguntaria, deu certo a empreitada? 
NÃO. 
Eu tinha muita mercadoria não consignada. Todos os títulos da Meribérica e alguns álbuns especiais eu tinha que pagar a vista ou assinar promissórias. 
Meu irmão recebeu a grande noticia que tinha sido aprovado no vestibular para medicina, e não pode mais nos ajudar. Ficamos eu e o caçula pra tomar conta do negócio.
Naqueles dias, o FHC veio em rede nacional, exortar a população brasileira que refreasse o consumo para evitar a volta da inflação.
Eu me vi assim, vendendo num dia em torno de 400 ou 500 reais diários e no seguinte uma queda para 100, 120 reais. E estava com uma banca cheio de importados de qualidade pegando poeira e as letras vencendo. O aluguel do lugar era alto, e eu tentei resistir como pude. 
É um serviço cansativo e emburrecedor. Não há tempo pra nada. Não lia mais, não desenhava, não ia mais ao cinema. NIENTE. Acordava por volta de 5:30 para abrir as 6:00. Procurava a noite, morto de cansado, dormir cedo, mas em casa isto nunca foi possível. Estávamos exauridos.
Para muitos que pareciam ser de confiança, nós vendemos fiado, nem todos voltaram pra pagar.
JOGUEI A TOALHA.
O pouco que pude guardar no banco, eu tive que retirar para quitar algumas notas. Peguei um dinheiro emprestado com dois amigos e nunca pude pagar de volta. Tudo para poder devolver a banca para seu dono sem dívidas.
Um dos caras que me emprestou dinheiro, além de amigo, era fã do meu trabalho, não quis que eu o restituisse. O nome dele? Nelson Modesto. Tenho com ele uma dívida de gratidão eterna. 
Sinceramente? Acho que fui muito ingênuo. Um total incompetente pra um serviço como este. 
Na verdade, voltar para minha atividade natural foi como uma libertação. 

4 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Pôxa, que pena que a banca não deu certo...
    Um dos meus sonhos de criança e até de adolescente era ter uma banca, trabalhar com todos aqueles quadrinhos e revistas, kkk. Mas hoje sei que o fator dedicação não combinaria com o que realmente gosto de fazer. Acho que nessa época não o notei, pois acho que já ia à Galeria comprar material p/ o silk.
    Ainda não li o Zé Gatão. Acabei correndo nas compras p/ assistir uma palestra do Joe Bennet no auditório da Fest comics e fiquei sem comprar. Uma próxima vez...
    Continue com o blog, que tenho certeza, fará muita diferença na vida e no trabalho. Já tenho o meu faz alguns anos e me serve de norteamento. É ruim se expor demais, mas na medida certa, faz muito bem compartilhar algumas coisas, e é claro, conhecimento.
    Abração,

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  2. Sim, Gilberto, a banca não vingou mas serviu de experiência, ou seja, não sirvo pra comerciante.
    Quanto ao Zé Gatão, eu citei porque sempre digo que meus cursos, embora eu os crie com a máxima satisfação, é uma das formas de ganhar dinheiro, mas meus quadrinhos, eu crio por paixão. Aqueles nascem da cabeça, estes são gerados nas entranhas.
    Quanto ao blog, vou mantendo enquanto puder.
    Obrigado pelo constante incentivo.
    Um forte abraço.

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  3. Puxa, já devo ter comprado coisas com você, Du! Onde funcionava sua banca, hoje há outra que tem mais revistas de mulher pelada que quadrinhos. E, ao fundo, dá para ver um pedaço do Cine Paissandu, já falecido. Assisti Velozes e Furiosos quando ele estava em seu estado terminal. Poste mais fotos, amigo, pois sempre que compartilha suas lembranças com seus fãs, você estreita os laços de amizade, mesmo que virtual. Já o considero "da casa"! Entre, abra a geladeira e pegue uma cerveja!
    Abração!

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  4. Verdade, eu lembro do Cine Paissandu. Impossivel esquecer dois filmes que assisti la. Um bom e outro pessimo. Highlander e Street Fight respectivamente.
    Obrigado por sua presença e palavras de apoio.
    Abraços.

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 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...