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segunda-feira, 30 de junho de 2014

COMENTÁRIOS FINAIS SOBRE CAIM E ABEL.




Amadas e amados do meu coração, bom dia!
A postagem de hoje era pra ter sido feita a tempos mas com todo o corre corre e pressão cotidiana confesso que me esqueci completamente. Ontem procurando por uma arte nas minhas diversas pastas de desenhos no PC, me deparei com essas ilustrações e esboços que tinha separado exatamente para falar a respeito da obra. É claro que não lembro mais exatamente o que ia escrever, vou arquivando minhas ideias na mente mas se demoro muito elas se perdem irremediavelmente. Tenho planejado na cabeça um conto curto do universo Zé Gatão e me arrisco cristalizar a coisa se postergar demais, vou ver boto a mão na massa esta semana.


Bem, Caim e Abel foi uma coisa legal de fazer, começou com a pressão (de leve) de ter que seguir pela mesma linha do que tinha feito o Nestalblo Ramos, o talentoso desenhista de Adão e Eva. O problema é que não gosto de imitar o traço de outro artista, a menos que minhas necessidades financeiras me obriguem a faze-lo. Felizmente o Carlos Costa é um editor bacana com um puta discernimento e ficou decidido que eu faria do meu jeito mesmo, apenas teria que obedecer certos critérios adotados na primeira parte (Adão e Eva). O roteiro do Alexandre D´Assumpção não foi difícil de interpretar, ele teve que tirar leite de pedra para estender um drama que no Gênesis não dura mais do que vinte versículos. Procurei dar à narrativa um tom mais leve do que as que imprimo no meu traço natural, sem muitos hachuriados, afinal ela será colorizada por outro profissional.


Não foi difícil de fazer, na maior parte da história só temos quatro personagens, Adão, Eva, Caim e Abel e como cenário, um deserto. Outras pessoas  e habitações só dão as caras nas últimas páginas, entretanto costumo dizer para a Verônica que não existe desenho fácil e tive certa dificuldade para transpor alguns obstáculos que surgiram no processo. Mas uma vez vencidos posso dizer que a coisa fluiu bem e não torço o nariz com o resultado final.


Entreguei a história e as capas. Recebi pelo trabalho, já gastei o dinheiro. Não entraram mais em contato comigo. Não sei dizer quando será publicada. O editor que ver se esse ano ainda a coisa sai. Quem sabe depois da Copa o Brasil não começa a andar de novo? Ah, mais aí teremos eleições, o resultado pode ser positivo ou negativo, depois já é festejos de fim de ano, depois carnaval.....talvez aí tenhamos notícias de um novo Zé Gatão. Mas acho que Abel e Caim chegam antes.


É aguardar pra ver.



quinta-feira, 26 de junho de 2014

OS BRUZUNDANGAS ( 08 )


Amadas e amados, bom dia!
Hoje amanheceu um tempo maravilhoso! Passam das 11 horas e o dia parece não ter amanhecido. Ainda está escuro lá fora, como se alvorada titubeasse. Chove e, pasmem, está frio! Lembrou minha saudosa São Paulo. Demorei a vir para o estúdio trabalhar e confesso que enrolei até agora. Mas já prometi a mim mesmo pegar no lápis assim que terminar esta breve postagem.

Sem novidades aqui, acabei o "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e começo hoje a trabalhar em "Helena" (ambos do Machadão). A bio do Poe segue devagar e sempre (pego nela quando tenho uma disposição a mais). Também já dei início a uma hq de terror, projeto ambicioso capitaneado pelo mestre Allan Alex lá do Rio de Janeiro (esta, assim como o Poe, será feita aos poucos, já que não há pressa e ando bastante atarefado).

Estou lendo um livro que um brother me emprestou, "Na Estrada Com Os Ramones" de Monte A. Melnick e Frank Meyer. Esta já é a terceira biografia dos Ramones que leio, a primeira foi a do Dee Dee, baixista da banda, a segunda foi a do Johnny, o guitarrista. Desta vez é a visão do Monte, o cara que foi o "faz tudo para a banda", empresariou, dirigiu a van que transportava a banda e serviu de babá para os quatro músicos problemáticos (lembrando que baixista e baterista foram substituídos posteriormente). Muitas histórias divertidas para contar.

Continuo devorando a coleção oficial de graphic novels da Marvel pela Salvat. Para quem não lia super-heróis a tanto tempo, estou me surpreendendo com a qualidade das histórias. Boas mesmo! Até agora a melhor foi a saga do Capitão América - O Soldado Invernal. Posteriormente pretendo comentar as edições aqui.

Voltei a ouvir Eagles - sim, são muito mais do que apenas o Hotel Califórnia.

Terminei ontem de assistir a terceira temporada de "Sherlock" (ótimo! Recomendo) Eu e Vera estamos assistindo a segunda temporada de Vikings, só esperando acabar para ver a quarta de Guerra dos Tronos.

Bem, fiquem com mais uma imagem dos Bruzundangas e bom weekend a todos.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

O REI DO JILÓ E A RAINHA DA COUVE.



