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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A CARTOMANTE.



Este conto do Machado ainda hoje, depois de tantos anos, continua me causando mal estar, penso em como deve ter sido impactante na primeira vez que foi publicado. Para mim que sou fã de carteirinha do nosso maior e mais brilhante escritor é uma honra e um privilégio ilustrar algumas de sua obras e por mais que me esforce, nunca vou estar à altura. Mas faço o que posso.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

POSFÁCIO PARA UMA EDIÇÃO DE "OS MORTOS VIVOS"

Fui convidado para escrever o texto final para a décima edição de "Os Mortos Vivos" da Editora HQM. Muita gentileza de Carlos Costa, o editor.
Sou um fã do gênero, como poderão constatar, e se você ainda não leu a saga, não sabe o que está perdendo, é muito superior a série de tv originada dos quadrinhos que é campeã de audiência nas emissoras que a exibem, e olhem que a série arrebenta!
Bem, a décima edição com o posfácio deste vosso humilde escriba já está na praça faz um tempo (a capa exibida aqui, atesta), então, creio que já posso compartilhar com aqueles que não conhecem a série, afinal nem todo mundo aprecia este gênero de história, ou tem acesso a este material, segue o texto. Enjoy.



"Minha relação com os mortos vivos vem de longa data. Sou fascinado por eles, tanto que criei uma hq com o tema intitulado "Carne Crua" para um álbum (ainda inédito) muito antes deles virarem moda.
Meu primeiro contato com estes defuntos andantes aconteceu pra valer, se não me falha a memória, em 1979, quando assisti num pulgueiro em Padre Miguel (RJ) ao "Dawn of Death", o segundo da trilogia do mestre George A. Romero (aqui, batizado de "Zombie, O Despertar dos Mortos", aquele em que um casal e dois caras da Swat se refugiam num shopping). Li a muitos anos, em algum lugar, que este é considerado um dos filmes mais violentos da história. Devo ter visto esta película mais de 10 vezes (acreditem, naquela época os cinemas de rua eram baratos pacas). Fez tanto sucesso que gerou uma infinidade de imitações, todas sofríveis, apesar da boa intenção por parte de seus realizadores, que iam de Dário Argento a Lucio Fulci.
Anos depois, caiu-me nas mãos um VHS pirata do "Day of the Dead" (este é o da base militar subterrânea) que fechava a trilogia idealizada por Romero - excelente - mas que fracassou redondamente nas bilheterias. Foi ali que vi pela primeira vez alguém ser decapitado com uma pá. O primeiro filme da série (o clássico "Night Of The Living Dead" de 1968) só assisti na década de 90, lançado em VHS pela Continental - fabuloso!
Fama e título de lenda viva renderam a Romero um orçamento mais gordo para realizar um novo episódio de sua saga com os zumbis no novo milenio, "Terra dos Mortos", bom filme, assim como o seguinte, "Diary of the Dead", mas parecia que a fórmula havia se esgotado. Os mortos demonstravam ter virado arroz de festa, estavam em todos os lugares e mídias (até os heróis Marvel viraram zumbis canibais).
No meio de tanto besteirol apareceu um cara como o senhor Robert Kirkman pra reinventar a roda, criando OS MORTOS VIVOS. Não levei fé na primeira vez que botei as mãos numa edição importada na loja da Devir (faz tempo), apesar dos desenhos do Tony Moore me chamarem muita atenção. Não liguei mais para o fato, até adquirir o primeiro encadernado lançado pela HQM. Virei fã na hora. A estrutura do enredo, o desenvolvimento de cada personagem e a coragem de dar destinos funestos a eles como faz o autor, mostra que a série ainda vai surprender muito; como se não bastasse, ainda temos a série televisiva baseada nos gibis, que não fica devendo nada às melhores sagas destes cadáveres ambulantes.
Não dá mais para voltar atrás, os Zumbis estão em todos os setores da cultura pop: quadrinhos, games, música, cinema e literatura, em paródias e pastiches, e apesar da super exposição que este gênero de história de horror sofre, OS MORTOS VIVOS resistem bravamente nas trincheiras (ao contrário dos vampiros, que por mais que espremam, o caldo de sangue que verte, já não causa o menor impacto).
Muito já se teorizou do porque deste sucesso, alguém disse que é por causa do medo que todos sentimos da morte e os cadáveres andantes personificam este temor de forma sólida. Para mim, eles são o ponto máximo do niilismo. E se Romero e seus congêneres já nos mostravam um mundo caótico onde não há vias de acesso, Robert Kirkman veio provar que ainda é possível descer mais fundo na fossa, mas ainda assim manter um fio de esperança. Rick e Calr estão aí para provar.
Nesta edição, o que vimos é (ainda) a mais cruenta luta pela sobrevivência, mostra que para nos pretegermos, e acima de tudo, para defender aqueles a quem amamos, somos capazes de atos nunca antes imagináveis. Chega a ser assustador a maneira como Calr reage à certas situações. Antigas amizades e confianças começam a ruir e quando este elo se parte, o frio na barriga parece aumentar, por acreditarmos qua a união é uma aliada poderosa contra o mal comum, e ainda me impressiona constatar que o ser humano é capaz das mais requintadas crueldades. Abraham, um novo e cativante personagem, será um substituto de Tyreese na vida de Rick? Ou perderá o controle e porá tudo a perder? Mal posso esperar pelo próximos números.

