As pessoas gentis que eu conheço me perguntam, quando tem oportunidade de falar comigo diretamente, como eu estou. Se considerarmos o fato d´eu ter um teto sobre minha cabeça, fazer mais de três refeições por dia, dormir numa cama confortável, ter água limpa para beber, me higienizar e acima de tudo não estar sentindo nenhuma dor no corpo, eu diria que estou ótimo. Eu aparento estar bem, eu acredito no poder da oração e sei que existem pessoas que se importam comigo de verdade (mesmo que muitas delas não se manifestem) e oram por mim e sei que essas orações tem tido efeito (Tiago 5:16), o Espírito Santo tem me consolado, vivencio isso. No entanto, quando estou só, quando tiro a máscara e me vejo diante de mim mesmo é que sinto o quanto a saudade do André é avassaladora, somada a ausência de Francis e Gil. Imagine um astronauta no espaço, fazendo a manutenção em algum satélite e num instante ele se desconecta do cabo que o mantêm ligado a algum suporte e flutue à deriva no vazio silencioso. É assim que experimento a vida atualmente.
Os que me conhecem de perto, os que leem meu diário exposto aqui, sabem o quanto dependo da minha arte para viver e eu não tenho vontade de trabalhar, meus projetos agora se arrastam. Sento para produzir e fico procurando motivos para não agir, vejo algum vídeo idiota, uma notícia sobre a nojenta política atual, leio alguma postagem curta em rede social (algo que raramente fazia dias atrás), me levanto para beber água, ir ao banheiro e finalmente desisto e não forço a barra. Não tenho mais vontade de me exercitar, nenhum levantamento terra, nem uma flexão sequer. Ando na rua e a mente já não divaga ou imagina situações para um conto ou HQ. Me sinto um zumbi, um morto que caminha. E, detalhe, ninguém percebe, pois não demonstro. Se exponho essas coisas aqui é porque sei que a audiência é invisível aos meus olhos e o desabafo é necessário.
Dois dias atrás a minha sogra me humilhou dentro da minha casa casa, me senti tão mal que falei pra minha esposa que precisava cochilar um pouco, eram umas 15h. Me deitei no escuro mas não consegui dormir. Comecei a ruminar minha vergonha e pensar nos queridos ausentes, principalmente no André, que foi a perda mais recente e o vazio que se apresentou e me abraçou foi colossal. Fiquei a tarde toda ali e se pudesse não teria me levantado mais, havia paz naquela solidão, naquele silêncio, naquela inexistência de imagens.
E os prognósticos para o futuro não são tão animadores, há coisas que não posso declinar ainda.
Mas como dizia minha saudosa avó materna, tudo na vida passa, o mal e o bem não duram, tudo é cíclico e essa onda de tristeza vai se atenuar. A necessidade pelo pão cotidiano vai falar mais alto e eu terei que movimentar minhas doloridas articulações enquanto Deus permitir.
A arte para mim sempre foi catártica embora na maioria das vezes, tormentosa, a gestação e parto de uma obra para mim sempre foi um suplício pois não sou tão talentoso como muita gente supõe. Como O NASCIMENTO DOS DEUSES, o último volume dos Mitos Gregos (na reta final, faltam umas 15 páginas para concluir) teimava em não se fazer presente no papel, encostei, dei um tempo. Trabalhei mais nos esboços de RASTREADORES DE ALGURES e naquele projeto que envolve a quadrinização de um filme de horror a ser lançado em 2025 (esta HQ, muito, muito atrasada!).
Detalhe do esboço da página 31 de Rastreadores |
Rascunhão feito anteontem para o quadrinho secreto de horror |
Louis Mello, um desenhista e escultor ultra mega talentoso postou em sua rede social e eu achei tão interessante que comentei por lá. Com a devida permissão eu reproduzo abaixo.
Sobre o omnibus do Zé Gatão, não tenho notícias. Silêncio total por parte do editor. Não sou modelo de otimismo, mas como eu disse, provei o que tinha que provar com este personagem, não pensei que chegaria tão longe e estou satisfeito com o que fiz, como um zumbi, não estou me importando com o futuro.
Obrigado a todos vocês, Deus abençoe e até a próxima postagem se ELE permitir.