O título desta postagem foi uma frase dita pela Verônica, minha esposa, dia desses. Ela realmente gosta de couve e eu curto jiló. É lógico que existem coisas que aprecio mais, como lasanha por exemplo, mas de vez em quando um jilózinho, dependendo do que acompanha, cai muito bem, assim como a couve, da qual não sou tão fã, consumo para agradar a Vera e porque ajuda o intestino a trabalhar bem. Aliás, a Vera faz um suflê de espinafre que é uma delícia, por isto acho que a ilustra de hoje, apesar do teor violento, tem a ver com o texto.

Existem poucos alimentos que me desagradam, e para não lista-los aqui, vou direto àquele que já rendeu histórias: O PIMENTÃO. Não é apenas porque o gosto e o cheiro me desagradam, mas porque me provoca uma azia que dura muito tempo.

Certa vez em São Paulo fui convidado pelo gentil Arthur Garcia e sua esposa para almoçar em sua casa e para minha surpresa o prato servido foi pimentão recheado. Caralho, pensei, e agora? Só tinha duas alternativas, comer e me preparar para as consequências e não constranger o meu amigo, ou ser franco com ele e dizer que aquilo não me faria bem. Como somos amigos de longa data, optei pela segunda. A solução encontrada (não sei se foi minha ou dele) foi comer apenas o recheio e dispensar o pimentão. Por incrível que pareça a carne sequer tinha o gosto do legume. Foi, como sempre, uma tarde muito agradável.
Não dei tanta sorte num outro episódio, a sogra do meu irmão veio a Recife com meus sobrinhos e fomos almoçar num restaurante típico. Dentre as iguarias à disposição havia uma salada de polvo que me encheu os os olhos. Me servi de uma quantidade generosa e só depois que comecei a comer foi que notei os pedacinhos do pimentão vermelho que eu pensei que fossem tomate. Procurei separar os pedacinhos e embora o prato estivesse muito saboroso, não teve jeito: tive uma azia que durou uns dois dias e não houve anti-ácido que desse solução.

Sim, lembrei, não gosto de boa parte das comidas típicas do norte do país. Tacacá, Tucupi e essas coisas. Também não sou chegado em pratos muito picantes, acho que não me daria bem com a comida mexicana, embora tenha curiosidade quando ouço falar em burritos e tacos, mas no geral tenho bom paladar. Gosto muito de peixe.

Bem, pra falar a verdade minha intenção não era comentar sobre culinária, mas a frase da Vera me ficou na cabeça e achei que seria um título interessante para um texto, e como disse, o desenho do Velho Marinheiro viria bem a calhar no meio de tudo.

Uma ótima semana a todos.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

EU DESENHAVA MUITO MAL.


Não sei, o título desta postagem pode soar para muitos um exagero, uma vez que os desenhos exibidos hoje foram feitos quando eu tinha 14 anos. Eu era, nesta época, um fanático por artes marciais chinesas e tudo que se referia a elas. Meu gibi predileto do período era o Mestre Do Kung-Fu, da Marvel, fosse desenhado pelo Jim Starlin ou Paul Gulacy, pra ser franco eu preferia este último porque ele deixava o Shang-Chi com a cara do Bruce Lee.
Eu desenhava muito em cadernos de escola. Em 1976, querendo imitar o Spirit do Will Eisner, criei Os Cobras, na verdade era para ser só O Cobra, mas eu tinha mais três amigos na sexta série nos quais era muito ligado, então criava histórias em quadrinhos onde nós quatro éramos detetives e investigávamos uns casos lá. Também havia romance, afinal cada um de nós tinha uma garota de quem gostava. É lógico que elas não sabiam que eram nossas garotas, tampouco que eram personagens de hqs. Aquilo não durou muito, logo passei a agir sozinho... bem, eu não, O Cobra.


Muito disso aconteceu por causa do Luca, meu amigo de infância (já postei sobre ele aqui, ele também foi o autor de alguns contos do Zé Gatão). Ele foi minha primeira grande influência nos quadrinhos, mesmo antes de Eisner. Ele tinha um amigo que desenhava muito, o César (até hoje um dos maiores talentos que vi em ação), e isto meio que me obrigou a dar um salto qualitativo nos meus traços, digo isto porque antes de Luca e César meus rabiscos ainda eram piores do que o que vemos aqui. Nossos desenhos e hqs eram vistos apenas por nós, trocávamos estas informações. Como eu era muito fraco no que fazia, o César vivia me espinafrando, já o Luca curtia e incentivava. Não é de admirar que essas "relíquias" estivessem até hoje guardadas com o meu velho amigo, afinal eu fiz para ele, tinha até dedicatória, vejam só!


Esses velhos desenhos me enchem de constrangimento, pra ser sincero, não só por causa do traço em si mas pelo teor de violência que eu demonstrava já naquela época e eu nem me lembrava disso. Acho que precisava de tratamento. Para mim fica claro que eu usava isto como válvula de escape. Queria esmurrar as pessoas mas não tinha coragem, então esmurrava no papel.

Eu digo que desenhava mal e o faço de forma muito fria. Sei que tem artistas que desde muito cedo já dão um banho em muito marmanjo, só pra se ter uma ideia o Todd MacFarlene, o criador do Spawn, entrou para a industria dos quadrinhos com 18 anos e acha que começou tarde. Tá, tem muita gente que não curte o cara como quadrinista, mas Pablo Picasso pintava retratos a óleo de fazer inveja a veteranos com 15 anos de idade.  