Sabem, metafóricamente falando, é possível ver estes zumbis se arrastando por aí, e não falo só do coitado que envolto em panos malcheirosos, dominado pelo crack, perambula pelas ruas das grandes megalópoles, mas também daqueles que de alguma forma devoram sua carne, sua essência, no dia a dia, entupindo sua cabeça com excessos de informações e realidades fabricadas que te mantêm dopado e pronto para o abate. Reacionário eu? Talvez, mas os noticiários que de manhã à noite nos esbofeteiam o rosto não deixam dúvidas, os mortos caminham entre nós.

 Eduardo Schloesser é ilustrador e quadrinista, criador do personagem Zé Gatão"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O ESCORPIÃO DE PRATA.

Escorpião de Prata. Nome legal esse, né? Melhor que um tal Zé Gatão. Certa vez fui criticado por um cara, dono de uma loja de quadrinhos, que disse sem nenhum constrangimento: "cara, cê criou um personagem muito rico com um nome muito idiota!" Como muita gente sabe, minha intenção era um personagem de humor para umas tiras humorístico-filosóficas. Como a coisa saiu do meu controle, ele acabou virando um personagem taciturno de acordo com meu humor no momento de criar as hqs, daí o nome ficou um tanto díspar se comparado às situações vividas por ele em suas aventuras. Mas estou, como de costume, saindo do assunto, o papo aqui é o Escorpião de Prata.
Este personagem foi criado pelo Eloyr Pacheco em 2007. O Eloyr é um cara muito conhecido no meio dos quadrinhos tupiniquins, principalmente no sul do país, foi editor da famosa e falecida Brainstore, editora que publicou Quebra-Queixo, Hitman, Lobo, Preacher e vários outros títulos da Vertigo. A extinta Metal Pesado também teve sua edição, bem como a revista Canalha.
Recentemente ele me pediu uma fanart para seu personagem. Pedi a ele que esperasse um pouquinho e saiu a imagem que vemos hoje.
Au revoir.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O MISTERIOSO CASO DOS LOBISOMENS GIGANTES ( CENA 05 )



Tiveram um bom fim de semana? O meu foi tranquilo, trabalhando como sempre. Na verdade a editora ainda não me passou o novo livro que devo ilustrar, como no momento só estou trabalhando para eles, significa que minhas contas serão pagas com atraso no início do próximo mês. Bem, já passei por isto e sobrevivi. A boa notícia é que pude retomar alguns trampos pessoais que estavam parados, como a ilustração de capa para o próximo Zé Gatão. Ufa, finalmente consegui concluí-la!

