img { max-width: 100%; height: auto; width: auto\9; /* ie8 */ }

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ZÉ GATÃO, ESSE ETERNO INCOMPREENDIDO

 

Arte criada por Louis Melo, um jovem artista que admiro muito.

 Amados e amadas, boa noite!

Uma coisa aprendi com o meu pai e com um chefe que eu tive: fazer o exato oposto do que eles faziam; eles, frequentemente valentões, diziam o que lhes viesse na telha se confrontados, desafiados ou colocados contra a parede, não raro partiam pra vias de fato, ou seja, corriqueiramente fechavam portas atrás de si. Vocês sabem, a vida é uma gangorra, pra um subir, o outro tem que descer. Uma hora você é o patrão, na outra você é o submisso. Os dois costumeiramente nadavam na merda por causa desse comportamento impulsivo. O ser humano é vingativo por natureza, "um dia te pego, filho da puta, goze sua vitória enquanto pode". Se não tenho algo bom para dizer a respeito de uma pessoa, não digo nada e montado nesses cavalos de batalha eu consegui algumas realizações, hoje, porém, arrisco a dar um tiro no meu pé, mas sabem, foda-se, não tô mais na idade de ficar cheio de dedos com pessoas que valem menos que o peido de um cachorro. Minha ética, porém, ordena que eu não chame os bois pelo nome e assim farei.

Antes de entrar no assunto dessa postagem, permitam-me informá-los sobre como estou.... na verdade não sei bem como estou.... ainda faço três refeições ao dia, bebo água limpa, durmo numa cama asseada, tomo pelo menos dois banhos diários (manhã e noite) e no âmbito profissional desfruto de um certo prestígio entre a meia dúzia de pessoas que curtem meus traços e cores, então posso, sim, dizer que estou bem. Entretanto ainda vivo numa apreensão que subtrai toda paz que um lutador honrado deveria sentir dentro de sua casa. Tenho trabalhado nos projetos que vocês estão fartos de ler aqui mas o dinheiro continua difícil e as coisas a cada dia aumentam de preço, sem contar que sei que meu luto não terá fim. Feita essa meditação, voltemos ao tema proposto.

Sabemos todos que Zé Gatão nunca alcançou sucesso comercial - os prováveis motivos já foram  debatidos aqui - apesar do heroísmo do Jotapê Martins (Via Lettera), Leandro Luigi Del Manto (Devir) e Marcos Freitas (Atomic). 

Eu tentei fazer a minha parte, divulgando, procurando editores, jornalistas da área e..... artistas de quadrinhos! Tudo para fazer o personagem se tornar popular para que ele fosse melhor aceito. 

Uma dessas tentativas foi em 2000 ou 2001, por aí. O Jotapê, editor da Via Lettera havia me feito suspense sobre uma publicação que, segundo ele, revolucionaria o mercado de quadrinhos no Brasil, tratava-se da Front. Pesquisem no Google, se tiverem interesse em saber do que se trata, as imagens abaixo podem trazer uma tênue luz.

 A Front, pelo que percebi, tentava emular a Raw, periódico americano um tanto revolucionário editado pelo Art Spiegelman, algo do tipo, alternando quadrinhos, artigos, poemas e ilustrações. 

Os artistas responsáveis pela dita revista eram cartunistas, digamos, alternativos, que publicavam em jornais e ilustravam alguns magazines do período (não, Los Três Amigos não faziam parte desse time) e eu conheci alguns, tipos talentosos mas cheios de empáfia, julgando-se grandes intelectuais que nos lançamentos das Front (fui em dois) discutiam Moebius e Corben e se indagavam de forma bastante blasé sobre o futuro dos comics.

Um desses artistas (um dos principais cabeças do projeto) era mais chegado a mim, não porque ele achasse que meu trabalho valesse mais do que a merda que ele largava em sua privada, mas porque ele passava de vez em quando pela banca de jornal em que trabalhei. 

Depois de uns números eles começaram a publicar a Front com temas específicos como sonho, feminilidade, ódio, morte e por aí vai. O tal artista sempre me perguntava se eu conhecia algum colaborador à altura da publicação e certa vez eu ofereci uma HQ curta do Zé Gatão. Bem sem graça ele disse que precisava consultar os outros editores da Front, que não dependia só dele. Claro que se ele quisesse o Gato estaria lá. Eu sabia que não ia rolar, como não rolou, normal, ninguém é obrigado a gostar e publicar, eu entendo isso, mas a forma como se deu a negativa é que deixou um gosto de barata na minha boca e não  saiu por anos. Não vou entrar nos detalhes, não vale a pena, mas ficou estampado ali um preconceito que eles insistem em negar.

