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terça-feira, 25 de agosto de 2015

HEAVY METAL ( REVISTA E FILME ).


Meados dos anos 1970. Eu vivia em Brasília. Era péssimo aluno, tinha poucos amigos, sofria bullying na escola, sonhava em ser um campeão de artes marciais, ávido por cinema e histórias em quadrinhos, principalmente as de terror (revista Kripta) e Spirit (cujo material era escasso, o que tive acesso naquela época foi o que saiu na revista Gibi, uma publicação da Editora Globo). Gostava muito de desenhar mas não era dedicado, fazia uns péssimos quadrinhos única e exclusivamente para meus desabafos (como hoje) e só quem os lia eram uns poucos colegas que não passavam de dois ou três. Me sentia muito triste e queria estar sozinho, sossegado no meu canto, imerso em meu mundo de sonhos, mas sempre havia alguém para encher o saco. Eu me relacionava com as pessoas como quem atuava num palco.


Certa vez, talvez nos primeiros meses de 1978, eu folheei um exemplar de uma revista gringa em formato magazine (como o da Veja) na livraria Sodiler do Conjunto Nacional com o sujestivo nome de Heavy Metal. O que me chamou a atenção foi a arte da capa, magnificamente executada. Fiquei maravilhado! Eu não sabia que existiam publicações como aquela! Quadrinhos adultos de ficção e fantasia com papel de excelente qualidade e cores vibrantes. Como não podia deixar de ser, era um produto muito caro. Nossa moeda muito desvalorizada em relação ao dólar, pra variar.
Mesmo companheiros com um poder aquisitivo muito melhor que o meu, como Luca e Ariel, não podiam se dar ao luxo de comprar a dita revista mensalmente, então eles revezavam, tipo, um comprava uma num mês e o outro no próximo, como uma espécie de sociedade. Só assim eu tive oportunidade de acompanhar um pouco mais de perto aquele valioso material.
Foi na Heavy Metal que pude conhecer melhor o trabalho a cores do Richard Corben e ser apresentado aos lendários artistas europeus como Phillipe Druillet, Enki Bilal, Alain Voss (um franco-brasileiro), Phillipe Caza e o grande Moebius entre tantos, cada um com um trabalho melhor que o do outro. É bem verdade que meu inglês nunca me permitiu entender detalhadamente o teor das histórias, mas eram imagens que falavam mais que as palavras.
Só sei que pensava comigo que se um dia eu fizesse quadrinhos seria nos moldes que eram apresentados naquela revista. Eu penso que, sem modéstia alguma, hoje meu Zé Gatão poderia muito bem ser publicado nela. Sei que algo assim nunca vai acontecer mas eu creio ter atingido um objetivo comigo mesmo.


A Heavy Metal na verdade foi a versão americana da publicação francesa Metal Hurlant, criada em 1974. A edição americana nasceu em 1977.


Quando comecei a trabalhar com carteira assinada em 1984 eu decidi que faria a minha coleção de Heavy Metal, ainda que doesse bastante no bolso. Peguei uma fase muito boa da publicação que foram os anos de 1984 e 1985. Um tempo depois ela ficou com um número maior de páginas, lombada quadrada e se tornou bimestral, com histórias completas ao invés de narrativas serializadas, me dando assim a chance de optar apenas pelo número que me interessasse, isto me proporcionou um fôlego maior para continuar comprando.
Embora tivesse o status de cult a Heavy Metal, talvez por seu conteúdo violento e por conter cenas de sexo, nunca foi um sucesso de vendas, ameaçada de cancelamento foi comprada pelo Kevin Eastman, um dos criadores das Tartarugas Ninjas em 1991 e a sustentou pelos anos seguintes.

Minha coleção de 1984, 1985 e edições bimestrais devidamente encadernadas.

Não lembro direito se foi em 1995 ou 1996, eu, com melhores condições e o Real estável, fiz, via Devir, uma assinatura da revista. Até 1999 eu mantive a minha coleção, sempre com excelente conteúdo, mas para mim estava longe de ter a mesma magia daqueles anos iniciais. Decidi encerrar minha relação com a revista.