Bueno, indo ao que interessa, hoje temos a penúltima imagem da minha série de lobisomens gigantes. É curioso como a ideia que temos de uma cena,, dentro da cabeça, parece muito mais poderosa. Este desenho, no papel, ao meu ver, perdeu metade da força.

A todos, um beijo, um abraço e um aperto de mão.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

POR ONDE SERÁ QUE ANDA O WILLIAM SMITH?




Na real, eu nunca fui com as fuças do William Smith, metidão a gostoso, cara de antipático, o tipo que com aqueles olhinhos te congela o sangue nas veias, porque ele sabe sim, como intimidar. Acho que tenho esta visão deste subestimado ator americano, porque as primeiras vezes que o vi na tv ele fez papel de vilão em quase todas as séries das quais eu era fã.
Não estou bem certo, mas acho que a primeira vez que me lembro de te-lo visto como um canalha violento, foi num dos episódios de "Arquivo Confidencial" com o inesquecível James Garner.
Atores com porte de fisiculturista era algo muito incomum nos anos 70, daí eu ficar impressionado com o cara, depois o vi no segundo episódio da séria televisiva "O Planeta  Dos Macacos", onde ele lutava dentro de uma arena. Logo depois o que me marcou de fato foi sua atuação como o vilão Falconetti em "Pobre Homem Rico", excelente tele-série protagonizada por Peter Straus e Nick Nolte e tido como o ponto alto da carreira de Smith.


Ainda na mesma época o vi como facínora em vários outros filmes, sempre espancando alguém.
Acho que não muito depois assisti a um filme "B", chamado "A Tumba Do Vampiro"onde finalmente ele era o mocinho, o filho do vampiro. Uma brutal sequência de pancadaria no final da película foi motivo de comentários entre eu e meu amigo Luca por muito tempo, e ainda hoje me entusiasma.

Ele foi modelo para a criação de um personagem de infância, Larry Montana, na verdade não era uma figura de hqs, era um tipo que servia como uma luva para as divertidas peças de teatro que eu encenava com o Luca na sala lá de casa e depois para nossos contos.


No início dos 80, Willian despontou como pai do bárbaro Conan (o filme de 1982), ainda no "O Selvagem Da Motocicleta" e "Amanhecer Violento". Assisti (novamente na televisão) ele saindo na porrada com o Clint Eastwood no fraquíssimo "Punhos De Lutador". Depois não soube mais nada do cara, nem me fez falta.


Acho que William Smith foi um desses atores que acabaram estigmatizados por seu porte físico, começou cedo no cinema, ainda pirralho fez "O Fantasma De Frankenstein", serviu na Força Aérea Americana, campeão de levantamento de pesos, realizou 5.100 abdominais contínuas ao longo de cinco horas, tem um recorde de 31-1 como pugilista amador,  parceiro de treinos de Larry Scott (o lendário primeiro Mister Olympia), jogador de futebol americano profissional,  lutador de Karatê, Kung Fu, participou de torneios de motocross ao lado de Steve MacQueen, foi quase Tarzan no lugar de Lex Barker, malabarista, mestre com o chicote, ganhador do "Esporas De Prata"em rodeios, por pouco não foi o Caine na série Kung Fu e quase atuou ao lado de Bruce Lee em Operação Dragão, o papel acabou ficando para o John Saxon. Fluente no inglês, russo, francês e servo-croata.

A pergunta que dá título a esta postagem poderia ser respondida pelo Google, no entanto pouco importa, lembrar do vellho Bill foi uma forma de dar vazão aos arroubos de nostalgia que me acometem nestes dias amargos.

Ao final desta escrita, eu até que vou com a cara do William Smith, afinal, ele fez "A Tumba Do Vampiro".


