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sábado, 25 de setembro de 2021

RELEMBRANDO MEMENTO MORI E DAQUI PARA ETERNIDADE.

 

 Acho muito difícil eu criar novas HQs de Zé Gatão. Ainda há SIROCO para publicar e também as várias narrativas curtas que devem preencher uns dois álbum com mais de cem páginas cada um. Essas histórias breves eu fiz ao longo dos mais de vinte anos que o personagem existe para os leitores (caramba, tem uns trinta anos que o felino cinza foi gestado!). No entanto para esses materiais não há nada concreto em termos de editoração. Da minha parte não há pressa. 

Porque não há desejos de criar nada novo com o personagem? Sabem, entendo bem porque o Led Zeppelin acabou depois da morte do John Bonham, ou o porque os dois membros restantes do Rush não substituíram o Neal Peart após o falecimento dele. Penso que esses músicos foram tão importantes na trajetória dessas bandas que sem eles o som não seria mais o mesmo. Há a questão do respeito também. Sou grande fã do Queen, mas colocar outros cantores no lugar do Mercury não me soou bem, tanto que nunca ouvi o material novo. O que as bandas de rock tem a ver com Zé Gatão? Simples, sem mamãe e Gil minha fonte de inspiração secou. O Felino é um personagem muito querido, faz parte da família, difícil eu elaborar novas sagas se minha mãe e irmão não estiverem aqui para compartilhar comigo as alegrias e tristezas nesta jornada de criação, publicação e divulgação. O que está feito vou dar um jeito de que venha a público (inclusive planejo um livro com todos os contos escritos pelo Luca Fiúza), mas material novo não; pelo menos não por um bom tempo.  

Gosto muito de Memento Mori e Daqui Para a Eternidade, tenho orgulho de ter concebido esses livros; com eles, creio, provei o que tinha de provar em termos de desenho e narrativa gráfica. 

Assim que o álbum branco foi lançado ficou a pergunta: o que aconteceu com Zé Gatão após aquele cataclismo? Eu era indagado por alguns leitores - e cobrado também - se haveria continuação. Lógico que eu pensava em novas histórias mas não tinha em mente um prosseguimento a partir daquele ponto. No entanto uma centelha brilhou no escuro da minha alma e pensei numa situação de revolta e vingança misturando elementos místicos com um pé no terror. Ideias começaram a brotar e ainda em 1998, morando numa pensão em Brasília - com meu querido irmão Gil - eu comecei a corporificar as abstrações que vinha tendo. Rabisquei um roteiro básico e vários garranchos para me situar. Labutava de madrugada, durante o dia eu ganhava o pão trabalhando numa agência de comunicação concebendo quadrinhos instrucionais. Tinha muito gás e sonhava com muitas boas perspectivas. A principio ela não era para ser tão longa mas as conceituações foram brotando e eu dei tratos à bola. 

O meu plano era publicar na Via Lettera,  logo depois que o Crônica do Tempo Perdido viesse à baila. Os anos passaram e Crônica demorava, nesse meio tempo eu ia tocando Memento Mori e histórias mais curtas. Todo o desenvolvimento se deu entre Brasília e São Paulo (nesses tempos eu alternava de um lugar a outro) sendo que eu finalizei em Pernambuco, onde vim morar em 2003. Quase seis anos para concluir tudo! Como a história tinha mais de 400 páginas eu dividi em três partes intituladas "Memento Mori",  "Ventos da Noite" e "Anátema". Achei que seria mais fácil oferecer assim para quem se interessasse. Depois tudo isso mudou, como veremos à frente.

Crônica do Tempo Perdido finalmente foi publicado e houve certo barulho, mas não "aconteceu" e Memento Mori não passou de intenção por parte da Via Lettera.