Mas tudo bem, eu sei que certos talentos, como Mozart e Picasso não servem como exemplos por serem exceções, não regra, mas é sabido que artistas aos 14 anos desenham e pintam muito melhor do que eu fazia nesta idade, César e Luca eram a prova.
Mas isso não me desmerece, é claro, eu batalhei muito para ser um desenhista de qualidade.

Sempre fui um cara extremamente problemático, não me sentia a vontade perto das pessoas, não queria fazer parte de time nem grupo de qualquer espécie. Acho que eu era como o Joey Ramone, uma espécie de alienígena, um cara que não se adequava e não faltou quem dissesse que não me queria por perto. Eu não era bonito, não era alto, nem inteligente, um sujeito insignificante e sem atrativo nenhum, em suma; mas senti que tinha um gosto e talento natural para a arte e foi esta a minha via de acesso para ser "alguém". Batalhei com o que tinha e na maioria das vezes remando contra a maré e caminhando contrário ao vendaval.

Venci? Julguem vocês. Tenho um estilo que é minha marca (o testemunho não é meu, mas do público). Criei um personagem carismático (outros afirmaram antes que eu me desse conta do fato). Publiquei livros e conquistei um bocado de admiradores, então....

Vai soar clichê, mas se eu consegui, você também consegue.


segunda-feira, 16 de junho de 2014

MAIS UM POUCO DO MEU CRAZY SKETCHBOOK.



Dia destes um admirador do meu trabalho ao ver umas imagens dos meus cadernos de exercícios postados aqui, me sugeriu investir pesado na coisa, que facilmente viraria um livro, teria um público interessado e todas essas gentilezas. Seria mesmo? Já fiz até o planejamento na cabeça, seria um livrinho em capa dura, exatamente nas medidas das ilustrações (19 x 15 cm), talvez um pouquinho maior, quem sabe, para conter alguma nota explicativa e teria o título de AZUL, PRETO E VERMELHO - OS RABISCOS DE EDUARDO SCHLOESSER. O título se justifica por que são as cores das esferográficas que uso nestes caderninhos. Poxa, que bom que sonhar ainda não paga imposto! É só o que posso fazer.
Agradeço muito ao fã que gostaria de ver um pouco mais de meus desenhos malucos, mas não acho que alguém além dele (e talvez mais uns poucos) vá querer pagar por um produto assim. Sei disso por causa da dificuldade que encontro em publicar os meus álbuns de quadrinhos. Sim, tenho dois álbuns completinhos com umas hqs bem amargas, mas muito legais - como a própria vida - e ninguém interessado, os editores tem medo de investir. Me aconselharam tentar o crowdfunding. Não, obrigado, já expliquei o porquê da minha recusa.
De toda a forma estes esboços são um modo de tirar uma ideia instantânea da cabeça direto para o papel sem o uso de borracha, uma forma de passar o tempo em ambientes onde normalmente eu não goste de estar, como filas ou consultórios médicos, mais nada.

Sabem, aqui só entre nós, eu gostaria de ter um pouco mais de dinheiro. Não precisa ser muito não, apenas pra não ter que todo mês ficar pedindo emprestado, poder ter meu próprio lugar, sem ter que ficar me mudando, a proprietária deste apê onde moro já a mais de dez anos pediu que eu o desocupasse (até que demorou). Com uma grana a mais eu poderia ajudar algumas pessoas, como um cunhado com problemas em São Paulo. Poderia também bancar meus projetos. Talvez até um livrinho com estes rabiscos.
Fiquem com algumas imagens e boa semana a todos.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

FANART DE ZÉ GATÃO POR ANDERSON MARQUES FERREIRA.


Prezados e prezadas, bom dia.
Como já falei centenas de vezes é um prazer incomparável ver sua cria pelo traço de outros desenhistas. Desta vez a obra é da autoria do Anderson - ANDF, como ele se intitula em seus blogs (o Rota Sonora é bem legal) - lá do Rio Grande do Sul e que ocasionalmente me visita neste blog.
Aqui vemos nosso felino cinzento em boa companhia num traço mais que sincero.

Gostei muito do desenho, mon ami. Agradeço de montão.

Bom fim de semana a todos.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

BRUZUNDANGAS ( 07 )



Mais uma arte para os Bruzundangas. O corre-corre por aqui não para, felizmente. Nos dias de hoje, se você estanca um pouquinho, fica para trás, como naquele clássico da tartaruga e a lebre. Falando nisto, minha mente, que não para de trabalhar, começa a fomentar novas ideias e elas pedem urgência. Tô com muita vontade de fazer uma ilustras para as fábulas que me causaram grande impacto na infância. Um das mais trágicas foi Chapeuzinho Vermelho. Umas três ou quatro aquarelas tá de bom tamanho, só para minha própria diversão. Também preciso concluir minha homenagem aos Monstros Famosos do cinema. Faltou a Múmia, Freddy Krueger, Hide e etc. Este projeto pessoal tive que interromper por falta de tempo e depois perdi o pique, mas ele não pode ficar inacabado.

