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sexta-feira, 17 de junho de 2011

OS SAUDOSOS CINEMAS DE RUA.

O que é diversão pra mim?
Um bate papo legal com um amigo do coração, ler um bom gibi ou um bom livro (embora isto soe pernóstico); prefiro picina à praia, tanto que moro bem próximo de uma e não vou lá não sei a quanto tempo. Shows? Nah, gente demais, não suporto balbúrdia. O último show que vi foi do Eric Clapton, se não me falha a memória, em 90. Gosto dele mas não gostei do espetáculo. Naquela época já me achava velho pra essas coisas. Música sempre, não importa a hora. Gosto de museus (e isso soa pernóstico também). Ontem, eu e minha esposa fomos à cidade fazer umas compras, chovia bastante, mas encaro como diversão, gosto de sair com ela, e atualmente saimos tão pouco que aproveito cada minuto ao seu lado.
Esta introdução é para falar do meu maior escapismo:
Cinema. A maior diversão pra mim - e comer besteira (antes ou depois do filme). Se for um bom filme, melhor. Óbvio? Nem tanto, já me diverti muito assistindo filme ruim. Certa vez, eu, meu irmão Gil e meu amigão Ric Bermudez fomos ver "O Mensageiro", com o horrível Kevin Costner, o filme era de uma estupidez tão grande que dávamos gargalhadas como se fosse uma comédia pastelão. Isso me faz lembrar que eu, Gil e minha mãe fomos assistir um filme do Afonso Brazza no "falecido" Cine Márcia em Brasília, e a fita era extraordinariamente ruim, as atuações de tão palpérrimas nos provocavam frouxos de riso, tanto assim que numa das cenas eu tive um acesso tão grande de gargalhadas que cheguei a perder o fôlego. E este papo me leva ao passado pra variar. Aos cinemas de rua.
As novas gerações devem conhecer somente salas de projeção dos shoppings, mas houve uma época em que os cinemas reinavam absolutos, cheios de glamour, nas avenidas das grandes metrópoles, e até em pequenas cidades do interior.
O centro de São Paulo era cheio deles. Havia o Cine Comodoro, sala com uma das maiores telas que eu já vira, dotada de sistema de som bem avançado na época. No filme "Terremoto", as cadeiras trepidavam. Lá eu tive o privilégio de assistir épicos como "Ben - Hur" e "Os Dez Mandamentos", todos com o saudoso Charlton Heston, incluindo o já citado "Terremoto". Havia o cine Espacial, mas pra dizer a verdade eu não curtia muito, tinha três telas e eu não conseguia me focar em apenas uma.
É claro que eu peguei o período já decadente destas salas de projeção, mas muita coisa eu consegui aproveitar. Não eram apenas os filmes, mas os cartazes imensos, o material de divulgação como aquelas fotos enormes na entrada, os displays, tudo contribuia para a magia ser total.  Lembro que o filme nacional "Independência ou Morte" ficou meses em cartaz, as filas para assisti-lo dobravam o quarteirão na Rua 24 de Maio e ia até o Teatro Municipal. Foi assim com "O Exorcista" (em 1973 ?) e "Pappilon" no Marabá e no Metro respectivamente. Claro que naquele período eu não tinha idade pra ver muitos destes filmes, pra assistir King Kong ( a versão de 1933 - sim, cheguei a ver no cinema) na Sala Azul do Cine Rio Branco, eu tive que falsificar minha caderneta de escola. Foi assim também pra ver "Sérpico".
Eu era viciado em cinema. O centrão tinha um monte dos chamados "poeirinhas" que exibiam até três filmes por um único ingresso. Vi de tudo, toda a série do "Planeta dos Macacos", bang-bang italiano, filmes de Hercules, Sinbad, Tarzan, fitas mexicanas com o Santo, o Máscara de Prata e qualquer coisa que não fosse erótico italiano com o Lando Buzzanca.
Na Praça da República havia o Cine República onde lembro de ter assistido "Rabi Jacob" com o Louis De Funés ( um comediante francês muito popular na época ). O Cine Paissandu tinha uma uma característica interessante, a cadeira era bem inclinada para trás e a tela de projeção (imensa) ficava no alto, ou seja, era quase uma visão de 180 graus. Lembro de ter assistido "Highlander" com meu irmão André e ambos saimos extasiados da sessão, inclusive por causa da música do Queen do qual éramos fãs.
Alguns poeirinhas tinham nomes suigêneris, lembro do Cine Saci. Ali eu vi muitos filmes de artes marciais dos famosos Shawn Brothers. Meu amigo Arthur Garcia deve se lembrar de mais alguns daquele tipo. Ajuda aí Arthur.
Brasília também tinha seus cinemas de rua, o famoso Karin, mais conhecido como Karinzão, por se gabar de ter a maior tela do Brasil. E assim que cheguei lá em 1975, tinha um outro Karin (mesma rede) na W-3 Sul, só não lembro da quadra. Era na 505? Acho que meu brother José Roosevelt deve lembrar.
Como a Capital Federal é composta de muitos centros comerciais, boa parte das salas ficavam neles, mas dá pra encarar como cinema de rua. No Conjunto Nacional havia o Astor, o Márcia, o Karinzinho que só exibia filmes pra petizada. Mas eu, embora fosse adolescente, não fiquei de fora, vi muito Disney e os grandes curtas do Pernalonga e sua turma. Esses eram da Warner e estou seguro até hoje que estes desenhos animados não eram para crianças. Pelo menos não para os daquela época.
No CONIC havia o Venâncio e o Ritz, eu e colegas da quadra íamos assistir filmes de Kung Fu nestes cinemas. Foi lá que eu vi Jackie Chan pela primeira vez, o filme era "O Punho da Serpente" seguido do "Mestre Invencível". Vimos muitos filmes do Gordon Liu, que anos mais tarde seria homenageado e convidado por Quentin Tarantino para trabalhar na segunda parte de Kill Bill.
Os bairros dos subúrbios cariocas eram cheios de cinema de rua. Mas sobre os cines do Rio e de algumas cidades do interior que visitei, deixo pra uma outra oportunidade. A postagem se estende e preciso resolver algumas coisas antes de voltar ao trabalho, além do quê, minhas costas já começam a arder (é, agora estou assim, parecendo um velho, que merda !).
Como encerramento, eu só quero afirmar que não faz muitos anos, você comprava um ingresso e assistia o filme quantas vezes quisesse. Hoje, você é obrigado a sair no final da sessão mesmo que tenha pego o filme começado. Não parece triste se comparado a alguns anos passados?
Bem, hoje não vou postar desenho. Não tenho nada que ilustre este texto.
Bom fim de semana pra vocês.