A Heavy Metal teve sua edição brasileira. Primeiro a frustrada tentativa com uma versão totalmente tupiniquim chamada Metal Pesado, só com artistas nacionais, que durou seis edições. Com honrosas exceções o conteúdo não era lá essas coisas. Teve uma também com o título de Brasilian Heavy Metal editada pelo pessoal da Comix.
Mas a publicação brasileira do material original deu as caras por aqui, se não me falha a memória, em 1995. Não foi bem de vendas e foi cancelada depois de uns bons números.

Hoje, pra falar a verdade nem sei como ela anda. Certa vez, na livraria Cultura aqui de Recife me deparei com uma na seção de importados, tinha o mesmo perfil mas nem de longe lembrava as primeiras edições.

HEAVY METAL, O FILME.

Eu tinha ouvido falar que fariam uma versão da Heavy Metal em desenho animado na própria revista. Estava morando no Rio de Janeiro quando lançaram nos cinemas. Era o ano de 1981. Lembro que assisti a uma sessão num cinema da Tijuca, o local quase totalmente vazio. Era uma tarde medonhamente nublada, destas que te fazem pensar que os espíritos malignos estão soltos na atmosfera. Eu estava a caminho do Hospital da Polícia Militar para visitar Hans, um amigo que estava internado lá (ver postagem: http://eduardoschloesser.blogspot.com.br/2015/06/sobrevivendo-entre-facistas-nazistas-e.html).
A animação se comparada a alguns animês de hoje é fraca, mas foi impactante ver na tela grande os mesmos elementos onipresentes na publicação, cenas de nudez, sexo e muita violência. Devo ter assistido mais de 10 vezes só nos cinemas, inclusive no Cine Brasília quando retornei à Capital Federal. Para os amantes de fantasy and ficcion aquilo marcou uma época.
Vejam o trailer:


Não consegui comprar o VHS quando lançaram no Brasil, mas não perdi o DVD. Ele está lá, junto a outros clássicos que nunca mais assisti. O tempo vai se tornando um inimigo muito mais ferrenho a medida que envelheço.

A revista Heavy Metal merecia este registro pois com certeza ela foi grande inspiradora na forma como crio meus quadrinhos.


Fiquem todos bem e até próxima postagem na semana que vem, se Deus quiser.  

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

VISÕES DE LOVECRAFT: HERBERT WEST, REANIMADOR.


Se alguém me perguntasse como vou, eu responderia que vou bem. Estes dias últimos não apresentaram novidades e na minha condição eu diria que a rotina é uma benção, afinal, o que podemos esperar? Os ricos (digo, ricos mesmo!) falam das novas: vou trocar minha mercedes, estou saindo com tal modelo internacional ou a última capa da Playboy, vou reformar minha mansão e tudo o mais; já o pobre (ou remediado) as últimas costumam ser: cancelei meu plano de saúde, quebrei minha perna e fiquei um dia inteiro no SUS para ser atendido na emergência, meu aluguel vai aumentar e eu não sei como vou pagar e por aí segue. Então eu diria que rotina é, sim, uma benção.
Lógico, eu sei que nem tudo é flores na vida do abastado, mas convenhamos, é bem mais chato quando não se tem perspectivas a curto prazo.

A arte de hoje é minha versão para um dos contos mais inquietantes - incômodo mesmo! - de H. P. Lovecraft. A história de um cara que cria um elemento que aplicado em mortos, ou partes de corpos mortos, os trás de volta à vida, mas não da maneira que ele imagina. Na verdade prefiro quando ele escreve sobre este tipo de horror do que aqueles mais oníricos. Ainda sobre Reanimator, esqueça aquele filme gore da década de 80, acho até legal, mas não tem nada a ver com o conto do mestre (teve até uma continuação - mais fraca - que revi recentemente, só para me certificar que as produções de horror oitentista envelheceram).
Sem esquecer, claro, que Lovecraft faria ontem 125 anos.


Consegui concluir o primeiro tomo da nova safra de anatomia que me encomendaram. Como demorou! Na verdade estou mais lento mesmo. Neste fim de semana já pretendo iniciar o segundo.
Certa vez o Stephen King deu um conselho muito útil para o Neil Gaiman, estou tentando aplicar algo disso na minha vida. Ao longo do dia, nos intervalos de meus afazeres, criar algo para mim mesmo, como foi o caso da ilustração de hoje, fui fazendo um pouco a cada dia.

Este blog começou com postagens diárias, lembram? Depois cortei os sábados e domingos, depois de um tempo decidi postar três vezes por semana e mais tarde reduzi para duas e é como venho mantendo, mas creio que agora é hora de colocar novidades apenas em um dia da semana por causa do meu tempo exíguo. Então a partir da semana que vem nos encontramos aqui em um dia apenas. Acho que vai ficar mais gostoso, a saudade fica maior. Que acham?

Nos vemos em breve, então.

Bom fim de semana pra vocês.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

NADA NOVO.


Agosto vai indo embora, as chuvas diminuem, os ventos começam a se acalmar, o calor, tal qual aquele indivíduo inconveniente que te chama no portão para vender algo que você não necessita começa a ficar frequente ameaçando dominar o clima por completo. Dá até medo, pra falar a verdade.

Hoje pela manhã eu e Vera fomos até o banco para tratar de um negócio delicado. Um grande amigo meu depositou uma certa importância por uma futura arte na minha conta e parte deste dinheiro foi sacado de uma agência em São Paulo. Nós não sacamos (não estamos em Sampa!). Quem foi então?
Muito provavelmente meu cartão foi clonado. A agência não pode ajudar por enquanto. Fui orientado a fazer um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima e redigir uma carta ao banco solicitando o ressarcimento da importância que me roubaram, para ser analisado. Como se eu já não tivesse dores de cabeça suficiente, PUTA QUE PARIU!

Falando de assuntos mais aprazíveis, não há novidades sobre Zé Gatão, só que esses dias bateu uma vontade muito grande de criar novas aventuras, hqs coloridas, só pra desabafar mesmo, nada de sagas longas, sem aquela ambição de publicar; o que me impede é que tenho que concentrar minhas energias e tempo nos atuais livros de anatomia que preciso produzir, além é claro de terminar a história do NCT.
Espero que esses desígnios não se desvaneçam da minha mente como aconteceu tantas vezes no passado. A pergunta que fica é: porque não ressuscitar as velhas concepções? Sei lá, acho que na minha cabeça os propósitos cristalizaram, cada projeto faz parte de seu tempo, compreende um momento específico, uma vez passada aquela fase não faz muito sentido insistir em algo que já não me anima. Por exemplo, tem uma saga que imaginei no princípio dos anos 2000 chamada O Guardião Da Muralha Dourada, onde Zé Gatão e mais dois ou três felinos vão atrás de um tesouro fabuloso e se deparam com mil perigos e traições, enfim, um misto de Tesouro de Sierra Madre com Indiana Jones. Parece bacana dando esta sinopse, mas na minha concepção o Felino amadureceu, este tipo de narrativa já não faz mais parte da vida do personagem, não depois dos eventos de MEMENTO MORI.

O Gato, ainda a conta gotas, vai ganhando leitores. O amigo virtual Anderson Marques Ferreira do Rio Grande do Sul (foto abaixo), recebeu o álbum branco em casa e aprovou. Bacana, hein!



Todavia ainda continuo sendo ignorado pela mídia especializada. DAQUI PARA A ETERNIDADE não foi comentado por nenhum site ou blog voltado os quadrinhos. Pra falar a verdade já estou acostumado.

Mas nem tudo é silencio, o premiado diretor de cinema Claudio Elovitch (foto abaixo) fez um comentário legal no Facebook o qual reproduzo na íntegra em caixa alta. Valeu Claudio!

Fico por aqui desejando a todos uma semana produtiva.


"É UM TRABALHO ÚNICO, TANTO NA QUALIDADE DO ROTEIRO E DOS DESENHOS QUANTO NA ALMA QUE ESTÁ POR TRÁS DELE. ENQUANTO A MAIORIA DOS LEITORES DE HQ FICAM PROCURANDO PELA MESMAS COISAS NO ESTILO MARVEL/DC, NEM SE DÃO CONTA QUE EXISTE ALGO REALMENTE ORIGINAL REALIZADO AQUI MESMO NO BRASIL. O ZÉ GATÃO É PORRADA COM INTELIGÊNCIA E SENSIBILIDADE. CRIA CURTO-CIRCUITOS NAS EXPECTATIVAS E NOS CLICHÊS."
















quinta-feira, 13 de agosto de 2015

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (04)




- Belo desenho Dudu! Faz parte de um dos tantos livro do Machado de Assis que você ilustrou, não é?
- Isso.

- Você parece desanimado, distante!
- É, um pouco, sim.

- O que te animaria? Melhor, suponha que um gênio da lâmpada te concedesse três desejos, o que você pediria?
- Bem, deixe-me pensar....sei lá, a cura do câncer, a paz mundial...

- Não, isso não! Eu digo três desejos para você, nada pra família, amigos ou coisa do tipo, seria pra você especificamente.
- Bem, queria ter boa saúde para fazer meu trabalho até o fim dos meus dias.

- Cê tá doente?!?
- Não! Pelo menos eu acho que não. Pensei nisto porque noto que a medida que a idade chega a gente vai perdendo a visão, as energias. Soube que o Watson Portela, um dos maiores quadrinistas brasileiros contraiu uma hérnia de disco por causa dos anos que passou sentado na prancheta, ele não poderá mais se dedicar ao trabalho como no passado.

- Sei. E o segundo pedido?
- Que meus quadrinhos fizessem sucesso, rompessem barreiras e isso se revertesse em grana pra eu poder ter mais tempo de investir em meus projetos. Queria muito que meu trabalho fosse melhor remunerado. Tô cansado de trabalhar duro por migalhas.

- Acha que lhe pagam pouco?
- Pouquíssimo! Mas entendo que a maioria dos meu empregadores não fazem isso de sacanagem, eles também lutam duro para manter suas editoras. É que a coisa é complicada mesmo, o problema na base tem a ver com educação e má gerencia do país.

- Terceiro e último pedido.
- Queria estar perto de minha mãe, irmãos e filha.

- Entendo.
- Sorte que Deus colocou a Verônica do meu lado.

- Também acho. Bem, foi legal falar com você, Dudu. A gente se vê por aí.
- Tranquilo. Vai pela sombra.







domingo, 9 de agosto de 2015

ELE SE FOI.


Hoje é dia dos pais. O meu partiu. A nós que ficamos, resta a saudade.


Esses últimos dias foquei no trabalho, nada mais me restava fazer senão digerir o vazio que uma separação destas costuma gerar. Tive que diariamente resolver aquelas coisinhas de sempre na rua, mercado, padaria, pagar boletos na lotérica. Ia sempre com passos lentos, como se tivesse envelhecido cem anos.

Meu ombro direito ainda me tortura. principalmente quando a temperatura cai.

Consegui terminar as artes do novo livro de anatomia, agora escrevo e reviso os textos.

Na tarde da sexta feira que passou fui até a casa da minha sogra levar alguma coisa para ela e na rua de chão que dá acesso à sua residencia, uns metros à minha frente um bando de cães se aglutinavam em volta de uma cadela no cio, devia ter pelo menos uns 15 cachorros. Não fiz caso, passei por eles sem dar a mínima. Um deles, um preto (o único com uma coleira) parecia ser o líder da matilha, correu na minha direção latindo ensandecidamente e arreganhando os dentes. Passei uns bons minutos suando frio, tentando me livrar das dentadas dele. A cena era patética, ele avançava para me abocanhar e eu esticava meu pé para chutá-lo e ele recuava para investir de novo. Acho que a cadela querendo se livrar de um outro, ganiu e chamou a atenção dele e assim, indeciso entre ficar atento ao bando de pulguentos e arrancar um naco da minha carne, o vira latas me permitiu afastar devagar, a distância entre nós foi aumentando lentamente, o danado ainda fazia menção de me perseguir. Felizmente nada aconteceu mas confesso que se eu tivesse uma arma naquela hora, teria dado um tiro na boca daquele filho da puta.

Planejava um texto sobre meu pai que, percebo, não vai sair como eu queria, afinal fiz rodeios comentando sobre cães vagabundos e outras amenidades. Talvez eu não esteja preparado ainda, acho que é muito particular. Mas vou dizer o seguinte, não é segredo que eu e meu pai tínhamos uma relação difícil, talvez fosse o velho conflito de gerações, ele parecia um dos últimos representantes do patriarcado. Sempre houve muita tensão entre nós, todavia eu sempre soube que com ele eu poderia contar para o que desse e viesse. Ele nunca me faltou e gostaria de exemplificar relatando dois fatos que me marcaram bastante.

Antes de ser um pretenso autor de quadrinhos eu era um colecionador de gibis e ávido leitor dos mesmos. Um dos meus autores preferidos é, e sempre será o lendário Richard Corben. Procurei ter tudo o que fosse possível deste artista no meu acervo. A Toutain, uma editora espanhola, tinha uma rara coleção de 10 volumes reunindo o que de melhor o Corben já produzira até então. Com muito custo eu consegui algumas edições - o item número 2 não tenho até hoje!
Certa noite eu estava num cine clube que ficava na Rua Augusta e entrei numa livraria...bem, não era propriamente uma livraria mas um espaço de produtos importados que ficava por ali. E no meio de uns tomos empoeirados, divisei apenas a parte de uma capa e pelos tons de colorido eu reconheci o estilo de Corben. Peguei o álbum e ali estava o que naquela época já era uma relíquia mesmo na Europa: "Bloodstar", a edição 7 da coleção Toutain, uma das obras mais famosas de Corben que havia sido publicada em capítulos na Heavy Metal. Era um texto adaptado de um conto de Robert E. Howard conhecido como "The Valley Of The Worm".
Perguntei o preço e quase cai de costas! Eu sabia que era caro, afinal a peseta tinha um valor muito maior que nossa moeda (isso foi antes do real) e vivíamos numa era de inflação galopante. Tinha noção de que se aquilo fosse parar nas mãos de qualquer outro aficionado por hqs eu certamente o perderia. Pedi ao dono do lugar que guardasse para mim, eu viria pegar no dia seguinte, embora não soubesse como.
Cheguei em casa e meu pai assistia televisão. Nosso retorno a São Paulo foi muito difícil nos primeiros meses, o dinheiro era extremamente curto. Contei a ele da minha descoberta, um item raro do Corben em espanhol. Ele perguntou o preço e eu falei. Ele não se mostrou surpreso. Acho que ele leu nos meus olhos que eu dava mesmo importância àquilo. Foi ao seu quarto, voltou e me entregou o dinheiro que eu precisava, eu sabia que aquela grana estava destinada a algo mais importante que um mero álbum de quadrinhos, ainda que fortuito, e assim agreguei mais um título à minha coleção. Acho que nunca agradeci a ele da forma devida.


Outro fato, mais importante, se deu no ano de 1997. Eu já estava com o álbum Zé Gatão (que mais tarde ficou conhecido como "Cidade do Medo") pronto desde 1993 esperando uma chance de publicar, mas não havia nenhuma editora que pudessem levá-lo a publico - lembrem-se: nos anos 90 no Brasil não haviam álbuns de hqs nos moldes dos europeus, talvez alguma coisa do Mutarelli - e ficava com todas aquelas páginas guardadas em casa. Umas duas pessoas muito embevecidas com meu trabalho e carisma do personagem pensaram em usar dinheiro do próprio bolso e colocá-lo na praça. Meu sonho ia sendo alimentado a cada dia e era desmoronado como castelo de areia a cada frustração. Até que um dia meu pai me perguntou:
- E aí? Vamos publicar?
- Quer mesmo arriscar? Indaguei eu.
- Acha que isso dará certo? Dá pra fazer dinheiro com quadrinhos? Ele quis saber.
- Difícil dizer, mas eu acredito no potencial.
- Então vamos nessa! Disse ele com confiança.
Pegamos um empréstimo num banco e o resto é história.

Não fosse por ele creio que Zé Gatão demoraria muito mais para ser publicado ou talvez nem fosse.

Esses dois exemplos são duas gotas no oceano mas dá pra ter uma ideia do todo.

A vida deve seguir. Ele, assim como meus avós maternos viverão ternamente em minhas lembranças.

É bom estar com vocês novamente depois desta breve pausa.

A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE COMENTADO PELO ESCRITOR E POETA BARATA CICHETTO

 O livro que tive o prazer de trabalhar ao lado do ficcionista Rubens Francisco Lucchetti intitulado A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, ...