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ARTE ENCOMENDADA. ( SHEEVA X GRACE CHOI )






 É muito difícil trabalhar com artes particulares. Num passado bem distante, quando todos morávamos em cavernas e o mundo girava mais lento e não havia internet, nem celulares, nem tvs de lcd e coisas do tipo, eu fazia retratos a óleo, a carvão e etc para aliviar um troco, era uma coisa complicada pois esse negócio de retrato rendia uma grana mas também momentos constrangedores. Explico: todos temos dentro da cabeça uma "auto-imagem", ou seja, por mais que nos olhemos no espelho - a imagem refletida ali - um tanto mais do que ela é na verdade, é como gostamos de nos ver. Em contrapartida as pessoas em nosso derredor no veem de outra forma, não exatamente diferente do que vemos no espelho, mas olhando de ângulos  diferentes, tem-se uma visão mais completa, talvez. Não sei se me fiz entender, não sou lá muito bom em traduzir em palavras o que está dentro da minha cabeça.
Só pra confirmar o que disse, certa vez em 1988, uma amiga da minha mãe, me indicou um trampo. Um oficial da marinha, morador da nossa quadra em Brasília, um apaixonado pela esposa, quis dar de presente no aniversário dela, um retrato a óleo. Fui na casa dele uma hora em que a mulher estava ausente (o presente era pra ser surpresa) e acertamos o preço. Ele me deu uma foto dela para executar a obra, uma mulher comum, nada demais, nem feia, nem bonita, pra falar a verdade, mais pra feia que bonita. Fiz o tal retrato e no dia marcado, o dia do tal aniversário, a pedido dele, fui levar o quadro. O cara adorou, a filha dele também, se emovionaram e tals. Eu me emocionei ao receber o cheque.
O problema foi na hora de mostrar "o presente" à mulher. Fizeram ela entrar na sala com os olhos fechados e toda esta pataquada. Quando ela abriu os olhos e observou a coisa, pela expressão dela, tive vontade de cavar um buraco e sumir dali. Ninguém disse nada, ela olhou em volta, fixou-se em mim tentando entender quem eu era e o que estava fazendo em sua casa. "Esta sou eu?!?" Indagou ela com incredulidade. "Mas eu não sou assim! Quanto você pagou por isto?" Ela quis saber. O marido sem graça, me apresentou e eu emendei dizendo que precisava ir embora. Agradeci a todos e evaporei.
O retrato estava tal e qual a foto que o cara me deu. Mas a mulher não se via daquela forma, ou não se aceitava daquela forma. Fatos como este me fizeram desistir de pintar rostos.

Um rapaz que curte meu trabalho me encomendou a criação de uma arte original, Grace Choi, heroína casca grossa da DC se digladiando com Sheeva, do Mortal Combat, lápis de cor. Não me sinto a vontade com arte comissionada, nunca sei se vai agradar, eu pessoalmente sempre tenho um monte de ressalvas. Mas ele parece que apreciou. Abaixo, as etapas do processo.
















segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ARTE PARA CONTO DE ARTUR AZEVEDO E....




Queridos e queridas, bom dia.
Pra começar a semana, mais alguns desenhos para os clássicos. Só não posso afirmar com certeza para quais livros foram criadas, mas acho que foi para uma antologia de contos do Artur Azevedo pois a ilustração acima eu sei que foi feita para o famoso conto, "Dona Eulália", sabem, foram tantas nos últimos meses e com tanta correria que já não lembro, assim que termino, faço um scan delas e depois engaveto até que passe um tempo e possa divulga-las aqui, as debaixo bem podem ter sido para algum Lima Barreto, Machado ou Alencar, os que pararam na minha prancheta com mais frequência, mas acho que foram mesmo para Artur Azevedo. Bem, creio que isto não importa tanto, né?

Dito isso, desejo uma boa jornada semanal a todos.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TOP! TOP! CONVENÇÃO PARAIBANA DE QUADRINHOS.



