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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

MINI CARTA PARA FRANCIS.

 Oi, mamãe! Hoje completam dois anos que você se despediu de nós, daqueles que te amam (sim, com o verbo no presente). Não vou perguntar como você está, pois a resposta seria óbvia para nós que cremos e recebemos a Cristo como Senhor e Salvador, hoje o seu louvor é tão somente para Ele, na presença d´Ele e isso é algo que não posso imaginar, está muito aquém das minhas capacidades como homem ínfimo, efêmero e mortal. Apesar da saudade matadora e tristeza onipresente me sinto consolado com o pensamento de que toda a dor que as pessoa sem noção e sem coração te infringiram cessou e todo pesar não pode mais te alcançar.

Eu, ao contrário, continuo como aquele personagem do Dean Martin (você gostava dele, lembra?) naquele filme com o John Wayne, Rio Bravo ou como aquele anão de Mad Max Além da Cúpula do Trovão. Tenho vivido dias amargos - agora, na casa dos sessenta - e não tenho mais a sua presença para me consolar. Os motivos ainda são os mesmos? Você me perguntaria. E eu respondo, sim. Além da eterna dificuldade financeira, algo que você conheceu tão bem durante maior parte da sua vida, ainda sofro a ingratidão de quem deveria me ajudar e, lógico, a incompreensão de muitos. 

Mas falemos de outras coisas; não conversei mais com a Samanta, mas vi uns vídeos dela numa rede social e ela me pareceu bem, sempre sorridente e fazendo aquelas piadas dela. Vez ou outra papeio com o André e o Rodrigo, nunca temos muito tempo e nossas obrigações cotidianas parece que nos afastam cada dia mais, mas estamos sempre unidos em pensamento, isso eu sei.

Nos dias mais pesados (eles são muito frequentes atualmente) relembro sua voz, sua bênção. Nunca esqueço o amor que você me incutiu pelos livros. Foi você quem me falou sobre Cathy e Heathcliff e foi você quem me levou para ver Se Meu Fusca Falasse e o Ladrão de Bagdá no cinema quando eu era bem garotinho. Fiquei maravilhado! 

 O SIROCO, a derradeira aventura do Zé Gatão ainda não foi publicada. Definitivamente não há mercado para esse tipo de material por aqui, mãe, talvez para nenhum tipo e isso me obriga a jogar a toalha e não tentar emplacar mais nenhum projeto pessoal. As vezes ainda me pego sonhando em vender meu material para o público externo, tipo Europa, onde dizem, teria melhor aceitação. Será? Esta seria a melhor forma de comprar uma casa para a Verônica e permitir que ela tenha uma renda caso eu venha a faltar. Tenho muito medo de deixar como legado para ela apenas dívidas. 

Eu sei como você sonhou em gravar um disco, ter sua casa própria, voltar a enxergar direito e todas essas quimeras foram frustradas. Dinheiro, apenas um pouco mais de dinheiro e ele sempre esteve distante uns poucos passos!

E após tantas provações você foi aprovada, mãe. Um outro medo que tenho é de nunca poder te reencontrar, não ser aceito nesta pátria onde você está junto a seu filho que te seguiu pouco depois, porque ao contrário de você eu não consigo sentir compaixão pelos desgraçados, pelos bêbados, drogados, vigaristas e parasitas, eu os desprezo. Ontem fui obrigado a ouvir uns hip hops, você sabe, essas músicas de bandido e senti engulhos diante de tanta hipocrisia, gente que prega abertamente o ódio e o preconceito, usam roupas finas, esbanjam recursos ganhando dinheiro com sua poesia tosca sobre negros pobres e favelados.

Sinto uma repulsa brutal em relação aos políticos corruptos e oportunistas, mãe, você não está aqui para testemunhar o fato de prenderem inocentes e colocarem criminosos em liberdade.....eu me vejo como o profeta Jonas que queria ver cair fogo dos céus sobre Nínive. Se o Senhor nos recomendou amar aos que nos odeiam, como posso obter perdão com esses sentimentos?

Eu continuo trabalhando como posso, sempre inspirado por você e seus exemplos.

Termino essas poucas linhas na esperança de que a misericórdia do Salvador seja maior que os meus pecados e possamos nos ver de novo neste lugar onde lágrimas nunca mais rolarão.

Beijos, mãe! Saudades eternas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Caramba! Confesso que ao ler o título saí por alguns minutos e respirei fundo antes de voltar. Já sabia em parte o que encontraria e hoje isso tem um significado bem forte para mim. Sei que deve ter sido difícil escrever esse texto. Por isso mesmo ele tem mais valor. Continue forte, meu caro.

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    1. Sim, querido amigo, foi bem difícil, por três motivos: o mais óbvio, ter que me debruçar sobre esse tema delicado, é como expor uma ferida, dois: encontrar as palavras certas e não parecer apelativo e lacrimoso, três: abrir o canal da dor em meio a turbulência que mais uma vez envolve a minha vida e isola-lo dos demais sentimentos. Economizei nos adjetivos que versam sobre minha revolta. Pensei em guardar para mim, mas penso que merecia registro.
      Muito obrigado por comentar e forte abraço!

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