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domingo, 8 de maio de 2022

SOU COMO UM PEQUENO PEDAÇO DE MERDA BOIANDO NO RIO DA VIDA.

 

Projeto em andamento.

 Hoje é o dia que os homens escolheram para comemorar o dia das mães. Certo, foi uma data criada para aquecer o comércio, assim como o dia dos pais, das crianças e outros mais, mas tá valendo, é um dia para confraternizar, almoço em família, comprar um presente, um ramalhete de flores, ligar (se não puder estar presente por um forte motivo). Se lembrar daquela que te gerou, amamentou, trocou suas fraldas, te embalou com cantigas e te protegeu com braços ternos. Feliz daquele que ouviu seus sábios conselhos e os põem em prática. Bem aventurado aquele que pode abraçar sua genitora. Eu não posso mais e quem me conhece um pouco sabe o quanto isso me pesa na alma, principalmente sem a presença do meu irmão. As vezes penso que estou bem e logo a certeza da perda me esbofeteia o rosto e sou tomado por uma espécie de medo, um certo desespero, um vazio causado pela certeza de que não vão mais voltar e eu nada posso fazer para reverter o processo. É quando as lágrimas vem em profusão e sou sugado por um buraco negro de solidão e...... aí rogo a Jesus para ajudar a me recompor e seguir adiante, firme, na certeza do reencontro na eternidade.

Esboço de um projeto em execução.

Malgrado todas essas sensações - sentindo que sou outra pessoa, nem melhor ou pior do que antes de 2021, apenas mais macambúzio - tenho desenhado mais que nunca, talvez no afã de tentar expurgar a angústia do peito ou a carreira desesperada para não deixar que nada falte para a Verônica num mundo cada dia mais complicado pós pandemia e com uma guerra em curso no leste europeu. E quando falo  desenhado mais do que nunca, não me refiro somente à quantidade de páginas, mas de uma forma mais natural. Pode ser que eu esteja enganado, uma sensação do momento caótico nesses dias febricitantes, talvez eu sempre estivesse nessa situação de correr atrás do tempo, me recordo de dias passados ilustrando livros com prazos apertados, tendo que alternar com álbuns de anatomia e a bio do Edgar Allan Poe e por recompensa um dinheiro minguado. Bem, o fato é que os esboços fluem mais fácil (quando não complico a vida com ângulos de câmera muito excêntricos, claro). Bom, depois de umas três décadas e meia diariamente com lápis e papel na mão é assim que deveria ser (ou não?). 

É lógico que nessa toada doida, indo dormir sempre alta madrugada e acordando cedo a fadiga me tortura durante o dia, mas é um cansaço muito mais na alma do que no corpo, como se num momento eu fosse apagar repentinamente. Não consigo mais tempo para meus exercícios físicos ou leituras, coisas que outrora eram o meu escapismo. Tenho tido problemas de memória recente e dores nas articulações. Meu irmão médico diz que a idade conta muito, estou com 59, embora sinta a alma de criança, o mesmo menino medroso das décadas de 60 e 70. Pode ser que seja a morte já mordendo minha bunda, lembrando que a estrada já está chegando no fim. Pra mim está ok, acho que não tenho muito mais a acrescentar (se é que acrescentei algo) neste mundo.    

Eu sempre gostei de desenhar, mas penso que comecei tarde na profissão. Sem referencial, sem modelos a seguir eu demorei demais a me profissionalizar. Escolas de arte eram uma utopia, não tinha como comprar livros, o jeito foi me virar usando modelos de revistas masculinas, de fisiculturismo e de moda como guia para obter alguns progressos, misturar tintas e cores até alcançar a pigmentação adequada (e olhem que sou daltônico) para minhas pobres pinturas.

Meu primeiro trabalho como qualificado eu consegui em 1986 e com um salário até bom, ali eu quase não ilustrei, mas compunha textos com letra set e normógrafo (não sabem o que é? Deem um Google). Isso me ajudou a angariar uma certa paciência, coisa muito necessária para quem quer ser um expert na arte do desenho. Na década de 90 eu me vi obrigado a superar as limitações que tinha para poder me inserir no mercado, eu tinha um traço mais acadêmico, muito calcado no realismo, em contrapartida minhas HQs nunca perderam a alma underground - ou alternativo, se preferirem - e não sei dizer se isso é bom ou ruim. Talvez seja bom se eu aprecio um traço com identidade forte, mas ruim por não ser adequando aos quadrinhos que rendem grana no mercado gringo (algo que desisti faz tempo). 

Falando em anos 90, me lembrei deles ao assistir uma live do amigo Anderson, de Alvorada, no Rio Grande do Sul, onde ele comentava sobre sua coleção da revista Herói (publicação informativa sobre quadrinhos, animes e tutti quanti muito em voga naqueles tempos). Ali ele leu os nomes de alguns jornalistas que colaboravam no periódico. Boa parte deles eu conheci. Tirando uns poucos, a maioria era de uma arrogância sem tamanho. Ficou na memória dois orientais com quem tive o desprazer de me deparar ao levar portfólio para apreciação. Não vou citar nomes, mas um deles olhou minha pasta como se folheasse um jornal bolorento, até fez elogios à minha técnica de lápis mas nem me deixou entrar na editora, me dispensou na porta mesmo. O outro desde a primeira vez que me viu não foi com a minha cara, devia ter um metro e meio e parecia trabalhar em todos os lugares que eu ia, desde estúdios de desenho a editoras do porte da Escala. Onde ele pôde, me barrou. Não foram os únicos, claro, e isso fazia com que eu me sentisse um merda maior do que eu era. Lógico que haviam as exceções, como o Arthur e o Franco. Memórias, fragmentos da vida. Vaidade.