Havia pelo menos uns três anos que eu não via minha mãe, ela viria me visitar por ocasião do meu aniversário de 50 anos; normalmente quando vem a esta terra quente, ela costuma ficar de quinze a vinte dias, mas desta vez devido as enfermidades de meu pai, ela só ficaria uma semana.
Um tempo antes da chegada dela, recebi uma mensagem via Facebook do Manassés Filho, proprietário da Comic House me convidando para participar de um evento de quadrinhos em João Pessoa, seriam dois dias de oficinas, palestras, mesas redondas, lançamentos, exposições e etc. Prato cheio pra quem curte gibis.
Pra ser sincero era a primeira vez que eu era lembrado pra um acontecimento assim, mas como coincidiria com o pouco tempo que minha genitora ficaria comigo, pensei em recusar. Contudo, minha esposa disse que era importante, seria mais uma forma de divulgar meu trabalho e conhecer outras pessoas da área, que aconteceria nos dias 01 e 02 de dezembro, um fim de semana. Topei partilhar por um dia e optei pelo domingo.

Curiosamente, o organizador do evento não ligou mais, de sorte que eu não tinha detalhes de como chegar ao local onde se daria a coisa. Mas isso não me impediria.
Com minha característica falta de dinheiro, munido do pouco que tinha e uma bolsa pesada com álguns dos meus quadrinhos, lá fui eu, num domingo ensolarado (que logo se transmutou numa manhã nublada) pegar o metrô que me deixaria na rodoviaria. Enquanto esperava o trem, meu celular tocou. Era o Manassés:
"Mestre, desculpe a falta de notícias, mas é tanta coisa por aqui, que só hoje vi sua mensagem no Facebook, peguei seu número com sua esposa e tal e tal..."
Realmente, organizar algo deste tipo, praticamente sózinho, ainda por cima pela primeira vez, é algo pra deixar qualquer um louco. Ficou combinado que assim que eu chegasse na rodoviaria de João Pessoa eu ligaria para o número dele e ele iria me pegar.
Eu não sabia que o metrô de Pernambuco era tão lento (e tão sujo!), a mesa redonda sobre quadrinhos independentes da qual eu participaria, estava marcada para as 14 hs, cheguei ao terminal as 10:30, quase no momento do ônibus sair, dali até a Paraíba levava umas duas horas, ficaria apertado para almoçar mas achei que daria tempo.
No coletivo, apenas umas cinco pessoas, fora, um dia prometendo chuva, dentro, um ar de penumbra.  Ótimo, seria a chance de dar um bom cochilo até meu destino. Puxei a cortina encardida da janela, me acomodei na poltrona, fechei os olhos e fiquei pensando besteira quando o ônibus parou e entrou um cara alto, de bermuda, pernas muito brancas, camisa de banda de rock, cabelos alourados compridos amarrados em rabo de cavalo e cavanhaque mal feito, sentou-se logo atrás de mim. "Porra", pensei eu. Pelo visto o autocarro iria pegar passageiros pelo caminho. Voltei aos meus devaneios e os movimentos incertos do veículo despertaram um sono que foi chegando de mansinho. Subitamente, uma voz com forte sotaque gaúcho me arrancou dos braços de Morfeus, era o tal cara alto que falava no celular com estrépito. Ficou lá confabulando com alguém que parecia ser a namorada dele. Maldita hora que criaram esses telefones móveis, pensei, a tecnologia é uma maravilha, mas nas mãos de um idiota, é um desastre ao bom senso. Dormitei ainda um pouco, sempre limitado por aquele imbecil que falava ao aparelho como se a pessoa do outro lado não pudesse ouvi-lo.

