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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ZÉ GATÃO ( CRÔNICA DO TEMPO DO PERDIDO ) Parte 2

A Via Lettera, se não estou errado, foi uma das primeiras editoras a publicar por aqui, quadrinhos adultos em formato de livro pra um público diferenciado. Começou com O Homem Ideal e Balas Perdidas. A Conrad ( talvez até um pouco antes ), tinha trazido às livrarias o clássico GEN, PÉS DESCALÇOS ( obra que recomendo sem pestanejar ). Daí pra frente outras vieram no vácuo, e ( felizmente ) não parou mais.
O novo livro do Zé Gatão seria o primeiro dos nacionais desta safra.
SERIA, mas NÃO FOI.
Logo após aquele rápido papo com o Jotapê Martins, liguei pra ele sem muito entusiasmo, afinal, quando já se bateu em tantas portas e a maioria não se abriram, tende-se a ficar paranóico e achar que é pessoal. Mas não foi assim, ele me instruiu a mandar xerox de boa qualidade de todas as histórias que tinha criado até então.
Assim o fiz. A resposta não demorou, recebi uma ligação dele no trabalho, afirmando que tinha gostado muito do material e que gostaria de publica-lo. Mas tinha algumas ressalvas. A primeira delas é que nem todas as narrativas entrariam neste volume pra não exceder a um número específico de páginas. Ficariam, quem sabe, para um próximo. A segunda é que certas passagens eram violentas por demais, e teriam que ser censuradas.
Tudo bem, disse eu. Como fazemos? Escaneie tais e tais histórias com boa resolução, grave num CD e me mande pra tal endereço, respondeu ele.  Ok.
As hqs que não entraram no pacote permanecem inéditas até hoje. Pena. Gostava delas. Nem sei se vou publica-las um dia. Nunca mais abri os envelopes que as continham. Fazem parte de uma etapa que ficou para trás. É coisa velha. E coisa velha não consumida, tende a embolorar.

Só para situar, meu irmão já tinha se separado da mulher e fora trabalhar no Metrô de Brasilia. Nós morávamos  nestes dias numa pensão situada na W-3 Sul. Apesar de algumas dificuldades cotidianas e forte pressão desnecessária na empresa em que eu trabalhava, foram dias inesquecíveis.
As páginas de Zé Gatão foram desenhadas em A-3.  Sendo assim eu teria que escanear em duas metades e depois montar no Photoshop.  Meu grande amigo Ricardo Bermudez me permitiu trabalhar no seu computador e eu passava longas horas no processo. Saía da casa dele por volta de meia-noite e chegava na pensão a uma da madrugada. Assim, durante alguns dias eu saía do trabalho, jantava e ia incomodar meu velho amigo. Por fim todo o livro foi montado, gravado e remetido. Agora era só esperar a publicação que, se não me falha a memória, estava agendada para aquele final de ano.
O primeiro banho de água gelada veio alguns dias depois. O Jota me disse que a resolução não estava boa. Eu era um ignorante em informática e não me haviam passado nenhuma especificação exata. TIF, JPG,  ou sei lá mais o que, foram as palavras que arruinaram meus sonhos de ver aquele material impresso num momento imediato.  Eu teria que refazer tudo, mas ainda assim o livro estava adiado. E também, não poderia voltar a incomodar meu amigo. A coisa ficou suspensa.
A tal agência de comunicação em que eu trabalhava, atrasava os pagamentos. Fiquei quatro meses sem receber salário, por fim abriram falência. Não era surpresa e ficamos todos a ver navios. Fomos à justiça. Ganhamos a causa. Nosso chefe não possuía um único bem em seu nome e não recebemos nada.
Em 2000 precisei voltar a São Paulo. Levei comigo os originais do "Crônica do Tempo Perdido", título extraido de uma das histórias.

Escaneei e montei  todas as páginas novamente na própria Via Lettera. Agora era só aguardar.
Quais problemas enfrentam uma empresa só seus diretores sabem, mas os meses viraram anos, a editora colocava no mercado uma série de títulos e Zé Gatão era sempre adiado. Cheguei a pensar que haviam desistido e não tinham coragem de me informar.

Quero lembrar que nem por isto parei de trabalhar com o gato. Desde 1998 eu desenhava um novo álbum além das tradicionais histórias curtas que cobravam vida. Como já disse, era a única forma que tinha pra desabafar. Fiquei oscilando entre SP e o DF, até que em 2002, toda a familia voltou a residir em Brasília. Meu irmão se casou de novo, o outro se formou em medicina. Minha relação de namoro com a Verônica que se arrastava a oito anos, se transformou em matrimônio em meados de 2002.
Como é sabido que tudo nesta vida tem um fim, a minha espera pelo livro preto acabou. Recebi o pacote pelo correio numa manhã ensolarada quando saía de casa pra um compromisso. Levei um exemplar do mesmo e fiquei lambendo a cria aquela tarde toda e ainda nos dias que se seguiram.
Ficou um ótimo livro, mas diferente do que eu tinha idealizado. Começou pelo formato. Minha idéia, era que se o primeiro álbum era branco com o personagem de costas, o segundo teria que ser preto com o felino de frente. Mesmo tamanho, mesmo padrão. A hq, GALO DE BRIGA, foi rediagramada para o formato. O Jotapê enxugou ( em muitos casos, melhorou ) quase todo o meu texto. Vocês que possuem o livro, podem conferir, nas páginas ( originais ) desta postagem, as diferenças de diagramação e texto e também uma das cenas censuradas.

O saldo final foi totalmente positivo e eu agradeço
imensamente ao  Jotapê Martins, por haver acreditado no trabalho e ido até o fim com ele.
Foi muito bem recebido pela crítica. Em algumas livrarias virtuais como o Submarino por ex. ele recebeu máxima avaliação e é sempre muito bem recomendado. Júlio Shimamoto, acha que a hq RÁDIO MALDITA, é um primor pela forma como  desenvolvo a ação em apenas algumas páginas. Perdoem meu cabotinismo, mas aprendi que se não valorizo e enalteço meu próprio trabalho, ninguém o fará.
Obtive ótimas resenhas ( postarei algumas assim que der) mas as vendas não foram tão boas. Infelizmente.
Seria o preço? O tema? Animais atuando como humanos? Alguns afirmam que o momento para o lançamento era inapropriado.
O fato é que ele saiu e já faz parte da história. O resto é o resto.

2 comentários:

  1. Incrível sua batalha, neste país uqe adia a produçao nacional independente e valoriza só os estrangeiros. Já sei que essa história é batida.
    O importante é sobreviver...
    Até.

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  2. Sobreviver e nao desistir. Embora na maioria das vezes eu pense em largar isto tudo e viver apenas das ilustraçoes. Mas como ja afirmei uma dezena de vezes, quadrinhos e a unica forma que tenho de desabafar.
    Valeu pela visita.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...