10 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Sensacional retrato de uma época que não volta. Cinema de rua, que a garotada de hoje não conheceu. Comecei a frequentar os cinemas do centro também já na fase decadente, mas posso dizer que tb assisti Highlander no Paissandu, no qual tb assisti Platoon e outros que agora não lembro. Na época talvez não dimensionasse isso bem , mas vejo como tudo era mesmo mágico. Nostalgia? Talvez... Mas o fato é que era mesmo bom. Dia desses saí com a Graça pra pegar um cineminha e após ir a dois shoppings diferentes, acabei passando numa dessas Lojas Americanas e comprando alguns DVDs pra ver em casa mesmo. Frustante sair e não conseguir encaixar horários, filas grandes (Mais devido aos tamanhos pequenos das salas),
    e por aí vai.
    Eu li o Zé Gatão, embora confesse que protelei o término da leitura e acabei não lendo completo. Acabei pegando outras leituras (tenho esse péssimo hábito de ler muita coisa ao mesmo tempo, embora não termine tudo), mas me comprometi a terminar de lê-lo esse fim de semana. Apesar de não ter lido tudo, estou sempre folheando, admirando os belos desenhos, a dinâmica de sua narrativa.
    Ótimo final de semana pra vc e a Verônica.
    Abração,

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  2. Grande Gilberto, esta postagem terá, querendo Deus, uma continuação nesta segunda. Aí então tecerei mais comentários aos seus comentários.