Quando cheguei na Paraíba, passava das 12:30. Fui ao banheiro aliviar a bexiga e depois tentei ligar para o Manassés, chamava e ninguém atendia. Uma fome começava a dar sinais de vida. Celulares sempre aprontam, por isto comprei um cartão telefônico. Liguei. Nada. Depois de cinco tentativas, fui até um ponto de táxi gastar um pouco dos meu minguados tostões. Olhei à minha esquerda e divisei um cara me olhando, tentando me reconhecer. "Eduardo?" perguntou ele incerto. "Eu mesmo." Respondi já reconhecendo meu anfitrião pela pequena foto do Facebook. 
Apertamo-nos as mãos.
"Rapaz, fiquei esperando sua ligação!" 
"Ué, eu liguei várias vezes!" 
"Não recebi ligação nenhuma!" Ele olhou para o celular, incrédulo.
"É mesmo, tem várias ligações aqui, mas o aparelho não tocou!"
Havia outro cara com ele, pegamos o carro e fomos para o local do evento. Garoava. Tive de João Pessoa uma ótima impressão. No trajeto falamos sobre o dia anterior do festival, hqs, artistas e coisas pertinentes.
Assim que chegamos, fui apresentado a Milena Azevedo (historiadora, cinéfila, sériemaníaca, colecionadora de HQs,  roteirista e também piloto de joystick de xbox 360 nas horas vagas, como ela mesma se define em seu excelente blog, o GHQ (Garagem Hermética Quadrinhos)) e ao Beto Potyguara (Licenciatura e Bacharelado em História pela UFRN e em Design Gráfico pelo SENAC). Quiseram tirar fotos comigo. Não curto tirar fotos, mas tiramos. Depois disso eles foram tratar dos seus afazeres e eu, com sempre acontece nessas ocasiões, fiquei me sentindo como um peixe que caiu fora do aquário. Dei uma olhada nas revistas no estande da Comic House e depois conversei um pouco com um simpático casal gaúcho,  Pedro Dario Lima Lairihoy  e Anelise Knevitz Bartholdy , ele, professor de história, e fã recente de hqs, se não me engano. Após isto nos dirigimos para a sala onde se daria a Mesa Redonda que seria  mediada pelo Audaci Júnior (Jornalista, quadrinista, designer e videomaker) que também tem um ótimo blog chamado Quadrinhos em Quadrinhos. 


Além de mim, claro, estavam lá para dissertar, os Os professores Cellina Muniz (UFRN) e Henrique Magalhães (UFPB), Thaís Gualberto, do fanzine Coletivo WC e Jack Herbert,. artista que trabalha pra as editoras norte americanas desenhando super-heróis.
A maior parte do assunto em pauta foi sobre fanzines (algo que nunca fiz), mas as palavras do Henrique Magalhães foram muito elucidativas, a melhor da mesa.  Comentei sobre a via crucis que foi parir o meu primeiro álbum  (e como sempre, achei uma droga as coisas que digo). Não sabia, mas parte do que falei foi gravado e jogado no YouTube.