A bio do Poe segue beeeem devagar, a prioridade são as ilustrações para os clássicos, no momento executo Memórias Póstumas De Brás Cubas, do Machadão, um dos meus livros preferidos.

Por hoje é só.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

NÉCTAR, AMBROSIA E FEL. Um conto de Zé Gatão escrito por Luca Fiuza e ilustrado por Eduardo Schloesser.



ANDROS. Gigantesca e imponente megalópole do norte. Prédios colossais e altíssimos que se perdiam no magnífico azul do céu. Brilhava ao sol a estrutura envidraçada que os compunha. Um deles era mais alto, com ar mais imponente e agressivo. Era este edifício conhecido como Olímpia, ou no jargão popular, Monte Olimpo.
Fazia meses que Zé Gatão estava vivendo naquela enorme e turbulenta cidade em seu movimento incessante tanto de dia quanto de noite. Trabalhava como DJ em uma rádio local que tinha certa expressividade. Estava ali em tempo integral fosse de dia, de noite ou de madrugada. Folgava todas as terças-feiras. Ganhava o suficiente para alugar um quartinho na região mais modesta da cidade. Comia relativamente bem em pequenos restaurantes próximo de onde morava.  Gastava parte do seu dinheiro indo ao cinema, ou saindo com gatas de vida fácil que pululavam na área do baixo meretrício, cheia de bares e inferninhos, frequentados por punguistas, vagabundos, boêmios e toda sorte de pequenos larápios.
Zé Gatão estava revelando uma banda de garagem chamada Os
Paquidérmicos. Era formada só por elefantes. Uma bela aliá era a vocalista do grupo. Tinha uma voz rouca extremamente sensual. Suas canções estouravam no rádio e algumas apresentações que fizeram em bares e boates do Centro causaram uma enorme sensação. 
Certa tarde, um gato preto de pequena estatura, muito bem vestido procurou o dono da rádio e expressou o desejo de falar com seu melhor DJ. O felino cinzento estava na sala de som, terminando um programa. Vestia uma camisa verde musgo justa de mangas compridas dobradas, exibindo seus poderosos antebraços. O cabelo amarrado em um rabo de cavalo. Usava calças de um marrom escuro e botas pretas de cano curto. Tinha o ar compenetrado, falando ao microfone com voz clara e melodiosa que deixava as ouvintes totalmente alucinadas.
Ao ouvir um ruído na porta Zé Gatão se virou e qual não foi sua surpresa quando reconheceu Félix, um antigo amigo de infância, o qual não via há anos.
- Félix! Que surpresa, rapaz!
- O mesmo digo eu, meu velho! Mundo pequeno, hein? – Abraçaram-se. Félix continuou: - Fiquei sabendo que um DJ desta rádio está lançando uma banda que já está dando o que falar! Nem em sonho eu podia imaginar que este DJ era você!
- A gente faz o que pode! Mas que posso fazer por você?
- Sou um empresário musical de médio porte e farejei o potencial destes Paquidérmicos! Bem, sou amigo de um empresário musical de alto coturno desta maldita cidade! É dono da gravadora TROMBETAS CELESTIAIS a mais foda da área! Ele é o cara! Se fizermos um contrato com ele a ascensão dos Paquidérmicos será meteórica e nós vamos junto! Vamos cagar dinheiro, meu chapa!  
Zé Gatão deu um leve sorriso ante a euforia do amigo. Este prosseguiu ainda mais eufórico: - Daqui a duas semanas vai ter uma recepção na residência dele. Já ouviu falar do Monte Olimpo?
 - O Olímpia? Já. O que você tem em mente, Félix?
- Tenho convites. Vá até a Alfaiataria Safira Azul. Já deixei o alfaiate avisado. Mande fazer um fraque! Não se preocupe com o preço! É por minha conta! Não diga nada! Tome este cartão. Depois me ligue! Quero conhecer a banda e conversar sobre os velhos tempos em um lugar tranquilo. Que tal amanhã?
- Está bem. À tarde nos avistaremos com o pessoal da banda. No início da noite a gente dá uma saída. Tudo bem?
- Beleza, mermão! Até amanhã. – Depois que Félix sai, o felino cinzento fica pensando naquela feliz casualidade de reencontrar um velho amigo depois de tanto tempo.
Félix ficou maluco ao ouvir a audição dos Paquidérmicos. Não parava de repetir a palavra “foda”. Imediatamente após a apresentação, ligou para o poderoso dono da gravadora TROMBETAS CELESTIAIS e acertou a ida à recepção. Iriam ele com a esposa, os elefantes da banda e Zé Gatão na qualidade de representante da rádio. Mais à noite o felino saiu com seu amigo Félix. Jantaram em bom restaurante, novamente por conta de Félix. Quando Zé Gatão quis fazer objeções, constrangido, Félix disse pra ele se fuder! Amigo era para estas coisas. Quando a banda estourasse nas paradas, dinheiro seria o menor dos problemas de Zé Gatão. O felino taciturno não disse mais nada. Depois Félix pediu que dessem uma chegada no baixo meretrício para darem umas trepadas. As gatas que Zé Gatão arranjou eram fogosas e deixaram Félix pirado! Ele trepou como um louco. Zé Gatão foi mais comedido, mas satisfez sua parceira integralmente. Pelo menos este programa o felino acinzentado pagou do próprio bolso. Mais tarde, deitados no escuro em lençóis relativamente limpos, as duas gatas e Félix estavam ressonando em uma velha cama King Size. Zé Gatão se achava ainda acordado no canto direito. O grande gato ficou pensando que todo o dinheiro de Félix por algum motivo, não o fazia feliz no casamento.