De qualquer modo, alguma fortes  decepções com o mundo dos quadrinhos me fizeram envelopar o material e aguardar. Ele só saiu para respirar quando certa vez, ao telefone, o editor Leandro Luigi Del Manto, que sempre disse gostar do que eu vinha produzindo em São Paulo, me perguntou se eu ainda tinha aquelas páginas do Zé Gatão. Sim, disse eu. Me mande amostras do material, falou ele, pretendo mostrar aos publishers. Mandei. Isso deve ter sido por volta de 2006. O Douglas, um dos donos dono da Devir, achou melhor esperar. O anseio durou até 2011. Nesse meio tempo eu dava sequência a outros projetos, A Vida e os Amores de Edgar Allan Poe foi o principal deles.

Em 2011, decidido a acabar com as férias forçadas do Felino cinza, retirei da gaveta as HQs curtas que havia feito nas décadas passadas e motivado pela publicação do Zona Zen (criação do amigo Nestablo Ramos) pela revista Prismarte, procurei o Leonardo Santana - que dizia ser fã do Zé Gatão - e ofereci qualquer uma das histórias curtas para fazer parte da Prismarte. Ele gostou tanto da ideia que levou o caso para os outros membros da PADA. O resultado foi que decidiram não por uma, mas por várias HQs, elas fizeram parte do já comentado aqui especial Graphic PADA. 

Neste mesmo ano o Leandro, vendo um momento favorável tornou a abordar o Douglas que topou finalmente publicar o Memento Mori. Aleluia!

Como eu tinha que fazer uma viagem a São Paulo para o aniversário da minha sobrinha (Alice, filha do André) eu aproveitaria e combinaria in loco com os editores da Devir os detalhes do novo livro. 

Minha ideia, claro, era um tremendo calhamaço com as mais de 400 páginas em formato álbum (o formatão típico dos europeus), mas naquela tarde quente em que estive na agradável companhia do Douglas e do Leandro eu me vi frustrado em minha tentativa. Para um melhor aproveitamento de papel e outros detalhes técnicos que um editor entende melhor do que eu, Memento seria dividido em duas partes e as medidas seriam como as de um livro normal. Tudo bem para mim, era melhor aquilo que nada.

Memento Mori viria a público em outubro de 2011 depois de ficar no ostracismo por oito anos!!!!

Infelizmente não teve a receptividade que eu imaginava, não como o Crônica do Tempo Perdido apesar dos esforços da editora em divulgar, contudo foi bem resenhado pelos  Melhores do Mundo e alguns jornais com pequenas notas. No entanto os sites e blogs especializados em HQs o ignoraram solenemente. Mas obtive retorno de alguns leitores e elas não poderiam ser melhores. E isso é o que de fato faz valer a pena o esforço.

A segunda parte ficou prometida para dali a uns seis meses.....e demorou cinco anos!!!!!

Eu tinha dois títulos para a continuação: Daqui Para a Eternidade e Tapetum Lucidum. Botei em votação entre meus três irmãos e o Leandro. Eternidade ganhou de 3 a 1 (só o André optou pelo nome em latim). 

Daqui Para a Eternidade virou realidade em maio de 2015 e não foi comentado e anunciado por ninguém, mais uma vez obscuro, só que sem as notas de jornal que tinham dado destaque ao volume anterior. Mas para mim isso não importava de fato, me bastava saber que finalmente eu tinha tirado esse esqueleto do armário e eu sabia que ele era bom, muito bom! O resto, era o resto. 

Essas sementes darão frutos mais saborosos num futuro? Talvez sim, talvez não, já não me importa. Botei a mão na massa e às duras penas fiz acontecer sem puxar o saco de ninguém. Durmo tranquilo quanto a isso.



2 comentários:

  1. As capas de ambas parecem que vão saltar em nossa direção. A da segunda parece entalhada/esculpida em madeira ou pedra

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    Respostas
    1. Sim, que bom que atingi meu objetivo, a ideia era essa mesmo, imagens esculpidas numa parede, como naqueles entalhes babilônicos (ou sumerianos). Um álbum completando o outro.
      Obrigado pela gentileza do seu comentário.

      Excluir

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