Avançamos no horário e ainda assim muita coisa ficou por ser abordada. Um moço que se chamava Eduardo me reteve um tempo para falar que era professor de educação física, mas dava aulas de desenho pra uma rapaziada carente, acho que era isso, não me recordo bem agora, e que meus álbuns de desenho tinham sido de grande ajuda. Enquanto conversávamos, eu procurava o Manassés para ver onde eu poderia comer algo, pois a fome já me dava dor de cabeça. Falei com ele. Olhou em volta procurando alguém que pudesse me levar a alguma lanchonete. Ele pediu ao Eduardo que me levasse a algum lugar, mas o cara estava de moto e só tinha um capacete. Um outro rapaz, que não sei o nome, foi muito solícito, se ofereceu pra me acompanhar de carro. O Eduardo veio junto, sempre falando sobre a importância de incutir arte na cabeça dos jovens e tals. 
Como era domingo, a única coisa que encontramos aberta foi uma padaria de aspecto sombrio.
"Qual o maior sanduba que você tem aqui, meu bem ?" Perguntei à menina do balcão.
"É o cheesebacon salada, senhor"
"Beleza, é esse mesmo que eu quero"
"É...bem, o bacon tá em falta."
"Poxa, não diga! Tudo bem, manda assim mesmo."
"O alface também acabou" 
"Ok, sem alface e sem bacon. Prepara aí."
Enquanto a mocinha colocava o hambúrguer na chapa, olhei uns doces atrás de um vidro. "Isso aqui é queijadinha?" Perguntei. "É, sim senhor." "Me vê uma." Assim que pus aquilo na boca, vi que tinha cometido um erro. "Ei, isso aqui é de hoje?" "Não senhor." "O quê, vai me dizer que é da semana passada!?!" "Não, foi feita ontem." Não disse mais nada, joguei aquilo fora e segui para a mesa onde os outros dois me esperavam, antes peguei uma coca no refrigerador. "Não é mais saudável tomar um suco de frutas?" Indagou o professor de educação física. "Pode ser, mas veneno desce melhor com outro veneno." Respondi.
Enquanto eu comia o pior cheesebancon salada, sem bacon e sem alface, da minha vida, o Eduardo me mostrava uma pequena pasta cheia de desenhos. Todos muito expressivos.
Voltamos para o local do festival, pois estava agendado uma sessão de autógrafos para as 17 horas.
Chegando lá, tive o prazer de conhecer o grande (literalmente) Emir Ribeiro, famoso criador da também famosa heroína brasileira, Velta. Falei um pouco com ele. Ganhei da Cellina Muniz um exemplar do fanzine Pindaíba, que na verdade tem o capricho de uma revista e comprei um fanzine do Coletivo WC.



Sentei ao lado do Emir Ribeiro e do G, G. Carsan, fã do cowboy Tex e autor do livro Tex No Brasil.
Vendi alguns exemplares dos álbuns Zé Gatão - A Cidade Do Medo e Crônica Do Tempo Perdido. 
Eu e o Emir Ribeiro trocamos álbuns, o mesmo fiz com o Carsan. Gostei muito do trabalho deles, a Velta eu já tinha lido alguma coisa, agora pude conhece-la melhor, e pude entender que dá pra fazer hqs de heróis sem perder a brasilidade, o livro do Tex estou lendo ainda e tá muito bom!   
Começou a chover de leve, a noite chegou de sopetão, o Emir levantou a barraca e se despediu, o mesmo se deu com G.G. Carsan. 



