Agora a pouco eu observava a minha estante de livros e me detive diante de uns velhos companheiros que me acompanharam muito durante os anos 90, os álbuns do Moebius, não as HQs mas os book arts. Retirei-os de lá para matar a saudades e ao folhear eu me impressionava com a diversidade de temas; o desenho, o básico, está sempre ali, mas as técnicas, impressionantes, sejam na pintura ou mesmo as finalizações a nanquim são surpreendentes a cada vez que meus olhos captam os detalhes. Incrível! Parece que o homem viveu mil anos para produzir tudo aquilo.
Eu tive a minha fase Moebius, além de tentar obter tudo já feito por ele, eu procurava, cá do meu jeito, criar cenários e formas que produzissem os sentimentos dos quais eu era envolvido cada vez que me deparava com sua arte. Foi um tempo que durou pouco, minhas metas, meus temas nas ilustrações e quadrinhos eram outras, mas foi um bom estudo para meu desenho e creio que existe um pouquinho dele - ainda que imperceptível - nos meus traços.
Outro ponto que destaco -e aí entro no cerne do que quero transmitir nesta postagem - são os álbuns em si, digo os tomos físicos, tamanho grande, capa dura, bom papel, ótimo equilíbrio entre texto e imagem, volume de páginas para ninguém botar defeito embora não fossem aquele exagero. Os tamanhos variam, afinal são de editoras diferentes, uns em língua inglesa e outras espanhola (as quais prefiro). Suei muito por cada um, lembro que na época eu guardava cada centavo para comprar e sempre pedia ao livreiro para guardar para mim.
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Parte da minha modesta coleção. |
É com tristeza que noto que não temos isso no Brasil, ainda que para um público restrito e mais abastado. Não sei dizer se é desinteresse das pessoas (não duvido), não estou por dentro do mercado para afirmar, o certo é que se eu procurar por um álbum do Amigo da Onça numa bela edição capa dura não vou encontrar. Talvez nem mesmo dos irmãos Caruso.
Tá, Edu, mas a Devir lançou tudo dos Piratas do Tietê em três volumes em capa dura uns anos atrás, diriam alguns; sim, verdade, assim como também reuniram todo o material do Ângelo Agostini num belo e caudaloso livro, mas são exceções, não regra.
Eu tenho centenas de ilustrações, frutos de labor em 40 anos no mundo das artes gráficas no Brasil, muitas delas (numa era onde não existia scanner) nunca voltaram das editoras, na Escala a regra era não devolver os originais aos autores, algumas extraviaram, outras foram encomendas particulares cujo clientes não tenho mais contato, digitalizei o que pude mas se encontram em HDs que não abrem mais.
Pensei em aproveitar essa minha associação com o Barata Cichetto e lançar um art book pelo selo dele, o Barata Verso, com o melhor da minha produção (o que tenho em mãos logicamente), um livro legal com capa dura, bom papel, num formato grande e tal. Sei que vai ficar um produto caro, mas geralmente o que é bom é caro mesmo, mas será que haverá quem compre? Temos um público, ainda que reduzido, que curte livro só com ilustrações? Lembrando que isto não é para agora, é plano futuro.
O Crazy Sketchbook foi algo que me surpreendeu, claro que não vendeu horrores, longe disso, mas foi além do que eu imaginava. Estagnou, mas para um novo interessado sempre haverá um lugar onde procurar (pelo menos enquanto eu e o Barata estivermos vivos).
Mas me digam aí, acham que vale a pena sonhar com isso? Haverá procura para um tomo assim? Este blog antigamente tinha comentários de muitas pessoas que me eram desconhecidas, hoje só os chegados dão retorno. Mas continuo aqui, postando sempre que tenho vontade de comunicar algo.
Aguardo o feedback de vocês.
Deus abençoe a todos!
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Amigo, não escrevo aqui como o Editor da "Menor Editora da Terra", mas sim como amigo e como admirador do seu trabalho. Assim sendo, sinto-me livre para dizer que o que fiz, usando meus parcos conhecimentos técnicos, e muito mais ainda recursos financeiros, foi abraçar todos os seus sonhos como se meus fossem. E assim são. E fiz com seu trabalho aquilo que gostaria que fizessem com o meu. Reciprocidade e Respeito são, infelizmente, dua palavras que hoje não têm mais sentido neste mundo tão louco e dividido. Ambos, nós dois, temos amigos que poderiam, sim, fortalecer esses trabalhos, divulgando, participando, e o mais importante: COMPRANDO. Sei que há os que o fizeram, mas outros se fingem de mortos, de esquecidos e de idiotas. Destistir? Não, não vou, e nunca prometo algo que eu não possa cumprir, e enquanto os vermes hediondos não roerem minha carne, cumprirei meus desejos de publicar tudo aquilo que você sonhou em ver publicado. Mesmo que, como até agora, não tenhamos, nem eu nem você qualquer lucro - seria correto chamar de "lucro", algum valor oriundo de nosso trabalho? Claro que não, mas parece um crime nas mentes hediondas de vermes traicoeiros. - Vamos seguindo em frente. E como sempre digo, dando em murros em pontas de faca com a vã esperança de, mesmo com mãos ensanguentadas, ao menos entortar um pouco a lâmina.
ResponderExcluirEu gostei muito dessa parceria com a Barata Editora, porque ele reviveu a esperança de um grande autor de quadrinhos e ilustrador, sincero e que ama o que faz. Não se preocupe em vender horrores, mas que haja sinceros compradores. Siga fazendo o que gosta e o que dá vida. Mas estou muito otimista no crescimento de sua obra, seja quadrinhos, ilustrações, acessórios com ilustrações especifica do Zé Gatão. Mas todos não saber que são feitos com a dedicação, o amor e carinho de quem ama o que faz.
ResponderExcluirEduardo meu velho, não posso opinar com a autoridade de quem vai comprar porque como já é do seu conhecimento, entre a minha vontade e a efetivação do ato, existe um detalhe chamado grana, grana essa que desde o começo do ano por uma série de infortúnios parece que a cada dia procura manter uma distância cada vez maior da minha presença. A última bomba sendo entregue semana passada, essa, com efeito mais devastador que a MOAB americana sobre a cabeça dos aiatolás atômicos. O que posso lhe dizer é que se você encontrou uma maneira de efetivar seus sonhos, por que não? Independente do número de interessados, acredito que seja uma forma de você eternizar seus trabalhos. Como a opção escolhida foi a impressão sob demanda, é um material que estará disponível sempre que possível, alias, no meu caso, conto com essa disponibilidade futura, afinal, não há mal que sempre dure, pretendo estar em melhor situação amanhã do que hoje, eu me forço a pensar assim, pensamento que é o corrimão que me apoio para sair da cama pela manhã. Que bela coleção essa sua do Giraud, você bem que podia postar mais fotos desse tipo aqui no Blog. Fique com Deus.
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