Diante do imponente Olímpia, ou Monte Olimpo como era mais conhecido, estava movimentado. Carros luxuosos não paravam de chegar. Elementos ricos da sociedade, políticos e jornalistas acorriam à grande e seleta recepção de um dos mais poderosos empresários do ramo musical que se tem notícia. Félix, a esposa, uma deslumbrante gata branca, Zé Gatão e os membros da banda adentraram no edifício por um compartimento privado, guiados por um cão grandalhão e orelhudo que parecia ser um tipo de assessor particular do mega empresário. Tomaram um elevador expresso de portas trabalhadas e interior extremamente belo. Ao chegar a um dos andares mais altos, foram revistados por cães de guarda de ar feroz, comandados por um dálmata de expressão facial austera. Todos estavam vestidos de maneira impecável. Usavam óculos escuros. A impressão de não portarem armas era um fato meramente ilusório.



Foram deixados em uma sala ampla, ricamente decorada.  De repente um enorme painel diante deles iluminou-se e em uma tela translúcida apareceu uma imagem meio distorcida e bastante indistinta. Uma voz cava, meio tremida se fez ouvir.
- Sejam bem vindos ao meu santuário. Abençoados sejam. Sintam-se em casa, meus filhos! – A imagem se fixou. A face alva de um carneiro das montanhas se delineou. A seu lado estava seu chefe de segurança o austero dálmata, impávido e solene. No olhar do ovino majestoso, misturavam-se severidade, poder e uma espécie de compaixão magnânima como a de um pai por seus rebentos imaturos e inconsequentes. O único que não se surpreendeu com a visão daquela figura foi Félix que falou de modo respeitoso.
- Aproveitei o convite para a grande recepção e vim lhe apresentar uma banda fantástica que está fazendo grande sucesso radiofônico, meu Senhor. Com ela também trago o DJ e representante da rádio RKOYZ FM que os lançou da obscuridade para a luz.
 - Já havia ouvido falar tanto desta banda sui generis quanto deste felino DJ. Tenho acompanhado de longe sua carreira em outras cidades e sua ascensão gradual aqui em nossa megalópole. Fez bem em trazê-los, Félix! Sua esposa cada vez mais bonita!
Em um tom de voz sempre suave prosseguiu:
- Sintam-se à vontade. Meu assessor, Bernardo Saint Clair os conduzirá ao Salão Campos Elísios onde está se realizando a recepção. Solicito que a banda toque durante o evento. Há no salão um palco montado e devidamente aparelhado com equipamento de última geração. Uma bela noite os aguarda, filhos! Que a banda se apresente e aguarde meu beneplácito. Breve estarei com vocês. Vão em PAZ. A imagem foi empalidecendo até desaparecer por completo na gigantesca tela agora totalmente escura.
         O Salão Campos Elísios estava apinhado de convivas, mesmo assim era tão amplo que ainda sobrava muito espaço para acomodar muito mais indivíduos.
         A apresentação dos Paquidérmicos inflamou o ambiente. Cantaram além de seus sucessos, músicas de variados estilos e de artistas consagrados como Jan Joplin, uma gata hippie falecida há décadas por uso excessivo de drogas. Rock, baladas, Heavy Metal, Love Songs. Tocaram de tudo. Zé Gatão conheceu uma gatinha voluptuosa filha de um fabricante de reatores atômicos. Chamava-se Jade. Não se largaram mais. Félix olhava-os divertido e dançava de maneira sensual com sua esposa, olhando-a profundamente nos olhos. Zé Gatão pensou consigo que até poderia ter interpretado errado aquela noite em que ele e o amigo foram trepar com aquelas gatas da noite. Não devia ter nada errado no casamento de Félix. Como ele próprio, o amigo era um felino e os felinos eram bem ecléticos em se tratando de relacionamento sexual. Ele, Zé Gatão, fugia um pouco a esta regra.
Bebidas finas corriam à solta, caviar da melhor qualidade e os mais variados petiscos a que só ricos tinham acesso. Zé Gatão nunca comera nada daquilo, mas a boa educação que recebera de sua mãe não permitiu que fizesse feio ou se descontrolasse à mesa.
Mais ou menos em torno das duas da manhã, o anfitrião apareceu ladeado pelo seu segurança sempre vigilante, o dálmata e pelo diligente secretário o cão Bernardo Saint Clair. Junto do mega empresário estava uma ovelha simplesmente deslumbrante, possivelmente uma de suas muitas namoradas do solteiro mais cobiçado do momento. Embora já de meia-idade, o apetite sexual do carneiro era lendário. Fez um breve discurso ao som de uma música instrumental suave tocado pela banda. Depois, chamou Félix, Zé Gatão e Sylvia, a aliá líder e vocalista dos paquidérmicos para acompanhá-lo com o intuito de fazerem uma rápida reunião de negócios. Tomaram um elevador ultra expresso para a cobertura onde ficavam os aposentos privados do mega empresário. Ele era conhecido em todo o lugar onde se tocava música no mundo civilizado. Seu nome era Ovinus Lanosowick. Respeitado, admirado, temido e odiado por muitos.
Na ampla sala de reunião, os acertos para gravação e produção de CDs, bem como apresentações por cidades a fora foram acertados com uma penada só. Satisfeito, Ovinus Lanosowick deu um gordo adiantamento em espécie a seus espantados interlocutores e convidou-os a passar algumas semanas em sua companhia para juntos arquitetarem os próximos passos para o grande lançamento da banda os Paquidérmicos na mídia.
Os dias ali vividos foram idílicos. O Monte Olimpo era um verdadeiro universo de prazeres. Uma tecnologia revolucionária chamada de Holodeck.  Ela permitia que em espaços não maiores do que um quarto ou uma sala através de um programa de computador você pudesse, em ambientes programados à escolha do freguês, estar em uma praia paradisíaca, em uma floresta, deserto, pradarias, estepes, um cassino, em outros países ou mesmo outros planetas. O mais interessante é que você podia interagir com pessoas holográficas em 3D geradas por computador como se estivesse vivendo uma fantástica realidade. Até as comidas e bebidas podiam ser sorvidas e o cérebro era sugestionado com uma sensação de saciedade. Zé Gatão e Jade, a gatinha voluptuosa, gostavam de ficar em um bosque bucólico junto de um regato murmurante. Quando estavam com Félix e esposa, iam a cassinos, pescarias de iate no Oceano, shows musicais e dirigiam carros possantes por estradas sinuosas. Era fantástico! Esta tecnologia ainda nem tinha sido divulgada para o mundo exterior e já estava a serviço de um único indivíduo que podia pagar por ela. Apesar do