Uma garota dos fanzines estava planejando umas cervejas em algum lugar com uma turma que tinha por lá:
"Schloesser, vem com a gente tomar umas cervejas?"
"Obrigado, mas não vai dar."
"Cê não bebe?" 
"Não, meu paladar é infantil. E depois, tenho que viajar daqui a pouco."
Depois ouvi aquela moça comentar com seus amigos: "O cara faz um uns quadrinhos cheios de putaria e vem me falar de paladar infantil!!!!" Não dá pra censura-la, minhas hqs são mesmo transgressoras, mas de fato, não gosto de álcool, e depois, o que esperavam de mim? Que eu saísse por aí a esmurrar as pessoas só porque meus quadrinhos são violentos?
Bem, já passava das sete horas e eu tinha que ir pra rodoviária. O Manassés descolou uma carona pra mim. Segui com três moços muito simpáticos que infelizmente não recordo os nomes, entendiam muito de quadrinhos, leitores vorazes. Foi uma boa conversa.
Como que pra confirmar que nada na minha vida é fácil, ao chegar no terminal, as 19:40 hs, me informaram no guichê que o último ônibus pra Pernambuco tinha partido a dez minutos, outro, só as sete horas da manhã seguinte. 
"Meu irmão, só comigo mesmo!" disse a um dos rapazes que me acompanharam. Já estava me conformando com a ideia de passar a noite naquela estação quando o bilheteiro informou que havia o transporte alternativo do outro lado da rua. "Ok, vamos de alternativo mesmo." Enquanto arrumava umas coisas na minha mochila, um dos moços, o que dirigia, falava ao telefone e em seguida me disse:  
"Enquanto o senhor falava com o bilheteiro tomei a liberdade de ligar para o Manassés e disse a ele que não havia mais passagem. Ele disse que arruma um lugar para o senhor passar a noite."
"Mas é mesmo necessário? Me falaram que tem uns transportes alternativos do outro lado da avenida."
"Olha - ele me olhou de forma grave - não acho recomendável, esses alternativos são perigosos!"
"Perigoso porque? Assalto?"
"Também, mas o principal é que esses carros não tem segurança e os motoristas as vezes viajam até bêbados. Já deu muita merda nessas estradas. Aconteceu até do motorista estar mancomunado com bandidos e fazerem a limpa nos passageiros."
"Bem, neste caso....terei que ligar pra minha esposa informando que não chegarei hoje. Onde tem um orelhão por aqui?"
"Use meu celular." Aqueles rapazes são a prova cabal que ainda existem pessoas boas no mundo. Uma raridade maior que trevo de quatro folhas. A única forma que tive de retribuir o apreço foi dar o meu álbum de presente.
Falei com a Verônica e minha mãe, daí voltamos para o local do evento. Ainda deu tempo de conferir o final da palestra com a Marisa Furtado, diretora dos documentários "Profissão Cartunista" com o Will Eisner (tenho e recomendo), Jerry Robinson, Ziraldo e Henfil. Simpaticíssima, conversamos um pouco.

O evento chegava ao fim e fomos todos a um restaurante, antes, deixamos a Marisa no hotel. Comemos, conversamos um pouco e nos dirigimos ao hotel onde a Milena Azevedo estava hospedada, eu não sabia, mas ia ficar ali também. O Manassés, pagou a diária e nos despedimos com a promessa de um convite para o próximo festival. A Milena disse que já tinha encomendado um táxi para as oito da manhã, caso eu quisesse uma carona para a rodoviária. Pessoas de bem no mundo, mais uma vez. Aceitei e fui para meu quarto. Tomei um banho e assisti um pouco do filme que estava passando na tv, O Vidente, com O Nicolas Cage. Já tinha visto. Trama mal aproveitada. Estranhei a cama. Dormi pouco. Levantei muito cedo. Tomei outro banho e fui tomar o café da manhã. Estava terminando quando a Milena apareceu. Fomos para o táxi que se antecipou e seguimos para o terminal. Comprei minha passagem para casa e ela para Natal. Como ainda tínhamos uma meia hora ficamos conversando sobre o universo dos quadrinhos, seus autores, jornalistas, leitores, logistas e tudo mais. Fiquei impressionado como ela entende da coisa e produz um material de muita classe.
Dentro do meu ônibus um caos total, gente, como sempre, se esgoelando ao celular, crianças chorando, um cara antipático, se sentindo superior no banco ao meu lado e apesar disso tudo, fechei meus olhos tentando mergulhar nos meus pensamentos. Acho que dormi. O veículo ainda passou meia hora parado na estrada, não consegui saber se foi algum acidente na pista. 

Cheguei a Recife sentindo um calor dos diabos. O metrô estava lotado. Cheio de filhos da puta. Depois de duas baldeações, tomei uma van até minha casa. Lar-doce-lar. Um gostoso abraço na esposa e na mãe. 

Pesando tudo na balança, valeu muito a pena.      

















quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

UM POUCO MAIS DE MARTINS PENA.


Atualmente trabalho nas ilustrações de três peças do Martins Pena.
Estas imagens são de "O Namorador, ou Noite De São João"
Com o tempo mostrarei outras.




A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE COMENTADO PELO ESCRITOR E POETA BARATA CICHETTO

 O livro que tive o prazer de trabalhar ao lado do ficcionista Rubens Francisco Lucchetti intitulado A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, ...