A tal da Front que revolucionaria o mercado não fez sucesso e parou depois de uns números. Não sei se deixou saudades.

Processo idêntico se deu com a Ragú, uma publicação mix envolvendo HQ, artigos sobre temas variados sempre com ilustrações de aspecto vanguardista, só que essa era de Pernambuco. Cheguei a ir na festa de lançamento de uma das edições (argh, festa horrível! E eu cheguei a pagar para entrar. Mas horrível para mim, odeio essa merda com som alternativo à meia luz composta de pessoas tipo universitários maconheiros discutindo os problemas do mundo onde toda porcaria possível pode ser vista como arte).

 

Dessa vez, um dos capitães da Ragu perguntou se eu não queria colaborar com a revista e eu sugeri um quadrinho colorido do Zé Gatão e ele respondeu que o Felino não tinha o perfil da publicação. "Ora essa, a Ragú tem perfil específico?" perguntei, o artista riu meio sem jeito e a conversa tomou outro rumo.

Essas foram duas entre tantas rejeições sofridas e não é coisa do passado, recentemente, durante uma live, um grupo de pessoas sugeriram a uma "importante" editora um encadernado do Zé Gatão e receberam um sonoro NÃO. Repito, ninguém é obrigado a nada, mas poderiam dizer assim: "pois é, quem sabe? Seria legal ter esse personagem no catálogo, mas no momento estamos agendados até tal ano, depois veremos" e a coisa ficaria o dito pelo não dito, mas essa elite não perde oportunidade de descartar, não só a mim, mas outros que não fazem parte da patota.

Lembrando que a HQ recusada pela Front foi publicada no Especial PADA e a rechaçada pela Ragú saiu na revista Zé Gatão - Pintura de Guerra.

Sabem, no final  das contas isso até pode ter sido bom, minha mãe sempre falava: "Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz", tivesse eu sido sucesso e estivesse no meio de muitos que atingiram o cume, eu poderia ficar inchado e não reconhecer o sacrifício do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na cruz. De que vale o homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? Eu digo isso não como quem procura compensação, acreditem, todas essas coisas são lícitas, mas é um prazer momentâneo, tudo na vida passa, estar em paz com o coração sem se corromper com as coisas desse mundo vale muito mais.

Obrigado e fiquem com Deus!

 

 

 

16 comentários:

  1. Olha, Eduardo, sendo bem sincero: foi até um favor que esses supostos editores da Front e da Ragu lhe fizeram. Não convém se misturar com essa laia. Jesus livrou você de uma fria. Tenho uma experiência parecida: entrei em contato, anos atrás, com um certo quadrinista famoso no Brasil, cujo nome não vou citar mas que é considerado o "Moebius brasileiro". Quis fazer uma parceria, pra ele desenhar uma HQ minha. Ele ficou empolgado. Então duas coisas aconteceram: o filho dele, semianafabeto de carteirinha falsificada, entrou numas de agenciar o pai e botou os valores lá no alto. Em seguida, o artista em questão recebeu um diagnóstico de doença que o impediria de trabalhar para o resto da vida, e ele não me avisou. Soube por terceiros. Fiquei puto. No entanto, tempos mais tarde, a minha HQ virou livro e eu ganhei um prêmio literário com ela, em 2019. Dois mil reais e 50 exemplares pra distribuição. Em breve, contarei outras novidades boas. Moral da história: não desista! Se não fizermos sucesso AQUI, teremos MUITAS GLÓRIAS na eternidade. Abração!!!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sei bem a qual Moebius brasileiro você se refere e saiba que outros expressaram a mim a mesma queixa pelos mesmos motivos. Conheço umas histórias interessantes sobre esse artista.
      Passados muitos anos eu sei que foi melhor não ter galgado qualquer degrau através desses soberbos, hoje eu posso me dar ao luxo de dizer que o que publiquei foi por mérito, não por condescendência. Como eu disse, editores corajosos e com visão (porque não dizer também, bom gosto?) apostaram no personagem e mentes que não se adequam ao mainstream enviaram feedback positivo. Repito: beijar as mãos de uma suposta "elite" não ajuda, apenas atrapalha no julgamento da história. Mas estou sendo cabotino.
      Não sei se depois de tudo ainda haverá algo para mim depois de toda essa luta, mas a palavra do Senhor é fiel: TODO AQUELE QUE CRER E FOR BATIZADO, SERÁ SALVO. Marcos 16:16. Nisto e apenas nisto reside toda a minha esperança.
      Grande abraço e obrigado!

