Queridos e queridas, uma boa noite!
Chegamos à penúltima imagem deste clássico do Machadão.
Meu tempo hoje é mais curto que de costume por estar afobado com uns trabalhos urgentes, tanto que demorei para atualizar o blog. Mas nada me impede de dividir com vocês rapidamente o que estou lendo:
SHOP TALK - SEGREDOS DE PRANCHETA. É uma publicação da Criativo Editora. Um delicioso livro em que o ícone dos quadrinhos, Will Eisner, realiza entrevistas com seus pares da nona arte. Esses papos informais sucederam-se entre os anos de 1981 e 1984. E ele recebe gente do quilate de Jack Kirby, Neal Adams, Gil Kane, Jack Davis, Harvey Kurtzman, Joe Kubert e outros. Na verdade é um livro para quem faz quadrinhos pois ali os astros revelam suas motivações e técnicas, tudo num tom de conversa informal. Imperdível para quem é da área ou muito fã dos comics.
De gibi, eu li toda a série PREACHER. Gostei? Sim e não. Durante a saga do reverendo Jesse Custer em busca por deus (sim, eu escrevo com letra minúscula!) para pedir explicações do porque o criador abandonou a humanidade, ele se depara com várias inusitadas situações, alguns acontecimentos parecem um faroeste moderno. Alguns personagens são muito bem construídos, outros parecem forçados. Politicamente incorreto pra cacete! Garth Ennis, o controverso roteirista ataca de todos os lados, tudo e todos, diálogos ácidos e circunstâncias esdrúxulas. Se tivesse a mão menos pesada poderíamos dizer que se trata de um Quentin Tarantino nos quadrinhos. Como disse, esta foi a parte que me divertiu, mas quando a coisa descamba para a parte religiosa, aí fica infantil e repetitiva. Tem gente que ainda se diverte misturando a pessoa de Deus com palavrões só pra chocar e atrair a atenção. Os desenhos do Steve Dillon são funcionais. As capas do Glen Fabry são sensacionais. Não pretendo reler.
Nos últimos dias durante minhas atividades na prancheta tenho ouvido Duran Duran.
Infelizmente nunca mais fui ao cinema, nem foi mais possível assistir uma série.
Semana que passou o lendário desenhista Rodolfo Zalla nos deixou. Estava velhinho mas eu acho que nas artes, quanto mais velho melhor, ele tinha ainda chão para queimar, no entanto....
Não sou de escrever no Facebook, mas tive que cometer este texto que reproduzo abaixo contando meu encontro com ele.
Até a próxima semana, querendo Deus.
Para mim o Facebook não é lugar para bate papo reflexivo, acho muito barulhento como uma feira livre, onde as pessoas se encontram ao acaso e trocam uma ou outra informação e seguem seus rumos, os blogs (que quase caíram em desuso) são mais apropriados para textos longos, mas não posso deixar de registrar minha tristeza com a despedida do grande RODOLFO ZALLA.
Eu o conheci ainda nos anos 90. Foi assim: eu tinha combinado com meu velho amigo Júlio Shimamoto que quando ele viesse a São Paulo, nós tiraríamos um tempo para comer, beber alguma coisa e jogar conversa fora (provavelmente o assunto seria a dura vida de desenhista no Brasil). O tal momento chegou quando ele veio para uma tarde de autógrafos na Comix. Na data marcada lá estava eu ansioso e o Shima se aproxima de mim e diz: "Schloesser, não leva a mal mas o Zalla veio me ver e quer passar mais tempo comigo, você não se incomoda se ele for comer com a gente, né?" E eu: "Claro que não! Será um prazer! Dois mestres pelo preço de um ao meu lado, que mais poderia querer?!" Fui apresentado ao Zalla; não me recordo direito se ele me fez umas duas ou três perguntas sobre mim, mas seu forte sotaque me chamou a atenção, ele, um tanto diferente do Shima tinha um ar mais grave, mais circunspecto, eu, pra ser sincero, não estava muito a vontade.
Seguimos por uma daquelas alamedas e nos sentamos na mesa de um bar, na calçada, que ficava próximo da Paulista. Era um final de tarde muito fria que prenunciava chuva. Aqui também a memória não ajuda, não sei o que pedimos para comer, provavelmente havia batata frita na parada, mas me recordo bem que o Zalla acendia seus cigarros e tomava suas cervejas em quanto eu e o velho samurai ficamos nos refrigerantes, recordo também seu modo seguro e firme em todas as suas colocações sobre nossa profissão; eu estava, agora, bem mais relaxado na presença dele. Chegou um momento que eu, o mais novo dos três (bem mais novo, diga-se de passagem) só ouvia aquelas duas lendas citando nomes de artistas das HQs que eu nunca tinha ouvido falar.