    Caso o Zé Gatão tenha lhe agradado, recomento ir logo atrás do livro preto. Não sei dizer se este álbum será reimpresso, a editora nunca mais me deu notícias sobre ele, nem sei se ela ainda atua no mercado.
    Grato pela visita e comentário.
    Abraços.

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  3. Du, a admiração que tenho por você vai muito além da arte. Você é um homem de histórias que me são também bem familiares. Me identifico tanto com elas, que muitas vezes acho até que sou eu o autor de alguns textos (ou de partes deles). Você é um homem de histórias e histórias boas, momentos que foram de grande importância na sua vida, com toda a certeza. Hoje, parece que muita gente apaga o passado, por melhor que tenha sido. Sem querer filosofar muito, mas pessoas sem passado são pessoas sem futuro. Não têm um arquivo guardado na memória para poderem ver aquilo que fizeram de bom e de ruim, não podem recorrer a eles nos momentos de dúvida. Não podem nem, ao menos se divertir com passagens que juntas formam um grande almanaque, como os vendidos em banca.
    Grande abraço!

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  4. Alô, Mister Brazil, suas palavras me sensibilizam.
    Você já disse tudo e não há o que acrescentar, só posso dizer que lamento por estes que execram seu passado. Da minha parte, tento não viver o que foi lá atrás, e sim viver o agora sem projetar o que está por vir. Até porque o futuro sempre parece negro, e de certa forma não deixa de ser, afinal a dona morte está lá em algum lugar esperando por nós e pelas pessoas que prezamos. Brrr, que papo mórbido. Deixa eu parar por aqui.
    Forte abraço e muito obrigado meu amigo.

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  5. Muito bacanas suas memórias dos velhos e saudosos cinemas! Sou de 1958, e acho que curtimos mais ou menos as mesmas épocas. Cresci no Rio e Volta Redonda,mas aos 24 anos me mudei pra São Paulo, e conheci os cinemas que citou. Vi a 1ª sessão a tarde de Indiana Jones e o Templo da Perdição no Comodoro (não tinha essas coisas de pre estreia), e o Cine Espacial era realmente muito estranho e desconfortável. Só fui uma vez, acho, assistir "O farol do Fim do Mundo". Abraço!

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    1. Opa! Prazer vê-lo por aqui, Gustavo! É rapaz, são relatos de tempos que não voltam. Ficam na memória e provam que nem tudo muda para melhor, infelizmente.

      Obrigado e um abraço.

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  6. Uma verdadeira viagem ao passado, realmente hoje em dia não há aquela camaradagem de fazer um ingresso valer para mais de um filme... pena. Coincidentemente, meu primeiro filme no cinema foi King Kong, mas na versão de 1976, com a então deusa Jessica Lange. Bons tempos. Hoje a comodidade do streaming tira a aventura de sair e fazer um lanche antes ou depois do filme, ou conseguir uma lembrança comprada no cinema, mas, por outro lado, nestes tempos violentos (e vai piorar, pois a partir do ano que vem haverá uma multidão de bandidos soltos nas ruas, além do que o crime vai ser pré-perdoado pelos vagabundos de toga), ver filme em casa é a única opção sensata. Parabéns pelo texto.

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    1. É rapaz, como o tempo passa! O King Kong do Dino de Laurentis eu assisti no Atlântida em Brasília, vi duas seções seguidas e o cinema estava lotado até a tampa.
      Nos tempos atuais é melhor mesmo assistir algo na tv, não gastamos dinheiro e não tomamos um tipo de algum vagabundo desalmado.
      Obrigado por comentar.

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  7. CARAMBA, é como o Cliff aí disse: uma viagem no tempo. Precisamos conversar sobre isso. Eu sou das poucas pessoas que conheço que assistiu às matinês de Tom e Jerry no cinema, com meu pai. Que saudade!!!!

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    1. Cara, reli as duas postagens que fiz sobre os falecidos cinemas de rua e me bateu um saudade louca. Comparados aos de hoje, aqueles dias eram mais amenos, com certeza. Havia também o vigor da juventude a nos impulsionar.

      Querendo, podemos sim, conversar sobre as matinês com desenhos animados.
      Obrigado!

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