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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

A SENSAÇÃO DO VINHO TORNADO EM VINAGRE.

 Boa noite, como vão vocês?

Eu? Bem, seguindo.....    amanhã (dia 26) minha mãe faria 78 anos. E na quinta (dia 28) meu irmão Gil completaria 52. Então, creio que não preciso dar detalhes do vazio que engole minha alma como o buraco mais negro. Podemos pular essa parte e falar um pouco sobre minhas tristes caminhadas até o comércio para comprar pequenas coisas, só nesses momentos é que eu saio um pouco de casa; nas filas, as pessoas quase apagadas para mim, como vultos. Um detalhe: cada vez menos respeitam o tal distanciamento social, elas parecem não ter rostos (ou eu que não vejo?). De um tempo pra cá, posterior à transformação abrupta do mundo, só vemos os olhos das pessoas. Pra mim, na verdade, muito antes disso, a maioria sempre me pareceu cinza, gasta, como se fossem feitas de papelão. Sombras que saem de seus esconderijos para levar seus cães pra cagar. 

Oitenta por cento do meu tempo eu passo sentado na prancheta brincando de ser desenhista, convencendo a mim mesmo que ganho meu dinheiro honestamente sem enganar os outros. Digo isso porque meus traços atuais me parecem saídos a fórceps, não me parecem espontâneos. O vigor e naturalidade parecem ter me abandonado. Dou o melhor de mim e mais que nunca parece não ser o suficiente. Mas não há o que eu possa fazer, tenho que colocar comida na mesa e não tenho tempo para encontrar um modo de ressuscitar o velho artista do Zé Gatão que desenhava quase por instinto e produzia das entranhas e não do cérebro (e não digo isso afirmando que antes eu era bom).

Três projetos alternadamente cansam um bocado, principalmente neste calor, o cérebro parece se transformar em gelatina. No mais recente, eu crio o roteiro também e este é o que tem o prazo mais apertado. Ouço falar de artista do passado, tipo Jack Kirby e John Bucema que desenhavam várias páginas por dia (o que colocavam na água deles?). Bem, vi certa vez algumas páginas do Bucema para a Espada Selvagem de Conan que mais pareciam garranchos e que foram transformadas em obras de arte pela arte final do Alfredo Alcala. 

Esboço do meu mais novo projeto.

Bem, meus queridos e queridas, venho aqui sempre que puder respirar um pouco para dar notícias e se for o caso, como hoje, desabafar um pouco com vocês.

Se cuidem.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

UM PAPO BREVE (e sem arte nova para mostrar).

 Neste exato momento estou cansado, muito cansado. Minha mão direita dói, mais especificamente meu dedo indicador, isto porque trabalhei bastante, na verdade não tanto como gostaria, houve tempo em que eu fazia mais de uma página de quadrinho a lápis por dia e não me queixava, hoje fiz uma e me sinto exaurido. Stress? Idade? A soma dos dois? Pode ser. Eu deveria trabalhar mais, o tempo urge, mas a verdade é que não consigo. Melhor parar para não comprometer a qualidade das obras.

Mas é este cansaço adicionado a um enfado da alma que na maioria das vezes me impede de sentar aqui e trocar umas ideias com vocês. Antes tinha um pensamento, traduzia em palavras e elas ficavam registradas aqui. Quase toda as minhas memórias estão registradas neste blog, as de maior relevância, pelo menos. Faltou, eu sei, o período de vida militar que durou quase dois anos e nem sei se terei fôlego e disposição para tais relatos....talvez se eu dividir em pequenos capítulos eu consiga, quem sabe?

Hoje, em meio ao luto que ainda é muito evidente e mastiga a minha alma de infante, recordei um pouco o passado, lembrei de uns parentes do meu pai que vinham se hospedar em nosso apartamento em Brasília, evoquei a Fifi, nossa cadelinha pincher, todo o final dos anos 70, enfim.

Esses tios, tias e primos, primos em segundo grau e tutti quanti, vinham geralmente de Belém do Pará com destino à São Paulo e no caminho ficava o Planalto Central, porque se hospedar em um hotel se podiam ficar num baita apartamento com tudo à disposição, não é mesmo? Verdade seja dita que meu pai tinha prazer em recebê-los, e minha mãe sempre foi boa anfitriã. Meus irmãos eram muito tenros, nem sei se para eles fazia alguma diferença, mas para mim aquilo tudo era horrível, nunca havia espaço nem privacidade, os primos eram os sabichões que me tratavam como seu fosse um bocó do interior por eu ter esse temperamento serio e arredio, sempre foi assim. Não rememoro isso com raiva, não, juro!

Bem, o caso é que essa sobrinha do meu pai (ela quase tinha a idade dele, era a primogênita da minha tia mais velha) estava em vias de separar do marido e veio ficar uns tempos com a gente. Ela e os filhos. Para mim aquilo nunca foi legal. Hoje todo mundo é adulto e gente "séria", mas o período da infância pode ser bem infeliz dependendo do temperamento do pirralho, se é menos ou mais suscetível. Eu sempre fui uma espécie de anão (ou corcunda). 

No começo da estada deles lá, tudo bem, depois a coisa começou a azedar, como tudo azeda com o tempo. Eu fui para umas férias no Rio de Janeiro e minha mãe contou umas coisas daqueles tempos que rememorando hoje acho até cômico. Um desses fatos me assaltou a mente hoje: a tal prima tinha ido à rua e voltou com um certo pacote e se fechou com a filha no quarto. Minha mãe bateu na porta para comunicar alguma coisa e só atenderam depois de uns longos minutos, nesse meio tempo a Fifi entrou no cômodo, mamãe e a sobrinha do meu pai falavam quando elas viram a cachorrinha comendo um bolo atrás da cortina. Foi isso, a paraense comprou um petisco e se trancou no aposento para deguustar sozinha com a filha e quando minha mãe bateu na porta elas ocultaram a guloseima, não contavam com o faro da Fifi. Feio, né?  

Uma coisa que lembro bem é que toda vez que aquela mulher entrava no banheiro deixava um insuportável cheiro de merda que demorava um tempo anormal para sair.

Claro que o casal se reconciliou para se separar de novo e voltar a se reunir.  

Certa vez, já nos anos 90, em São Paulo, ela fazia uma excursão (não sei de onde para onde) e o ônibus parou na Praça Princesa Isabel, próximo de onde morávamos e ela foi até nós, só para falar de suas viagens pela Europa e torcer o nariz para nossa decadência. Blá, blá, Grécia, blá, blá, Espanha, blá, blá, minha filha se casou com um cara endinheirado e foi morar em tal lugar no exterior, blá, blá, Bélgica.

Olhou o relógio, estava na hora de voltar à excursão. Pediu pra usar o banheiro. Cagou e foi embora deixando no ar de nosso humilde apartamento aquele cheiro de bosta e alguma depressão. Eram dias frios e cinzentos em São Paulo.

Não tão frios e cinzentos como são hoje em dia, apesar do calor.  

A SAUDADE É MAIS PRESENTE QUE NUNCA

   No momento que escrevo essas palavras são por volta das 21h do dia 21 de abril. Hoje fazem três anos que o Gil partiu, adensando as sombr...