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domingo, 20 de novembro de 2022

A PRIMEIRA VEZ QUE APARECI NA TELEVISÃO.

Personagem pouco amigável de ZÉ GATÃO - SIROCO (ainda inédito).
 

Eu vivo prometendo a mim mesmo ser mais frequente neste blog, principalmente agora que as visualizações diárias aumentaram substancialmente, como já disse aqui reiteradas vezes, no início eu tinha de 200 a 500 verificações, depois fiquei entre 100 e 200, até que foi diminuindo, diminuindo até chegar ao ponto de verificar só seis entradas. Raramente passava de 50. Nas últimas semanas isso mudou, recebo, 150, 200, 300, 450 até 1.300 diariamente, o curioso é que no gráfico as páginas verificadas são postagens antigas, geralmente as que tratam de ilustrações para livros clássicos, Iracema, principalmente. Mas ok, o bom é que pessoas vem aqui e arte e texto chegam a um número maior de leitores (se não forem sempre os mesmos, mas espero que não). Mas o caso é nesses últimos tempos nunca consigo paz na alma para sentar e refletir com vocês sobre as coisas da vida, meus pesadelos (externos, os internos eu tento exorcizar com oração e arte) impedem, são maiores do que tenho sido capaz de suportar, e acreditem, se não acabo com tudo é por puro amor ao próximo. Só por isto.   

Mas vamos ao que interessa, quem me conhece bem sabe o quanto eu odeio exibir fotos minhas, não as tenho em redes sociais, as que circulam pela internet são as que os editores exigiram para figurar nos livros, as vezes sou obrigado aparecer em alguma live, mas é para falar sobre trabalho, se isso puder ajudar na divulgação.

Eu nunca quis aparecer na televisão e já dei as caras lá algumas vezes, geralmente sendo entrevistado em redes locais para falar sobre algum projeto, agora com canais no YouTube não dá pra fugir se estou presente em algum evento. Há uns anos, poucos anos atrás, se não me engano, a HBO fez um documentário em vários capítulos sobre quadrinistas brasileiros, deram depoimentos os mesmos de sempre, os que sempre estiveram aí, com mais cara de pau e muita vaidade, vaidade pouco equivalente ao seu talento (quando falo talento, não é só no traço, mas naquilo que faz um artista completo ser o que é). Um amigo meu perguntou se eu estaria no tal programa, eu falei: nunca! Os produtores só conhecem esses caras de sempre, esses mesmos caras que estão aí há mais de 30 anos e nunca conseguiram, ou tiveram intenção, de criar um mercado. Eles nunca ouviram falar de mim e ainda bem, eu não tenho nada relevante, nada para acrescentar e principalmente, odeio aparecer em televisão.   

Mas a primeira vez que eu apareci, eu quis sim, estar lá. Explico: no fim dos anos 70 eu fui morar no Rio à revelia dos meus pais (já narrei aqui no blog como foi essa triste história) e lá eu vivi uma vida de merda, com tiranetes colocando mais peso na cruz que naturalmente eu tinha que carregar - isso se repete na minha vida em Pernambuco - mas voltemos ao papo sobre tv. Os dias amarulentos na cidade maravilhosa foram mais suportáveis com a presença dos livros clássicos, dos gibis de faroeste (Tex e Ken Parker) e músicas nas raras vezes que pude assistir aos programas de clipes que passavam na tv dos despotazinhos. Notem: uma era muito antes da MTV. Um desses programas, se me recordo bem, da Tupi, era feito na praia, um apresentador abordava um passante e perguntava se ele queria ouvir uma música no programa e o cara pedia tal música e a tal música rodava. Havia muita coisa que eu curtia e, claro, muita bosta também, mas em geral davam as caras as bandas que eu gostava: nem tanto Beatles, mas ex Beatles, como Lennon, Harrison, MacCartney (Ringo era muito raro), muito Queen, ABBA, Blondie e etc. Pois bem, o apresentador falou certa vez que o próximo episódio seria na praia do Arpoador em frente a tal lugar, tal dia, entre tal e tal hora. Putz, a tentação foi grande, eu queria muito ver o vídeo de Hey Jude ou Strawberry Fields Forever, ou poderia ser I´m The Walrus (todos dos Beatles, caso alguém ainda não saiba) ainda não tinha me decidido, mas eu pretendia estar no local, só não podia deixar os opressorezinhos ficar sabendo, senão iriam dizer que aquilo ia me lavar para o inferno. 

