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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

SÃO PAULO

Nasci em São Paulo.
Acho que já disse isto.
E sempre esqueço que tem esta informação no meu perfil aqui no blog.
A verdade é que até hoje não sei se gosto de São Paulo ou não. Em principio não. Quando estou longe tenho vontade de voltar, rever meu irmão e os poucos amigos que tenho (alguns deles moram na selva de pedra), visitar o MASP, a Pinacoteca do Estado, comprar algumas coisas que só se acham em Sampa. Mas uma vez que coloco meus pés por lá, com pouco tempo sinto vontade de partir. O problema é que esta cidade (sim, a cidade, não exatamente o Estado) nunca me foi acolhedora. Vejo São Paulo como uma mulher de tetas enormes e caídas que ainda procura amamentar todos que a procuram. Parece que sugaram tudo. Todo o verde, toda sensibilidade e educação, deixando no lugar, poluíção, prédios cinzentos e cadavéricos, juntamente com o fedor de merda e urina em cada trecho verde que teima em subsistir no meio do asfalto e concreto.
Passei minha infância em Guarulhos e suas imediações; no pricipio dos anos 70 fomos morar ali na famosa "boca do lixo", um período na Rua Guaianazes, depois mudamos pra Pereira Barreto, não muito depois voltamos pra Rua Aurora. Naqueles tempos já era comum vislumbrar pelas calçadas estes tipos que a vida engoliu, regurgitou, mastigou e por fim cuspiu de nojo. Certa vez passei por uma mulher na rua e nunca imaginei que fosse possível uma pessoa feder tanto.
No principio de 1975, minha mãe quis visitar seu passado, então fizemos uma viagem de trem até Ourinhos, eu, ela, minha avó e meus dois irmãos menores. Foram os melhores 15 dias que passei em toda a minha vida. Ficou agendado uma volta nas férias de meio de ano, que jamais aconteceu. Por volta da Semana Santa, meu pai veio anunciando nossa mudança para Brasília. Demorou pra me habituar, mas fui feliz na Capital Federal.
Só voltamos pra São Paulo no começo de 1992, para o mesmo lugar, mesmo prédio, como uma moléstia que retorna ao seu corpo quando você pensou que havia se livrado dela. Era estranho ver os mesmos rostos (só que envelhecidos uns 50 anos), aquele cara ainda com aquele uniforme de mensageiro na portaria do hotel. Estranho mesmo era regressar como se nunca tivesse saído, e notar como ali no centrão, falava-se uma série de dialetos, alguns de origem africana, coreano, castelhano e mais alguns.
A Livraria Muito Prazer, veio a ser um instrumento de prazer e tortura no melhor estilo "sadomasô". Havia tantos book arts e comics nos mais diversos idiomas e nenhum dinheiro pra comprar. A sério, eu não tinha tostão nem pra comer um maldito churrasco grego.
Certo dia, cansado da dureza, munido de uma pasta que continham alguns desenhos feitos com esferográfica preta, sai determinado a arrumar trabalho, passei na galeria 24 de Maio, a famosa galeria do rock, nas lojas de silk screen. Lá, abordei um cara, mostrei os desenhos e ele me perguntou se eu sabia trabalhar com poliéster, letra tone e coisas tais. Eu menti dizendo que sim. Na mesma hora fui  finalizar umas artes que ele tinha por lá (o cara que trabalhava ali havia faltado naquele dia). Pagavam por produção. Naquela tarde eu já tinha uma quantia pra fazer um mercado em casa, ir a um cinema e comprar um vinil do Scorpions. Foi meu primeiro trabalho depois de tantos anos fora.
Solitário, nos fins de semana, eu ia até a Praça da Luz, na Pinacoteca e ficava lá a tarde toda. Naquela época a entrada era franca e quase não havia viva alma lá dentro, eu tinha todo o acervo do século XIX somente pra mim. Doces tardes amargas e geladas.  
Hoje sei que o trânsito está mais impossivel que nunca, estive lá pro casamento do meu irmão há dois anos, e vi por mim mesmo. Assisti pela TV, um arrastão próximo ao Túnel Rebouças. Sei lá, acho que todo paulistano deveria no final de cada ano ganhar uma medalha por sobreviver em São Paulo. Os homens por terem os colhões de ferro e as mulheres pelos nervos de aço. Eu, como não tenho nem uma coisa nem outra, fico de longe me decidindo se amo ou odeio esta cidade.
Se o Deus Todo Poderoso permitir estas reminicências continuam amanhã, finalizo aqui com uma imagem do Zé Gatão. Se fosse traduzir a expressão do seu rosto eu diria que é de extremo tédio. 

4 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Morar numa grande cidade têm muitos prós e contras. Creio que mais contras, mas cada um vê de uma maneira. Eu não posso dizer que não gosto porque moro na periferia, próximo ao Pico do Jaraguá(Acho que vc conhece) e minha relação c/ a cidade se resume a ir de vez em quando ao centro, p/ algum trabalho ou compra e ocasionalmente, passeios, já que trabalho na contra-mão do centro.
    Já trabalhei com silk-screen e sempre ia às Grandes Galerias comprar material. Não sabia que vc tb já trabalhou. Legal.
    Comprei seu livro de desenho de animais na última Fest Comics. Excelente.
    Ótima semana,
    Abração,

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  2. Grande amigo, é muito engraçado, mas parece que li sua história e em alguns momentos pensei se tratar da minha. Também vivi no centro, mas um pouco mais longe de onde você viveu - no Bom Retiro (ainda moro nele). Depois, me mudei para diversos bairros, da zona leste à zona norte. Tive momentos de dureza que faziam com que minhas visitas à Muito Prazer fossem apenas para contemplar todas aquelas maravilhosas capas dentro de saquinhos plásticos. Passei finais de semana solitários na Pinacoteca, no vão livre do Masp, no Parque Trianon, onde o Fauno de Victor Brecheret me servia de confidente silencioso e fiel... Enfim, essa São Paulo de tetas grandes e caídas parece incansável, apesar das rugas e celulites, da cabeleira branca, dos olhos tristes... Eu gosto da minha cidade, gosto tanto que não a deixo por nada, mas concordo que, ao mesmo tempo que abraça e oferece suas divinas tetas, ela assusta até o mais corajoso dos mortais.
    Grande abraço e obrigado por compartilhar conosco, seus fãs, um pouco da sua vida!

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  3. Gilberto, obrigado por suas visitas e palavras sempre positivas. Ainda haverão outros posts sobre esta grande cidade.
    Sim, trabalhei um tempo com silk, mas apenas criando artes.
    Legal que gostou do anatomia de bichos, pena que tenham modificado muito do meu texto original. Você que tem a paciência de ler minhas postagens, poderá notar que eu tenho um estilo de escrita coloquial/mordaz/filosófica até mesmo pra dar uma aula, e esta essência ficou no limbo, mas o espírito da coisa está lá.
    Não sou de fazer propaganda, mas você já leu o Zé Gatão?
    Abraços.

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  4. Hi, Mister Brasil.
    Creio que não se pode existir com ou sem São Paulo. Viveremos eternamente esta dicotomia.
    Curioso notar que haja interesse em minhas históris, mais surreal ainda é que eu sempre fui contrário a qualquer exposição. Acho que estou sendo domesticado pelo espírito da máquina.
    Obrigado e um forte Abraço.

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ZÉ GATÃO POR THONY SILAS.

 Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu ...