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sábado, 6 de julho de 2019

AMOR POR ANEXINS E OUTROS CONTOS ( 14 ).


Ah, como eu queria ser rico! Queria ter bastante dinheiro! Bem, quem não queria, né? Mas eu diria que meu caso é um pouquinho diferente. Se eu tivesse uma baita grana não gastaria com Ferraris ou mansões com 20 banheiros, não ia ficar torrando com cruzeiros inúteis. Em primeiro lugar eu deixaria a família bem de vida. Um bom lugar para morar com conforto e segurança é primordial, este seria o meu presente a eles. Para mim eu compraria um espaço para transformar em estúdio. Um local para armazenar meus companheiros, os livros, e, claro, minha prancheta. Ali também poderia ter um frigobar e um confortável sofá para repousar as costas depois da labuta. Nas paredes alguns dos meus trabalhos emoldurados, tímidos, ao lado de reproduções dos grandes mestres (nunca pude fazer isto nos locais onde morei, jamais consegui enquadrá-los). Este local poderia ser alguma das sobrelojas das comerciais da Asa Norte em Brasília, aquelas que ficam de frente para as quadras. Sempre achei estes espaços agradáveis. Seria o meu recanto de trabalho e repouso.
Mas acima de tudo eu gostaria de realizar os sonhos das pessoas, ou pelo menos prover um meio delas realizá-los. Nunca me esqueço de um moço batalhador que certa vez me falou que precisava fazer um curso para melhorar seu salário na empresa onde trabalhava. Tivesse eu o recurso eu teria pago o tal curso. Ou ainda aquele que precisa de veículo - carro ou moto - para trabalhar. Pensem, eu que amo esse negócio dos quadrinhos poderia dar uma força àquele que quer publicar sua obra para ver se isto o ajuda a entrar no mercado, ou mesmo pelo prazer de ver seu projeto circulando nas mãos dos admiradores. Eu queria ter dinheiro não para comer um bife de 500 reais na Argentina, mas para coisas como as que mencionei. Nada contra os milionários que torram muito com coleção de Harley Davidson, cada um cuida de fazer o que bem entende com o que é seu de direito, mas minha praia é outra; me visto de forma decente, porém simples, jeans, camiseta, ou camisas com as mangas dobradas na altura da metade do antebraço, tênis ou botas/sapatos esportivos, trajo basicamente aquilo que vocês veem nos desenhos do Zé Gatão (sem as camisas rasgadas, é claro). Gosto de comer bem mas nada dessas coisas sofisticadinhas francesas que aparecem no Masterchef, pratos que parecem uma pintura abstrata e que sugerem fome após a degustação. Se a cama é confortável e limpa, tá valendo, os lençóis não precisam ser de linho fino ou pura seda. Passei a minha vida inteira com muito, muito pouco, as vezes quase nada. No Rio de Janeiro eu dormia em cima de um tapete de couro de boi, coberto com um lençol simples e uma almofada forrada de uma planta chamada Marcela. Fazia refeições frugais, mas mantinha um espírito positivo apesar da depressão que sempre tentou me engolir por completo. Hoje sinto meu espírito quebrado, se dobrando a cada insulto e cusparada.
A bondade está escassa, mas em meio ao mar de lama Deus mostra que há flor no meio da urtiga; um dia desses procurava um telefone publico para ligar para casa - sem sucesso - e um senhor me estendeu seu celular dizendo: ligue do meu, fique a vontade.
E tem a bondade que vem acompanhada de interesse. Esta semana eu e Vera fomos às compras e eu estava sem crédito para solicitar um Uber. Perguntei se uma das pessoas ali no estacionamento do mercado poderiam rotear sua internet para meu aparelho apenas para eu pedir um carro e todos negaram. Mas um moço acompanhado de sua namorada disse: eu peço um Uber para o senhor. E assim o fez. Agradeci. Tomamos o veículo e então percebi que o motorista era amigo do cara que solicitou. Tudo estaria bem exceto pelo preço que ele cobrou pela corrida. Ficou, é claro, mais barato que um táxi, mas muito acima do que normalmente pagamos ao pedir pelo aplicativo.
Bem, se eu olhar com os olhos humanos, só verei as atuais circunstâncias, ou seja, jamais terei dinheiro para viver meus últimos dias com mais sossego e conforto. Possivelmente, pelos motivos que citei acima eu jamais farei fortuna, as pessoas bem sucedidas neste quesito pensam muito sobre este assunto, investem na bolsa, economizam, fazem aplicações financeiras. Fica complicado agir assim os que tem "devoradores" gravitando por todos os lados.
Hoje, mais velho, tenho vergonha de pedir dinheiro emprestado a amigos. Muitas vezes leio nos olhos deles algo como: porra, velho, tu nunca sai da merda? Se possível fosse jogariam a nota numa fossa para eu pegar. Nunca me esquecerei de um editor que certa vez me detratou pelo telefone em plena hora do almoço porque eu pedi um adiantamento do valor que ele me devia, ele disse que eu era uma pessoa nociva, eu iria receber na data combinada, solicitando adiantamento e ele impossibilitado de ajudar, se sentia uma pessoa má, eu o tornava mal.
Mas sempre tem os que entendem as situações difíceis e estendem a mão e ainda dizem para eu pagar quando possível, para eu não me preocupar com prazo. Que Deus abençoe a eles e também aos que fazem de má vontade ou nem fazem, afinal, o sol nasce para todos da mesma forma, não é?


A penúltima arte deste clássico.

Por conta da correria não fiz revisão de texto. Se houver erros (dever haver) queiram perdoar.

Até a próxima postagem, se o Senhor permitir!

6 comentários:

  1. Às vezes, jogo na Mega Sena pra ver se tenho sorte de faturar uma bolada pra comprar uma casa e investir no meu futuro. Queria ser gênio da matemática pra tentar calcular quais as probabilidades de se tornar milionário ou que um saco de dinheiro sem dono me atingisse.

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  2. Rapaz, como eu gostaria de poder ajudá-lo a comprar sua casa e investir no seu futuro. Sei que você é um cara batalhador e sonhador, como eu. Também já pensei em como seria legal achar uma mala de dinheiro limpo, sem dono. Mas o sonho mais legal é aquele em que um tio desconhecido deixa uma bela herança. Ah! As fantasias!

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  3. Realmente essa dor é foda. Sinto muito isso tb...

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    1. De fato, mas jamais esmoreça, nunca desista. As lágrimas podem durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer.

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  4. As minhas ambições não são muito diferentes das suas,tenho minhas "frescuras" ,mas eles passam longe do carro caro ou do eletrônico de ultima geração.Seguimos tentando amigo,afinal é só o que sei fazer.

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    1. Pois é, rapaz, eu até gasto (quando posso) uma graninha com um bom gibi ou book art, de resto, vivo quase como um monge. O legal mesmo é continuar criando, pena que sob a pressão de ganhar dinheiro para sobreviver. Mas é isso, vamos em frente.

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