      Excluir
  2. Gostei da mudança da imagem de capa da página, o pedido de socorro, lembrei de Heinrich Heine...
    E o texto... bom, mostra que, nem que seja no apagar das luzes, ainda há sangue quente nessas velhas veias. Nem só tnc caladinho, engolindo tantas palavras que já pode cagar um livro. Injusto apenas não dar nomes aos imbecis: a impunidade continua, só quem conhece as histórias sabe quem são os fedepês.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado por seu comentário, meu irmão! É sempre um prazer ter no barco um brother de lutas.
      A imagem atual que ilustra o cabeçalho deste nosso espaço é a materialização do meu anelo perpétuo, de mim mesmo jamais chegarei a lugar algum, por isso o meu apelo para que ELE não desista de mim por mais que eu falhe em ser uma pessoa melhor.
      Sobre o texto eu esqueci de mencionar (veja como a idade é cruel) que o Felino também foi recusado na revista Canalha, mas vou corrigir isso na próxima postagem.
      As alcunhas dos "grandes, revolucionários e eruditos artistas/editores" dessas duas revistas mix eu já te passei por zap. Não citei nomes aqui por dois motivos, um é óbvio, o outro é para não dar cartaz a quem não merece.
      Abraço!

      Excluir
  3. Rapaz, eu poderia jurar que essa ilustração do Zé feita pelo Louis foi inspirada em algum retrato de Cristo, provavelmente porque é a pose mais comum Dele nas milhares obras que o retratam. Quanto ao assunto abordado no post, acho que faz bem colocar para fora um sentimento que deve carregar por muitos anos, caso contrário não sentiria necessidade para comentar ou acharia que não vale a pena. Sei bem como é esse tipo de rejeição, com aquela negativa que ao invés de ser franca e direta, prefere se justificar com subterfúgios que são uma afronta a nossa inteligência. Quando chegamos numa certa fase da vida, temos que aliviar alguns pesos de nossa bagagem, mesmo com todos os riscos envolvidos. Me lembrei de uma frase de um quadrinho do Garfield que li quando criança e que nunca mais esqueci, "O duro não é a mentira em si, e sim o pouco crédito a minha inteligência".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro amigo, não tinha olhado o desenho do Louis sob essa ótica. Interessante a impressão que ela te causou.
      Sobre a coisa da rejeição, franca ou dissimulada, ela teria em mim o mesmo efeito negativo, reitero o que disse, ninguém é obrigado a gostar, mas o que me incomoda é o fato de negarem não pelos méritos (ou deméritos) da obra, mas o fato de não me julgarem à altura de figurar entre eles, como se eu fosse cidadão/artista de terceira categoria. Esse meio (quadrinhos) é recheado de ego inflado. É amigo do rei? Publicou lá fora? Então cê tá dentro. Batalha por fora? Publica em editoras de quinta? Então você é um pária. Beija a minha mão e diz que eu sou foda? Então talvez você tenha alguma chance.
      Isso me incomodou por um tempo, depois fui conhecendo melhor os tais "vencedores" e sua visão de mundo, totalmente oposta à minha e dei graças por não comer na mesma mesa, por outro lado fui ganhando algum espaço mesmo sem o sucesso sonhado. O tempo vai julgar (ou não), mas a essa altura do campeonato não importa mais. O registro dos acontecimentos ficam registrados aqui, afinal aconteceu e é a minha história.
      Grato pela visita e comentário.

      Excluir
  4. Meu velho. A Arte do Louis é justamente a imagem que eu gostaria de ter feito do Zé Gatão. Mas meu desenho já estava em decadência quando participei daquela bela homenagem ao felino com alguns Artistas que publicaram versões pessoais do Gatão no blog. Quero parabenizar o Louis. Gostei muito da versão apresentada por ele. Esta Arte abrilhanta condignamente o felino tristonho Especialmente para nós fãs.


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo em gênero, número e grau, meu velho amigo. O Desenho do Louis está ótimo mesmo. Mas a sua arte também tem seus méritos, seu traço é unicamente seu, sem nenhuma influência perceptiva.
      Abração!

      Excluir
    2. Grato, mano! Dentro do possível e com minhas limitações eu tinha um traço único! Mas como você bem sabe, se não praticarmos e nos aprimorarmos a Arte da gente regride e se estagna! Como optei pela escrita, fui perdendo a mão! De certa forma, meu auge foi em Forças Ocultas até meados de 1984! Ao retornar à história após um hiato de 10 anos, o traço já estava bem aquém do que tinha sido. Foi justamente nos anos 90 que encerrei minha produção de HQs entre aspas! C'est la vie, velhão!

      Excluir
    3. Para mim, que encontrei em você a minha primeira grande referência no desenho, o que ficou foi a memória afetiva. Você é e sempre será o melhor de todos!