No tal dia, acho que era um domingo (de muito sol, pra variar) eu disse que iria à praia com um certo fulano (esse fulano era um canalha que eu pensei que fosse um amigo, mas é outra história) e lá fomos de busão ao Arpoador. A praia não estava cheia, andamos um bocado até chegar ao local indicado e não vimos nada, pensei que o tal apresentador tinha nos feito de bobos até que de longe (bem longe mesmo) vimos um cara com uma câmera na mão, hei, pode ser os caras. Corremos até eles e reconheci o rapaz da TV (acho que o nome dele era Aires), eu, nervoso e trêmulo como um chihuahua perguntei se não eram da televisão e tal. Ele disse sim e conversamos um pouco. Afirmou que já iam embora pois o dia não estava bom para gravar, poucas pessoas na praia e a maioria, quando via a câmera, caiam fora. Demos sorte então. Eu queria pedir uma música dos Beatles. Ih, irmão, não tem Beatles na lista hoje. Lista? Sim, sempre temos uma lista da músicas do dia que vocês podem escolher. Putz, é sério? Sim, veja a lista.  Vi a lista e imediatamente falei: ok, quero esta aqui, Start Me Up, dos Rolling Stones. Ih, broder, essa já pediram, veja outra aí. Na tal lista só tinha cantor que eu desconhecia ou não gostava, as boas já tinham sido escolhidas, sobrou Oh, Suzie do Secret Service. Ok, fico com o Secret Service. 

Acertado isso o cara me pediu para assinar um papel autorizando o uso da minha imagem no vídeo e fingir que eu passava por ali para ele me abordar e me cumprimentar e perguntar se eu queria ouvir uma música no programa, eu diria que é um enorme prazer e que queria ouvir Oh, Suzie do Secret Service. Ponto. O simpático Aires me agradeceu e disse que o programa iria ao ar dia tal.

Chegado o dia a tv estava sendo usada para assistir um programa qualquer de auditório, fui obrigado a dizer que na praia passavam uma produção de tv e me perguntaram se eu queria ver um clipe de uma banda. O programa estava para começar. Ouvi um sermão sobre vaidade e o perigo de tal coisa. Mas vimos o tal programa. Assisti sem prazer algum, eu queria curtir sozinho, não ao lado de pessoas que odiavam aquilo. Rolavam bandas boas e bandas merdas, sempre com comentários de reprovação. De repente aparece o Dudu com uma voz que não parecia a dele dizendo simplesmente: gostaria de ouvir Oh, Suzie com Secret Service. E a música rolou. Eu tinha sido entrevistado (de onde era, se curtia música, se conhecia o programa e tal) durante uns cinco minutos, e na edição eu mal abri a boca. Muito melhor assim. 

E foi isso. Ah, não pensem que eu desdenhei, eu gosto do Secret Service, mas queria ouvir Hey Jude.

Foi bom estar com vocês, agora volto para meu calvário.

Fiquem todos bem.

Outra personagem pouca amistosa de ZÉ GATÃO - SIROCO











 

4 comentários:

  1. Sua narrativa me lembrou de uma coisa que certa vez escrevi sobre a minha própria existência (não ouso chamar meus dias de "vida"): "Nos meus dias ocorrem dois tipos de coisas: as ruins e as boas que se tornam ruins em curto ou em médio prazo".
    Se você perseverar sendo a boa pessoa que eu sei que é (aliás, boa demais em minha opinião, poderia ser mais Zé Gatão em certos aspectos), irá para um ótimo lugar depois que morrer e, nesse lugar, a possibilidade de esses bostas estarem lá é mais do que remota.
    Não sei se serve de consolo. Abraço. (Embora triste, a história foi bem escrita, com um ritmo que tornou a leitura extremamente fluida.)

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    1. Caro amigo, você é muito generoso comigo e com as coisas que escrevo. Obrigado!
      Entendo bem a sua frase, encontro identificação.
      Não sei se sou tão bom assim, não penso sobre isso. Talvez eu seja como um felino, o tipo de animal que evita todo tipo de confronto, mas que acuado é a pior das feras (já vi um tigre atacar um elefante indiano!); eu evito o quanto posso, porque se eu sair do controle com certeza eu vou parar na cadeia, vou me arrepender do ato praticado e o que for feito não poderá ser revertido.
      O Zé Gatão é aquele pelo qual eu faço o que no mundo real jamais faria.
      Esses bostas nunca terão paz nesta vida e jamais entrarão no lugar de repouso prometido por Jesus, a menos que haja arrependimento sincero, o que acho difícil, quem é bom comete seus erros, mas no íntimo são bons, os frutos dessa árvore são reconhecíveis (como suas palavras para mim, que muito me incentivam). Ao contrário dos que são maus, nestes, nunca há no profundo da alma um pesar pelas merdas feitas, mas regozijo.

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  2. No meu caso, já apareci bem mais em vídeos do Youtube do que na TV. Mas fui entrevistado em emissoras locais de frequência UHF tais como Ulbra TV e a extinta Octo TV, sendo que ainda é possível achar essas entrevistas online.

    Secret Service é muito legal

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    1. Sim, te vejo com frequência no YouTube.
      Talvez eu ainda seja um total desconhecido no meio quadrinistico brasileiro por causa dessa minha neura em mostrar a cara em vídeo; claro, se for necessário eu apareço, mas prefiro ser invisível e deixar o meu trabalho falar por mim.
      Obrigado por sua visita e comentário!

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