Boa noite, como vão vocês?
Eu? Bem, seguindo..... amanhã (dia 26) minha mãe faria 78 anos. E na quinta (dia 28) meu irmão Gil completaria 52. Então, creio que não preciso dar detalhes do vazio que engole minha alma como o buraco mais negro. Podemos pular essa parte e falar um pouco sobre minhas tristes caminhadas até o comércio para comprar pequenas coisas, só nesses momentos é que eu saio um pouco de casa; nas filas, as pessoas quase apagadas para mim, como vultos. Um detalhe: cada vez menos respeitam o tal distanciamento social, elas parecem não ter rostos (ou eu que não vejo?). De um tempo pra cá, posterior à transformação abrupta do mundo, só vemos os olhos das pessoas. Pra mim, na verdade, muito antes disso, a maioria sempre me pareceu cinza, gasta, como se fossem feitas de papelão. Sombras que saem de seus esconderijos para levar seus cães pra cagar.
Oitenta por cento do meu tempo eu passo sentado na prancheta brincando de ser desenhista, convencendo a mim mesmo que ganho meu dinheiro honestamente sem enganar os outros. Digo isso porque meus traços atuais me parecem saídos a fórceps, não me parecem espontâneos. O vigor e naturalidade parecem ter me abandonado. Dou o melhor de mim e mais que nunca parece não ser o suficiente. Mas não há o que eu possa fazer, tenho que colocar comida na mesa e não tenho tempo para encontrar um modo de ressuscitar o velho artista do Zé Gatão que desenhava quase por instinto e produzia das entranhas e não do cérebro (e não digo isso afirmando que antes eu era bom).
Três projetos alternadamente cansam um bocado, principalmente neste calor, o cérebro parece se transformar em gelatina. No mais recente, eu crio o roteiro também e este é o que tem o prazo mais apertado. Ouço falar de artista do passado, tipo Jack Kirby e John Bucema que desenhavam várias páginas por dia (o que colocavam na água deles?). Bem, vi certa vez algumas páginas do Bucema para a Espada Selvagem de Conan que mais pareciam garranchos e que foram transformadas em obras de arte pela arte final do Alfredo Alcala.
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Esboço do meu mais novo projeto. |
Bem, meus queridos e queridas, venho aqui sempre que puder respirar um pouco para dar notícias e se for o caso, como hoje, desabafar um pouco com vocês.
Se cuidem.