inusitado e do prazer proporcionado, Zé Gatão achava tudo aquilo uma enorme futilidade. Mas guardou sua opinião consigo. Por mais que gostasse de Félix ele nunca fora um cara reflexivo. Ele e sua esposa eram mundanos. Ambos existiam apenas para aproveitar a vida o máximo que podiam.  Além dos longos momentos de ócio e diversão, sentavam com Ovinus para delinear o trabalho de promoção da banda. O curioso que fora a aliá Sylvia, nenhum membro da banda foi jamais chamado para participar das negociações. Não que eles se importassem, uma vez que passavam todo o seu tempo em uma casa de fumar ópio criada pelo Holodeck. A simulação era tão perfeita que havia o perigo de gerar uma espécie de irreversível vício psicológico. Zé Gatão como DJ também animava as inúmeras festas que Ovinus promovia. Cada evento era realizado em um salão diferente a cada noite e cada um deles tinha um nome sugestivo: Ares, Palas Atena, Hermes, Hefaístos, Afrodite.
Passaram-se quatro semanas. Zé Gatão já estava cansado de ficar ali e manifestou a Félix o desejo de partir na manhã seguinte. Félix olhou-o estupefato! Disse que se possível, ficaria ali o resto da vida. Seu olhar era sonhador, parecia totalmente alheio às ponderações do felino taciturno. Exasperado, Zé Gatão pediu uma audiência com Lanosowick. Em uma antecâmara, contígua ao escritório do carneiro, Zé Gatão tomou um chá de cadeira de mais de duas horas. Quando o deixaram entrar no recinto já tinha contado até mil para não meter o pé na porta e invadir o sacrossanto escritório daquele velho pretensioso. Procurando imprimir um tom moderado à voz, expôs sua decisão de partir imediatamente. Lanosowick olhou-o como se ele fosse uma criança birrenta. Denotando complacência no falar disse:
 - Meu filho, não posso ainda prescindir dos seus serviços.  De mais a mais o que vai fazer lá fora? Aqui você está no paraíso terrestre, nos verdadeiros Campos Elísios, onde você pode ser quem quiser! Pode fazer o que quiser, ir aonde desejar, bastando entrar em um cômodo e mergulhar em universos reais, fictícios ou paralelos sem hora para voltar através do Holodeck. Além disso, tem emprego fixo e é regiamente remunerado. Que mais pode alguém querer?
- Escute, não nasci para ficar preso em uma gaiola dourada! Foi divertido, mas para mim chega! Vou dar o fora deste seu paraíso de merda agora!
A expressão do rosto de Ovinus ficou extremamente sombria, sua voz tornou-se áspera. Lentamente, labaredas de uma fúria intensa fulguravam em seus olhos arregalados, os músculos da face em um fremir incontrolável era uma visão dantesca.