Estar com Rodolfo Zalla era um momento único, era uma pessoa única, como únicos somos todos nós, mas falo do fato de num mundo onde todos parecem se assemelhar, ou se adaptar para estar inserido num contexto, ele tinha aquele jeitão todo dele, aquele ar professoral que a gente quer imitar num adulto quando se é ainda menino. A pouca claridade da tardinha deu lugar às luzes artificiais e o frio se intensificava, o Júlio ainda tinha que
pegar condução até a casa de alguém (um irmão, acho) e chegava o momento da despedida. Peguei o endereço do Zalla para enviar meu primeiro (e único, até então) álbum de quadrinhos. Ele fez questão de pagar a conta. Cada um para seu canto e nunca mais voltei a vê-lo - nem me lembro se voltei a ver o Shima depois disso - mas nossos papos por telefone continuaram. Mandei meu livro para o Rodolfo e até fiquei esperando um retorno que nunca aconteceu.
Faz uns poucos anos o editor da Editora Criativo me informou que o Zalla queria falar comigo para que eu desenhasse uma hq de terror dele, de umas oito páginas; fiquei honrado, mas ele sem internet e eu sem telefone, a coisa nunca aconteceu.
Seguimos por uma daquelas alamedas e nos sentamos na mesa de um bar, na calçada, que ficava próximo da Paulista. Era um final de tarde muito fria que prenunciava chuva. Aqui também a memória não ajuda, não sei o que pedimos para comer, provavelmente havia batata frita na parada, mas me recordo bem que o Zalla acendia seus cigarros e tomava suas cervejas em quanto eu e o velho samurai ficamos nos refrigerantes, recordo também seu modo seguro e firme em todas as suas colocações sobre nossa profissão; eu estava, agora, bem mais relaxado na presença dele. Chegou um momento que eu, o mais novo dos três (bem mais novo, diga-se de passagem) só ouvia aquelas duas lendas citando nomes de artistas das HQs que eu nunca tinha ouvido falar.
Estar com Rodolfo Zalla era um momento único, era uma pessoa única, como únicos somos todos nós, mas falo do fato de num mundo onde todos parecem se assemelhar, ou se adaptar para estar inserido num contexto, ele tinha aquele jeitão todo dele, aquele ar professoral que a gente quer imitar num adulto quando se é ainda menino. A pouca claridade da tardinha deu lugar às luzes artificiais e o frio se intensificava, o Júlio ainda tinha que
pegar condução até a casa de alguém (um irmão, acho) e chegava o momento da despedida. Peguei o endereço do Zalla para enviar meu primeiro (e único, até então) álbum de quadrinhos. Ele fez questão de pagar a conta. Cada um para seu canto e nunca mais voltei a vê-lo - nem me lembro se voltei a ver o Shima depois disso - mas nossos papos por telefone continuaram. Mandei meu livro para o Rodolfo e até fiquei esperando um retorno que nunca aconteceu.
Faz uns poucos anos o editor da Editora Criativo me informou que o Zalla queria falar comigo para que eu desenhasse uma hq de terror dele, de umas oito páginas; fiquei honrado, mas ele sem internet e eu sem telefone, a coisa nunca aconteceu.
Rodolfo Zalla vai fazer falta, ele era daquele tempo onde os quadrinhos eram vendidos em bancas, onde as tiragens eram maiores, o período onde o estilo que imperava era realista e elegante; ele era educado e culto; hoje os gibis são vendidos em livrarias, os autores são arrogantes e disfarçam sua falta de estudo de arte num estilo pseudo-vanguardista, sempre com narrativas autobiográficas e quase sempre se esquecem (ou desconhecem) de como contar uma boa história em quadrinhos - não são todos, quero ressaltar!
Mais um da velha guarda que se vai, as novas gerações talvez nem saibam o que perderam. Não temos o resgate daquela obras do passado em volumes bem encadernados, sequer temos bibliotecas onde poderiam contê-los. O que fica é a tristeza, essa sensação de vazio e solidão.
Ainda ontem conversava com meu amigo Leandro Luigi Del Manto e falávamos do momento crítico que vivemos. Há esperanças? Sempre há e temos que lutar com unhas e dentes por ela.
Não vou dizer adeus ao mestre Rodolfo Zalla, prefiro o "até breve".