Desenhando todos os dias, mas como um louco, como fiz no passado, não mais. Não que não queira, é que não consigo; hoje, mais que nunca eu deveria preencher papeis e papeis criando quadrinhos e ilustrações, mas sinto um cansaço avassalador, sou tomado por uma prostração que me atemoriza pois sinto que vou matando as horas na espera de um fluxo de energia que me catapulte de forma a eu terminar o que vai envelhecendo nas minhas mãos e essa injeção de adrenalina não acontece. Todos os dias peço a Deus que Ele me permita terminar esses projetos que, parecem que se esticam e ficam cada momento mais distantes dos meus olhos. Eu poderia culpar a idade - e pode ser que ela tenha grande culpa mesmo, afinal, com o avanço dos anos vamos ficando mais lentos em tudo - ou poderia atribuir essa lassidão às pressões cotidianas como fazer dinheiro e viver sempre sob tensão, mas sinto que é muito mais do que isso, essa fadiga chega a ser espiritual, é quando chegamos naquela encruzilhada, olhamos para os quatro cantos e não vemos um horizonte definido.
Fui tomado por essa angústia quando realizava A VIDA E OS AMORES DE EDGAR ALLAN POE, mas mesmo naqueles anos eu trabalhava como um asno e o trabalho fluía. Hoje fica a impressão de que só caminho para trás.
Noite passada eu trabalhava em uma boa página de O NASCIMENTO DOS DEUSES, a prancha não era tão difícil, já fiz coisas bem mais complicadas mas a mão, o braço e o ombro doíam de cansaço, os olhos ardiam e não faltava muito para o fim, mas como eram quase 4h da madrugada, resolvi parar para dar continuidade quando acordasse. Tomei meu banho e me deitei, o sono me abraçou mas não foi reparador, após umas horas tive que me levantar para aliviar a bexiga (essa HBP é um dos tormentos que tenho que enfrentar na vida) e isso se repete umas duas ou três vezes todas as noites, de forma que esse sono picado cobra seu preço no decorrer do dia, principalmente no período vespertino. Consegui terminar a tal página dos Mitos hoje pela manhã mas sem euforia. Não falta muito agora para o final, mais umas 10 páginas e a capa, no entanto, tá difícil demais dar continuidade, eu nem sei direito porque. Tenho também os RASTREADORES DE ALGURES para dar prosseguimento, o projeto que envolve o filme de terror e as encomendas que sempre me ajudam a pagar pequenas contas. Dito isso, posso afirmar que tenho desenhado mais do que em qualquer outra época da minha vida, mas sem o mesmo contentamento de outrora. Reparo hoje que no ontem minha batalha era pela necessidade mas também por auto afirmação - o que envolvia um certo prazer em gerar - e isto, se não se perdeu, acabou se camuflando dentro de mim.
Eu queria muito não fazer nada.....estou cheio. Mas a carestia me levanta pelos cabelos e me empurra com força para a frente.
Findo os Mitos e Rastreadores eu perco minhas fontes de renda. Tenho procurado e não tenho conseguido trabalhos novos, não que eu tenha como dar conta, mas.....
Faz muito calor.
Bem, depois do desabafo, vamos ao tema da postagem.
Encontrei o Thony Silas algumas vezes numa vida anterior, quando meu mundo ainda tinha cores. Ele é uma big star que trabalhou (não sei se ainda trabalha) para as grandes editoras estadunidenses. Talentoso, humilde (coisa rara), boa praça e diz que gosta muito do que eu faço.
Antes do fim do mundo, que aconteceu em 2020, eu sempre ia aos eventos de HQs que aconteciam em Recife e cruzava com o Thony, numa dessas vezes ele me presenteou com uma fanart do Zé Gatão. Ele disse que não ficara satisfeito e que faria uma muito melhor. Eu argumentei que não tinha necessidade mas ele insistiu. Ok, agradeci e falei que ficaria aguardando. Nos vimos umas duas vezes num hipermercado aqui perto da minha casa (parece que ele está morando aqui no bairro). Nos cumprimentamos brevemente e depois mais nada. Para quem não conhece o trampo do Silas, o Instagram dele é esse aqui: https://www.instagram.com/thonysilas/p/DARiJVjRZkO/?img_index=1
O desenho que ele fez do Felino ficou dentro de um envelope e esses dias, por acaso, encontrei. Ei-lo:
MUITO OBRIGADO, THONY!
Muito obrigado, amadas e amados, até qualquer hora.