- Filho...! Terá você a ousadia de dar as costas ao Paraíso? Renegará você a redenção?!
- Você é maluco!
- Silêncio, ímpio! Incréu! Como ousa você, um mero mortal blasfemar desse modo?! Como se atreve a me desrespeitar?! Eu que sou o ETERNO?! Desci do Céu a este mundo para arrebatar do fel os Eleitos! Vim saciar os sedentos com o néctar da Paz Celestial! Vim alimentar os famintos com a ambrosia da Remissão! Aos incrédulos e escarnecedores o fogo devorador da minha ira os consumirá! Consumirá toda a carne impura que rasteja sobre esta terra!! Ingrato! Com o soprar do vento divino de minha boca posso lançá-lo às profundezas do Tártaro! Em um piscar de olhos, reverto você ao primitivo pó de onde o formei! NÃO SOU EU O SENHOR DOS EXÉRCITOS? NÃO SOU EU O PRINCÍPIO E FIM? O ALFA E O OMEGA? – Zé Gatão estava abismado. O sujeito definitivamente era louco! E da pior espécie! Um louco religioso! Megalômano! De repente, sua fisionomia sofreu uma alteração drástica. Da mesma forma que a ira divina se acendera nele, agora tomado de uma compaixão profunda, dirigiu-se a seu interlocutor suavemente:
 - Retorne agora a seus aposentos, filho ingrato. Esta noite, entrará comigo em um Holodeck, onde terá contato com a Doutrina Sagrada de nossa Religião. Então, ó FILHO PRÓDIGO, ainda hoje em genuflexo, vai me adorar como seu único deus. Assim, tendo-o de volta ao redil a tudo hei de perdoar, pois você antes estava cego! Mas no porvir seus olhos enxergarão nitidamente iluminados pela luz brilhante da Verdade! Você será o Grande divulgador da Palavra através da música. Aos crentes a absolvição e a Felicidade! Aos descrentes a ruína e a Morte! Você será meu Arcanjo Vingador! Meu Anjo de Luz!
- Não! – Rugiu o felino taciturno. – Lanosowick acionou um alarme silencioso e dois mastins apareceram como que por encanto atrás de Zé Gatão. O felino olhou fixamente para Ovinus e rosnou:
- Carneiro! Tive paciência de ouvir suas baboseiras até agora! Me deixe ir embora em paz, ou terei que rachar algumas cabeças!
- Cães! Prendam o infiel! Sem armas de fogo! Coloquem-no em seus aposentos! Ele vai ter uma doutrinação especial! – Os dois guardas velozmente agarraram o felino cinzento, imobilizando seus braços. Ovinus murmurou, cofiando a barbicha que pendia de seu queixo: - Estranho...Félix e os demais não deram trabalho! Foram doutrinados subliminarmente no Holodeck comum! Você estava com eles. Por que...? Já sei! Você é um mestiço! Talvez seu lado selvagem tenha resistido ao processo! Mas no Holodeck doutrinador onde vou colocá-lo, nem mesmo você poderá resistir! Será meu! Meu para todo o sempre!
- Uma ova! – Zé Gatão mesmo manietado pelos cães, conseguiu soltar-se. Agarrou os dois canídeos pelas gravatas e os chocou um contra o outro com tal violência que o som forte de ossos quebrados se ouviu nitidamente.


Ambos tombaram desacordados. Ato contínuo, o dálmata entrou no local, saltando acrobaticamente. Sua intenção era derrubar o felino e dominá-lo no chão. Aproveitando o impulso do salto do adversário, o grande gato agarrou-o e no mesmo movimento arremessou-o contra a pesada mesa de trabalho de Ovinus. O impacto brutal rachou-a ao meio. Em seus destroços, o dálmata rapidamente mergulhou na inconsciência.
- Bravo! Você será verdadeiramente meu campeão!
- Agora é sua vez, cabeça de merda! – Zé Gatão avançou determinado a dar uma surra exemplar naquele arremedo de deus louco.  Contudo, antes que o felino enfurecido o alcançasse, Lanosowick apertou um botão secreto. O chão se abriu e da abertura emergiu uma figura impressionante. Era um carcaju, também conhecido como glutão ou Wolverine. Era atarracado, quadrático. Musculatura compacta e sólida. Olhos injetados, ódio encarnado!
- Este é Necromantis ou Necro se preferir! Ele é a mão esquerda de deus! Se sobreviver você será a direita! Portanto, lutem em honra de seu Criador, meus filhos! Lutem!
Zé Gatão atacou forte e rápido, no entanto seu soco encontrou o vazio. Por um triz as garras de Necros não rasgam seu peito. Um salto para trás livrou-o de receber um ferimento sério. Sem perder o feroz mustelídeo de vista rasgou a camisa para facilitar os movimentos. Coincidentemente, o carcaju fez o mesmo e avançou já esmurrando em uma sequência rápida com os dois punhos ao mesmo tempo. Zé Gatão mergulhou sob a barragem de murros e aplicou um soco animalizado no plexo solar do antagonista. O ar foi expelido fortemente dos pulmões, sem que Necros conseguisse voltar a novamente inspirar oxigênio. Ainda assim, a fera jogou-se contra Zé Gatão, derrubando-o em cima de um conjunto de poltronas que se achava no canto direito do escritório. A mobília se despedaçou ante o impacto dos corpos daqueles magníficos contendores.  De boca aberta em uma inspirada forçada que fazia arder a garganta e provocava dor atroz nas costelas ao expandirem a caixa torácica, Necro inundou o corpo carente de ar fresco. Com a mão direita, apertou a garganta do felino taciturno, ainda estonteado pela violenta queda. O braço esquerdo se ergueu. A mão em garra pronta para desferir um golpe devastador que transformaria o rosto de Zé Gatão em frangalhos sangrentos. Face cianótica, pulmões em brasa, vista ficando turva, Zé Gatão lutava pela vida. Com as últimas forças restantes deu um tranco que desequilibrou Necros e o fez cair de lado. Antes que seu brutal êmulo se recuperasse, o felino cinzento, respirando rápida e profundamente se posicionou por trás de Necros envolvendo seu pescoço. Aplicou um brutalizado mata-leão e foi forçando cada vez mais até o limite do suportável.   Desista! Pensou o felino. Um
gemido estrangulado escapou da goela de Necro, mas ele não se rendeu. Então, um som repentino, funéreo e seco evidenciou a quebra de seu pescoço. Estava morto.
Esgotado, Zé Gatão ergueu-se do solo. Uma dor de cabeça terrível! Uma enorme sensação de inutilidade! Não era a primeira vez que matava para sobreviver. Mas o cadáver a seus pés não tinha sido um ente livre, dono de si mesmo. Antes fora um peão, um instrumento nas mãos de um fanático! deus falso que decerto já destruíra muitas outras vidas. Uma horda de cães cercava o grande gato, desta vez empunhando pistolas. A um gesto de Ovinus ficaram parados, aguardando ordens. O carneiro maldito dirigiu-se ao felino taciturno:
- Você é fantástico! Que luta! Sabe que até hoje ninguém tinha derrotado o pobre Necro? Em minha benevolência, volto a fazer a oferta para que você se torne meu Arcanjo Vingador. Terá o livre arbítrio, a prerrogativa de um deus. Será um gigante entre anões! – O olhar enojado de Zé Gatão valeu mais do que mil palavras. Até a mente doentia do carneiro enlouquecido compreendeu.
- Que assim seja! Você está expulso do Paraíso! Trabalhará pelo seu sustento e a terra te será maldita! Colherá cardos e abrolhos! Comerá pó todos os dias de sua vida!
- Já conheço esta cantinela! Quanto a Félix e os outros?
- São meus filhos, agora! Levá-los de volta ao Mundo os condenaria a mergulhar em uma insanidade total e completa! Cães! Deixem-no ir! Ele já fez sua escolha.