Essa semana que passou teve uma live no canal Milhas e Milhas do Cassio Witt com o editor da  Atomic, fui bastante citado lá, participei do chat, inclusive. Breve o Zé Gatão - Siroco começa a  ser trabalhado e segundo ele, em dois meses o álbum já começa a ser distribuído aos apoiadores. Sentirei falta do Felino, ele foi um fiel porta voz das emoções que eu deixei sair da alma, mas não tenho mais nada a comunicar através dele. Mas, se possível for, quero ainda fazer mais uns quadrinhos, curtos e longos, para mais um álbum no estilo Phobos e Deimos. Quem sabe quando eu não estiver fazendo três projetos encomendados eu dê início? Ou talvez não, tudo o que fiz na arte sequencial até hoje foi pouco compreendido.

 Abraços a todos e fiquem bem.  

Esboço de uma nova HQ em execução.

    




7 comentários:

  1. Eduardo, pense pelo lado bom, pelo menos se está boiando no rio, está hidratado e ainda não exala aquele odor característico do processo de secagem. Talvez o inconveniente sejam as mordiscadas dos pequenos e esfomeados ictios! Brincadeiras a parte, eu agradeço e aprecio demais suas memórias compartilhadas, me faz pensar que não estamos sozinhos, não somos os únicos a "desfrutar" das amarguras desse mundo. Acredito que os pequenos e raros momentos de felicidade sejam apenas entorpecentes para nos anestesiar e fazer crer que esse todo chamado vida tenha algum sentido, pelo menos para nós, meros mortais que não teremos nossos nomes eternizados em livros de história. Esse Dia das Mães foi muito triste para mim e para ela, se por um lado ainda tenho a honra e sorte de sua presença no alto dos seus quase 80 anos, justamente na semana anterior a data, a gatinha que foi sua companheira diária por longos 16 anos faleceu, fraca, magra e só conseguindo nos últimos momentos com quase todo o corpo paralisado, levantar a cabeça em busca de minha mãe que não saiu do seu lado nem para comer. Eu senti tanto pelas duas, pouca gente de fora consegue entender essa relação de um idoso e seu pet, foi também para mim, um prelúdio do inevitável. Tudo nessa vida tem um fim, o problema é que isso tb vale para as coisas que amamos. Não sei bem lidar com isso, e acho que nunca saberei.

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    1. Obrigado por seu comentário, meu caro!
      Sabe, as vezes, as pessoas de bom coração, pensam que menosprezo minha pessoa quando falo de mim mesmo de forma negativa, não é bem isso, é a certeza, da minha parte, de que nesse mundo, diante de Deus, eu não passo de um trapo imundo. Acho que isso me mantem encarcerado na minha pequenez e impede que eu seja (ou pense) como esses merdas gigantes que se acham donos do mundo (falo de ditadores e globalistas). Mas é papo longo, melhor deixar pra, quem sabe, uma postagem.

      Lamento pela gata da sua mãe, compartilho da dor, afinal, como você sabe, meu querido "menino" felino também se foi em fevereiro passado.

      Sobre a parte final do seu texto, também não sei como reagir a isso, me refugio na verdade do evangelho de Cristo para suportar o peso do espectro da perda definitiva. Creio que existam pessoas com vocação para seguir adiante depois de certas tragédias, não é o meu caso. Realmente eu preciso da Mão Divina para me guiar.

      Um grande abraço e conte comigo se quiser bater um papo nos momentos difíceis.

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  2. Confesso que o título da postagem me assustou, mas depois fui lendo, até me lembrando de umas piadas bestas de 5ª série ou de uns programas de rádio que eu escutava e me mijava de rir. A Praça é Nossa e o extinto Zorra perdiam feio, ao menos, pra mim.

    Fiquei feliz pela citação da minha live sobre a Herói. Também tive contatos desagradáveis com desenhistas metidos e até editores/roteiristas oportunistas de... MEEEEERDDAAA!!! (como diria o finado Alborghetti)

    Quer que eu te conte a piada escatológica e maliciosa que contei pra dupla Jorginho e Daniel Filósofo em OFF durante a minha última participação radiofônica no programa Psycho Killer? Me pede que eu conto

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    1. Boa noite, Anderson! Sempre um prazer te ver por aqui.

      Sobre a piada, pode contar, sim.

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  3. Ok. Aí vai...
    Um coelhinho branco saltitava todo contente pela floresta, quando de repente... se assustou com um urro alto e rosnado. Depois outro.
    Mesmo assustado, ele seguiu o som dos urros até chegar numa moita e ver que era um ursão agachado fazendo o quê mais? Cagando!
    Então, o urso vê o coelho e pergunta: "Aí, orelhudo! Você tem aí um papel higiênico ou algo do tipo pra eu poder me limpar?"
    O coelho responde: "Não tenho nada aqui e nunca precisei usar."
    O urso pergunta, curioso: "Mas por que não e como faz pra se limpar?"
    O coelho responde: "O meu pelo é bem macio e fácil de limpar."
    Foi aí que o urso encarou bem o coelho e já que não tinha uma folha qualquer ou papel higiênico... usou o coelho mesmo pra limpar a própria bunda

    Agora, pode chamar o Cazalbé pra se enfartar de tanto rir! XD

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