Boa noite, como vão vocês?
Não há muito o que falar de mim - na verdade há, sim, mas nada que não tenham ouvido antes - sinto-me cada dia mais desimportante. É estranho isso, sempre senti pena dos velhos, falo dos velhos mesmo, daqueles que passaram dos 80. Poucos dão valor às suas experiências, sua sabedoria, suas palavras e histórias, mas isso seria assunto para "aprofundar", quem sabe, um outro dia.
Minha depressão, sempre à espreita, escondida atrás de um muro, um arbusto ou coisa do tipo, observa e espera e num momento qualquer, sem que pareça ter uma razão específica, me atinge como um bólido, me atropela, me esmaga, isso dia sim e outro também. No passado já fui aconselhado a procurar um profissional, tomar medicações, essas coisas, mas no momento nem tenho condições financeiras para tanto. Nem sei se vale a pena a essa altura do campeonato.
O que posso dizer é que me sinto um tanto aliviado por ter concluído mais um álbum de quadrinhos depois dos percalços de sempre (falo dos atrasos, nos bloqueios criativos que vem e vão, a eterna sensação de que as artes poderiam ficar muito melhores, as infinitas interrupções comuns à quem trabalha em casa e tal), já me diverti fazendo HQs, mas normalmente, durante o processo de execução, é um tormento. Vamos falar um pouco sobre ela: trata-se da história de Teseu, o herói grego.
Há muitos anos já, alimento o desejo de quadrinizar as aventuras desses míticos heróis que atravessaram gerações, na verdade desde que li OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES do Monteiro Lobato e (anos a frente) assisti FÚRIA DE TITÃS do mestre Ray Harryhausen, mas nunca encontrava oportunidade. Desempregado, eu fiz uma proposta para uma editora (em tempo oportuno dou detalhes de tudo) de "biografar" a vida dos heróis da Mitologia Grega. Eu faria os roteiros e os desenhos, a cor caberia a outro profissional. Foi aceito, felizmente. Mas como seria de se esperar, não tive liberdade para criar do meu jeito, fui amarrado ao número de 78 páginas apenas (eu queria pelo menos o dobro) e suprimir toda e qualquer coisa ligada à nudez e minimizar na violência, afinal, será uma edição voltado para um público juvenil.
Vocês sabem, desde fevereiro de 2021 a minha vida mudou, perdeu o brilho e a cor, minha maneira de fazer quadrinhos também sofreu com isso. Eu produzi o meu melhor dentro das condições que me são permitidas, entretanto meu traço parece mais limpo e menos ousado, mas o que sou ainda está impresso ali, eu acho. Ainda não sei quando será publicada, entreguei as artes semana passada e ainda tenho que fazer a capa (me veio uma ideia legal mas foi rejeitada pela editora que sugeriu algo menos dinâmico. Eles pagam, eles mandam), vai entrar em processo de colorização ainda, então deve demorar um pouco.
Esta semana começo "Os 12 Trabalhos de Hércules", tem muita coisa que serei obrigado a espremer em 78 páginas mas realizo um sonho infantil, é como ir na Disneylândia.
Serão quatro álbuns no total. Um está concluído. Além de Hércules, teremos Dédalo. Queria fazer Édipo mas foi desprezado, no lugar, produzirei o nascimento dos deuses. É trabalho para todo este ano.
Simultâneo aos mitos, trabalho nos Rastreadores e no projeto secreto, mas por esses já fui pago há tempos e o dinheiro foi gasto numa velocidade estonteante. La vie de um desenhador pobre.
Beijos a todos vocês e até uma próxima.
Sketch de página para Teseu e o Minotauro. |