Tenho passado meus dias desde a última postagem entre lágrimas, trabalho, dor provocada por uma saudade que não pode ser mitigada e pequenos afazeres cotidianos como ir à uma pequena compra ou enxugar a louça, levar o lixo, essas coisas. Tenho tentado também ler um pouco mais amiúde. Concluí "Nos Bastidores do Pink Floyd" (agora nem sei se antes ou depois dessa última perda avassaladora), achei um bom livro, já que o Floyd é uma das minhas bandas favoritas, mas havia ali pouco que eu já não soubesse a respeito dos integrantes e dos discos, atualmente recomecei a "Estrada da Cura" do Neal Peart, o falecido baterista do Rush, sobre suas andanças de moto por mais de 90 mil quilômetros de estradas do Canadá, Alasca (ainda não terminei o livro, então não posso dizer mais) como um fantasma desiludido após perder a filha num acidente automobilístico e a esposa de câncer, meses depois. Tudo a ver comigo, né? Em parte. Na verdade eu tinha começado a ler há mais de um ano, dois, talvez, e parei por falta de tempo e eu e ele somos muito diferentes em diversos aspectos, ele um agnóstico e eu um cristão, ele com grana para gastar numa viagem que bem poderia ser suicida e eu mal consigo pagar minhas contas. Mas, sim, a tragédia, a ferida da perda nos une na mesma dor desesperada, e quando ela chega, tanto faz ser famoso, ter sucesso e dinheiro ou não. Não se pode fugir das lembranças, aquele olhar, aquela palavra, aquele gesto e todas as pequenas e grandes coisas vividas juntos e a falta de sentido que surge quando nos vemos mais e mais sozinhos num mundo cada dia mais louco (quem poderia imaginar que seríamos obrigados a colocar uma focinheira para interagir com os outros?), o livro relata paisagens, hotéis, iguarias e reflexões muito interessantes sobre perda e o sonho de poder se livrar dos espectros de nefastos dias idos. Mas falta concluir para dar um veredito. Leio também "Minha Coisa Favorita é Monstro" da ilustradora Emil Ferris, uma graphic novel sensacional (pelo menos até onde li, não terminei ainda, mas falta pouco). Antes de tudo isso eu reli "A Ilha do Tesouro" e permanece sendo um ótimo livro, principalmente imaginando-o com as ilustrações do fabuloso N C Wyeth (que descobri há uns vinte anos trás e se tornou uma fonte de inspiração).
Continuo a trabalhar na HQ com roteiro do Elton Borges Mesquita, provisoriamente intitulada "Caçadores de Algures" e numa quadrinização que por enquanto deve permanecer em segredo pois envolve um filme de terror ainda em pré produção. Então, atividade eu tenho e desta maneira consigo pagar as contas, entretanto, meus projetos pessoais estão suspensos, talvez até definitivamente, não vejo o porque me afadigar em uma tarefa que não dá retorno financeiro se minha mãe, e principalmente meu irmão não estão mais neste mundo para partilhar. Certo, ainda tenho mais dois irmãos muito amados e queridos, além de filha e sobrinhos, mas eles não coparticipam das minhas teimosias artísticas, tem suas vidas para cuidar. O Gil era o meu Theo e mamãe me achava o artista injustiçado. DEUS, QUE SAUDADES!!! Está difícil prosseguir! Esses dias a melancolia apertou com sua mão gélida meu coração e minha garganta fazendo brotar um pranto amargo, um desespero que dá pra sentir nos meus músculos cada dia mais magros e não encontra eco. Evito constranger a esposa, familiares, amigos e conhecidos, acho que esta é uma vereda que tenho que seguir sozinho. Sei que a dor não vai passar, mas devo esperar que a minha alma se acostume com ela, como já se habituou a tantas desditas no passado. Este também é o motivo pelo qual escrevo aqui.
E sobre Zé Gatão - Siroco, não há notícias e sinceramente, o que isso importa?
Até qualquer momento!