E Zé Gatão voltou ao Mundo frio e cruel, mas verdadeiro. Deixou para trás um pseudo Paraíso, tendo perdido para aquele horror travestido de idílio, um querido e fiel amigo.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

OS OLHOS MALIGNOS NA ESTRADA SEM FIM.


Um dia de uma claridade onírica, minha cabeça pesava, eu andava com passos ébrios por um bairro próximo, procurando por uma lotérica para efetuar um pagamento, pelo menos era a impressão que eu tinha. As ruas desertas sugeriam que era um fim de semana, devia ser por volta das 16 horas. Perguntava a mim mesmo: como pude me esquecer?
Uma angústia inexplicável me envolvia a alma.
Subitamente me lembrei de uma lotérica que ficava aberta até mais tarde numa rua adjacente. Segui até lá, incerto se o caminho era aquele mesmo. Entrei numa rua estreita, asfaltada, sem calçadas e com muros caiados bem altos,  me era impossível divisar o fim da estrada, tão longa ela parecia. Me lembro que assim que entrei na rua eu bati meu ombro esquerdo no muro imaculadamente branco e como um bêbado dei um volteio sobre o piso negro.
Na sofreguidão de alcançar o estabelecimento aberto quase não me dei conta de um carro branco parando bem ao meu lado. Um carro antigo, bem pequeno, como os antigos modelos da Fiat, só que menor ainda. Aquilo me causou uma forte má impressão, principalmente porque eu não conseguia enxergar quem estava dentro do veículo devido aos vidros escuros. Neste instante a portinhola se abriu e um indivíduo negro, de rosto triangular e bigodinho a la Sammy Davis Júnior me encarou. Tinha uns enormes olhos amarelados, esbugalhados como os de um sapo, onde as pupilas apontavam em direções opostas, injetados de malignidade. Sua intenção, pelo que pude perceber, era fazer uma maldade indizível a mim. Não havia como pedir socorro. Me pus a correr pesadamente. Ao olhar para trás vi o negro com intenção de correr atrás, mas como se pensasse melhor, entrou no minúsculo carro e bateu a porta pesada e barulhentamente. Seria mais fácil me alcançar sobre quatro rodas, quem sabe até me atropelar. Quando ele pisou no acelerador eu acordei.

O braço esquerdo debaixo da minha cabeça formigava. Devia ser umas três da tarde, a sonolência e cansaço me obrigaram a um cochilo depois do almoço e deu neste pesadelo que me deixou perturbadamente impressionado por parecer vividamente real.

Rabisquei esta imagem caricatural que nem de longe traduz o que era o rosto daquele indivíduo.

Voltei às minhas atividades, mas com uma estranha sensação de fragilidade que só a velhice pode trazer.  

A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE COMENTADO PELO ESCRITOR E POETA BARATA CICHETTO

 O livro que tive o prazer de trabalhar ao lado do ficcionista Rubens Francisco Lucchetti intitulado A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, ...