      Excluir
    4. Obrigado, meu velho! Me sinto honrado! Receber a lisonja de um Schloesser me emociona!

      Excluir
  5. Achei interessante esta comparação da expressão facial do Gatão do Louis Melo com a figura de Cristo. De fato, a expressão calma e contemplativa do felino se assemelha à figura mais recorrente de Jesus. O Grande Gato vive em um mundo caótico e ele mesmo não está em paz! Sempre assombrado por seus fantasmas pessoais e lutando o tempo todo pela sobrevivência! Nem no sono ele possuí uma expressão facial relaxada! Desta forma, a belíssima versão do Gatão de Louis cria um incrível contraponto, fazendo-nos crer que em algum momento, ainda que improvável, o felino taciturno encontrou a Paz!

    ResponderExcluir

  6. Velhão. Resolvi fazer meu comentário sobre as questões editoriais do Gatão que você colocou em sua última postagem. Vamos lá!
    Minhas colocações serão baseadas em minha própria experiência no mundo editorial, embora diferentemente de você eu não seja um profissional e tenha comido o mingau pelas bordas até hoje.
    Começo minha digressão dizendo que além de todas as problemáticas que você citou, Cidade do Medo foi um divisor de águas complicado! Seu enredo impactante, provocou reações mistas e causou uma impressão errônea do autor e de seu personagem dificultando a entrada no Mercado! Esta incompreensão a respeito do Gatão somada à crises que se abateram sobre diversas Editoras nestes trinta anos potencializaram as mazelas! Outra questão é a propaganda/divulgação! Convenhamos que não ocorreu adequadamente! Nenhuma das Editoras que publicaram os álbuns, posteriores ao álbum branco (independente) fez uma propaganda do produto, com exceção da Atomic! Outro ponto do qual padeço mais fortemente é a projeção no Mercado Editorial! Você conseguiu graças ao seu esforço, publicar seu trabalho nestes trinta anos, além de ter publicado obras autorais ( a duras penas), tem um restrito círculo de fãs! Seu mérito! Sua Arte chamou atenção o suficiente para ter encomendas de trabalho ( os notórios papaluguéis). Ou seja, você fez por onde! É um batalhador! Eu podia ainda discorrer muito mais sobre o Gatão editorial, mas vou encerrar por aqui, reforçando que você fez o que achava certo! A realidade é uma corda bamba e a vida é uma incógnita! Não há fórmula acabada para ser um Quadrinista ou um escritor de renome! No entanto, há certos caminhos a seguir, aproveitar as oportunidades quando surgem! Se apromorar sempre é perseverar. Uns se sobressaem e brilham! Outros permanecem na obscuridade, há quem atinja certos patamares! E neste torvelinho há os que nunca desistem! De quem conheço, você e o Barata podem ser enquadrados nos que não desistem daquilo em que acreditam!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Antigamente tinha um adesivo que colavam no vidro do carro que dizia: "a inveja é uma merda", lembra disso? Ao ficar mais velho passei a dar crédito a essas coisas, aquilo menos provável era de fato um fato. Houve má vontade com meu trabalho? Sim. Houve pouca divulgação? Houve. Mas sinto, atualmente, que havia sim muita inveja, uma torcida para que eu não chegasse lá, é só conhecer um pouco as pessoas que compõem esse mundinho dos comics brasileiros e você passa a acreditar que as forças nefandas do corporativismo e das panelas ditam regras. Paranoia minha? Dor de cotovelo por uns terem feito grana e sucesso e eu não? Mano, pode até ser, sou falho, mas sempre teve algo esquisito nesse meio, algo do tipo: "quem é esse nanico chegando com um álbum de excelente acabamento gráfico, com prefácio e tudo o mais? Que afronta? Quem ele pensa que é? Ele tinha que ter começado com uma revistinha requenguela xerocada, com um fanzine. Que afronta! Eu que sou muito melhor não cheguei ao mercado assim. Se depender de mim ele não vai passar disso!" Repito, pode ser paranoia (e talvez seja), mas alguém já disse que nem todo o inimigo do paranoico é invisível. Pra tentar equilibrar, encontrei gente legal também, editores corajosos e como eu, audazes, lutando como aqueles raios de sol que tentam furar as massas de nuvens negras e trazer luz.
      Dito isso, dou um glória a Deus.
      Grato, meu mano velho!

      Excluir
    2. Tamo junto, mano velho! Sempre!

      Excluir

VINTE E SEIS DE OUTUBRO DE 2024

 FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU AMOR!  TENHO OUVIDO FREQUENTEMENTE DOS ANALISTAS POLÍTICOS, PASTORES E DOUTORES NA BÍBLIA SOBRE O FIM DO MUNDO. PARA...